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sexta-feira, 11 de maio de 2012

PASTORES FERIDOS




Pastores que abandonam o púlpito enfrentam o difícil caminho da auto-aceitação e do recomeço.

Por Marcelo Brasileiro


Desânimo, solidão, insegurança, medo e dúvida. Uma estranha combinação de sensações passou a atormentar José Nilton Lima Fernandes, hoje com 41 anos, a certa altura da vida. Pastor evangélico, ele chegou ao púlpito depois de uma longa vivência religiosa, que se confunde com a de sua trajetória. Criado numa igreja pentecostal, Nilton exerceu a liderança da mocidade já aos 16 anos, e logo sentiria o chamado – expressão que, no jargão evangélico, designa aquele momento em que o indivíduo percebe-se vocacionado por Deus para o ministério da Palavra. Mas foi numa denominação do ramo protestante histórico, a Igreja Presbiteriana Independente (IPI), na cidade de São Paulo, que ele se estabeleceu como pastor. Graduado em Direito, Teologia e Filosofia, tinha tudo para ser um excelente ministro do Evangelho, aliando a erudição ao conhecimento das Sagradas Escrituras. Contudo, ele chegou diante de uma encruzilhada. Passou a duvidar se valeria mesmo a pena ser um pastor evangélico. Afinal, a vida não seria melhor sem o tal “chamado pastoral”?

As razões para sua inquietação eram enormes. Ordenado pastor desde 1995, foi justamente na igreja que experimentou seus piores dissabores. Conheceu a intriga, lutou contra conchavos, desgastou-se para desmantelar o que chama de “estrutura de corrupção” dentro de uma das igrejas que pastoreou. Mas, no fim de tudo isso, percebeu que a luta fora inglória. José Nilton se enfraqueceu emocionalmente e viu o casamento ir por água abaixo. Mesmo vencendo o braço-de-ferro para sanar a administração de sua igreja, perdeu o controle da vida. A mulher não foi capaz de suportar o que o ministério pastoral fez com ele. “Eu entrei num processo de morte. Adoeci e tive que procurar ajuda médica para me restabelecer”, conta. Com o fim do casamento, perdeu também a companhia permanente da filha pequena, uma das maiores dores de sua vida.

Foi preciso parar. No fim de 2010, José Nilton protocolou uma carta à direção de sua igreja requisitando a “disponibilidade ativa”, uma licença concedida aos pastores da denominação. Passou todo o ano de 2011 longe das funções ministeriais. No período, foi exercer outras funções, como advogado e professor de escola pública e de seminário. “Acho possível servir a Jesus, independentemente de ser pastor ou não”, raciocina, analisando a vida em perspectiva. “Não acredito mais que um ministério pastoral só possa ser exercido dentro da igreja, que o chamado se aplica apenas dentro do templo. Quebrei essa visão clerical”. Reconstruindo-se das cicatrizes, Nilton casou-se novamente. E, este ano retornou ao púlpito, assumindo o pastoreio de uma igreja na zona leste de São Paulo. Todavia, não descarta outro freio de arrumação. “Acho que a vida útil de um líder é de três anos”, raciocina. “É o período em que ele mantém toda a força e disposição. Depois, é bom que esse processo seja renovado”. É assim que ele pretende caminhar daqui para frente: sem fazer do pastorado o centro ou a razão da sua vida.

Encontrar o equilíbrio no ministério não é tarefa fácil. Que o digam os ex-pastores ou pastores afastados do púlpito que passam a exercer outras atividades ou profissões depois de um período servindo à igreja. Uma das maiores denominações pentecostais do país, a Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), com seus 30 mil pastores filiados – entre homens e mulheres –, registra uma deserção de cerca de 70 pastores por mês desde o ano passado. Os números estão nas circulares da própria igreja. Não é gente que abandona a fé em Cristo, naturalmente; em sua maioria, os religiosos que pedem licença ou desligamento das atividades pastorais continuam vivendo sua vida cristã, como fez José Nilton no período em que esteve afastado do púlpito. É que as pressões espirituais e as demandas familiares e pessoais dos pastores, nem sempre supridas, constituem uma carga difícil de suportar ao longo doa anos. Some-se a isso os problemas enfrentados na própria igreja, as cobranças da liderança, a necessidade de administrar a obra sob o ponto de vista financeiro e – não raro – as disputas por poder e se terá uma ideia do conjunto de fatores que podem levar mesmo aquele abençoado homem de Deus a chutar tudo para o alto.

A própria IPI, onde José Nilton militou, embora muito menor que a Quadrangular – conta com cerca de 500 igrejas no país e 690 pastores registrados –, teria hoje algo em torno de 50 ministros licenciados, número registrado em relatório de 2009. Pode parecer pouco, mas representa quase dez por cento do corpo de pastores ativos. Caso se projete esse percentual à dimensão da já gigantesca Igreja Evangélica brasileira, com seus aproximadamente 40 milhões de fiéis, dá para estimar que a defecção dos púlpitos é mesmo numerosa. De acordo com números da Fundação Getúlio Vargas, o número de pastores evangélicos no país é cinco vezes maior do que a de padres católicos, que em 2006 era de 18,6 mil segundo o levantamento Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais. Porém, devido à informalidade da atividade pastoral no país, é certo que os números sejam bem maiores.



FERIDOS QUE FEREM

O chamado pastoral sempre foi o mais valorizado no segmento evangélico. Por essa razão, é de se estranhar quando alguém que se diz escolhido por Deus para apascentar suas ovelhas resolva abandonar esse caminho. Nos Estados Unidos, algumas pesquisas tentam explicar os principais motivos que levam os pastores a deixar de lado a tarefa que um dia abraçaram. Uma delas foi realizada pelo ministério LifeWay, que, por telefone, contatou mil pastores que exerciam liderança em suas comunidades eclesiásticas. E o resultado foi que, apesar de se sentirem privilegiados pelo cargo que ocupavam (item expresso por 98% dos entrevistados), mais da metade, ou 55%, afirmaram que se sentiam solitários em seus ministérios e concordavam com a afirmação “acho que é fácil ficar desanimado”. Curiosamente, foram os veteranos, com mais 65 anos, os menos desanimados. Já os dirigentes das megaigrejas foram os que mais reclamaram de problemas. De acordo com o presidente da área de pesquisas da Life Way, Ed Stetzer – que já pastoreou diversas igrejas –, a principal razão para o desânimo pode vir de expectativas irreais. “Líderes influenciados por uma mentalidade consumista cristã ferem todos os envolvidos”, aponta. “Precisamos muito menos de clientes e muito mais de cooperadores”, diz, em seu blog pessoal.

Outras pesquisas nos EUA vão além. O Instituto Francis Schaeffer, por exemplo, revelou que, no último ano, cerca de 1,5 mil pastores têm abandonado seus ministérios todos os meses por conta de desvios morais, esgotamento espiritual ou algum tipo de desavença na igreja. Numa pesquisa da entidade, 57% dos pastores ouvidos admitiram que deixariam suas igrejas locais, mesmo se fosse para um trabalho secular, caso tivessem oportunidade. E cerca de 70% afirmam sofrer depressão e admitem só ler a Bíblia quando preparam suas pregações. Do lado de cá do Equador, o nível de desistência também é elevado, ainda mais levando-se em conta as grandes expectativas apresentadas no início da caminhada pastoral pelos calouros dos seminários. “No começo do curso, percebemos que uma boa parte dos alunos possui um positivo encantamento pelo ministério. Mais adiante, já demonstram preocupação com alguns dilemas”, observa o diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, o pastor batista Lourenço Stélio Rega. Ele estima que 40% dos alunos que iniciam a faculdade de teologia desistem no meio do caminho. Os que chegam à ordenação, contudo, percebem que a luta será uma constante ao longo da vida ministerial – como, aliás, a própria Bíblia antecipa.

E, se é bom que o ministro seja alguém equilibrado, que viva no Espírito e não na carne, que governa bem a própria casa, seja marido de uma só mulher (ou vice-versa, já que, nos tempos do apóstolo Paulo não se praticava a ordenação feminina) e tantos outros requisitos, forçoso é reconhecer que muita gente fica pelo caminho pelos próprios erros. “O ministério é algo muito sério” lembra Gedimar de Araújo, pastor da Igreja Evangélica Ágape em Santo Antonio (ES) e líder nacional do Ministério de Apoio aos Pastores e Igrejas, o Mapi. “Se um médico, um advogado ou um contador erram, esse erro tem apenas implicação terrena. Mas, quando um ministro do Evangelho erra, isso pode ter implicações eternas.”

Desde que foi criado, há 20 anos, em Belo Horizonte (MG), como um braço do ministério Servindo Pastores e Líderes (Sepal), o Mapi já atendeu milhares de pastores pelo país. Dessa experiência, Gedimar traça quatro principais razões que podem ser cruciais para a desmotivação e o abandono do ministério. “Ativismo exagerado, que não deixa tempo para a família ou o descanso; vida moral vacilante, que abre espaço para a tentação na área sexual; feridas emocionais e conflitos não resolvidos; e desgaste com a liderança, enfrentando líderes autoritários e que não cooperam”, enumera. Para ele, é preciso que tanto os membros das igrejas quanto as lideranças denominacionais tenham um cuidado especial com os pastores. “Muitos sofrem feridas, como também, muitas vezes, chegam para o ministério já machucados. E, infelizmente, pastor ferido acaba ferindo”.

Quanto à responsabilidade do próprio pastor com o zelo ministerial, Gedimar é taxativo: “É melhor declinar do ministério do que fazê-lo de qualquer jeito ou por simples necessidade”. A rede de apoio oferecida pelo Mapi supre uma lacuna fundamental até mesmo entre os pastores – a do pastoreio. “É preciso criar em torno do ministro algumas estruturas protetoras. É muito bom que o líder conte com um grupo de outros pastores onde possa se abrir e compartilhar suas lutas; um mentor que possa ajudá-lo a crescer e acompanhamento para seu casamento e família e, por fim, ter companheiros com quem possa desenvolver amizades e relacionamentos saudáveis e sólidos”, enumera.



EXPECTATIVAS

Juracy Carlos Bahia, pastor e diretor-executivo da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB), sediada no Rio de Janeiro, conhece bem o dilema dos colegas que, a certa altura do ministério, sentem-se questionados não só pelos outros, mas, sobretudo, por si mesmos. Ele lida com isso na prática e sabe que o preço acaba sendo caro demais. “Toda atividade que envolve vocação, como a do professor, a do médico ou a do pastor, é vista com muita expectativa. Quando se abandona esse caminho, é natural um sentimento de inadequação”. Para Bahia, o desencantamento com o ministério pastoral é fruto também do que entende como frustrações no contexto eclesiástico. Há pastores, por exemplo, que julgam não ter todo seu potencial intelectual utilizado pela comunidade. “Às vezes, o ministro acha que a igreja que pastoreia é pequena demais para seus projetos pessoais”, opina. Isso, acredita Bahia, estimula muitos a acumularem diversas funções, além das pastorais. “Eu defendo que os pastores atuem integralmente em seus ministérios. Porém, o que temos visto são pastores-advogados, pastores-professores, enfim, pastores que exercem outras profissões paralelas ao púlpito”, observa.

No entender do dirigente da OPBB, esse acúmulo de funções mina a energia e o potencial do obreiro para o serviço de Deus. A associação reúne aproximadamente dez mil pastores batistas e Bahia observa isso no seio da própria entidade: “Creio que metade deles sofra com a fuga das atividades pastorais para as seculares”. Contudo, ele acredita que deixar o ministério não é algo necessariamente negativo. “A pessoa pode ter se sentido vocacionada e, mais adiante na vida, por meio da experiência, das orações e interação com outros pastores, é perfeitamente possível chegar à conclusão que a interpretação que fez sobre seu chamado não foi adequada e sim emotiva”.

Quando, já na meia idade, casado e com dois filhos, ingressou no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN), na capital pernambucana, Recife, Francisco das Chagas dos Santos parecia um menino de tanto entusiasmo. Nem mesmo as críticas de parentes para que buscasse uma colocação social que lhe desse mais status e dinheiro o desmotivou. “A igreja, para mim, é a melhor das oportunidades de buscar e conhecer meu Criador para que, pela graça, eu continue com firmeza a abrir espaço em meu coração para que ele cumpra sua vontade em mim, inclusive no ministério pastoral”, anotou em sua redação para o ingresso no SPN, em 1998. Ele formou-se no curso, foi ordenado pastor em 2003 e dirigiu igrejas nas cidades de Garanhuns e Saloá.

Hoje, aos 54 anos, Francisco trabalha como servidor público no Instituto Agronômico de Pernambuco. Ainda não curou todas as feridas e ressentimentos desde que, em 2010, entregou seu pedido de desligamento da denominação. Ele lamenta o tratamento recebido pelos seus superiores enquanto foi pastor. “Minha opinião sobre igreja não mudou. Nunca planejei um dia pedir licença ou despojamento do ministério. Mas entendo que somos o Corpo de Cristo, e, se uma unha dói, todos nós estamos doentes”, pondera. “Não é possível ser pastor sem pensar em restaurar vidas – e existem muitas vidas precisando de conserto, inclusive entre nós, pastores”.

A vida longe dos púlpitos ainda não foi totalmente sublimada e Francisco sabe bem que será constantemente indagado sobre sua decisão de deixar o ministério. “A impressão é que você deixou um desfalque, que adulterou ou algo parecido”, observa. Ele não considera voltar a pastorear pela denominação na qual se formou, porém não consegue deixar de imaginar-se como pastor. “Uma vez pastor, pastor para sempre”, recita, “muito embora as pessoas, em geral, acreditem que seja necessário um púlpito.”





Porta de saída



Pesquisa realizada nos Estados Unidos traçou um panorama dos problemas da atividade pastoral...



70% dos pastores admitem sofrer de depressão e estresse

80% deles sentem-se despreparados para o ministério

70% afirmam só ler a Bíblia quando precisam preparar seus sermões

40% já tiveram casos extraconjugais

30% reconhecem ter reduzido as próprias contribuições às igrejas após a crise financeira



... e avaliou as consequências disso:



1,5 mil pastores deixam o púlpito todos os meses

5 mil religiosos buscavam emprego secular no ano de 2009, mais do que o dobro do que ocorria em 2005

2 a 3 anos de ministério é o tempo médio em que os pastores deixam suas igrejas, sendo em direção a outras denominações ou não



Fontes: Barna Group, Christian Post, The Wall Street Journal, Instituto Francis A. Schaeffer e Instituto Jetro





Rebanho às avessas



A maioria dos pastores que se afastam de suas atividades ministeriais não abandona a fé em Cristo. Cada um deles, a seu modo, mantém sua vida espiritual e o relacionamento pessoal com Deus. Mas há quem saia do púlpito pela porta dos fundos, renegando as crenças defendidas com ardor durante tantos anos de atividade sacerdotal. Para estes – e, é bom que se diga, trata-se de uma opção nada recomendável –, existe a Freedom from Religion Foundation (“Fundação para o fim da religião”), entidade criada por ninguém menos que o mais famoso apologista do ateísmo da atualidade, o escritor britânico Richard Dawkins, autor do best-seller Deus, um delírio. Ele e um grupo de céticos lançaram o Projeto Clero, iniciativa que visa a apoiar ex-clérigos – pastores, padres, rabinos – no reinício da vida longe das funções religiosas. “Sacerdotes que perdem sua fé sofrem uma penalização dupla. Eles perdem seu emprego e, ao mesmo tempo, sua família e a vida que sempre tiveram”, argumenta Dawkins, no site do projeto. Não se tem notícia confiável de quantos ex-líderes aderiram ao Projeto Clero, mas parece óbvio que a ideia do refúgio ateu não é apenas abraçar sacerdotes cansados da vida religiosa, mas também engrossar o rebanho crescente daqueles que repudiam a possibilidade da existência de Deus.





Mudança difícil



Não foi uma escolha fácil. Quando o ex-pastor batista Osmar Guerra decidiu que seu lugar não era mais o púlpito, logo foi fustigado por olhares de decepção das pessoas que estavam ao seu redor e acreditavam em seu trabalho espiritual. Afinal, desde menino ele era o “pastorzinho” de sua igreja em Piracicaba, no interior paulista. Desinibido e articulado, o garoto, bem ensinado pelos pais na fé cristã, apresentava uma natural vocação para o pastorado. Por isso, foi natural sua decisão de matricular-se Faculdade Teológica Batista de São Paulo e, após os anos de estudo, assumir a função de pastor de adolescentes da Igreja Batista da Água Branca (IBAB), na capital paulista.

Começava ali uma promissora carreira ministerial. Osmar dividia seu trabalho entre as funções na igreja e as aulas de educação cristã, lecionadas no tradicional Colégio Batista. Tempos depois, o pastor transferiu-se para outra grande e prestigiada congregação, a Igreja Batista do Morumbi. Mas algo estava fora de sintonia, e Osmar sabia disso. Toda sua desenvoltura na oratória, sua capacidade de mobilização e seu espírito de liderança poderiam não ser, necessariamente, características de uma vocação pastoral. E, como dizem os jovens que ele tanto pastoreou, pintou uma dúvida: seu lugar era mesmo diante do rebanho? “Eu era um excelente animador. Mas me faltava vocação, e fui percebendo isso cada vez mais”.

O novo caminho, ele sabia, não seria compreendido com facilidade pela família, pelos amigos e pelas ovelhas. Mas ele decidiu voltar a estudar, e escolheu a área de rádio e TV. E, mesmo ali, não escapou do apelido de “pastor”, aplicado pela turma. Quando conseguiu um estágio na TV Record, percebeu que ficava totalmente à vontade entre os cenários, as produções e os auditórios. Com seu talento natural, Osmar deslanchou, e o artista acabou suplantando o pastor. Depois de pedir demissão da igreja, em 2005, ele galgou posições na emissora e hoje é o produtor de um dos programas de maior sucesso da casa, O melhor do Brasil, apresentado pelo Rodrigo Faro.

“Durante muito tempo, fiquei em crise”, reconhece hoje, aos 31 anos. “Tive medo de tomar a decisão de deixar de ser pastor. Mas, hoje, sinto-me mais confiante e honesto comigo mesmo e perante os outros”, garante. Longe do púlpito, mas não de Jesus, Osmar Guerra continua participativo na sua igreja, a IBAB, onde toca e canta no louvor. De sua experiência, ele se acha no direito de aconselhar os mais jovens. “Defendo que, antes do seminário, as pessoas busquem formação em outras áreas, ainda mais quando são novas”, diz. Isso, segundo ele, pode abrir novas possibilidades se o indivíduo, por um motivo qualquer, sentir-se desconfortável no púlpito. Contudo, ele não descarta o valor de um chamado genuíno: “Se, mesmo assim, a vontade de se tornar um pastor continuar, isso é sinal de que o caminho pode ser esse mesmo.”
Fonte:Cristianismo Hoje

ESTUDOS MOSTRAM QUE CERCA DE 1,5 MIL PASTORES ABANDONAM O MINISTÉRIO PASTORAL TODOS OS MESES



Estudo mostra que cerca de 1,5 mil pastores abandonam o ministério pastoral todos os meses

O jornalista Marcelo Brasileiro publicou uma matéria na revista Cristianismo Hoje na qual falou sobre a quantidade crescente de pastores que abandonam o ministério pastoral por não suportarem as cobranças que esse sacerdócio exige.
A reportagem aponta pesquisas como a realizada pelo ministério LifeWay, que aponta que apesar de se sentirem privilegiados pelo cargo que ocupavam (item expresso por 98% dos entrevistados), mais da metade dos pastores entrevistados, ou 55%, afirmaram que se sentiam solitários em seus ministérios e concordavam com a afirmação “acho que é fácil ficar desanimado”.
Outra pesquisa sobre o tema é a do Instituto Francis Schaeffer, que revelou que, no último ano, cerca de 1,5 mil pastores têm abandonado seus ministérios todos os meses por conta de desvios morais, esgotamento espiritual ou algum tipo de desavença na igreja. Em uma das maiores denominações pentecostais do país, a Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), cerca de 70 pastores saíram da igreja por mês desde o ano passado.
Não se trata de pessoas que abandonam a fé cristã, mas de líderes que deixam o púlpito por não suportarem o as exigências do cargo.
Temos como exemplo o pastor José Nilton Lima Fernandes, 41 anos, que durante todo o ano de 2011 esteve de licença e afirma que essa experiência lhe mostrou que é possível servir ao ministério pastoral sem estar dirigindo uma igreja. “Não acredito mais que um ministério pastoral só possa ser exercido dentro da igreja, que o chamado se aplica apenas dentro do templo. Quebrei essa visão clerical”, explica.
“Eu entrei num processo de morte. Adoeci e tive que procurar ajuda médica para me restabelecer”, completou o pastor, que conta ter pedido licença da sua função na Igreja Presbiteriana Independente (IPI) no final de 2010, depois de quase 15 anos enfrentando problemas.
Atualmente Nilton está casado novamente e retomou seu trabalho como pastor em uma IPI da zona leste da capital paulista.
Fonte: Gospel+

A MÃE DE MOISÉS


Meu nome é Joquebede, que quer dizer “Jeová é a minha glória”. Tenho algumas lembranças muito tristes, como o estupro de minha tia Diná e a vingança cruel que meu pai Levi e meu tio Simeão infligiram aos siquemitas. Sou casada com Anrão, que é meu sobrinho. Para mexer comigo, meu marido, de vez em quando, me chama de tia. Somos tementes a Deus. Acabamos de sair do Egito e estamos acampados ao pé do monte Sinai. Faraó custou a nos deixar sair e só o fez depois de grandes manifestações de julgamento da parte de Deus. Meus filhos Moisés e Arão foram os instrumentos que Deus usou para nos retirar do Egito. Nosso destino é Canaã, a terra que mana leite e mel,prometida aos nossos antepassados Abraão, Isaque e Jacó, que a percorreram de ponta a ponta. Estou bem avançada em anos. Não sei se chegarei até lá. Mas sinto-me realizada e profundamente grata a Deus por todos os seus benefícios.
Salvo do genocídio
Estou me lembrando agora de quando fiquei grávida pela terceira vez, há oitenta anos. A essa altura já tínhamos uma filha e um filho: Miriã e Arão. Os tempos eram muito difíceis. Faraó começava a apertar o cerco contra nós. Não valia a pena colocar mais filho no mundo. Anrão e eu evitávamos o relacionamento físico naqueles dias em que certamente poderia ocorrer uma gravidez. Mas houve um lapso e fiquei esperando um bebê. Orávamos diariamente para que fosse uma menina, porque Faraó havia ordenado a matança pura e simples de qualquer criança do sexo masculino nascida entre os hebreus. Era uma questão de segurança nacional, justificava o rei do Egito. Achamos por bem esconder a gravidez. Então passei a usar roupas ainda mais largas. De vez em quando uma comadre me dizia que eu estava engordando e eu, naturalmente, concordava com ela para encerrar a conversa o mais rápido possível. O parto foi bem discreto: meu marido mesmo cuidou de mim. Não era a menina que havíamos pedido insistentemente a Deus, mas um menino robusto e formoso. Todos nos entreolhamos e assumimos a situação. Como ninguém sabia da gravidez, resolvemos ocultar também a própria criança.
A tarefa não foi fácil. As fraldas eram lavadas e estendidas dentro de casa para não chamar a atenção das pessoas. Acho que nenhum recém-nascido tomou tanto mel quanto esse nosso filho: mal ele começava a chorar, Miriã pingava uma gota de mel na boca do garoto. Se insistisse no choro, a família inteira entoava o mais alto possível os cânticos do Senhor. Éramos conhecidos como a família cantante. Não podendo escondê-lo por mais tempo, calafetamos com betume e piche um pequeno cesto de junco e nele colocamos o menino, então com 3 meses de idade. Eu mesma levei o cestinho e o larguei no carriçal à beira do rio Nilo, nas proximidades do sítio onde a filha de Faraó costumava banhar-se. Era um lugar mais ou menos seguro, longe da correnteza, a salvo dos crocodilos, da famosa tilápia nilótica (que chega a pesar 90 quilos) e do peixe-elétrico (que é capaz de produzir uma descarga de 300 a 400 volts). Meu medo maior era de um tipo de cobra venenosa chamada naja haie, comum no Egito. Mas todo o nosso plano foi preparado na presença e na dependência de Deus, com muita oração. Desde o nascimento do menino, tive o pressentimento de que ele era formoso também aos olhos de Deus. Voltei para casa e deixei Miriã nas proximidades do lugar onde o menino ficara.
Salvo das águas
Deus fez infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos. O plano deu certo. A filha de Faraó desceu ao rio dos rios e logo viu o estranho cestinho. Curiosa, ela mesma o tomou e o abriu. Meu filho chorava — estava molhado de xixi, com fome e sem as gotinhas de mel de Miriã — e a princesa se ligou imediatamente a ele. Ela era uma das sessenta filhas de Ramessés II e se chamava Merris. A jovem logo percebeu que o menino era filho de hebreus e o adotou. Nesse momento, Miriã entrou em cena e se ofereceu para chamar uma mulher hebreia para amamentar a criança até o desmame. A princesa deu o seu consentimento — afinal o garoto estava morto de fome e chorava sem parar. Minutos depois, lá estava eu com meu próprio filho ao seio, sem que Merris soubesse que eu era a mãe dele. Por ironia da história, até recebi salário para cuidar do menino. A filha de Faraó deu-lhe o nome de Moisés, que significa “salvo das águas”. Só então percebi que nossas orações devem ser flexíveis e inteiramente sujeitas à vontade e à sabedoria de Deus. Felizmente, o Senhor não as ouviu ao pé da letra, quando lhe pedíamos que viesse uma menina e não um menino.
Salvo dos prazeres transitórios do pecado
Além de alimentar Moisés e lhe dispensar outros cuidados físicos, transmiti-lhe as primeiras impressões e informações recebidas de nossos ancestrais sobre Deus e sobre o nosso povo. Porém ele foi educado em toda a ciência dos egípcios. Tornou-se um homem poderoso em palavras e obras. Aos 40 anos, ele recusou ser chamado filho da filha de Faraó e se identificou conosco, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado. Abandonou o Egito e permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível. Mais tarde, já casado e com dois filhos, Deus lhe apareceu na terra de Midiã, numa chama de fogo, e o comissionou para liderar o êxodo de Israel.
Ao voltar ao Egito, aconteceu uma coisa terrível: Deus veio ao seu encontro numa estalagem e o quis matar. Pode parecer muito estranho o Senhor querer destruir o instrumento que Ele mesmo escolheu, preparou e equipou. Moisés e Zípora, sua mulher, logo entenderam que tratava-se de uma advertência divina para que eles circuncidassem os filhos, cumprindo assim “o sinal da aliança” dado por Deus a Abraão e aos seus descendentes.
Quanto ao êxodo e à nossa viagem até aqui, ao pé do monte Sinai, privo-me de narrar todos os fatos para não me alongar demais. Há vários dias, Moisés se encontra no alto do monte de Deus. Aqui embaixo há uma certa inquietação e uma movimentação que começa a me preocupar. Estou orando muito por Arão, três anos mais velho que Moisés. A responsabilidade dele é muito grande.
Nota
Retirado do livro Deixem Que Elas Mesmas Falem, de Elben César.
O título original é “Meu filho é homem. E agora?”.
Diretor-fundador da Editora Ultimato e redator da revista Ultimato, Elben César é autor de, entre outros, Mochila nas Costas e Diário na MãoPara Melhor Enfrentar o SofrimentoConversas com LuteroRefeições Diárias com os Profetas MenoresA Pessoa Mais Importante do MundoHistória da Evangelização do Brasil Práticas Devocionais. Ex-presidente da Associação de Missões do Terceiro Mundo e fundador do Centro Evangélico de Missões, do qual é presidente de honra, é também jornalista e pastor emérito da Igreja Presbiteriana de Viçosa.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

OBAMA TRAI PRINCÍPIOS CRISTÃOS E SE DECLARA A FAVOR DE CASAMENTO GAY

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, trai suas convicções religiosas e se declara a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. A confissão aconteceu em entrevista nesta quarta-feira, 9, à rede de TV “ABC”.
Segundo divulgado pela emissora, Obama afirmou que o casamento entre pessoas do mesmo sexo deveria ser permitido, ressaltando que sua opinião é pessoal e que os Estados devem decidir a respeito. Obama é o primeiro presidente americano a expressar publicamente seu apoio ao casamento gay.
Obama, que sempre se declarou evangélico, tentou explicar o motivo de sua “mudança de ideia” dizendo que hesitou em apoiar totalmente o casamento gay por achar que a união civil seria suficiente. Mas disse ter conversado sobre a questão com sua equipe, sua mulher e filhas, que têm amigos cujos pais são casais homossexuais. O presidente citou integrantes de sua própria equipe que “estão totalmente comprometidos em relações homossexuais monogâmicas, e estão criando filhos juntos”.
Mencionou também sobre a política conhecida como “Don’t Ask Don’t Tell” (Não pergunte, não conte), que não permitia a manifestação de gays assumidos no serviço militar e que foi extinta no ano passado. E concluiu, segundo trecho transcrito pela emissora, dizendo: “É importante para mim ir adiante e afirmar que acho que casais de mesmo sexo devem poder se casar”.
Obama disse ainda acreditar que “todos os americanos devem ser tratados com igualdade e de forma justa”. A entrevista completa deverá ser veiculada nesta quinta-feira, 10, nos Estados Unidos.
Antes da entrevista, o presidente havia se limitado a indicar que estava “avaliando” sua opinião a respeito do assunto, que se tornou uma das principais discussões da campanha eleitoral nos Estados Unidos nos últimos dias.
No último domingo, 6, o vice-presidente, Joe Biden, disse em entrevista à “NBC”, que se sentia confortável com a ideia do casamento gay. Depois disso, aumentou a pressão para que Obama anunciasse sua posição sobre o tema. O ex-governador de Massachusets Mitt Romney, provável candidato republicano para a disputa presidencial com Obama, já declarou ser contra o casamento gay.
Uma pesquisa divulgada nesta terça-feira, 8, apontou uma divisão do eleitorado americano sobre o tema, com 50% dos entrevistados declarando-se a favor do casamento gay e 48% dizendo-se contrários.
As uniões civis entre pessoas do mesmo sexo são legais em apenas seis dos 50 Estados americanos, além da capital, Washington.
Na última terça-feira, 8, a Carolina do Norte, Estado onde o Partido Democrata realizará sua convenção em novembro, aprovou uma legislação que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Com a decisão, tornou-se o 31º Estado a ter a proibição.
Grupos de defesa dos homossexuais comemoraram a declaração de Obama. O “Human Rights Campaign” considerou que o presidente americano “fez história”. Representantes do “Centro para o Progresso Americano” disseram que o apoio do presidente é “um grande passo” em direção à igualdade nos EUA.
Fonte:verdade gospel

POLÍTICOS EVANGÉLICOS ORGANIZAM CAMPANHA CONTRA A MARCHA DA MACONHA EM RECIFE


Políticos evangélicos organizam campanha contra a Marcha da Maconha em Recife

Está programada para acontecer no próximo dia 20 em Recife a “Marcha da Maconha”, uma manifestação popular organizada com o objetivo de defender a descriminalização do uso da droga. Contrários à realização da marcha, deputados da Frente Parlamentar em Defesa da Família da Assembleia Legislativa de Pernambuco estiveram no Ministério Público para tentar impedir a organização do evento.
O grupo de parlamentares é ligado a igrejas evangélicas e, coordenados pelo deputado estadual e pastor Cleiton Collins (PSC), estiveram na sede do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) para denunciar a “Marcha da Maconha”, de acordo com o NE10.
“O objetivo da denúncia é pressionar o Poder Judiciário para proibir a realização da mobilização em defesa da maconha. O entorpecente funciona como porta de entrada para drogas mais pesadas, como o crack”, afirmou Collins, que esteve no MPPE com os deputados Adalto Santos e Ossésio Silva (PRB).
Além de denunciarem a realização do evento ao MPPE, os evangélicos irão realizar no próximo dia 20, a partir das 15h, a “Marcha da Família”. A manifestação, organizada pelos parlamentares evangélicos, sairá da Assembleia Legislativa e tem por objetivo ser um contraponto à manifestação em apoio à legalização da maconha.
Fonte: Gospel+

quarta-feira, 9 de maio de 2012

AS INDULGÊNCIAS: ABUSOS E FATOS




Por Wilson Porte Jr.
Dias atrás, um comentário que fiz sobre as indulgências causou má compreensão por parte de alguns colegas católico-romanos. Naquele comentário, falei brevemente sobre os abusos que alguns romanos no século XVI cometeram. Neste artigo, pretendo esclarecer de modo simples e breve o que penso sobre as indulgências.
Instância de uma "Carta de Indulgências"
do 19 de Dezembro de 1521
Johan Staupitz, na Alemanha, foi um destes que cometeram abusos. Antes dele, na Idade Média, outros divulgaram documentos falsos falando de indulgências de centenas ou milhares de anos. Todavia, vale ressaltar que a própria Igreja Católica Apostólica Romana foi contrária a tais abusos cometidos. O próprio Quarto Concílio de Latrão (1215), buscou negar tais alegações afirmando que as indulgências não devem ter mais de 40 dias. Nestes abusos, alguns chegavam a afirmar que “assim que uma moeda tilinta no cofre [de Roma], uma alma sai do purgatório”.
Quando os reformadores (século XVI) empreenderam uma batalha pelo Evangelho, buscaram escrever contra os abusos sobre a indulgência, e também contra aquilo que a Tradição e os Cânones da igreja afirmavam.
Verdade seja dita, as indulgências, como a maioria dos evangélicos a entende, não são o perdão dos pecados, muito menos a compra desse perdão. São o perdão das penas temporais, consequência dos pecados.
Explico: segundo o dicionário Oxford da igreja cristã (The Oxford Dictionary of the Christian Church), no artigo sobre asindulgências“para a doutrina católica, as indulgências são concedidas para perdoar as penas temporais causadas pelo pecado, ou seja, para reparar o mal causado como consequência do pecado, através de boas obras. Ou seja, você pecou, pelo “sacramento da confissão” você recebe o perdão mediado pela igreja/sacramento e, por alguma boa obra, também orientada pela igreja, você pode receber o perdão das penas temporais do seu pecado já perdoado.
Sei que é confuso, se você está estudando isso pela primeira vez. Mas, só para clarear um pouco, o Purgatório está ligado a estas penas temporais como um lugar onde a pessoa sofrerá as consequências do pecado dela, podendo sair de lá, inclusive, por indulgências praticadas por pessoas “vivas” em lugar daquela no Purgatório.
Segundo o Código de Direito Canónico“A indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições pela acção da Igreja que, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica, por sua autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos”. (Enchiridion indulgentiarum, Normae de indulgentiisLibreria Editrice Vaticana 1999, pág. 21; Código de Direito Canónico, cân. 992; e Catecismo da Igreja Católica, n. 1471).
As indulgências são um tipo de perdão e/ou “alívio” que a igreja dá àquele que está sofrendo as consequências de um pecado já perdoado. Preste atenção, o pecado já foi perdoado! Todavia, segundo a tradição romana, há uma “pena temporal” que permanece sobre o pecador. É essa pena temporal que a indulgência remove.
A igreja romana se entende no direito de administrar “as satisfações de Cristo” sobre quem eles quiserem. Isso é um absurdo! Segundo a Epístola do apóstolo Paulo aos Efésios, capítulos 1 e 2, estas “satisfações de Cristo” são aplicadas somente sobre a vida daqueles que a Santíssima Trindade predestinou para a santidade “antes da fundação do mundo” (Ef 1.4).
Todavia, a Enciclopédia Católica assim afirma: “no sacramento da Penitência a culpa do pecado é removida, e com ele o castigo eterno devido ao pecado mortais, ainda permanece a pena temporal exigida pela Justiça Divina, e essa exigência deve ser cumprida na vida presente ou no mundo vindouro, isto é, o Purgatório. Uma indulgência oferece ao pecador penitente meios para cumprir esta dívida durante sua vida na terra” (Catholic Encyclopedia, Indulgences).
Uma vez que a teologia romana entende que são necessários meios para cumprir ou pagar esta dívida, ela se choca com a última palavra de Cristo no Calvário: Τετέλεσται (tetélestai). Esta palavra está ligada à doutrina da Expiação, que, por si, está ligada à doutrina do Pacto da Graça. No ponto sobre a Expiação, entendemos que a satisfação de Cristo foi completa e perfeita – “está consumado” (João 19.30), da palavra grega Τετέλεσται (tetélestai). Quando Cristo disse “Τετέλεσται”, ele usou uma palavra comum aos mercadores daquele tempo. Quando se comprava algo a prazo, após o pagamento da última prestação dizia-se “está consumando” – Τετέλεσται. Ou seja, sua dívida foi totalmente paga, quitada, e você não deve mais absolutamente nada! Cristo satisfaz a ira e a justiça de Deus em nosso lugar. Uma vez que o Τετέλεσται foi pronunciado, não há mais “penas temporais”. Não há mais penas a serem pagas. Tudo já está pago. Apenas recebemos os benefícios desse pagamento pela fé, e SOMENTE pela fé (Gálatas 3.11; Habacuque 2.4; Romanos 1.17; Hebreus 10.38).
Segundo Jehan Cauvin (século XVI), “a doutrina romanista da satisfação priva a Cristo de Sua honra e glória e a consciência de certeza e paz”, Institutas 3, IV, 27.
O site Wikipédia traz no verbete indulgência a seguinte frase: “As indulgências removem, assim, algumas ou todas estas penalidades devidas pelos pecados dos fiéis; e pode ser feita em favor de si mesmo ou em favor de um defunto que está a ser purificado no Purgatório pelas suas penas temporais, dependendo da obra de indulgência. Ir ao cemitério rezar pelos falecidos, por exemplo, concede indulgência aplicável apenas a almas no purgatório”.
Embora eu respeite a opinião e crença dos romanos, deixo aqui meu esclarecimento e opinião quanto às indulgências. As entendo como totalmente desnecessárias além de contrárias à Palavra de Deus. 
Em amor,
Wilson Porte Jr.

FUNDAMENTOS DA MISSÃO DO POVO DE DEUS



Por Sérgio Lyra
Imagine a seguinte situação. Em uma reunião de membros de uma de sua igreja, o dirigente pede para quem for missionário que se coloque de pé. Quantos membros da sua comunidade se levantariam? Não é difícil prever a sua resposta. Atualmente, ser missionário passou a significar apenas aqueles homens e mulheres que deixam suas casas e se dedicam à pregação do evangelho em lugares distantes. Esta definição errada de missões que atrela a ação missionária apenas ao contexto transcultural produziu uma verdadeira crise na tarefa da evangelização urbana e, consequentemente, nas ações missionárias da igreja moderna.
Vamos avaliar um caso real. Alguns anos atrás fui procurado por uma jovem de uma igreja evangélica histórica, dizendo que desejava ser missionária na África. Durante a conversa ela disse não contar com o apoio da sua igreja local, o que me levou a lhe perguntar: “Por que você não procurou o seu pastor?” Ela respondeu: “Eu procurei, mas ele me disse que quem faz missões nas cidades do interior e em outros países na nossa denominação é a própria denominação, a igreja local apenas ajuda financeiramente o órgão executor nacional”. É certo que nem todas as igrejas pensam desta forma, e algumas já possuem um conselho missionário que realmente se envolve com a tarefa de incentivar a tarefa de viver e anunciar o evangelho. Contudo, se fomos honestos na avaliação, chegaremos a uma dura verdade: a igreja da cidade gasta mais de 85% dos seus esforços e recursos em atividades internas à própria igreja local.
O que é “missão”?
Mas espere um pouco. Missões é apenas a tarefa de anunciar o evangelho em outros países ou nas cidades do interior? A igreja local quando evangeliza, ensina, doutrina, pastoreia ou age com boas obras em favor dos necessitados, não está fazendo missões? Afinal, o que é missões? O que é realmente ser um missionário? Esta preocupação em entender a tarefa missionária como responsabilidade da toda a igreja começou com o teólogo alemão Gustav Werneck. Ele defendeu que o termo correto deveria ser “Missiolere”, ou seja, missiologia, um estudo da missão de Deus incluso na revelação especial da salvação em Cristo. As ideias do “duplo fundamento de missões” de Werneck e Martinho Kähler ganharam grande divulgação no meado do século 19. Eles apresentaram: (1) A igreja como o povo de Deus ativo no mundo e; (2) Missão como a cristianização dos povos. Posteriormente, Kähler adicionou um terceiro conceito: 3) A necessidade do testemunho nas missões. O fator testemunhal foi tão forte para Kähler que ele chegou a afirmar que o testemunho cristão no mundo ou sua missão, é gerador da necessidade de teologia (nas palavras de Kähler “a missiologia é a mãe da teologia”)* .
Com o propósito de estabelecer a missiologia como ciência teológica, vários estudiosos começaram a produzir reflexões. Na década de 1860, o teólogo e estadista holandês Abraham Kuyper advogou a missiologia como a ciência que deveria estudar os melhores métodos para produzir a conversão dos não cristãos. Kuyper disse que a tarefa missiológica era prosthética, ou seja, a tarefa dada por Deus ao seu povo, visando produzir a adição de novos membros da igreja de Cristo.
Em 1910 ocorreu um evento missionário que se tornou um marco histórico, produtor de um grande impulso na missiologia. Este foi o ano da primeira conferência missionária internacional, realizada em Edimburgo na Escócia. O seu presidente foi John Mott, o grande coordenador do Movimento de Estudantes Voluntários que enviou milhares de universitários norte-americanos para os campos missionários. O século 19 foi “o grande século das missões” e o evangelho se espalhou com ardor e profunda dedicação por quase todo o mundo. A Inglaterra e os Estados Unidos foram os grandes celeiros de missionários, enviando cerca de 80% de toda força tarefa missionária. Em Edimburgo, o congresso teve como tema “A evangelização do mundo nesta geração”. O desenrolar dos fatos, contudo, não concretizou os planos daquela conferência. Mesmo assim, teólogos como Johannes Verkuyl e outros, continuaram a solidificar a missiologia como disciplina independente, essencial e com fundamentação nas Escrituras. Missiologia não poderia ser considerada apenas um sub-item da eclesiologia na teologia sistemática.
Nas últimas décadas, vários teólogos têm produzido abundante literatura acerca da missiologia, tanto a definindo como submissa à teologia, como a interligando com diversas outras disciplinas, principalmente com as ciências sociais. Charles van Engen enfoca muito apropriadamente a necessidade de uma compreensão sadia da teologia que fundamenta as missões e a necessidade imperiosa de se ter como ponto de partida a missão de Deus. Esta não é uma ideia nova. O puritano John Eliot, missionário entre os índios americanos do século 17, e o teólogo Richard Baxter, afirmaram nos seus escritos que há três elementos de missões: (1) Deus e ninguém mais é o soberano Senhor das missões; (2) Deus se utiliza de meios para atingir a redenção do homem e; (3) O homem é responsável por aceitar ou rejeitar o evangelho**. Mas é Van Engen que apresenta a missiologia como uma disciplina que tem o seu foco em Cristo e na sua missão, e ambos frutos da soberania de Deus e afetos à teologia***.
Missiologia e teologia
Entendendo que não é a teologia que gera o desejo missionário no coração dos cristãos, descobrimos a verdade de que é o próprio Deus, o Senhor da Igreja e autor das missões, o qual concede a ela dons, vocações, visão da obra, perseverança e destemor para cumprir a missão que é primeiramente divina****. Reforço que para se fazer missões não podemos dispensar a teologia. Alguns têm se aventurado a evangelizar ou implantar projetos sociais afirmando que não importa a doutrina. Puro equívoco! Não existe nenhuma prática missionária que não tenha uma teologia, boa ou ruim, que a fundamente. Assim, o ardor missionário jamais pode servir de degrau para apoiar aqueles que defendem a dispensa da reflexão teológica para se planejar a estratégia de missões na igreja urbana.
Cremos que teologia não são apenas credos e tratados doutrinários, mas também diz respeito, principalmente, a conhecer, sob a orientação do Espírito Santo, a vontade e o agir de Deus (Rm 8.14; 1 Co 2.13-16). Este fundamento nos permite lançar mão de pressupostos teológicos básicos e princípios bíblicos orientadores, os quais dão direção às atividades missionárias pelas Sagradas Escrituras. A teologia sempre estará presente na elaboração de qualquer estratégia de evangelização, seja ela transcultural, rural ou urbana. Esta é a razão pela qual David Bosch afirmou que “nenhuma missiologia é possível sem teologia”.*****
“Missio Dei”
Cabe agora fazermos uma abordagem sobre a “Missio Dei”. Esta é uma expressão latina que significa “Missão de Deus”. Por meio da Bíblia, Deus é conhecido como o Deus cujos planos jamais podem ser frustrados. Deus é sempre autor de obras acabadas, tudo o que Ele determinou, aconteceu ou acontecerá, e isto é uma verdade que está em toda a Bíblia. Quando percebemos que a missão tem sua origem em Deus, descobrimos que o chamado, a capacitação e a motivação missionários têm suas fontes no próprio Deus (Jo 17.18).
Assim, biblicamente, podemos tirar cinco conclusões basilares acerca da Missão de Deus:
1. A missão tem sua origem no coração de Deus – Trata-se de identificar a fonte da autoridade suprema de tudo que foi divinamente planejado. Isto implica em reconhecer que desde os tempos eternos a tarefa da igreja já estava para ela reservada e definida.
2. Deus Pai enviou Jesus, o seu Filho missionário – Os evangelhos evidenciam com muita abundância que Jesus veio para fazer a vontade do Pai, para cumprir a missão que o Pai lhe confiara, restaurando consigo mesmo todas as coisas.
3. O Filho rogou ao Pai que enviasse o Espírito Santo – A missão é tarefa da Trindade. A ação do Espírito de Deus na tarefa missionária tanto age no cristão capacitando-o para testemunhar, quanto no não cristão, convencendo-o do pecado e regenerando aqueles a quem chamar. O Espírito Santo chama, regenera, santifica e capacita a igreja para enviá-la ao mundo com uma missão******.
4. A igreja é a agência missionária de Deus – Jesus afirmou que nos mesmos termos que o Pai lhe confiou a missão, Ele comissionou a igreja (Jo 20.21). Inquestionavelmente, a igreja é o povo escolhido para missão, e mais, Deus não tem, nem nunca teve, um plano B.
5. O mundo ouve, recebe ou rejeita – O alvo missionário de Deus é anunciar o evangelho da salvação em Cristo a toda a criatura através da igreja, pelo poder do Espírito, e isto não tira do ser humano a sua responsabilidade por suas escolhas.
Que imenso privilégio foi dado à Igreja de Cristo! O povo missionário de Deus tem, nas palavras de John Piper, “a mensagem mais importante de todo universo”. Acredito que uma das melhores explicitações que fundamentam a nossa tarefa missionária foi dada por David Bosch: “Missões é o povo de Deus intencionalmente cruzando barreiras da igreja para a não-igreja, da fé para a não-fé, proclamando pela palavra e com atos a vinda do Reino de Cristo. Essa tarefa é atingida através da participação da igreja na missão de Deus de reconciliar as pessoas com Ele, consigo mesmas, umas com as outras e com o mundo.”
Onde o povo comissionado por Deus pregar as boas novas do evangelho, viver e implantar os valores do reino divino, fazer discípulos, ensinando-os a guardar o que Jesus ensinou, a missão que Deus ordenou estará sendo obedecida. Se você é povo de Deus, então você é missionário na cidade, no interior ou em outros países, pois o que somos e fazemos é que caracteriza a nossa vocação, onde quer que estejamos.
Toda a glória seja dada somente a Deus.
_________________
Sérgio Paulo Ribeiro Lyra é pastor e coordenador do Consórcio Presbiteriano para Ações Missionárias no Interior. Autor do livro “Cidades para a Glória de Deus” (Visão Mundial). É missiólogo e professor do Seminário Presbiteriano em Recife (PE).

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