Leia Lucas 19.1-10
A CONEXÃO ENTRE O FINAL de Lucas 18 e o começo de Lucas 19 é meridianamente clara. Ambos os relatos se referem a fatos ocorridos em Jericó. No primeiro caso, um homem cego foi curado e salvo por Cristo; no segundo caso, um homem rico foi alcançado pela graça.
Jericó era uma belíssima e rica cidade próxima do rio Jordão e do mar Morto. Adornada por muitas palmeiras e fontes de águas quentes, era a cidade de inverno dos reis e a residência predileta dos sacerdotes. Seu nome significa “lugar de fragrância”. Ali foram construídos um teatro e um hipódromo. Suas ruas eram enfeitadas com sicômoros enfileirados. 2 Jesus estava passando por Jericó.
A cidade do lazer, do luxo, do comércio e da riqueza estava agora sendo visitada pelo próprio Filho de Deus. Jesus em Jericó era a visitação de Deus naquela cidade, a oportunidade de Deus para o seu povo.
Jesus estava passando pela última vez por Jericó. Ele estava indo para a cruz. Naquela semana, ele seria morto. Aquele era o dia da oportunidade de Jericó. Era o céu aberto sobre Jericó. Era a salvação oferecida a Jericó. Era o dia mais importante na agenda da cidade de Jericó.
Uma multidão se acotovelava para ver Jesus, mas só dois homens foram salvos: um rico e outro pobre. Um à beira do caminho e o outro empoleirado em uma árvore. Para se encontrar com Cristo, um precisou se levantar, e o outro precisou descer. Um era esquecido, e o outro era odiado. Um era aristocrata e o outro era mendigo, mostrando que Deus não faz acepção de pessoas. Não importa a sua posição política, financeira, a cor da sua pele ou a sua religião, Jesus veio aqui para salvar você. Esta pode ser também a sua última oportunidade. O tempo é agora para o encontro da salvação.
Warren Wiersbe resume a histórica de Zaqueu em cinco fatos: 1) um homem que se tornou uma criança; 2) um homem que procurava e foi encontrado; 3) um homem pequeno que se tornou grande; 4) um homem pobre que se tornou rico; 5) um anfitrião que se tornou convidado. 3
Estes versículos descrevem a conversão de uma alma. Neste texto podemos ver o chamado ao rico pobre pecador Zaqueu, mesmo sendo o chefe dos publicanos foi alcançado por Jesus. Assim como a história de Nicodemos e da mulher samaritana, a de Zaqueu deve ser frequentemente estudada pelos crentes. O Senhor Jesus nunca muda. O que ele fez por esse homem Ele é capaz e está disposto a fazer por qualquer outra pessoa. Por quê?
1- NINGUÉM É TÃO ÍMPIO QUE CRISTO NÃO POSSA SALVAR (Lucas 19.1,2) ou que fique longe do alcance do poder de sua graça. Esta passagem nos fala sobre um publicano rico que se tornou discípulo de Cristo. Não podemos imaginar outro caso que oferecia menos probabilidade de conversão! Vemos um camelo passando pelo fundo de uma agulha e um rico entrando no reino dos céus. Contemplamos uma prova concreta de que para Deus todas as coisas são possíveis. Neste relato, vemos um avarento coletor de impostos sendo transformado em um cristão generoso.
A porta da esperança, que o evangelho revela aos pecadores, está amplamente aberta. Permitamos que ela permaneça aberta como a encontramos. Não procuremos fechá-la com nossa intolerante ignorância. Nunca tenhamos receio de afirmar que Cristo “pode salvar totalmente” (Hb 7.25) e que o pior dos pecadores pode ser completamente perdoado, se vier a Ele. Devemos oferecer o evangelho com ousadia ao pior e mais ímpio dos pecadores, dizendo-lhe: “Há esperança. Arrependa-se e creia. Ainda que seus pecados sejam como a escarlate, se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã” (Is 1.18). Talvez seja uma doutrina com aparência de tolice e licenciosidade para as pessoas mundanas. Mas constitui o evangelho dAquele que salvou Zaqueu, em Jericó. Os médicos, às vezes, consideram alguns casos de pessoas como incuráveis. Mas não existem casos incuráveis para o evangelho. Qualquer pecador poderá ser curado, se tão-somente vier a Cristo.
Estes versículos nos ensinam quão poucas e simples são as coisas que frequentemente cooperam para a salvação de uma alma. Zaqueu “procurava ver quem era Jesus, mas não podia… por ser ele de pequena estatura” . Curiosidade, e nada mais, parece ter sido o motivo de seu coração. Uma vez que a curiosidade brotou em seu íntimo, Zaqueu estava decidido a satisfazê-la. Para ter certeza de que veria Jesus, correu e “adiante, subiu a um sicômoro”. Dessa atitude insignificante, aos olhos dos homens, dependeu a salvação de Zaqueu. Nosso Senhor parou sob aquela árvore e disse: “Desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa” . A partir daquele momento, Zaqueu tornou-se um homem diferente. Naquela noite ele dormiu sendo um verdadeiro cristão.
Nunca podemos desprezar o “dia dos humildes começos” (Zc 4.10). Não devemos reputar insignificante qualquer coisa que se refere à alma. Os caminhos pelo quais o Espírito Santo leva homens e mulheres a Cristo são maravilhosos e misteriosos. Com frequência, Ele inicia em determinado coração uma obra que permanecerá por toda a eternidade, quando aqueles que a observam não percebem nada admirável. Em cada obra, precisa haver um começo; e na obra espiritual o começo em geral é muito insignificante. Vemos uma pessoa negligente começando a utilizar-se dos meios da graça, que em tempos passados eram por ela negligenciados? Nós a vemos ir à igreja e ouvir a pregação do evangelho, depois de ter passado muito tempo desprezando o domingo? Quando contemplarmos tais coisas, lembremo-nos de Zaqueu e tenhamos esperança. Não olhemos para tal pessoa com indiferença, porque seus motivos no momento são pobres e questionáveis. Creiamos que é melhor ouvir o evangelho motivado por curiosidade do que não ouvi-lo de maneira alguma. Essa pessoa está agin[1]do à semelhança de Zaqueu! Pelo que sabemos, ela pode tomar outros passos adiante. Quem não pode dizer que um dia ela receberá a Cristo com alegria?
2- JESUS É PODEROSO PARA TRANSFORMAR OS CORAÇÕES (Lc. 19.3-7) Estes versículos nos ensinam a compaixão gratuita de Cristo para com os pecadores e seu poder de mudar os corações. Um exemplo mais admirável é impossível imaginarmos. Sem qualquer convite, nosso Senhor parou e conversou com Zaqueu. Espontaneamente Ele se ofereceu como hóspede para a casa de um pecador. Sem ser solicitado, o Senhor Jesus enviou a graça renovadora do Espírito Santo ao coração de um publicano, transformando-o naquele momento em um filho de Deus (Jr 3.19).
Levando em conta o relato desta passagem, podemos dizer que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo jamais será exaltada em excesso. Não existem palavras para expressarmos com intensa firmeza a infinita prontidão de nosso Senhor para receber e sua infinita capacidade para salvar pecadores. Acima de tudo, esta passagem nos habilita a afirmar com segurança que a salvação não vem das obras, e sim da graça. Se houve alguém que foi buscado e salvo, sem ter feito qualquer coisa para merecê-lo, essa pessoa foi Zaqueu. Apeguemo-nos com vigor a essas doutrinas e nunca as abandonemos. Elas valem muito mais do que rubis. A graça, a graça gratuita, é o único pensamento que concede aos homens descanso na hora da morte. Confiantemente proclamemos essas doutrinas a todos com quem falarmos sobre as coisas espirituais. Exortemo-los a virem a Cristo, assim como estão, e a não demorarem na esperança vã de que podem preparar a si mesmos e tornarem-se dignos de virem a Ele. Devemos proclamar-lhes que Jesus Cristo os espera e deseja vir e habitar em seus infelizes corações pecaminosos, se eles apenas quiserem recebê-Lo. Ele declara: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Ap 3.20).
3- PECADORES CONVERTIDOS SEMPRE MANIFESTARÃO EVIDÊNCIAS DE SUA CONVERSÃO (Lc. 19.8-10). Zaqueu, em sua casa, “se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais” . Houve veracidade nessas palavras; esta foi uma prova inconfundível de que Zaqueu era uma nova criatura. Quando um crente rico começa a distribuir sua riqueza e um extorquidor começa a fazer restituições, certamente podemos crer que as coisas velhas já passaram e tudo se fez novo (2 Co 5.17). Houve determinação nessas palavras de Zaqueu. Ele disse: “Resolvo dar… restituo”. Ele não estava falando de intenções futuras. Ele não afirmou: “Resolverei…. restituirei”. Tendo sido perdoado gratuitamente e ressuscitado dos mortos à vida, Zaqueu sentiu que poderia começar a demonstrar imediatamente quem ele era e a quem estava servindo agora.
Aquele que deseja provar que é um crente, um servo do Senhor, deve andar nos mesmos passos de Zaqueu, ou seja, tem de renunciar completamente os pecados que antes o assediavam com facilidade; precisa seguir as virtudes cristãs que, no passado, ele habitualmente desprezava. Em todos os aspectos, um crente deve viver de tal modo que todos saibam que ele é um crente genuíno, um verdadeiro servo de Deus. A fé que não purifica o coração e a vida não é a fé verdadeira. A graça que não pode ser vista, tal como a luz, e experimentada, assim como o sal, não é graça, e sim hipocrisia. O homem que professa conhecer a Cristo e crer nEle, enquanto se apega ao pecado e ao mundo, está se encaminhando para o inferno, com uma mentira bem ao seu lado. O coração que realmente provou a graça de Cristo odiará instintivamente o pecado.
CONCLUSÃO
Ao terminar nossa meditação sobre esta passagem, permitamos que o último versículo esteja sempre ecoando em nossos ouvidos: “O Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido”. É como Salvador, mais do que como Juiz, que Cristo deseja ser conhecido. Certifiquemo-nos de que O conhecemos dessa maneira. Cuidemos em verificar se nossa alma está salva. Se estivermos convertidos, nós diremos: “Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?” (SI 116.12); e não reclamaremos que a auto-renúnica de Zaqueu foi uma exigência severa.
Adap. por Pr. Eli Vieira de JC R
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