.
Por Thiago Azevedo
Em dias atuais esta é a pergunta que não quer calar. Ela não é recente, Charles Spurgeon, mais conhecido como o príncipe dos pregadores, teceu-a em um artigo disponível no site Monergismo (acessado em 22/09/2014). Nunca se viu a igreja entretendo tanto o povo ao invés de pregar o evangelho, nunca se viu “pastores” que mais parecem animadores de auditórios ou comediantes de stand up comedydivertindo a massa. Nunca se viu tanta artimanha para atrair os bodes, e, enquanto isso, as ovelhas ficam numa dieta forçada, com pouco alimento consubstanciado e nutritivo – e em alguns casos, nem alimento tem. Estes líderes precisam entender conforme o velho jargão que há nos círculos cristãos “Comida de ovelha todo bode come, mas comida de bode, ovelha não come”.
Por que tanta preocupação em agradar os bodes, em atrair os incrédulos e em fazer o evangelho parecer algo divertido e pitoresco ao invés de alimentar as ovelhas em pastos verdejantes? Na atualidade, as igrejas realizam tantas festividades voltadas para o incrédulo que acabam se esquecendo das ovelhas que estão em seu ambiente. Em certa ocasião, tive acesso ao calendário anual de uma determinada igreja e lá constava mais cultos e festas voltadas para o lado de fora da igreja do que algo voltado para os fiéis daquela instituição. Não estou querendo dizer com isso que estas atividades externas não devam existir, mas a atenção maior, sem dúvida, deve ser dada aqueles que estão no lado de dentro da igreja, isso conforme o próprio texto bíblico de 1Tm 5:8. Deve haver uma preocupação primária com os da família da fé. A proposta-mor destes líderes do evangelho humorístico e banalizado, voltado apenas para o incrédulo é a aliança com o mundo. Eles baixam o nível do evangelho para que este seja visto como acessível, retiram a exclusividade de Cristo da pregação, entendendo que isso cria uma barreira para os incrédulos. Omitem preciosas doutrinas bíblicas só para que o evangelho pareça algo diferente daquele que foi pregado pelos apóstolos e pais da igreja.
O reverendo Renato Vargens, em seu livro “Reforma agora”, mostra a gama de falsos apóstolos que proferem interpretações bíblicas, se gabando destas interpretações particulares serem mais valiosas que os ensinos dos próprios apóstolos. Recentemente, um líder religioso de uma dessas igrejas, que mais parece um grande picadeiro, teceu a seguinte frase: “Paulo não compreendeu o que Deus quis dizer nesta passagem, e eu irei mostrar a todos o que de fato Deus queria aqui”. Perceba o tom de superioridade e a carga maligna destas palavras. Comportamento bem distinto dos apóstolos de Cristo do primeiro século que, além de humildes, tinham as Escrituras como sendo sua base Jo 3:30 / 2Tm 4:2. Por sinal, no texto citado de Timóteo a recomendação de Paulo é a pregação da palavra e não para contar piadas ou para entreter o povo. Inclusive, Paulo alerta o jovem pastor Timóteo dos tempos que surgiriam homens que iriam repudiar a sã doutrina e com coceiras no ouvido, segundo seus próprios desejos, juntarão mestres para si mesmos (2Tm 4:3).
A gama acachapante de homens que desejam que os holofotes e todas as atenções estejam voltadas para eles é realmente surpreendente. O princípio de Jo 3:30 cai por terra. Em Ef. 4:11 as Escrituras relatam que Deus deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores. A Bíblia, em lugar nenhum, diz que Deus levantou um ministério do entretenimento ou da comédia, dando este dom a alguém – isso não passa de invenção do homem. Em certa ocasião, certo “pastor” pregou mais de 40 minutos e nem sequer a Bíblia abriu. Este homem contou toda sua história e trajetória de vida, aliando risadagem e contos engraçados. A plateia se deleitava enquanto eu voltava para casa – e eu ainda fiquei com fama de herege. Em outra ocasião, conversando com um amigo, este me disse que o verdadeiro pastor é aquele que abre a Bíblia, lê um texto, e depois disso fecha a Bíblia e prega com ela fechada. Em amor, lhe expliquei que isso não procede. A omissão da Bíblia é uma estratégia para que não se compare ou se avalie o que está sendo dito. Durante mil anos a humanidade sofreu com isso. O que muitas vezes contribui com este panorama é a própria falta de entendimento e ignorância do povo (Os 4:6). Pois, pautados pela a ideia de que julgar não é dever nosso, e este entendimento provém de uma interpretação pobre de Mt 7:1.
Alguns dão campo para atuação destes falsos mestres e, com isso, permitem que a igreja se torne um circo e uma fonte de entretenimento, direcionada mais para quem se encontra fora dos portões dela. A Bíblia nos traz vários textos que alertam acerca de falsos prodígios e sinais, mentiras e falsidade, são eles: (Mateus 24:4; 2 Coríntios 11:13-15; 2 Timóteo 3:13; Apocalipse 13:13-14; 16:13-14). Se acreditarmos na Bíblia, podemos esperar uma abundância de falsos milagres. Logo, como se deve avaliar se tudo isso é verdadeiro ou como se deve avaliar a postura de um líder? A resposta é JULGANDO DE ACORDO COM AS ESCRITURAS! João adverte para testar os espíritos em 1Jo 4:1. Também adverte acerca daqueles que não são de Deus (1 Jo 4:6). Era mais ou menos o comportamento dos cristãos de Bereia (At 17:10-11) que examinavam o ensinamento de Paulo e de quaisquer outros pela Escritura. As Escrituras são o crivo, e não se o sujeito é ou não cômico ou promove entretenimento. O final do versículo 11 do texto supracitado diz que os cristãos de Bereia examinavam diariamente as Escrituras para ver se os ensinos procediam. Deve ser por isso que cada vez mais as igrejas estão se tornando verdadeiros parques de diversão e as ovelhas estão famintas e desnutridas, em paralelo, os bodes estão cada vez mais robustos e cevados pelo fato de serem alimentados constantemente.
Não há mais o costume de examinar as Escrituras e confrontar o que está sendo dito e o que está errado. De certa forma, há um regresso aos tempos medievais, vive-se na atualidade uma nova idade média, onde a Bíblia tem - cada vez mais - caído no esquecimento e na omissão. Isso é fruto da estratégia maligna de alguns líderes tendenciosos. Em Gálatas 1:8-9 Paulo diz que ainda que ele ou um anjo que venha do céu pregue algo diferente, seja este amaldiçoado. Como saberá se é diferente ou não? Por meio das Escrituras Sagradas. Em outras palavras, é como se Paulo estivesse dizendo que ele mesmo, o seu ensino, devia ser confrontado para ver se era ou não verdadeiro. Por que, na atualidade, não vemos os líderes fazendo esta proposta? Por que os pastores atuais não pedem para os fiéis procurarem na Bíblia onde constam estes tipos de ensino como: ungir objetos, dízimos astronômicos, correntes de fé, copo com água santificada ou vendas de objetos santos que transmitem graça? Ou ainda, por que os líderes da atualidade não pedem para os fiéis procurarem nas Escrituras onde existe o ensino de que é preciso fazer algo para alcançar a salvação? Muitos até têm atribuído graça salvífica a certos objetos. Ou seja, ou adquire e vai para o céu ou não adquire e vai para o inferno. É ou não é um medievocontemporâneo? Sim.
A resposta para as demais perguntas é a seguinte: Os “líderes e pastores” contemporâneos não pedem que os fiéis consultem a Bíblia à procura destas aberrações porque não há nenhuma passagem bíblica que corrobore com estes sacrilégios heréticos. Isso tudo não passa de ração para bodes, e este tipo de alimento ovelha não come. Na atualidade não se deve avaliar os líderes religiosos pelo o que os mesmos proferem, eles são adeptos de uma verborragia clássica, ou seja, dizem que amam as Escrituras, que creem na graça salvífica, que creem na justificação pela fé e na soberania de Deus na salvação. Mas, as práticas e as atitudes destes líderes os denunciam veementemente.
Há um dito puritano que se deve fazer uso no ambiente eclesiástico tupiniquim: “Aquilo que alguém faz fala mais alto que suas próprias palavras”. Alguns líderes têm um discurso bonito quanto às verdades bíblicas, mas os seus atos mostram que são filhos do Diabo. Estes líderes realizam campanha para que se alcance graça salvadora, uns ainda dizem que quem não contribui não vai para o céu e outros líderes chegam até a vender lugar no céu. Outros colocam um óleo perfumado em um patamar mais elevado que a própria oração etc. Estes líderes são, de fato, muito habilidosos quando o assunto é alimentar seus bodes e desprezar as ovelhas. Portanto, a convivência entre bodes e ovelhas não cessará tão cedo, os bodes podem muito bem se alimentar na comida das ovelhas – eles até gostam –, mas, infelizmente, alguns falsos pastores preferem privar as ovelhas de um bom alimento e alimentar tão somente os seus cabritos.
É por isso que as ovelhas andam desnutridas. Mas, com toda convicção, há pastos saudáveis e verdadeiros pastores que ainda se preocupam em alimentar suas ovelhas com alimento nutritivo, como fez o pastor do Salmo 23. Como ovelha, aconselho que haja uma procura por pastos saudáveis e por pastores comprometidos em alimentar primariamente seu rebanho, e, ao encontrá-los, possa de fato usufruir e se deleitar numa boa alimentação e num bom pastoreio, sobretudo, no Pastor dos pastores que se encontra na pessoa de Deus.
Divulgação: Bereianos