domingo, 20 de abril de 2014

Cristão Reformado: não se esqueça da ressurreição

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Por John MacArthur


Em 1874, um ministro batista chamado Robert Lowry redigiu um dos mais comoventes hinos e que muito exaltou a ressurreição de Jesus Cristo – “Fundo, no túmulo, Ele deitou”. Note como estes versos contrastam a impotência da morte e do sofrimento com o poder da ressurreição de Cristo:

      Fundo, no túmulo, Ele deitou, Jesus, meu Salvador;
      À véspera do dia seguinte, Jesus, meu Senhor!
      Em vão observam o leito de Jesus, meu Salvador;
      Em vão, eles selam o morto, Jesus, meu Senhor!
      A morte não pode deter sua presa, Jesus, meu Salvador;
      Ele rompeu as barreiras, Jesus, meu Senhor!

A morte, o mais terrível inimigo do homem, não tem poder para reinar sobre o Senhor da vida. Essa verdade tem significado para você e para mim, aqui e agora, no vigésimo primeiro século. Você pode ver isto na parte mais emocionante e comovente do hino de Lowry, o refrão que pontua cada estrofe.

      Do túmulo, Ele ergueu-se,
      Com um poderoso triunfo sobre seus inimigos,
      Ele ergueu-se, como um conquistador,
      Vencendo o domínio da escuridão
      Ele vive para sempre, com seus santos a reinar.
      Ele levantou-se! Ele levantou-se!
      Aleluia! Cristo ressuscitou!

Você vê nestas linhas o que a ressurreição de Jesus significa para você? Se você é um cristão, pode se regozijar no fato de que Cristo levantou-se dos mortos como um conquistador, um campeão que vive para sempre, para reinar “com seus santos”. Isso se refere à promessa baseada em nosso batismo na morte e ressurreição em Cristo – é a nossa esperança e a razão e base de tudo o que cremos.

Mas, e se não houve a ressurreição? E, se a ressurreição de Jesus Cristo é apenas um mito do primeiro século a ser ignorado ou marginalizado como uma questão secundária? As implicações dessa abordagem são devastadoras para o cristianismo.

Chamo sua atenção ao que Paulo escreveu em 1 Coríntios 15.16-19, de modo que você possa ver o que acontece quando esquece a ressurreição.

Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.

Sem dúvida, se Jesus ainda está no túmulo, se Ele é perpetuamente o sofredor e nunca, o conquistador, então você e eu estamos desesperadamente perdidos. E, embora esse não seja o caso, quero focalizar no hipotético “e, se” que Paulo presume temporariamente, em 1 Coríntios 15. “E, se a ressurreição fosse um mito? E, se Jesus Cristo ainda estivesse morto e no túmulo?”

Em primeiro lugar, vocês ainda estariam em seus pecados, sob a tirania da morte, juntamente com o mais vil e incrédulo pagão. Se Jesus não ressuscitou dos mortos, então, o pecado ganhou a vitória sobre Ele e continua a ser vitorioso sobre você também. Se Jesus permaneceu no túmulo, então, quando você morrer haverá de permanecer morto. Além do mais, visto que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23), se você tivesse de permanecer morto, a morte e a punição eterna seriam o seu futuro.

A razão de confiarmos em Cristo é para perdão de pecados. Porque é do pecado que precisamos ser salvos. “Cristo morreu pelos nossos pecados” e “foi sepultado, e... ressuscitou ao terceiro dia” (1 Co 15.3-4). Se Cristo não ressuscitou, sua morte foi em vão, sua fé nEle seria sem sentido, e seus pecados ainda seriam contados contra você e não haveria nenhuma esperança de vida espiritual.

Segundo, se não há ressurreição, então, “ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram” (v.18). Isso significa que todo santo do Antigo Testamento, e todo santo desde que Paulo escreveu estaria sofrendo em tormento neste exato momento. Isso incluiria o próprio Paulo, os outros apóstolos, Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley, Moody, e os santos de fé e oração que você conheceu – todo e qualquer crente, em todas as eras, também estaria no inferno. Sua fé teria sido em vão, seus pecados não teriam sido perdoados, e seu destino seria a condenação.

À luz das outras consequências, a última é bem óbvia: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”. Sem a ressurreição de Cristo, a salvação e as bênçãos que ela traz, o cristianismo seria sem sentido e lamentável. Sem a ressurreição não teríamos o Salvador, o perdão e o evangelho, jamais teríamos a fé significativa, nem a vida, e nunca poderíamos ter esperança por alguma dessas coisas.

Esperar em Cristo somente nesta vida seria ensinar, pregar, sofrer, sacrificar-se, e trabalhar inteiramente por nada. Se Cristo ainda está morto, então Ele somente não tem habilidade de salvar você no futuro, mas Ele também não pode lhe ajudar agora. Se Ele não estivesse vivo, onde estaria sua fonte de paz, alegria ou satisfação hoje? A vida cristã seria uma galhofa, uma farsa, uma piada cruel e trágica. Os cristãos sofreriam e até morreriam porque a fé seria apenas tão cega e patética quanto a daqueles “crentes” que seguiram Jim Jones e o Templo do Povo, David Koresh e as Raízes Davídicas, e Marshall Applewhite e a seita do Portão do Céu.

Se o cristão não tem um Salvador, senão Cristo; um Redentor, senão Cristo; e um Senhor, senão Cristo; e, se Cristo não é ressurreto, Ele não está vivo; nesse caso, a nossa vida cristã é sem vida. Nós nada teríamos para justificar nossa fé, nosso estudo bíblico, nossa pregação ou testemunho, nossa adoração e serviço de culto a Ele, e nada para justificar nossa esperança nesta vida ou na próxima. Nós nada mereceríamos, senão a compaixão reservada para os tolos.

Mas, Deus sim ressuscitou “dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm 4.24-25). Porque Cristo vive, nós também viveremos (Jo 14.19). “O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-o num madeiro. Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados” (At 5.30-31).

Não somos dignos de pena, pois Paulo imediatamente encerra a terrível seção “e, se”, dizendo: “Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem” (1 Co 15.20). Como Paulo disse, no final de sua vida, “sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito [i.e. sua vida] até aquele Dia” (2 Tm 1.12).

Aqueles que não esperam somente em Cristo para salvação são verdadeiros tolos; eles são os que precisam ouvir seu testemunho compassivo sobre o triunfo da ressurreição de Cristo. Então, não esqueça a ressurreição; regozije-se nela e glorie-se nela, pois Ele ressuscitou de fato.

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Sobre o assunto Páscoa, leia também: "Verdades e Mitos sobre a Páscoa".

Os peregrinos e os puritanos

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Por Samuel T. Logan Jr.


Qual é a diferença entre os peregrinos e os puritanos? Todos eles são as mesmas pessoas? Qual dos dois grupos nasceu primeiro? E por que eles surgem como grupos religiosos distintos?

Excelentes perguntas, cada uma!

Ao responder a todas as perguntas acima, o ano de 1517 foi especialmente crucial.

A maioria sabe uma razão para isso, em outubro de 1517, Martinho Lutero pregou suas teses teológicas (declarações) na porta do castelo em Wittenberg, na Alemanha. Mas 1517 é um ano crucial por outro motivo, bem como, no mesmo ano, em Boston, na Inglaterra, em um local onde agora está um pub Inglês chamado de Martha Vineyard, de 1526, (bastante subversivo) discussões teológicas regulares estavam sendo conduzidas na Taverna White Horse em Cambridge. Entre os participantes, alguns futuros luminares como Thomas Bilney, Hugh Latimer, Nicholas Ridley e Thomas Cranmer. Cada um dos quatro foram martirizados posteriormente.

Entretanto, no final dos anos 1520 e início dos anos 1530 Henry VIII estava passando por dificuldades matrimoniais e políticas de tal forma que, em 1533, ele insistiu que a convocação de Canterbury declarasse seu casamento com Catarina de Aragão anulado. No ano seguinte, Henry declarou o Parlamento Inglês como Chefe Supremo da Igreja na Inglaterra, cortando, assim, todos os laços com a Igreja Romana.

Enquanto Henry não tinha nenhum desejo especial de "reformar" a teologia da igreja, aqueles que haviam se reunido no White Horse (e muitos de seus colegas e simpatizantes) viram isso como uma oportunidade "do Senhor." Talvez agora somente as Escrituras pudessem realmente tornar-se o fundamento da igreja e da nação.

Tais esperanças encontraram pouco apoio real durante a vida de Henry, mas, quando o rei morreu, em 1547, seu filho de nove anos de idade, Edward assumiu oficialmente o trono, governando principalmente através de regentes, ambos (primeiro duque de Somerset e, em seguida, o Duque de Northumberland) tiveram mais simpatia pela visão que tinha iluminado essas discussões em White Horse. O impulso pela purificação da igreja e do estado ganhou grande força na Inglaterra entre 1547 e a morte de Edward em 1553.

Mas a próxima Tudor no trono era Mary Tudor, mais conhecida pelas gerações posteriores como "Maria, a Sanguinária". Mary não queria nada mais a não ser voltar "seu" país para o rebanho católico romano, não importasse o custo.

Entre 1553 e 1558, protestantes exilados inundaram a Europa, na esperança de escapar da espada de Maria, reunindo-se em tais bastiões protestantes como Genebra e Frankfurt. Neste último, veio John Foxe, com 38 anos. Foxe desenvolveu uma visão poderosa do que a Inglaterra poderia ser, se a Palavra de Deus fosse seguida total e fielmente.

A morte de Maria em 1558 e a ascensão ao trono Inglês de Elizabeth, irmã protestante de Mary reverteu à maré mais cedo e trouxe de volta ingleses e inglesas para suas casas em massa. A semente que se tornou o puritanismo recebeu um tiro cheio de fertilizante teológico da pena de John Foxe.

Durante o reinado de Maria, centenas morreram por sua fé. Será que o povo da Inglaterra homenageou essas mortes, aproveitando a oportunidade maravilhosa que o Senhor tinha dado a Inglaterra, removendo Mary e substituindo-a com Elizabeth? Será que o povo da Inglaterra agora insiste que sua igreja e seu estado devem ser completamente purificados de todos os elementos não bíblicos para que ambas as instituições (e todas as pessoas nele) possam trazer honra singular para o Senhor, o Deus da Bíblia?

Estas foram as perguntas no trabalho monumental de Foxe que conhecemos como O Livro dos Mártires. Publicado pela primeira vez em 1563 o trabalho de Foxe foi um relato da intensa a dor sofrida pelos mártires de Maria e uma convocação para trazer a nação e a Igreja da Inglaterra em plena conformidade com a Palavra de Deus.

Muitos daqueles que compartilharam o sonho que tinha sido alimentado na Taverna White Horse agora se apoderaram da expressão das expectativas de Deus para com seu povo de Foxe que insistiu, com fervor cada vez maior, de que tanto a sua realeza e seus líderes eclesiásticos direcionassem todos os assuntos da Inglaterra somente pelas Escrituras, Sola Scriptura. 

A Rainha Elizabeth I, no entanto, viu as coisas de forma diferente. Sua visão era de estabilidade política e de ordem. Elizabeth não tinha nenhum interesse em qualquer tipo de extremismo, especialmente o tipo de extremismo religioso, que os herdeiros teológicos desses debatedores da Taverna White Horse pareciam representar para ela.

A Inglaterra (incluindo a igreja Inglesa) devia, nessa visão elisabetana, ser ampla e inclusiva e basear a sua vida na tradição e na razão, bem como sobre os ensinamentos da Bíblia.

Então, por 1570, havia se desenvolvido na Inglaterra dois grupos:

1) os que favoreciam esse entendimento mais racionalista da Igreja e do Estado, e; 2) aqueles que continuaram a insistir que a purificação dessas duas entidades era exigido pela Escritura e que a Inglaterra deveria agora aproveitar a oportunidade espiritual tão brilhantemente descrita por John Foxe. E foi em meio a essa polêmica que o termo "puritano" começou a ser usado regularmente pelo primeiro grupo como um epíteto irônico de ataque em cima do segundo grupo.

O ano de 1570 viu a intensificação do conflito com pouco "progresso", pelo menos do ponto de vista do partido puritano. Na verdade, com a demissão de Thomas Cartwright de seu cargo de professor na Universidade de Cambridge para promulgar o presbiterianismo, pareceu a alguns puritanos que a causa estava sendo perdida e essa percepção levou à primeira grande cisão dentro do partido puritano.

À medida que o impulso Puritano pode ser principalmente associado (embora, na verdade, precedido) do Livro dos Mártires de Foxe, de modo que o caráter "Peregrino" pode ser rastreado de forma adequada do livro de Robert Browne,Reforma Sem Permanência de Anie, publicado pela primeira vez em 1580. Browne pode ser chamado de puritano desiludido. Ele compartilhou a visão que informou o trabalho de Foxe, mas depois de mais de uma década de busca de renascimento dentro da igreja Inglesa, ele chegou à conclusão de que isso simplesmente não iria acontecer. Browne "separado" da igreja Inglesa e, com a mesma opinião de Robert Harrison, iniciou sua própria congregação em Norwich em 1581.

Assim, formou-se o movimento "separatista", um movimento que mais tarde produziu líderes tais como John Smyth (a quem alguns consideram como o pai dos batistas ingleses), John Robinson, William Brewster, e William Bradford. Os três últimos foram diretamente envolvidos nesse grupo de separatistas, que, em 1608, deixou a Inglaterra para a Holanda e, posteriormente, decidiu emigrar para o Novo Mundo, e desembarcou em Plymouth, Massachusetts, em 1620.

Muitos puritanos (provavelmente a maioria) optaram por permanecer dentro da igreja Inglesa trabalhando por uma reforma, e foi a partir desse grupo que um grupo muito maior de imigrantes saíram da Inglaterra para a Nova Inglaterra no final dos anos 1620, estabelecendo sua colônia na Baía de Massachusetts.

As colônias de Boston e Plymouth eram entidades políticas e religiosas distintas (pelo menos até a época em que o governo Inglês as uniu no final de 1680) e, enquanto as relações entre eles eram geralmente amigáveis, os membros de ambos os grupos eram claros sobre suas diferenças.

"Os Puritanos" queriam permanecer como parte do estabelecimento Inglês, trabalhando por uma reforma bíblica dentro da Igreja da Inglaterra. Mesmo quando eles emigraram para a Nova Inglaterra, eles afirmaram o seu "anglicanismo" e viu o principal objetivo da sua nova colônia como sendo dar um testemunho bíblico, uma "cidade em uma colina", que deu um exemplo de justiça bíblica na igreja e estado para Velha Inglaterra e o mundo inteiro verem. Como teólogos do pacto profundamente comprometidos, eles enfatizaram especialmente fortemente a justiça social de toda a comunidade diante de Deus. 

"Os Peregrinos" queriam alcançar "reforma sem tardança", mesmo que isso significasse a separação de sua igreja e sua nação. Enquanto eles continuaram a pensar em si como Ingleses, sua ênfase estava em sua nova identidade política e identidade espiritual. Por causa de seu compromisso apaixonado com a necessidade de reforma imediata e sem compromisso, eles enfatizaram especialmente fortemente justiça do indivíduo diante de Deus.

O que unia a Baia de Massachusetts e Plymouth, que uniu ambos os puritanos e peregrinos era muito mais significativo do que o que os distingue. Todos os filhos da Reforma sabiam que a salvação era somente pela graça através da fé em Cristo. E eles sabiam disso, porque eles tomaram, como sua autoridade, somente as Escrituras.

Todos sabiam que somente a Deus deve ser dada toda a glória e, em suas diferentes formas, eles procuraram trazer cada pensamento e cada ação religiosa, política, social cativos ao senhorio de Jesus.

Poderia haver alguma meta mais importante para os cristãos americanos de hoje?

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Sobre o autor: Dr. Logan é o presidente do Seminário Teológico de Westminster, na Filadélfia, Pensilvânia, onde leciona história da igreja.
Fonte: Reproduzido da revista Tabletalk, vol. 20, 11 de Novembro de 1996, com a permissão do Ligonier Ministries.
Tradução: César Augustos Vargas Américo
Imagem: "Embarkation of the Pilgrims" by Robert Walter Weir, adaptada ao Bereianos.
Divulgação: Bereianos

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Os milagres e seus propósitos

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Por Denis Monteiro


A Bíblia está cheia de passagens que indicam algum tipo de milagre, sinal e/ou obra. Milagres são acontecimentos extraordinários vindos da parte de Deus, por intermédio de seus santos para algum fim especifico que não são explicados por foças naturais. 

Infelizmente, algumas pessoas tem uma concepção muito errônea do que é um milagre. Confundimos providência com milagre. Não que os milagres não sejam providencia de Deus, mas que nem todas as providências sejam milagres. Providência é quando Deus envia aquilo que mais necessitamos quando não temos mais esperança, quando Deus abre uma oportunidade onde não achamos que tenhamos oportunidade. Isso é providência.[1]

Então, o que é um milagre e qual seu proposito?

Milagre

Milagres, segundo John Frame, são: “acontecimentos causados de modo incomum pelo poder de Deus, acontecimentos tão extraordinários que em geral os consideramos impossíveis.” [2] Deus, em sua infinita misericórdia, age como Ele quer segundo a Sua vontade. Não contra a sua lei natural, mas “são reafirmações da normatividade da boa criação, da permanente fidelidade de Deus às promessas de seu pacto. Os milagres são sinais e maravilhas doshalom que Deus quer para nós, por enquanto destruído, mas restaurado em Cristo. [3]

O seu propósito

John McArthur diz: “A maioria dos milagres registrados na Bíblia ocorreu em três períodos relativamente curtos: nos dias de Moisés e Josué, durante os ministérios de Elias e Eliseu e no tempo de Jesus e seus apóstolos. Nenhum desses períodos estendeu-se por mais de cem anos.” [4]

Na Lei

No decálogo não vemos milagres sendo feito por outra pessoa, a não ser por Moises – e depois Josué que fora seu substituto (cf. Js 3.16). Segundo Calvino, os milagres feitos por Moisés foram feitos para testifica-los como um mensageiro Divino e libertador.[5] Todos os sinais que Moisés fizera foram, também, para mostrar ao teu servo [Moisés] a tua grandeza e a tua poderosa mão (Dt 3.24). Podemos resumir que o propósito dos milagres por intermédio destes dois homens foram para autenticar a mensagem que traziam - a Lei – e chamar a atenção para as novas revelações. 

Nos profetas

Podemos ver no caso de Elias e Eliseu onde, aproximadamente, se somam 39 milagres [6], entre eles: Deu vida ao filho da viúva (I Reis 17: 21-23); 102 homens são consumidos pelo fogo (II Reis 1:10, 12); Curou Naamã da lepra (II Reis 5:14); Depois de morto ressuscitou um defunto (II Reis 13:21). Todos estes milagres foram para provar a autenticidade profética, onde que, também, não falaram de si mesmos, mas da parte de Deus olhando sempre para a Lei e chamar a atenção para as novas revelações. 

Cristo e os Apóstolos

Como podemos ver acima, os milagres sempre foram feitos com um propósito específico – mostrar a autoridade, controle e presença. No caso de Cristo não é diferente. Cristo fez diversos milagres que Moisés não realizou; Elias e Eliseu e os apóstolos não fizeram. Cristo fez milagres sobre a natureza, sobre os doentes, sobre os leprosos (que envolvia pecado), ressurreição de mortos, restauração de visão, coxos andando. Todos estes sinais estavam inseridos num contexto que apontava para a Sua divindade. Como mostra Simon Kistemaker: “Depois de curar os leprosos, Jesus mandava-os para os sacerdotes como testemunho de que ele era realmente o enviado de Deus”. [7] Então, podemos concluir que os milagres que estão relatados sobre Cristo, são para: revelar a glória de Deus – há dois textos que deixa isso em evidência (Jo 9.1-41; 11.2-44) - em grande força e poder, provar que Ele era e é Deus e para mostrar que Ele era o Messias prometido. 

Os Evangelhos (Mt 10.8; Mc 3.15; 6.7), nos relata que em relação aos discípulos, antes de descer o Espirito Santo sobre eles em Atos 2, é dito que eles curaram e expulsaram demônios. E, que, depois só tivemos relatos disso em Atos 2 – 19. Contudo que, estes sinais também não eram para demostrar a fé de quem recebia ou fazia, no entanto foi pra testificar a autenticidade da Igreja na terra, assim como, os 4 derramamentos do Espírito Santo que Atos nos relata (Atos 2; 8; 10 e 19). Pois, após Atos 19 não vemos nenhum relato de derramamento do Espírito e/ou curas (sinais) miraculosos. Não que o poder tenha cessado, mas que o propósito de Deus era outro, isso podemos ver nas cartas de Paulo, Pedro, João, Tiago e Hebreus que não é citado em nenhum lugar os feitos dos apóstolos como sinal de continuidade [8]. Até porque, Paulo pede para que Timóteo tome um pouco de vinho por causa de sua enfermidade no estomago e fica triste com a doença de morte de seu companheiro Epafras (Fp 2.27;  1Tm 5.23). Por que Paulo não os curou? Mas isso é outra história. 

Conclusão


Para finalizar, quero mostrar uma má aplicação dos milagres e o que não devemos fazer. Existe uma música gospel que tocam e cantam em quase todo lugar: “Pra tocar no manto tem que estar prostrado para tocar no manto...” Esta música é baseada em uma situação em que esteve o nosso Senhor Jesus quando estava indo curar a filha de Jairo, chefe da sinagoga (Mt 9.20,22; Mc 5.24b-34; Lc 8.42b-48). O propósito da música é fazer com que o ouvinte faça a mesma coisa que a mulher, prostre-se e toque no manto. Primeiro, a música em si tira todo o foco da passagem e o seu sentido. Quando nós lemos esse relato nos três Evangelhos vemos que cada um deu uma ênfase diferente. No entanto, o mais interessante é um detalhe que Lucas – doutor Lucas (cf. Cl 4.14) – nos oferece. Por exemplo, Mateus faz um breve relato da ocasião diferente de Marcos que é mais extenso do que Mateus. Só que Lucas diz que “ninguém tinha podido curar”. Ou seja, que todos os médicos (cf. Mc 5.26) que ela havia passado não podiam curá-la, mostrando que a natureza humana não pode dar conta do corpo humano, somente Deus. Portanto, o propósito do milagre que está relatado nos Evangelhos é para certificar com autoridade que Jesus é Deus de fato. E segundo, o texto não diz que ela, a mulher, estava prostrada aos pés de Cristo e foi curada. Mas que a mulher se prostra diante de Cristo para explicar o que havia ocorrido com ela (Cf. Mc 5.33; Lc 8.47). 

Então, os milagres feitos por Moisés e Josué, Elias e Eliseu, e Jesus e os apóstolos eram para dar uma introdução às novas revelações, sinal de autenticidade dos mensageiros e, assim, os milagres chamavam a atenção para as novas revelações. E não para imitarmos os milagres e nem para fazerem músicas que distorcem o sentido e proposito do milagre. O salmista, algumas vezes, quando se lembra dos feitos do Senhor, ele sempre lembrava como consolo para sua aflição (Sl 77.11-20) e de forma didática (Sl 78) E João nos diz que: Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros sinais miraculosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome. João 20.30,31 (acréscimos meu).

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Notas:
[1] Providência é o controle divino sobrenatural e soberano sobre todos os acontecimentos naturais, de modo que os propósitos de Deus sejam realizados.
[2] JOHN, Frame M. A doutrina de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 197
[3] SPYKMAN, Gordon J. Teologia Reformacional. Um novo paradigma de se fazer teologia: Milagres. Disponível aqui. Acesso: 14/04/14.
[4] MCARTHUR, John. O Caos Carismático. São José dos Campos, São Paulo: Editora Fiel, p. 145
[5] Cf.: CALVINO, João As Institutas – 2ª Ed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2006. Livro I, VIII, V
[6] Cf.: Os milagres e profecias de Eliseu e Elias, acessado dia 13/04/2014 as 12:45pm
[7] KISTEMAKER, Simon J. Os Milagres de Jesus. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p. 8
[8] Alguém pode fazer tal objeção: “Mas 1º Coríntios, não nos é falado sobre o dom de milagre?” Entende-se que o milagre é poder, pois a palavra é dunamis. Os dons eram para os apóstolos, já em Coríntios não diz que eram para todos os crentes, todos os dons. 

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Fonte: Bereianos 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Karl Marx e a sua dialética racionalista-irracionalista

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Por John Frame


Karl Marx (1818 - 1883) provavelmente exerceu mais influência na política e na história mundial do que qualquer outro filosofo dos últimos duzentos anos. Muitas pessoas se tornam marxistas, a meu ver, por razões éticas. Encontram em Marx um pensador que se importa com os pobres e tem um plano para fazer algo por eles.

Contudo, é importante lembrar que Marx é um subjetivista rematado. Ele pensa que os padrões éticos são relativos à classe de cada um. Na sua visão, os sistemas éticos são recursos dos movimentos políticos para promover os interesses de uma classe contra outra. Há uma ética para a burguesia (os donos dos meios de produção) e outra para o proletariado (os trabalhadores nas fábricas). Quando o proletariado inicia a revolução, tudo que promove a revolução é bom, o que atrapalha é mau. Quando a revolução se torna vitoriosa, o que leva em direção a uma sociedade sem classes (o eschaton marxista) é bom, o que retarda é mau.

Padrões éticos específicos podem mudar á medida que os interesses da classe mudam. O que é bom hoje pode ser mau amanhã. Os comunistas americanos louvaram Hitler quando ele fez um pacto com Stalin. Quando Hitler quebrou o pacto, tudo que passou a fazer era mau.

Qual é a ética correta? Para Marx, não há retidão objetiva na ética, embora valorize muito a objetividade cientifica ao formular seu determinismo econômico. Quando jovens idealistas são atraídos ao marxismo por motivos éticos, é pastoralmente importante lembra-los de que para o marxismo a ética é negociável. Os interesses da classe são supremos, e a ética é um instrumento deles. Quando percebemos o marxismo dessa perspectiva, ele parece menos nobre.

No entanto, muitas vezes Marx fala como se seus julgamentos éticos fossem objetivos. Por exemplo, é famosa sua condenação do cristianismo como "o ópio do povo". Ele o considera uma ideologia maquinada pelos ricos para subjugar os trabalhadores, fazê-los satisfeitos com a miserável atual e com a recompensa celestial, de modo que não pensem em revolução. Os cristãos protestarão que o evangelho contribuiu muito ao longo do século para o bem-estar dos pobres e da sociedade em geral. Porém, Marx replica que também se deve fazer oposição a esse cristianismo "profético", pois causa mais mal do que bem. Gera esperanças falsas de reforma, pacífica as massas e, portanto, retarda a revolução necessária para uma mudança real.

Isso soa como uma critica ética ao cristianismo. Marx diz que o cristianismo é a ética religiosa que uma classe particular usa para oprimir outra classe. Mas devemos lembrar que a ética alternativa de Marx é apenas a ética de outra classe particular projetada, uma vez que aquela classe chegar ao poder, para oprimir qualquer classe rival. Marx não dá motivos - exceto pela lealdade à classe - para preferir essa ética à ética cristã. 

Podemos perceber em Marx a dialética racionalista-irracionalista. Marx nega a ética objetiva (irracionalismo), mas prega uma alternativa moralista e critica seus oponentes com certeza dogmática (racionalismo).[1]

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Nota:
 
[1] Veja Karl Marx e Friedrich Engels. O manifesto comunista (1848); Marx, O capital (1887)

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Fonte: FRAME, John. A Doutrina da Vida Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2013. Pags. 95-96

Igreja neopentecostais atraem jovens com baladas gospel

Sara Nossa Terra e Renascer em Cristo são algumas das denominações que realizam esses eventos
por Leiliane Roberta Lopes

Igreja neopentecostais atraem jovens com baladas gospelIgreja neopentecostais atraem jovens com baladas gospel
No dia 22 de março a sede da Igreja Sara Nossa Terra em São Paulo organizou a Festa Colors, uma balada gospel que atraiu cerca de 1,1 mil jovens entre 16 e 28 anos.
A estratégia é usada não apenas para entreter os evangélicos, mas também para atrair aqueles que não frequentam nenhuma igreja.
A reportagem da Folha de São Paulo acompanhou o evento e entrevistou o produtor João Rodrigues, mais conhecido no meio gospel como DJ MP7. Ele foi o responsável por agitar os jovens durante toda a noite.
MP7 garante que a falta de entretenimento nas igrejas faz com que muitos jovens busquem diversão em baladas seculares. “Não tem como negar. O jovem evangélico não tem opção para se divertir. Boliche todo dia cansa, muitos acabam indo para baladas seculares. E isso interfere no modo de vida cristão”, disse.
Ele chegou a fazer um levantamento em uma festa tradicional da Vila Olímpia e constatou que 30% dos frequentadores eram evangélicos. É nesses lugares que o produtor e DJ evangeliza, fazendo convite para que essas pessoas conheçam os eventos das igrejas. “A gente não cobra dessas pessoas. A gente convida. É uma estratégia de evangelização”.
Apesar de ainda causar estranhamento entre os religiosos mais tradicionais, balada gospel não é novidade no meio. A Igreja Renascer em Cristo faz evangelismos parecidos desde o final da década de 80.
Nessa época os membros da Renascer evangelizavam em locais pouco convencionais como a Galeria do Rock, no Centro de São Paulo, fazendo convites para os shows que aconteciam às segundas-feiras na antiga sede da igreja no Cambuci.
Com muita música e sem oferecer bebidas alcoólicas para os frequentadores, as baladas evangélicas são opções para quem quer evangelizar um amigo mais jovem que não aceitaria assistir a um culto normal.
“A gente diz para os jovens convidarem um colega da faculdade, um vizinho do bairro”, disse o bispo Felipe Corrêa, responsável pela balada Sky, da Igreja Renascer.
A balada da Sara Nossa Terra é coordenada pelo bispo Christiano Guimarães e acontece duas vezes por ano. Ali há “atalaias”, obreiros responsáveis em garantir que os casais não excedam nos carinhos e beijos trocados, enquanto o “bar” oferece apenas bebidas sem álcool. “Além de suco, refri e energético – muuuito energético-, tem batida. Sem álcool, claro”, diz o bispo.
Fonte:gospelprime

Casamento, uma instituição essencialmente cristã



Por R. C. Sproul


Alguns anos atrás, compareci a um casamento interessante. Fui especialmente surpreendido pela criatividade da cerimônia. A noiva e o noivo tinham desenvolvido ideias com o pastor para inserir elementos novos e empolgantes no culto, e eu gostei daqueles elementos. Contudo, no meio da cerimônia, eles incluíram porções da cerimônia de casamento clássica e tradicional. Quando comecei a ouvir as palavras da cerimônia tradicional, minha atenção foi despertada e fiquei comovido. Lembro-me de ter pensado: “Não há como melhorar isso, pois as palavras são tão belas e significativas”. Uma grande quantidade de reflexão e cuidado foi colocada nessas velhas e familiares palavras.

Hoje, é claro, muitos jovens estão não apenas dizendo “não” para a tradicional cerimônia de casamento, como também estão rejeitando o próprio conceito do casamento. Mais e mais jovens estão vindo de lares rachados e, como resultado, têm medo e desconfiança quanto ao valor do casamento. Então vemos casais vivendo juntos ao invés de se casarem, por medo de ser grande demais o custo de tal comprometimento. Eles temem que isso os torne vulneráveis demais. Isso significa que uma das mais estáveis e, costumávamos pensar, mais permanentes tradições de nossa cultura está sendo desafiada.

Uma das coisas que eu mais gosto na cerimônia tradicional de casamento é que ela inclui uma explicação para o motivo da existência de algo como o casamento. Nos é dito, naquela cerimônia, que o casamento é ordenado e instituído por Deus — isso significa dizer que o casamento não simplesmente brotou arbitrariamente de convenções sociais ou tabus humanos. O casamento não foi inventado por homens, mas por Deus.

Nós vemos isso nos primeiros capítulos do Antigo Testamento, onde encontramos o relato da criação. Encontramos que Deus vai criando em etapas, começando com a luz (Gn 1.3) e finalizando o processo com a criação do homem (v. 27). Em cada etapa, ele profere uma bênção, uma “boa palavra”. Deus repetidamente olha para o que ele criou e diz: “Isso é bom” (vv. 4, 10, 12, 18, 21, 25, 31).

Mas então, Deus nota algo que provoca não uma bênção, mas o que chamamos de maldição, isto é, uma “palavra má”. O que é essa coisa que Deus viu na sua criação que ele julgou como “não é bom”? Nós a encontramos em Gênesis 2.18, quando Deus declara: “Não é bom que o homem esteja só”. Isso o leva a criar Eva e a trazê-la até Adão. Deus instituiu o casamento, e ele o fez, em primeira instância, como uma resposta à solidão humana. Por essa razão, Deus inspirou Moisés a escrever: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (v.24).

Mas embora eu goste de apreciar as palavras da cerimônia tradicional de casamento, eu creio que a forma da cerimônia é ainda mais importante. Isso porque a cerimônia tradicional envolve fazer um pacto. Toda a ideia de pacto está profundamente enraizada no cristianismo bíblico. A Bíblia ensina que nossa própria redenção é baseada em um pacto. Muito poderia ser dito a respeito do caráter dos pactos bíblicos, mas uma faceta vital é que nenhum deles é uma questão privada. Todo pacto é tomado diante de testemunhas. É por isso que trazemos convidados aos nossos casamentos, para que eles testemunhem os nossos votos — e nos considerem responsáveis por cumpri-los. Uma coisa é um homem sussurrar expressões de amor para uma mulher quando ninguém ouve; mas é muito diferente quando ele fica de pé em uma igreja, diante de pais, amigos, autoridades eclesiásticas ou civis, e diante do próprio Deus e, lá, faz promessas de amá-la e protegê-la. Votos de casamento são promessas sagradas feitas na presença de testemunhas que se lembrarão delas.

Eu creio que o casamento é a mais preciosa de todas as instituições humanas. É também a mais perigosa. Em nossos casamentos, derramamos as nossas mais profundas expectativas. Colocamos as nossas emoções. Lá podemos alcançar a mais profunda felicidade, mas também podemos experimentar a maior decepção, a maior frustração, a maior dor. Com tudo isso em jogo, precisamos de algo mais solene do que uma promessa casual.

Mesmo em cerimônias formais de casamento, com o envolvimento de estruturas de autoridade, cerca de cinquenta por cento dos casamentos fracassam. Infelizmente, entre homens e mulheres que permanecem juntos como marido e mulher, muitos não se casariam com o mesmo cônjuge novamente, mas permanecem juntos por várias razões. Algo foi perdido quanto ao caráter sagrado e santo do pacto do casamento. A fim de fortalecer a instituição do casamento, devemos considerar fortalecer a cerimônia de casamento com uma clara e bíblica lembrança: o casamento é instituído por Deus e forjado à sua vista.

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Fonte: Ligonier Ministries
Tradução: Alan Cristie

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Provando se procede de Deus

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Por Denis Monteiro


O que é ser espiritual? Ser espiritual é ir à igreja varias vezes? Ser espiritual é determinar pelo tempo que eu oro? Ser espiritual é ser moldado pelas experiências que tive ou o cargo que eu possuo na igreja? 

Cristo já havia predito que falsos cristos e falsos profetas agiriam, agiriam de tal forma que se possível enganaria até os eleitos, pois viriam vestidos de peles de ovelhas (Mateus 7.15;  24.24). Desde o derramamento do Espírito Santo em Atos 2, Deus agiu extraordinariamente na vida da igreja. No entanto, havia falsificações que se disseminavam. Os apóstolos combateram e alertaram a igreja dessas heresias e falsos mestres (Atos 8.9; 13.6-8; 16.16; 20.29,30; 2 Timóteo 3.5; 4.3; 2 Pedro 2.1-3).

Diante disso, como podemos saber quem provém de Deus ou não? Quem é o verdadeiro mestre? Quem é o espiritual? Quais são algumas das características deste verdadeiro? João, em sua carta, aponta três caraterísticas dos verdadeiros crentes e por consequência dos verdadeiros mestres. Um dos textos que João enfatiza é quarto capitulo de sua primeira carta. Nestes textos vemos as três características para identificarmos o verdadeiro crente e o verdadeiro mestre. 

João, em sua introdução ao “teste”, mostra que devemos provar se os espirito provêm de Deus “porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” e, a partir dos versos 2-6 mostra 3 características de uma pessoa que possui o Espírito de Deus. Então abordarei somente o que João nos mostra. 

A primeira característica é: Apreço por Cristo (vs 2-3)

Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já agora está no mundo. (1 João 4.2-3)

Umas das heresias que a igreja do primeiro século enfrentou, e ainda enfrenta, era contra a natureza humana e divina de Cristo. Nos três primeiros séculos da Era Cristã o gnosticismo influenciava (e muito) as religiões monoteístas. Era uma doutrina com implicações filosóficas, que para resumir numa visão bíblico-teológica, o espirito seria santo e a matéria pecado (espírito = bom, matéria = mal). Então, crer que o Filho de Deus veio em carne, para um gnóstico, seria impossível. Pois como alguém santo pode ser encarcerado em uma matéria má? Para o gnosticismo falar que Cristo era o Verbo (logos) encarnado seria uma mentira. Mas isso não passa, apenas, de uma má interpretação e uma ação demoníaca. Primeiro: a Bíblia é clara em mostrar que Deus criou Adão sem pecado contendo um espírito e um corpo (Gn 1.27; 2.7). Segundo: a Escritura não escondeu a natureza humana de Cristo. Os Evangelistas, Mateus e Lucas, falaram do Seu nascimento (Mateus 1.18ss; Lucas 2), a bíblia fala de sua encarnação (João 1.1-14), que Jesus teve fome (Mateus 1.18), que chorou (João 11.35) e que foi ferido e tais feridas foram mostradas aos seus discípulos (João 20.25,27). Estas são provas de que Cristo, o Filho de Deus, foi homem como nós, mas sem pecado. Como o próprio João pergunta: Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho. Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai; mas aquele que confessa o Filho, tem também o Pai. (1 João 2.22-23). Isso não só implica teologicamente. A vida cristã também pode mostrar se confessamos ou não a Cristo. Como diz Jonathan Edwards: a palavra confessar, como normalmente usada no Novo Testamento, significa mais do que admitir, implica estabelecer e confirmar algo pelo testemunho, proclamando-o com manifestações de estima e zelo. Ou seja, confessar que Cristo veio em carne é louvar Seu nome entre os gentios e cantar Seu nome entre as nações (cf. Rm 15.9). É confessa-lo diante dos homens (Mt 10.32). É confessar que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp 2.11). No entanto, a Escritura compara o confessar com obras: Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda a boa obra (Tito 1.16). 

A segunda característica é: Apreço em combater o pecado (vs 4-5)

Filhinhos, sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo. Do mundo são, por isso falam do mundo, e o mundo os ouve. (1 João 4.4-5)

O apóstolo João aqui estabelece a antítese entre o Espirito verdadeiro e o falso. João conforta o coração dos leitores de sua carta mostrando que eles eram filhos de Deus e o que habitava neles era maior do que o que habitava no mundo. 

Enquanto o crente possui o Espirito de Deus, o mundo possui o espirito do anticristo. Como foi mostrado acima, quem é de Deus confessa que Jesus veio em carne ou como diz Paulo que ninguém pode falar que “Jesus é o Senhor!” a não ser pelo Espirito Santo (cf. 1Co 12.3). Ao contrário do mundo, o Espirito de Deus em seu povo age, conforme o escrito paulino, em: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5.22,3; cf. Ef 4.25-32). O espirito deste mundo além de negar a Cristo, age impiamente. Todo e qualquer que age, permanentemente, contrário à vontade de Deus este é o espirito de anticristo, todavia o Espirito de Deus age em nós para nos fazermos santos a cada dia dedicando-se a Deus, como diz Jonathan Edwards: “se diminui o apego dos homens aos prazeres, benefícios e honras do mundo; se arranca de seus corações a procura ambiciosa dessas coisas; se os envolve em uma profunda solicitude pela condição futura e pela fidelidade eterna revelada no evangelho, levando-os a uma busca zelosa do reino de Deus e sua justiça; se os convence a respeito da terrível natureza do pecado, da culpa que ele provoca e da desgraça a que expõe as pessoas – esse só pode ser o Espirito de Deus.

Por isso, aquele que tem o Espirito de Deus ele também tem: Apreço pela verdade (vs 6) - A terceira característica.

Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro. (1 João 4.6)  

Este versículo é semelhante às palavras de Jesus o qual o próprio João relatou em seu evangelho: “Quem é de Deus ouves as palavras de Deus” (João 8.47). Então, podemos entender o que João quis dizer em sua epístola. De que aqueles que não são de Deus, além de ter o espirito de anticristo, eles eram iguais aos fariseus, pois tinha o mesmo pai, o Diabo (João 8.44). Mas suas ovelhas ouvem Sua voz e elas O seguem (cf. João 10.27). 

Aquele que tem o Espírito de Deus este conhece a Deus. Esse “conhece”, o qual João diz, gramaticalmente, indica uma pessoas em ação para adquirir conhecimento de Deus. Ou seja, aquele é de Deus estima em adquirir e prosseguir conhecendo o Deus que o chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. Não há possibilidade de alguém querer conhecer a Deus, verdadeiramente e em santidade, sem ser escolhido por Deus, pois João diz que “aquele que é de Deus” e não “quem adquire conhecimento este se torna filho de Deus”. 

Eu fico em dúvida quando vejo as megas igrejas lotadas, mas que são vazias do conhecimento Divino. Não há lógica em crer que em um lugar, que se diz que o Espirito Santo está agindo “maravilhosamente” não aja “maravilhosamente” na vida das pessoas em santificação e dedicação na Palavra de Deus. Creio não ser o mesmo Espírito, pois a promessa de Cristo foi que quando Ele viesse guiaria o seu povo em toda verdade (cf. João 16.13) e como saber se há verdade se não leem as Escrituras? Como provar os espíritos se não leem as Escrituras? Como saber se tal profecia veio de Deus se não leem as Escrituras? 

Igrejas sem doutrina ortodoxa, igrejas sem ensino da Palavra de Deus, igrejas que têm pastores que não são obreiros aprovados são um prato cheio para que Satanás aja sorrateiramente, para que, de uma vez por todas, afunde esta igreja em erros. 

Conclusão

Devemos analisar, primeiramente, nossas vidas e ver se nos encaixamos nos requisitos que o texto nos mostra, para que, depois, possamos analisar outro. Pois do que adiantaria acusar o falso profeta se nossa vida é igual?

Pois, podemos nos enganar a nós mesmos com uma falsa cristandade e, assim, julgarmos precipitadamente a outro. 

E tal prova só pode ser analisada à luz das Escrituras. São as Escrituras que devem moldar nossas vidas e a vida espiritual da Igreja. 

Amém! 

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Notas:
[1] Cf.: LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando o Novo Testamento: Primeira Carta de João– São Paulo. Cultura Cristã, 2004. P. 21
[2]  EDWARDS Jonathan. A verdadeira obra do Espirito: sinais de autenticidade. 2º ed. rev. – São Paulo. Vida Nova, 2012. P. 46
[3] Ibid., p. 49

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Fonte: Bereianos

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