Multidões pediram segurança e justiça durante protestos e nos cortejos fúnebres dos mártires do atentado à Igreja Ortodoxa do Profeta Elias.
Cristãos continuam protestando contra a perseguição na Síria, após um atentado terrorista na Igreja Ortodoxa do Profeta Elias matar 25 pessoas.
No final de semana, um grupo de cristãos caminhou pelas ruas da cidade de Qamishli com cruzes, cartazes e fotos dos mártires do ataque, pedindo o fim da violência contra a minoria cristã na Síria, de acordo com o The Christians Of The East.
Jovens e idosos marcharam na manifestação, declarando juntos: “Somos todos contra o terrorismo. Somos todos contra o extremismo. Somos todos sírios — muçulmanos e cristãos. As casas de Deus são sagradas e soberanas”.
Outra frase anunciada pela multidão foi: “Nenhuma explosão pode arrancar uma árvore profundamente enraizada com milhares de anos de idade”.
Também foi realizado um culto de oração na Igreja de São Jacob de Nísibis, em homenagem aos mártires de 22 de junho, quando um homem-bomba entrou na Igreja Mar Elias, em Damasco, durante a celebração, e abriu fogo e acionou um colete explosivo.
Na última terça-feira (24), iniciaram os funerais dos mártires do atentado em toda a Síria. Multidões de cristãos e familiares participaram de cortejos fúnebres pelas ruas, homenageando os crentes mortos por sua fé e também exigindo justiça ao governo sírio.
O culto fúnebre principal aconteceu na Igreja da Santa Cruz em Damasco, liderado pelo Patriarca João X Yazigi, com a presença de líderes cristãos de várias denominações.
Durante o sermão, Yazigi responsabilizou o governo sírio pela morte dos 25 cristãos. O líder afirmou que o telefonema do presidente Ahmed al-Sharaa expressando suas condolências "não foi suficiente para nós".
"Somos gratos pelo telefonema. Mas o crime que ocorreu é um pouco maior do que isso”, enfatizou ele.
Heróis
Um dos mártires que morreu como heroi foi Milad. Ele e outros dois cristãos, que estavam presentes na celebração da Igreja do Profeta Elias, tentaram empurrar o homem-bomba para fora do templo.
"Fui ao hospital para vê-lo. Eu não conseguia reconhecê-lo. Metade de seu rosto estava queimado", relatou o irmão do mártir, Emad, em entrevista à BBC.
Também cristão, Emad disse que ele e sua família não se sentem protegidos em seu país. “Não estamos mais seguros aqui", comentou.
A cristã Angie Awabde, de 23 anos, foi uma das vítimas que ficou ferida e sobreviveu ao ataque.
No leito de hospital, ela relembrou os momentos de terror dentro da igreja. "Tudo aconteceu em segundos", disse a jovem, que está se recuperando de ferimentos de estilhaços no rosto, mão e perna, e de uma perna quebrada.
Para Angie, o futuro para os cristãos na Síria é incerto e perigoso. "Eu só quero deixar este país. Vivi a crise, a guerra, os morteiros. Nunca esperei que algo acontecesse comigo dentro de uma igreja", desabafou.
"Eu não tenho uma solução. Eles precisam encontrar uma solução, este não é o meu trabalho, se eles não podem nos proteger, queremos sair”, acrescentou.
Ambiente de insegurança para os cristãos sírios
Segundo Martin Parsons, CEO do “Lindisfarne Centre for the Study of Christian Persecution”, a vida está se tornando mais desafiadora para os cristãos sob a nova liderança de Ahmed al-Sharaa – ligado a grupos islâmicos – que assumiu a presidência após a queda de Assad em dezembro de 2024.
O recente ataque terrorista à Igreja do Profeta Elias reacendeu os temores da comunidade cristã na Síria de sofrer mais perseguição de radicais islâmicos.
Em março deste ano, confrontos entre forças governamentais e combatentes pró-Assad resultaram na morte de centenas de civis e soldados.
Em menos de 24 horas, centenas de cristãos foram massacrados na região costeira da Síria por muçulmanos locais.
Relatórios indicam que o ataque coordenado ocorreu nas regiões sírias de Jableh e Baniyas, onde comunidades cristãs e alauítas vivem historicamente.
Para Meletius Shattahi, um dos líderes do Patriarcado Ortodoxo Grego de Antioquia, o governo sírio não está fazendo o suficiente para proteger as comunidades cristãs.
Shattahi contou que vídeos com ameaças circulam nas redes sociais, mostrando pregadores islâmicos armados defendendo o Islã em alto-falantes em bairros cristãos.
"Isso está ocorrendo em público na frente de todos, e sabemos muito bem que nosso governo não está tomando nenhuma ação contra [aqueles] que estão violando as leis e as regras”, denunciou.
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