Um Apelo em Favor da Verdade
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8.32).
A busca da verdade e sua divulgação é sem dúvida um dos objetivos de toda instituição de ensino, e muito mais daquelas instituições que se declaram confessionais. Todavia, nossa época entrará para a história do mundo como aquela em que a tentativa de relativização da verdade foi feita em todos os âmbitos da vida, deste a questão dos valores morais até aqueles considerados mais subjetivos, como os conceitos religiosos.
Nem sempre as pessoas pensaram de maneira relativista. Não faz muitas décadas, era possível se dizer a uma adolescente de 16 anos “Comporte-se”, e ela saberia perfeitamente o que aquilo queria dizer. A chegada da assim chamada pós-modernidade colocou em questão não somente a existência da verdade, como também a possibilidade de conhecê-la e, mais ainda, a necessidade para isso. E para muitos, podemos acrescentar que falta o desejo de conhecer a verdade.
Todavia, percebe-se uma grande incoerência e hipocrisia em nossa sociedade quando clama pela verdade, luta pela verdade, naquilo que lhe interessa, e quando chega às questões morais, espirituais e religiosas, as pessoas são possuídas subitamente por um espírito de relativismo que se recusa a ser exorcizado a não ser mediante forte persuasão.
Todos nós demandamos a verdade em todas as áreas da vida. Queremos que a esposa, o marido e os filhos nos digam a verdade, queremos que o médico nos diga a verdade, queremos que os corretores da bolsa de valores onde aplicamos o nosso dinheiro nos digam a verdade quando nos recomendam as ações nas quais aplicar, queremos que o juízes e os árbitros façam um trabalho correto e verdadeiro, queremos que os nossos empregadores sejam verdadeiros e nos paguem com justiça, queremos que o noticiário, a mídia, e a imprensa sempre nos digam a verdade, bem como os rótulos de remédios e as sinalizações nas estradas e rodovias.
Quando desconfiamos que a verdade nos esteja sendo negada, ficamos indignados, sentimo-nos traídos, e também que os nossos direitos como cidadãos nos foram tirados. Consideramos a falsidade, a mentira, o faltar com a verdade, como sendo crimes, e a mentira até foi incluída na lista dos sete pecados capitais da hamartologia católica.
Quando demandamos que as pessoas nos digam a verdade, estamos pressupondo que a verdade existe, que é possível de ser reconhecida, e que é válida para todos. Todavia, quando chegamos aos labores acadêmicos, quando assumimos nossa identidade de intelectuais, às vezes cometemos uma grande incoerência, quando passamos não somente a aceitar, mas também a ensinar que a verdade não existe, que ela é relativa, que não existem verdades absolutas, especialmente no campo da moral e da espiritualidade. Até quando dizemos: “não existe verdade!” queremos que as pessoas recebam essa declaração como verdadeira! E quando dizemos que tudo é relativo, ficaremos bravos se alguém considerar essa declaração como sendo também relativa.
Por que exigimos verdade em tudo, exceto na moralidade e naquilo que é transcendente? Por que relativizamos a verdade quando estamos falando sobre moralidade e religião, mas nunca pensamos em fazê-lo quando estamos falando com um corretor de ações da bolsa de valores sobre o nosso dinheiro ou com médicos sobre a nossa saúde?
Sobre isso, gostaria de citar neste contexto alguns pontos sobre a verdade que Norman Geisler chama de “As verdades sobre a verdade”, em sua obra Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu (p.38). São eles:
1) A verdade é descoberta e não inventada. Ela existe independentemente do conhecimento que uma pessoa tenha dela. Por exemplo, a lei da gravidade já existia antes de Newton.
2) A verdade é transcultural. Se alguma coisa é verdadeira, então é verdadeira para todas as pessoas, em todos os lugares, em todas as épocas, como por exemplo, o resultado de 2 + 2.
3) A verdade é imutável, embora a nossa crença sobre ela possa mudar, como por exemplo, quando passamos a acreditar que a terra era redonda em vez de plana. A verdade sobre a terra não mudou. O que mudou foi nossa crença sobre a forma da terra.
4) As crenças das pessoas não podem mudar a verdade, por mais honestas e sérias que sejam. E nem a verdade é afetada pela atitude de quem a professa ou de quem a nega.
5) Todas as verdades são verdades absolutas, embora pareçam relativas. Por exemplo, “Eu, Pedro, senti muito calor hoje”. Embora a sensação de calor de Pedro seja relativa, permanece verdadeiro em todo lugar do planeta que no dia de hoje ele sentiu o calor.
6) A verdade permanece a mesma, o que é relativo é a nossa percepção dela. Contudo, mesmo a relatividade da percepção é menor do que geralmente se pensa, pois as pessoas costumam perceber a realidade e a verdade de uma maneira muito mais unânime e comum do que nos querem fazer acreditar.
Minha palavra aqui, portanto, é em defesa da verdade, da coerência, da consistência. Formadores de opinião são responsáveis por manifestar coerência em todos os departamentos da vida e da conduta. Se exigimos verdade dos outros, assumamos o que está implícito: a existência da verdade, a possibilidade de que ela seja conhecida, e a sua necessidade, para que possamos viver relacionamentos verdadeiros, no mundo verdadeiro, para que sejamos pessoas verdadeiras e livres, pois como disse Jesus, “A verdade vos libertará”.
E se alguém fizer a famosa pergunta de Pilatos a Jesus, "o que é a verdade," espero que não faça como Pilatos, que virou as costas e se afastou de Jesus, antes que esse pudesse responder. Se Pilatos tivesse ficado, teria ouvido: "EU sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14:6).
E se alguém fizer a famosa pergunta de Pilatos a Jesus, "o que é a verdade," espero que não faça como Pilatos, que virou as costas e se afastou de Jesus, antes que esse pudesse responder. Se Pilatos tivesse ficado, teria ouvido: "EU sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14:6).
Postado por Augustus Nicodemus Lopes.
Sobre os autores:
Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.
O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.
O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.
Fonte: O Tempora, O Mores
http://tempora-mores.blogspot.com.br/2017/11/cristianismo-e-universidade-5-um.html