Autor: Rev. Thomas Magnum de Almeida
Introdução
A prática do aconselhamento Pastoral¹ tem sido estudada por muitos teólogos como uma atividade pastoral e cristã. O aconselhamento bíblico é ensinado nas Sagradas Escrituras e é também um meio de ensino da Palavra. Ao tratarmos do aconselhamento pastoral, no entanto, precisamos partir de algum lugar. Esse ponto inicial deve ser, de fato, alicerçado na rocha e não em areia. Ao observarmos todo o conteúdo das epístolas no NT notaremos que a estrutura que encontramos em parte teológica (teórica) e em parte prática, se bem que essa divisão se dá por uma necessidade pedagógica, mas, toda teologia de fato redunda em doxologia. Ao tratar teologicamente, por exemplo, no início de Colossenses sobre a divindade do Filho e o conhecimento de Deus, isso é a base, o fundamento para se tratar de questões práticas que virão na epístola, a seguir nos capítulos posteriores.
O presente artigo visa tratar da importância desse fundamento para a prática pastoral do aconselhamento. Partindo, então, para reflexão da importância da doutrina ou, em nosso caso, da teologia sistemática para o conselheiro.
As Divisões da Teologia e o Aconselhamento Bíblico
Ao tratarmos, então, das divisões da teologia podemos distinguir em – Teologia Exegética, Teologia Bíblica, Teologia Sistemática, Teologia Histórica e Teologia Prática.
Essa divisão é seguida como sequencial no trabalho teológico, na verdade, existe essa necessidade estabelecida, mas, temos aqui algo interessante pelo fato de nosso foco estar na Teologia Sistemática como instrumento de demanda do aconselhamento bíblico. Evidentemente a Teologia Sistemática não opera sozinha. Ela necessita da Teologia Exegética e também da Teologia Bíblica. Mas, de fato, como podemos distinguir essas divisões para que a questão fique clara ao nosso entendimento?
A Teologia Exegética se ocupa de extrair do texto seu sentido pretendido pelo autor. O exame gramatical, através da linha de interpretação adotada pela reforma, que é histórico-gramatical, o interprete deve ocupar-se de chegar o mais perto possível na pretensão do autor inspirado.
A Teologia Bíblica irá trabalhar na progressividade da revelação divina dada ao povo de Deus no processo histórico, isso é denominado de História da Salvação, outros autores chamam de método histórico-redentivo. Bem como a Teologia Exegética, a Teologia Bíblica é de suma importância para o trabalho do teólogo, sem essas duas partes da teologia teremos uma Teologia Sistemática sem sustentação solidamente reformada e ortodoxa.
Chegamos, então, a Teologia Sistemática que é a organização de todo trabalho feito pela Teologia Exegética e a investigação histórico-redentora feita pela Teologia Bíblica. A Teologia Sistemática irá tratar, então, do que antes era chamado de Dogmática, as doutrinas centrais da fé cristã. A Sistemática pretende esboçar e aprofundar doutrinas encontradas nas Escrituras, sistematizando os textos encontrados na Bíblia. O trabalho da Teologia Sistemática é de suma importância para a Reforma Protestante e para Teologia Calvinista, podemos exemplificar isso com as confissões de fé oriundas da teologia reformada. A Teologia Sistemática aponta todas as referências bíblicas sobre um tema teológico, tratando-o criteriosamente. A Sistemática é de grande valor para o ensino catequético na igreja, para o ensino infantil, de jovens e adultos na igreja. A Sistemática foi e é útil para dar respostas as heresias. De fato a Teologia Sistemática é apologética. Ela se preocupa em defender as bases doutrinais do credo cristão, aquilo que cremos quanto igreja cristã.
A Teologia Histórica é uma investigação da evolução do dogma na história da Igreja. Como a Igreja chegou a questões mais elaboradas, por exemplo, sobre a divindade de Cristo, as duas naturezas, a união dessas naturezas, a divindade do Espírito Santo, a Trindade, canonicidade dos livros da Bíblia e assim por diante. A Teologia Histórica irá documentar todo o processo histórico das controvérsias teológicas, dos concílios, dos debates, das apologias e construção sistematizada da dogmática².
Na Teologia Prática temos, então, a aplicação de todo o labor teológico-interpretativo que vimos anteriormente. Esse ramo da Teologia aplica a vida da igreja o ensino bíblico. Quais são as aplicações práticas da doutrina de Deus para a vida da igreja? Qual a importância da doutrina da eleição? Qual a importância da doutrina do pecado?
A Teologia Prática tem relação com o aconselhamento bíblico, que por sua vez precisa da Sistemática e das demais divisões supracitadas. O que temos, então? Temos uma necessidade de domínio dos campos da teologia para o aconselhamento, por isso as grandes implicações que são carregadas da necessidade de o pastor ser um teólogo. O conhecimento da metodologia teológica³ é crucial para um bom trabalho de aconselhamento aliado a uma vida piedosa por parte do conselheiro.
Temas da Teologia Sistemática importantes para o aconselhamento
Ao adentrarmos nas necessidades humanas e nos inúmeros problemas e complexidades da mente e da alma do homem, temos um grande problema no que se refere as respostas que precisam ser apresentadas a esses problemas. No aconselhamento pastoral o conselheiro irá se deparar com inúmeras situações difíceis e questões que exigirão o mínimo de preparo teológico. De fato, há situações no aconselhamento que a experiência será fundamental, mas, não haverá boa experiência sem bom domínio teológico. Questões profundas como ideologia de gênero, aborto, ideoloatria⁴, questões complexas envolvendo casamento e filhos. O conselheiro deve conhecer a sua base doutrinária com considerável profundidade para que não seja enganado pelo seu coração, piedade para com o aconselhando⁵.
Então, com isso devemos ponderar que todo problema enfrentado no aconselhamento se dará por um tronco comum, o pecado. Mesmo que o aconselhando não seja agente direto do problema, o problema só é problema por causa do pecado. Aqui temos a importância do conselheiro conhecer essa doutrina. Com uma concepção errada sobre o tema tudo muda. Por exemplo, na abertura do primeiro capítulo das Institutas⁶, nos diz Calvino:
O Conhecimento de nós mesmos nos conduz ao conhecimento de Deus. Quase toda a soma de nosso conhecimento, que de fato se deva julgar como verdadeiro e sólido conhecimento, consta de duas partes: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos. Como, porém, se entrelaçam com muitos elos, não é fácil, entretanto, discernir qual deles precede ao outro, e ao outro origina.
A pergunta que devemos fazer depois de lermos essa colocação de Calvino é: Como podemos, então, aconselhar sem o devido conhecimento do que é o homem e de quem é Deus?
Não podemos desprezar isso, como não podemos ir ao texto bíblico sem um pressuposto fundamental: Deus existe e se revelou de forma especial nas Escrituras. Temos um pressuposto confessional com fundamentação dogmática. Esse ponto serve como uma breve introdução a importância de cada doutrina fundamental para o aconselhamento. Sem um alicerce teológico sistemático o aconselhamento poderá flertar, por exemplo, com abordagens humanistas, psicologizadas, secularizadas e até paganizadas. Sem a baliza da confissão doutrinária (uma teologia sistemática, portanto), teremos um desastre no trabalho do aconselhamento.
Dada essas considerações, então passemos a uma questão importante, o que é o aconselhamento bíblico?
À luz de uma palavra-chave do Novo Testamento – nome grego nouthesia e verbo grego noutheteo –, aconselhar é biblicamente instruir, encorajar, avisar, acalmar, amansar, advertir, admoestar, exortar, corrigir; numa palavra, aconselhar. Esse termo descreve na Bíblia o modo como devemos ajudar ou aconselhar outros crentes⁷.
Temos, então, um trabalho de instrução, ensino e correção. Isso se dá pelo trabalho do aconselhamento bíblico e somente essa abordagem é permitida pela Bíblia para o trabalho pastoral, assim nos diz Jay Adams:
A Bíblia é a base para o aconselhamento cristão por causa de tudo que representa, ou do que está envolvido no aconselhamento (mudança de vida a partir da mudança de valores, crenças, relacionamentos, atitudes, comportamentos). Outra fonte poderia nos fornecer um padrão para tantas e tais mudanças? Que outra fonte nos diria como realizar tais mudanças de modo que agrade a Deus?
Esta suprema razão pela qual outros fundamentos para o aconselhamento devem ser rechaçados. Não somente porque não são necessários (A Bíblia é suficiente – o único, que é conselheiro nos proveu para o ministério de aconselhamento), mas também porque, buscando fazer a mesma coisa (sem as Escrituras e sem Espírito Santo), tais fundamentos são também adversários.
Como futuros ministros da Palavra, sejam somente isso – apenas isto, nada além disto – ministros da Palavra! Não abandonem a Fonte de água viva troncando-a pelas cisternas rotas dos modernos sistemas de aconselhamento⁸.
Adams é conhecido como um dos grandes peritos em aconselhamento bíblico do nosso tempo, seguindo uma abordagem sistemática na prática do aconselhamento pastoral cristão. Partindo da questão que como professantes da teologia reformada e defensores do sola Scriptura uma abordagem psicológica diminuirá e transtornará nossa confissão na suficiência das Escrituras. Omitir a aplicação das soluções bíblicas aos problemas é favorecer a continuidade das condições pecaminosas. Aceitar esses problemas e acomodar-se a eles contraria as ordens de Deus. O conceito de adaptação do pecado é antibíblico⁹. Percebamos que a questão no aconselhamento é de teologia prática, mas, precisará da doutrina bíblica que define o que está errado. É a doutrina que dá o diagnóstico do problema do aconselhando.
Sobre o desafio do aconselhamento bíblico frente a várias abordagens é importante dizermos que
Para o conselheiro cristão, a Palavra de Deus deve ser mais que uma rede de opções interpretativas para a aceitação ou negação das declarações psicológicas; a Bíblia é o instrumento prático do qual o conselheiro deriva sua autoridade funcional e final, sendo aceito como a autoridade determinativa em antropologia. As Escrituras servem como a única fonte confiável para a terminologia do diagnóstico e do remédio usados pelo conselheiro cristão. A Palavra de Deus possui o sistema teórico exclusivo por meio do qual os problemas da alma podem ser apropriadamente interpretados e resolvidos. Mais importante ainda, ela declara possuir autoridade exclusiva em defender a significância e propósito para a vida do ser humano. Quando colocada em justaposição com o conselho do homem, a superioridade e abrangência da Palavra de Deus é inequívoca. O propósito de Deus para a vida do homem prevalecerá¹⁰.
Feitas essas considerações preliminares, agora trataremos da importância de doutrinas chaves na abordagem noutética, partindo, então, de um foco sistemático para o aconselhamento bíblico.
A Trindade
Ao partirmos para o aconselhamento precisamos olhar para a fonte de todo bem, toda beleza, toda perfeição, toda comunhão, todo poder, toda graça: O triúno Deus. Deus é o axioma básico para onde vamos. A questão ontológica aqui é essencial para determinar qual a pressuposição da teologia que adotamos. Se uma proposta teológica começa no homem tudo muda, o curso de todo pensamento irá mudar, as conclusões irão mudar. Partindo da doutrina de Deus teremos, então, o alicerce para uma cosmovisão teoreferente. Ao lidarmos com conceitos teológicos como teoreferência precisamos ter claro em nossa pesquisa duas questões sobre o tema de modo geral:
A doutrina de Deus nos é cara para tudo que vamos produzir e pensar em teologia, como foi dito antes, se aqui estivermos lançando um alicerce errado tudo desmorona. A doutrina de Deus determina se tudo fica de pé ou cai. Carl Henry¹¹ irá nos dizer que a questão do axioma é muito importante para o desenvolver do pensamento teológico. No axioma temos, então, uma divisão importante – o axioma ontológico e o axioma epistemológico. Tomando axioma como nosso ponto de partida para tudo que sucederá, Deus como o ponto primário, por Ele ser o princípio, ou seja, Deus é a gênese de toda criação. Tudo que existe fora de Deus é criação. Nada é auto-existente, nada está fora do controle criador e soberano de Deus, isso é fundamental como princípio teológico para o aconselhamento. Aqui, então, podemos começar a apontar o motivo básico cristão em seu primeiro ponto: a criação. Deus é o criador onipotente. Devemos sempre atentar para alguns textos que corroboram isso:
- A cosmovisão é a forma que encaramos tudo que nos cerca, é a percepção natural ou religiosa do que nos envolve e nos dá sentido. A cosmovisão é o meio pelo qual qualquer trabalho de aconselhamento é feito, não há ensino, pregação ou aconselhamento sem cosmovisão.
- O pressuposto se vale a base axiomática que fornece a certeza para a cosmovisão. Um pressuposto errado levará a uma abordagem errada no aconselhamento. O posicionamento do que temos como axiomas fundamentais ditará que tipo de aconselhamento se estará fazendo. Aqui podemos pontuar o axioma ontológico e epistemológico que serão fundamentais no aconselhamento bíblico.
Então o Todo-Poderoso será o teu tesouro, e a tua prata acumulada, (Jó 22:25).
Sendo, pois, Abrão da idade de noventa e nove anos, apareceu o SENHOR a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito, (Gênesis 17:1).
E Deus Todo-Poderoso te abençoe, e te faça frutificar, e te multiplique, para que sejas uma multidão de povos; (Gênesis 28:3).
O que temos de importante a notar nesses textos? É o Deus Todo-poderoso quem governa tudo e todos, é Ele quem abençoa os homens, é Ele quem dá sua Lei aos homens e exerce soberania sobre eles.
As Escrituras
A Escritura é, portanto, o axioma epistemológico. Dela temos a revelação especial sobre o Deus criador e redentor. Não teremos outra base senão as Escrituras para basearmos nossa epistemologia. Ela, e somente ela, é quem governa a Igreja, Deus fala com seu povo na sua revelação especial, através da Bíblia Deus se deu a conhecer como Deus criador¹² e redentor. Se partirmos de outra fonte estaremos, de fato, violando o sola Scriptura para o aconselhamento, não desmerecemos as contribuições da psicologia no campo da educação e de certas terapias o que tem que ver com questões orgânicas, mas, para assuntos relacionados a alma, comportamentos pecaminosos, somente a Escritura pode gerir e legislar sobre o indivíduo, visto que estamos falando da Palavra inspirada de Deus, vejamos pois:
Toda a Escritura é inspirada por Deus é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça... (II Tm 3.16, NVI)
Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina. (2 Timóteo 4.2)
Esses dois textos mencionados nos mostram, de forma particular, a utilidade da Palavra para a obra do ministério. A Palavra é útil, ela repreende, exorta e isso deve ser feito pelo pregador/conselheiro com paciência, mas, aqui nos chama a atenção – doutrina. Todo trabalho do aconselhamento nos é confiado pela Escritura como manifestação da aplicação da santa doutrina. Vejamos mais alguns textos:
Você, porém, fale o que está de acordo com a sã doutrina. Ensine os homens mais velhos a serem sóbrios, dignos de respeito, sensatos, e sadios na fé, no amor e na perseverança. Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a serem reverentes na sua maneira de viver, a não serem caluniadoras nem escravizadas a muito vinho, mas a serem capazes de ensinar o que é bom. Assim, poderão orientar as mulheres mais jovens a amarem seus maridos e seus filhos, a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em casa, e a serem bondosas e sujeitas a seus próprios maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja difamada. Da mesma maneira, encoraje os jovens a serem prudentes. Em tudo seja você mesmo um exemplo para eles, fazendo boas obras. Em seu ensino, mostre integridade e seriedade; (Tito 2.1-7)
Observemos os textos grifados, a sã doutrina é de extrema importância para todo o processo de discipulado e abordagem redentora na obra do ministério. Paulo começa dizendo, fale o que convém a sã doutrina. Não acrescente. Ensine, encoraje e mostre integridade e seriedade em seu ensino. Isso é muito importante! Sem a doutrina e a prática dela o conselheiro não tem autorização divina para tal trabalho.
O Homem
Temos, então, um outro ponto importante no nosso estudo. Sem a real compressão do que é o homem podemos incorrer em muitos erros, é aqui que devemos ter cuidado com as correntes da psicologia secular, que vão falar muito sobre o homem, mas, a partir do próprio homem. O trabalho do aconselhamento deve ser feito com base numa visão teológica do homem e não numa visão humanista, secularista e naturalista. Sem o pressuposto correto tudo muda, tudo fica de pé ou cai. Se o homem é o pressuposto todo o trabalho de aconselhamento será humanista e secularizado, cheio de erros e contradições. Se o pressuposto é Deus, o homem será avaliado pela revelação de Deus e, tendo Deus como centro e a partir dele como Trindade, o homem será analisado em sua unidade e sua pluralidade, a Trindade é o parâmetro para a análise do homem. Alguns pontos precisam ser elencados quando tratamos disso e devem ser considerados no aconselhamento pastoral e bíblico:
- O homem foi criado a imagem de Deus (Gn 1.26);
- O homem caiu no pecado (Rm 3.23; 6.23);
- O homem precisa de redenção (Rm 3. 11,12);
- A redenção do homem está em Cristo e sua morte e ressurreição (Jo 3.16).
Estes são princípios de uma antropologia bíblica que, obrigatoriamente, serão necessários para o aconselhamento.
O Pecado
Como consequência da nossa visão antropológica teremos a doutrina do pecado. O homem foi criadoImago Dei, mas, caiu, essa imagem permanece nele, mas, radicalmente afetada pelo pecado. Em teologia chamamos isso de depravação total. Comecemos, então, pelo que não seria a depravação total.
- Não quer dizer que, absolutamente, o homem cometerá todo tipo de pecado que ele puder cometer;
- Não quer dizer que o homem caído cometerá todo tipo de maldade que ele puder;
- Não quer dizer que o homem caído cometerá todo tipo de imoralidade no campo ético e sexual que puder cometer.
Esses pontos são importantes. Porque a graça comum freia o pecado dos homens, ainda que eles pequem, mas, não pecam tudo que poderiam e tem capacidade. A potencialidade do pecado é refreada pela graça comum para a manutenção da ordem do mundo e das criaturas.
Mas a depravação total quer dizer que
- O homem está destituído da glória de Deus (Rm 3.23; 6.23);
- Que as suas obras de justiça são imundas diante de Deus (Is 64.6);
- O homem caído é inimigo de Deus (Jo 3.36);
- As obras da carne militam contra Deus (Gl 5. 19-21).
A questão que deve ficar clara, primeiro aos olhos do conselheiro e depois do aconselhado, é que todo homem é pecador, nós caímos, nossos sentimentos são enganosos em muitas ocasiões por conta disso. Todo homem, ainda que seja bom horizontalmente, verticalmente é um miserável diante do Altíssimo. Ele precisa entender que a solução não está nele mesmo, mas, na fonte de todo bem.
Redenção
O princípio e fundamento metodológico que usamos nesse artigo foi o motivo básico cristão. Criação, Queda, Redenção, Consumação. A questão aqui segue uma ordem lógica para uma abordagem teológica reformada. Deus criou o homem e a mulher como sua imagem (Gn 1. 26-31). Lhes deu mandatos – espiritual, cultural e social. Esse primeiro casal caiu em seu pecado. Adão, como cabeça federal da raça e nosso representante, caiu. Nós caímos em Adão. O pacto de obras realizado por Deus com ele foi rompido. Temos, então, o segundo Adão, Cristo, que venceu o pecado como nosso substituto, nosso cabeça federal. Cristo pagou o preço por nós a Deus, nos comprou e chamamos isso de redenção. Em Cristo somos mais que vencedores, o pecado não mais nos aprisiona, fomos redimidos, nosso senhor não é mais o nosso pecado e Satanás, mas, Cristo. O que nos diz a Bíblia sobre isso? Vejamos alguns versículos:
...em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados. Colossenses 1.14
Ele trouxe redenção ao seu povo e firmou a sua aliança para sempre. Santo e temível é o seu nome! Salmos 111.9
Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus, Efésios 1.7
... sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus. Romanos 3.24
Não por meio de sangue de bodes e novilhos, mas pelo seu próprio sangue, ele entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, e obteve eterna redenção. Hebreus 9.12
Aqui devemos compreender a grandeza da redenção em Jesus, que nos leva a sermos semelhantes a Ele. Sem a redenção, sem a ação salvífica do Filho de Deus em nós nunca podemos chegar a Deus.
Chegamos a Ele por Cristo nosso salvador. Essa redenção, essa libertação continua a nos purificar e agir de forma direta e colateral em nossas vidas. Essa obra grandiosa de redenção, conforme vemos no Antigo Testamento até o Novo Testamento, nos mostra o Shalom de Deus na vida do seu povo. Esses efeitos gloriosos da redenção se aplicam também nas ansiedades, problemas, pecados e quaisquer problemas que um crente enfrente em sua peregrinação. Em sua primeira epístola, Pedro nos fala sobre o sofrer do cristão e o privilégio que isso é quando somos, de fato, fieis ao Senhor e a sua Palavra.
O Shalom de Deus se estende trazendo redenção as nossas lutas, nossos temores, nossos fracassos, nossos medos. A redenção é grandiosa e pela obra do Espírito é aplicada a nossa vida cristã. Daí a importância da abordagem redentiva no aconselhamento pastoral. Somente as Escrituras podem guiar esse trabalho e nos fazer transitar em solo firme e edificarmos nosso trabalho de ajudar, ensinar e guiar cristãos ao discipulado cristão. O aconselhamento tem esse dever, levar os crentes ao discipulado.
Conclusão
Sem uma abordagem confessional e sistemática não teremos bom êxito no aconselhamento, temos que ter um pressuposto teológico, não podemos entrar no gabinete de mãos vazias. O Evangelho tem todas as respostas. A Bíblia tem todas as respostas, Cristo é suficiente contra todo pragmatismo, secularismo, hedonismo e problemas de desvios morais. A abordagem bíblico-sistemática nos levará a uma prática sadia e bíblica no aconselhamento.
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Notas:
[1] O método seguido no presente trabalho em relação a teologia do aconselhamento é o conhecido – Método Redentivo. Outros autores preferem usar termos como noutético ou sistemático.
[2] Ao usar o termo construção, a intensão não é defender que a Igreja criou o dogma, mas, de fato, o reconheceu, ou o confessou de forma documental por questões de heresia do paganismo ou de perseguição.
[3] MAIA, Hermisten. Introdução à Metodologia das Ciências Teológicas. Editora Cruz. Goiânia, 2015, p. 424.
[4] O termo usado refere-se a prática ideológica oposta ao cristianismo bíblico, que exige do pastor/teólogo/conselheiro um repertório considerável, o termo usado se aloca para posicionamentos idolatras das ideologias que não professam o Evangelho.
[5] Isso não quer dizer que não devamos ser empáticos em nosso trabalho de aconselhamento, o que se coloca é um tipo de misericórdia que a Palavra não autoriza. No que se refere a questões cruciais como por exemplo a prática da bigamia ou poligamia.
[6] CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã. Livro 1, cap. 1.
[7] JÚNIOR, Manoel Alexandre. Aconselhamento Bíblico – Para uma vida de plenitude e harmonia. Ed. Vida Nova, São Paulo, 2016, p.15.
[8] ADAMS, Jay. Teologia do Aconselhamento Cristão, Ed. Peregrino, 2016, p.14.
[9] ADAMS, Jay. Conselheiro Capaz. Ed. Fiel, p. 130.
[10] MACARTHUR, John F.; MACK, Wayne A. Introdução ao Aconselhamento Bíblico: Um Guia de Princípios e Práticas de Aconselhamento. São Paulo: Hagnos, 2006, p. 307.
[11] HENRY, Carl. O Resgate da Fé Cristã. Editora Monergismo.
[12] Não está ocorrendo uma negação aqui de Deus se revelando na natureza, mas, o ponto é que apenas sabemos quem é o Deus que criou a natureza pela revelação especial. A revelação geral de fato o revela, mas, por causa da queda o homem não discerne quem é esse Deus, isso só é possível na revelação especial.
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Autor: Rev. Thomas Magnum de Almeida
Divulgação: Bereianos