VIVENDO EM DIAS DIFÍCEIS
Gênesis 26.1-25
Há um provérbio coreano que diz: “crises são oportunidades”, mas nem todos veem essa realidade nos momentos de dificuldades ou quando os problemas batem a nossa porta.
Na jornada da vida a crise chega para todos, e diante desta realidade não adianta esconder a cabeça na areia como avestruz fazendo de conta que ela não existe. A crise chega para rico ou pobre, preto ou branco, independente da condição econômica ou social. Ela estende suas asas “desde o palácio até a choupana, desde os maiores centros urbanos até as regiões mais remotas das nossas selvas. Porém, pior do que a crise é a conformação com ela”.
A experiência vivida por Isaque nos ensina como podemos enfrentar os problemas tão desafiadores que podem se levantar em nossas vidas. A crise foi um tempo de oportunidade na vida de Isaque. Em vez de se desesperar, ele seguiu a direção de Deus e prosperou num tempo em que todos estavam fracassando.
Talvez você esteja atravessando esteja enfrentando uma crise financeira, familiar, ou mesmo na área dos seus sentimentos. Como você tem reagido diante dessas crises? Estou certo de que os princípios que encontramos neste capítulo poderão lançar luz em seu coração e colocar os seus pés na estrada que o conduzirá à verdadeira vitória sobre todas as crises que surgem em nossas vidas.
Meus irmãos, aos lermos o texto de Gênesis 26.1-25, encontramos alguns princípios para que possamos prosperar em tempos de crise. Para prosperar em tempos de crise precisamos:
1- SEGUIR A ORIENTAÇÃO DE DEUS(Gn 26.1,2,6)
Quando olhamos para o texto de Gênesis 26 podemos ver que Isaque também estava enfrentando uma crise. E não é uma crise pequena, mas grande. A fome assolava a sua terra. Seu país estava vivendo o drama do empobrecimento coletivo. A esperança do povo estava morta. Os sonhos, destruídos, muitos estavam desanimados. Havia uma inquietação no ar, um rumor entre as famílias. O gado geme de fome. O útero fecundo da terra parece estéril. As sementes que nela são depositadas perecem antes mesmo de dar aceno de vida.
A seca, estava assassinando o sonho de muitas pessoas, prevalecendo naquela região. A chuva estava retida. O sol castigava o solo. Os agricultores não se aventuravam a depositar no ventre da terra a semente da esperança. Reinava um desespero generalizado entre as pessoas daquela região. As fontes estavam secando. Os ribeiros estavam se tornando leitos de morte e não condutores de vida. As cabras montesinas bramam, sedentas, O povo aflito vê a despensa se esvaziando e as crianças gemendo e clamando por pão. Aquele estava sendo um tempo amargo, de fome, de escassez, de vacas magras, recessão, desequilíbrio, desemprego, contenção drástica de despesas.
O que fazer na hora em que você se vê encurralado pela crise? Que decisão tomar quando todas as estradas de escape parecem cheias de barricadas? Muitos nessa hora perdem a cabeça, cometendo grandes loucuras. Outros, se revoltam contra Deus culpando-o por todas as desventuras. Outros ainda, petrificados, assistem passivo à dolorosa marcha da crise aceitando inertes a decretação da derrota e não conseguem dar um passo.
Isaque, porém, não ficou parado, assistindo passivamente o agravamento da situação. Ele se mexeu. Não ficou lamentando, queixoso, os reveses da vida naquele momento. Ele saiu, se moveu. Fez alguma coisa O seu problema não era simples. Era uma questão Vital. Não havia água. Tratava-se de uma questão de sobrevivência, de vida ou morte.
Talvez, enquanto você lê estas páginas iniciais, você se dê conta de que também está enfrentando um problema aparentemente insolúvel. É o casamento que virou um deserto, de onde só brotam os cactos venenosos da amargura. É o diálogo com os filhos que secou, como a terra de Isaque. É o salário que está minguando como os ribeiros em tempo de seca. É a saúde que está ameaçada por uma doença implacável. É a empresa que está emperrada e não consegue deslanchar. É o sonho de entrar na Universidade que está cada vez mais distante. É a decepção de um amor não correspondido. Talvez, como Isaque, todas as noites você olhe para o horizonte na esperança de ver a chegada de uma chuva restauradora que faça reverdecer o deserto da sua vida.
Talvez você já tenha semeado várias vezes no solo tórrido e seco da sua família, vendo, com tristeza, todas as sementes mirarem no útero da terra. Talvez você tenha investido toda a sua esperança em um negócio, mas a chuva da prosperidade foi retida e a safra de seus investimentos perdida. Talvez você tenha recebido um diagnóstico sombrio do seu médico, dizendo que a medicina não lhe oferece nenhuma esperança de cura. Talvez alguém amado do seu coração esteja enfrentando uma grave enfermidade e aos poucos você vê essa pessoa escapando dos seus braços sem poder fazer nada.
Pode ser a perda de um parente, irmão, pai ou mãe. Não é fácil lidar com a dor. Nossos sonhos chocam-se contra muralhas de concreto. Nossos planos escorrem como água. Nossas previsões entram em colapso. Estamos no meio do deserto onde nosso olhar se perde em miragens enganadoras, onde nossos passos cambaleantes parecem claudicar, onde a morte procura dar a última palavra.
O grande perigo na encruzilhada da crise é tomar a direção errada. Isaque queria ir para o Egito, lugar de fartura, riqueza e segurança. Ele foi tentado a buscar uma solução rápida, fácil e indolor. Isaque queria fugir da crise, não enfrentá-la. É mais fácil andar na estrada da fuga do que sobreviver no deserto. É mais fácil botar a mochila nas costas e ser um peregrino em terra estranha do que semear no deserto. Poucos são os que se dispõem a enfrentar e a vencer os gigantes da crise. Poucos são os que agarram os problemas pelo pescoço e triunfam na hora das dificuldades. Só os desbravadores, os idealistas e os sonhadores destemidos conseguem prosperar no deserto. O pessimismo é uma doença contagiosa. O ar está poluído por uma densa nuvem de descrença.
A mídia despeja todos os dias no porão da nossa mente cansada uma enxurrada de informações arrancadas dos abismos mais profundos das tragédias humanas. Os arautos do caos embocam suas trombetas. Os profetas do pessimismo se multiplicam aos milhares. A cada dia vemos o coro dos céticos engrossando suas fileiras.
Nesse tempo pardacento, em que a crise se instalou em todos os segmentos da sociedade, desde os palácios dos governos até a choupana mais pobre, é mister que alguém se levante para enfrentar a crise com galhardia. É no vácuo da crise que os grandes líderes são formados. Os carvalhos resistem às grandes tempestades. A crise pode tirar a cera dos ouvidos da alma. A crise pode ser uma janela aberta do céu. A crise do homem pode ser o tempo oportuno de Deus.
É no fragor da crise que ouvimos a voz de Deus: “Não desça ao Egito”. O Egito foi palco de perigo para Abraão, o pai de Isaque. O Egito oferecia uma solução imediata, uma riqueza fácil, mas era um laço para Isaque. Deus exortou-o a recusar a imediata abundância do Egito por bênçãos invisíveis (Gn 26.3) e mais remotas (Gn 26.3,4). Muitas pessoas fracassam na vida exatamente porque na crise deixam de atender à voz de Deus e descem para o Egito, onde negociam seus valores absolutos, transigem com suas consciências e tapam os ouvidos para não atenderem à voz de Deus. Trocam as bênçãos eternas pelas vantagens terrenas. Trocam as venturas do céu pelos prazeres transitórios do pecado.
Devemos estar com os ouvidos atentos nos tempos de crise para ouvir e crer na orientação de Deus. É justamente nesses períodos que temos as maiores experiências com Deus. Quando todas as soluções da terra entram em colapso, o céu aponta o rumo a seguir. O trono de Deus não enfrenta crise. Os propósitos de Deus não podem ser frustrados. As catástrofes da história não desestabilizam o governo soberano de Deus. As tragédias humanas não fazem sucumbir os planos divinos. Os problemas que vivemos são instrumentos pedagógicos para nos aperfeiçoar em santidade, e não fatos acionados pela mão do acaso, para nos destruir.
Quando os discípulos de Cristo atravessaram o mar da Galileia, por ordem do próprio Senhor, enfrentaram uma súbita e terrível tempestade. Durante várias horas travaram uma luta renhida para não serem tragados pelo temporal. Só na quarta vigília da noite Jesus foi ao encontro deles. Jesus, porém, apareceu de forma estranha e misteriosa: andando por sobre as ondas. O que o Senhor queria mostrar aos discípulos é que os problemas que conspiravam contra eles estavam literalmente debaixo dos seus pés. Aquilo que nos ameaça está rigorosamente sob o controle soberano de Cristo. A crise chega não para nos destruir, mas para nos colocar mais perto de Cristo. Ao ver o mar sossegando, os discípulos ficaram admirados e adoraram ao Senhor. Os ventos da crise sibilam para que o trigal de Deus se dobre. Só o joio não se curva. A mesma crise que levanta uns, abate outros. Leva alguns para mais perto de Deus.
2- CRER NAS PROMESSAS DE DEUS (26.3-5)
Meus irmãos, Gerar foi o lugar que Isaque nasceu. Agora no meio da crise podemos contemplar Deus irrompendo na sua história dizendo: “Não fuja, floresça onde você está plantado. Não corra dos problemas. Enfrente-os. Vença-os”.
Quando somos atingidos por uma crise e estamos no meio de um deserto, somos tomados pela ansiedade e perguntamos: O que será do meu futuro? Como conseguirei sobreviver quando todos estão fracassando? Como poderei superar o desânimo? O que será da minha família? Qual será o futuro dos meus filhos? Como poderei ser próspero vivendo num deserto? E se eu perder o emprego? Onde os meus filhos vão estudar? Se eu ficar doente? Se eu não puder pagar o plano de saúde?
Mas Deus acalma o coração de Isaque dizendo-lhe: “Calma! Eu estou contigo. Calma! Eu tomo conta da sua descendência. Calma! Seu futuro está nas minhas mãos. Calma! Farei de você e da sua descendência uma bênção para o mundo”.
Diante de tantas inquietações, tantas perguntas perturbadoras e tantos exemplos de fracasso à sua volta, somente a voz e as promessas de Deus podiam trazer alento para Isaque. Parece que todas as vozes da terra anunciavam a falência dos sonhos. Isaque precisava alimentar-se das promessas de Deus, precisava beber o leite genuíno da verdade que jorra dos mananciais de Deus. Quais foram as promessas que como ribeiros regaram a alma desse peregrino?
1. Uma presença consoladora- Deus diz a Isaque: ” Permaneça nesta terra e eu estarei com você” (Gn 26.3). Quando a crise bate à porta da nossa vida, a primeira coisa que perdemos é a consciência da presença de Deus. Quando somos encurralados por circunstâncias adversas, tendemos a achar que Deus nos desamparou. Por isso, a primeira palavra de encorajamento que Deus dá a Isaque é a garantia da sua presença com ele.
A promessa é sustentada mediante a obediência. Quando nos dispomos a andar segundo a direção de Deus, ele caminha conosco. Quando Deus está ao nosso lado, somos invencíveis. Quando Deus se agrada de nós, podemos alcançar grandes conquistas.
Moisés entendeu essa verdade e disse que se Deus não fosse com ele, sua liderança estava fadada ao fracasso. A desobediência do povo de Israel afastou a presença de Deus do arraial. Pela desobediência de Sansão, o Espírito de Deus afastou-se dele. Porque Saul transgrediu os mandamentos de Deus, o Senhor o deixou. Na verdade, a malignidade do pecado se deve ao fato de que ele nos separa de Deus. Deus é luz, e aquele que diz ter comunhão com Deus e anda nas trevas está mentindo.
Quando Israel prevaricou contra o Senhor, a glória de Deus deixou o santuário, depois deixou a cidade de Jerusalém e então o povo caiu nas mãos da Babilônia.
É a presença de Deus que nos dá a vitória. São a coluna de nuvem durante o dia, e a coluna de fogo à noite, que inibem e neutralizam o poder do adversário contra nós.
O segredo da vitória na crise é peregrinar na terra em obediência a Deus. Andar sob a direção do céu é caminhar seguro. Estar no centro da vontade de Deus é triunfar nas horas de incertezas. O lugar mais seguro para estar, ainda que em perigo, é no centro da vontade de Deus. O lugar mais seguro fora do centro da vontade de Deus é terreno escorregadio. Quando o Senhor caminha conosco, sempre chegamos ao porto desejado. Quando temos consciência da presença de Deus conosco, passamos pelas águas, pelos rios e até pelo fogo sem nos intimidar. O que dava confiança para Davi passar pelo vale da sombra da morte era a presença de Deus. Quando vivemos em obediência, mesmo na fornalha ardente das provações mais amargas contamos com a presença do Senhor caminhando conosco.
A presença de Deus é refúgio. Ela traz consolo. Quando ele está conosco, saltamos muralhas, vencemos gigantes, desafiamos o perigo, conquistamos fortalezas, arrombamos as portas do inferno e drapejamos a bandeira da vitória. Quando temos consciência de que o Senhor está conosco, somos encorajados a plantar no deserto. Quando a bênção do Senhor está sobre nós, o deserto da morte torna-se cenário de vida. A crise acaba e podemos prosperar no deserto.
2. Uma bênção especial – O deserto é um problema para nós, não para Deus. A crise pode desestabilizar os governos da terra, mas não o trono do Senhor. O deserto pode ser o palco da prosperidade porque Deus transforma desertos em pomares. Ele faz arrebentar rios no ermo. Faz brotar água da rocha e o deserto florescer. Ele converte os nossos vales áridos em mananciais, as nossas tragédias em degraus, para subirmos a alturas mais elevadas. A bênção prometida a Isaque não foi algo vago, difuso, inverificável, podia ser medida, calculada, aferida.
Primeiro Deus prometeu a ele e à sua descendência a posse de todas aquelas terras. Isaque deixaria de ser um peregrino para ser o donatário. Cabia-lhe generosa herança. Deus empenhou a sua palavra em cumprimento à aliança feita com Abraão, seu pai.
Segundo Deus é fiel para cumprir o que promete. Nenhuma de suas palavras cai por terra. Aquela terra mais tarde precisou ser conquistada palmo a palmo. Gigantes tiveram de ser desalojados. A terra prometida a Isaque é um símbolo da Canaã celestial. Também nós temos a promessa de uma terra que mana leite e mel. Essa terra nos foi dada, mas precisamos conquistá-la. A vida eterna é nossa herança, mas precisamos tomar posse dela.
Por último, Deus prometeu a Isaque que, em sua descendência, todas as famílias da terra seriam abençoadas. Os filhos de Israel foraminstrumentos que Deus levantou para trazer ao mundo a revelação especial de Deus. A eles foram confiados os oráculos divinos. Eles deveriam ser luz para as nações. O mundo deveria conhecer o Deus vivo através dos filhos de Israel. Também dos judeus veio o Messias, o Salvador do mundo. Os descendentes de Isaque, longe de perecer naquela crise medonha, foram os condutores da esperança para o mundo. Todas as nações da terra foram bafejadas pela bendita influência da semente de Isaque.
A igreja é abençoada para ser portadora de bênção. A bênção não pode ser retida. Não somos apenas receptáculos da bênção, mas canais. Não somos um mar Morto, mas um rio Jordão. Quem guarda as bênçãos só para si torna-se insalubre como águas mortas.
3. Um compromisso de fidelidade – Isaque foi abençoado em virtude da obediência de seu pai. Abraão andou com Deus em fidelidade, e sua descendência colheu os frutos benditos dessa relação. Por amor a Abraão Deus abençoou seu filho Isaque.
Também somos filhos de Abraão, nós que cremos em Jesus. Também somos abençoados em virtude da fidelidade desse grande patriarca da fé. A bênção de Deus rompe a barreira do tempo, transpõe séculos e milênios. Ele se lembra da sua misericórdia até mil gerações daqueles que o amam. Nenhuma das promessas de Deus cai por terra. Ele tem zelo pelo cumprimento de sua Palavra.
Andar com Deus é o maior investimento que podemos fazer na vida. Não há projeção para o futuro mais compensadora do que ser fiel a Deus hoje. Não há herança mais bendita a deixar para os filhos do que andar com Deus.
3- OBEDECER A DEUS SEM RACIONALIZAÇÕES(Gn 26.6)
A crise é um tempo de oportunidade. As grandes lições da vida são aprendidas no vale. O deserto é o cemitério dos covardes e incrédulos, mas também campo de semeadura e treinamento para os que confiam nas promessas de Deus. É no deserto que as máscaras caem.
O deserto não é lugar para atores. Os hipócritas não sobrevivem a ele. Os lobos acabam colocando as unhas de fora. A crise é o crivo que separa o joio do trigo. É no cadinho que o ouro se distingue da escória. Só na tempestade ficamos sabendo se a casa foi construída sobre a rocha ou sobre a areia.
Deus levou o povo de Israel para o deserto para saber o que estava no seu coração (Dt 8.2). O deserto diagnostica os desígnios do coração, as motivações profundas da alma. Obedecer quando tudo está bem não é difícil. Crer em Deus em tempos de prosperidade é fácil. Dar testemunho da fidelidade de Deus quando as chuvas de bênçãos do céu estão caindo generosamente sobre nós não é difícil. Somos chamados a obedecer em tempos de crise. Somos convocados a crer mesmo que o cenário à nossa volta esteja pardacento como um deserto.
Isaque também é convocado a obedecer a Deus no fragor da crise. O Senhor tem duas ordens para ele. Primeira: “Não desça ao Egito” (Gn 26.2). Não fuja do problema.
Isaque não discute, não questiona, não racionaliza, não duvida. Ele obedece prontamente, pacientemente (Gn 26.6). Deus o manda ficar, ele fica. Deus dá uma ordem, ele obedece. A obediência imediata abriu-lhe a porta da esperança. Ele prosperou naquela terra. Ali ele viu milagres extraordinários acontecendo. O nosso triunfo é resultado da nossa confiança em Deus. É Deus quem transforma desertos em pomares e fracassos em vitórias. É ele quem faz dos nossos vales verdadeiros mananciais.
Os vencedores são aqueles que não vivem choramingando por causa da crise nem colocando a culpa no sistema, mas semeiam no deserto e colhem a cento por um. O mundo está carente de homens e mulheres que ousam crer em Deus em tempos de crise, pessoas como o profeta Habacuque, que se alegra em Deus mesmo no vale mais sombrio da história. As pessoas que triunfam na vida fazem do deserto um campo de semeadura, e da crise, uma oportunidade.
Isaque aprendeu a obedecer e a confiar em Deus com o seu pai Abraão. Deus apareceu a Abraão e lhe disse: “Sai da tua terra e do meio da tua parentela”, e ele saiu. Mais tarde Deus lhe disse: “Abraão, vai ao Monte Moriá”. E ele foi. E ainda: “Abraão, ofereça o seu filho, o filho da promessa em sacrifício”. E ele ofereceu. Finalmente, Deus disse: “Abraão, não estendas a tua mão sobre o menino”. E Abraão prontamente obedeceu.
O caminho da obediência é a estrada da bênção. Deus providenciou um cordeiro substituto e deu à humanidade o mais eloquente símbolo da entrega do seu Filho na cruz, como o nosso redentor. O ponto culminante na vida de Abraão foi sua disposição em obedecer diligentemente às ordens de Deus e colocar no altar o seu amado filho Isaque. Pela obediência Abraão ficou conhecido como o pai da fé. Pela obediência ele se tornou uma bênção para todas as famílias da terra. Obedecer, para Isaque, significou ficar em Gerar, lugar de crise. Obedecer, para Abraão, significou abrir mão do seu próprio filho amado. Obedecer, para José, significou estar disposto a ir para a prisão. Obedecer, para Moisés, significou abdicar dos tesouros do Egito. Obedecer, para Daniel, significou descer à cova dos leões. Obedecer, para Paulo, significou ir para a guilhotina. Muitos mártires foram torturados por amor a Cristo, preferindo a morte à desobediência.
O pastor Paul Yong Cho. conta a história de um pastor preso pelos soldados comunistas na cidade de Inchon, na época da invasão comunista na Coréia. Os soldados prenderam o pastor e ameaçaram matá-lo caso não negasse a Jesus. Com bravura, o pastor reafirmou sua fidelidade a Jesus a despeito das ameaças. Os soldados, irados, ameaçaram sepultá-lo vivo com a sua família, caso eles não renegassem a sua fé. O pastor e sua família preferiram o martírio à apostasia. Foi aberta, então, uma grande cova e jogaram lá dentro o pastor e sua família. Começaram a jogar terra e a soterrar a família piedosa. Quando a terra já estava quase sufocando a todos, um filho gritou desesperado: “Papai, pense em nós, papai! Pense em nós!” O pai, aflito, começou a chorar, mas a sua esposa, cheia de fervor, gritou para os filhos: “Coragem, meus filhos, vocês não sabem que hoje à noite nós vamos jantar com o Rei dos reis e Senhor dos senhores?” Depois de encorajá-los a ser fiéis até a morte, começou a cantar um hino sobre o céu: “Eu avisto uma terra feliz, uma terra de glória e fulgor. Avistamos o lindo país, pela fé na Palavra de Deus. Sim no doce porvir, viveremos no lindo país. Sim no doce porvir, viveremos no lindo país.” Cantaram com entusiasmo até que suas vozes foram silenciadas debaixo dos escombros.
A obediência daquela família levou-os ao caminho estreito do martírio, mas no fim dessa estrada estava a glória excelsa de Deus. A multidão que assistiu a esse doloroso martírio ficou profundamente comovida e dezenas de pessoas se converteram e foram salvas por esse testemunho.
4- PODEMOS EXPERIMENTAR OS MAIORES MILAGRES DE DEUS (Gn 26.12-14)
Isaque colheu a cento por um no deserto em tempo de seca (Gn 26.12). “O homem enriqueceu, e a sua riqueza continuou a aumentar, até que ficou riquíssimo” (Gn 26.13). Tornou-se próspero empresário rural (Gn 26.14). A razão: “Porque o Senhor o abençoou” (Gn 26.12b). “A bênção do Senhor traz riqueza, e não inclui dor alguma” (Pv 10.22).
A obediência e a confiança em Deus abriram para Isaque as comportas dos céus. Ele ousou crer em Deus em um tempo de crise e angústia, em que as circunstâncias eram adversas e as previsões pessimistas. A fome castigava a terra. A seca estrangulava os sonhos daqueles que esperavam os frutos. Havia uma inquietação no ar, um empobrecimento das famílias. Mas é no torvelinho das dificuldades que os grandes homens aparecem. É no vácuo da crise que os empreendedores se destacam. Quando todos estão chorando pela derrota certa que virá é que o idealista enxerga o espaço para a sua mais retumbante vitória.
Os dez espias de Israel só viram os gigantes de Canaã, mas Josué e Calebe olharam por sobre os ombros dos gigantes e viram uma terra deleitosa que Deus lhes havia dado. O exército de Saul só via o tamanho descomunal do gigante Golias e sua insolente ameaça, mas Davi olhou o mesmo cenário com os olhos da fé, por isso matou o gigante.
A crise é tempo de oportunidade. O deserto também é lugar de semeadura. Quando agimos em obediência e confiança em Deus, ele pode fazer o deserto florescer. Ele faz jorrar água no deserto. Há uma colheita farta para aqueles que conseguem ver riquezas onde muitos só enxergam dificuldades, para aqueles que conseguem ver tesouros onde muitos só enxergam a cor cinzenta do deserto.
A semeadura é tarefa do homem. Precisamos ter coragem de investir. Plantar uma semente no útero da terra é um ato de fé, pois não temos garantia de que ela vai germinar. Também é uma missão árdua, muitas vezes feita com lágrimas. Mas seria loucura alguém deixar de semear por causa do risco do fracasso. Isaque fez a sua parte: investiu e semeou naquela terra. Não se acomodou na crise nem se conformou com a decretação da derrota.
A colheita farta é bênção de Deus. O homem planta e rega, mas só Deus pode dar o crescimento. O homem trabalha, mas só Deus pode fazê-lo prosperar. O homem investe, mas só Deus pode recompensar o seu labor. Deus não abençoa a indolência. O preguiçoso está fadado à miséria. O trabalho árduo, sério e honesto é o caminho da prosperidade. Devemos despender todo o nosso esforço e esperar com todas as forças da nossa alma em Deus. Sem semeadura não há colheita. Sem investimento não há retorno. Sem fé o milagre é retido.
Há profunda conexão entre diligência e prosperidade: “As mãos preguiçosas empobrecem o homem, porém as mãos diligentes lhe trazem riqueza” (Pv 10.4). Uma das grandes bênçãos da Reforma do século XVI foi resgatar o valor do trabalho. O trabalho é uma bênção, não uma maldição; uma liturgia de adoração a Deus, não um castigo. O trabalho enobrece e dignifica o homem. É o caminho mais seguro para o progresso. A preguiça, o vício, a busca do lucro fácil, a jogatina, promovem a pobreza e o desfibramento moral.
O trabalho, entretanto, traz a riqueza. “O preguiçoso deseja e nada consegue, mas os desejos do diligente são amplamente satisfeitos” (Pv 13-4). A única maneira de enfrentar a crise é com trabalho. Não adianta buscar desculpas para justificar o fracasso. É preciso romper com o ciclo vicioso da murmuração. É preciso ter coragem de abandonar aqueles que fazem da vida uma maratona de lamentação. “Quem lavra a terra terá comida com fartura, mas quem persegue fantasias se fartará de miséria” (Pv 28.19).
Isaque colheu com fartura em tempo de fome. Ele prosperou no deserto e experimentou os milagres de Deus na crise. Mas Isaque não ficou rico de braços cruzados. Ele suou a camisa. Ele botou a mão na massa. Ele cavou poços. Plantou, investiu e trabalhou. Foi um empreendedor. É hora de parar de falar em crise e arregaçar as mangas. É hora de parar de reclamar e começar a trabalhar com afinco. Pois é na bigorna da crise que os grandes homens são forjados. É no deserto que as fontes mais preciosas podem brotar. É no deserto que Deus pode fazê-lo prosperar.
Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) foi presidente dos Estados Unidos por quatro mandatos consecutivos. Começou sua carreira política como senador do Partido Democrata em 1910, projetando-se rapidamente. Em 1921 sofreu poliomielite e ficou paralítico de uma das pernas. Sua vida parecia um deserto. Seus sonhos foram ameaçados e parecia que o seu futuro político estava acabado. Mas ele continuou semeando no seu deserto e tornou-se um dos maiores luminares políticos do nosso século. Foi eleito governador de Nova York. Em 1932, foi eleito presidente dos Estados Unidos, quando o país enfrentava a maior crise econômica da sua história em virtude da quebra da bolsa de Nova York em 1929. Com bravura e determinação promoveu a recuperação norte-americana com uma série de medidas administrativas e econômicas conhecidas como New Deal. Essas medidas reduziram o desemprego e aumentaram a produção industrial e a renda nacional. Foi reeleito em 1936 e em 1940. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Roosevelt foi o principal articulador da aliança dos Estados Unidos com o Reino Unido e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas contra o nazismo. Apesar da saúde debilitada, foi reeleito em 1944 para um quarto mandato. Esse grande campeão das urnas tombou no campo de batalha pela enfermidade, mas jamais por falta de idealismo.
5-ESTAR PREPARADO PARA ENFRENTAR OPOSIÇÃO (Gn 26.14b-17)
O seu sucesso sempre incomodará alguém. São poucos os que se alegram com a sua vitória. A prosperidade de uns é o sentimento de fracasso de outros. Sua alegria pode ser o desgosto de outros.
Isaque enfrentou três problemas graves ao mesmo tempo que alcançava grandes vitórias,
1. A inveja dos filisteus (Gn 26.14) – A inveja é um sentimento mesquinho que corrói como câncer. O invejoso é aquele que não se alegra com o que tem e ainda sente desgosto pelo que não tem. O invejoso é aquele que sofre porque não tem o que é do outro. Ele se torna infeliz porque vê o outro feliz. Sente-se mal porque o outro está bem, e desprezado e miserável porque o outro é honrado. Tem a sensação de estar enjaulado pelo fracasso porque o outro colocou o pé na estrada do sucesso.
Os filisteus não tiveram uma inveja passiva. Eles procuraram atormentar a vida de Isaque, o perseguiram, trouxeram-lhe muitos problemas. Entulharam seus poços e contenderam com ele.
Você já teve que lidar com pessoas invejosas na sua família, no seu trabalho, na sua empresa, nos seus negócios? Já percebeu como algumas pessoas sofrem com o seu triunfo? Eliabe ridicularizou Davi no campo de batalha, por causa da inveja. Saul perseguiu Davi durante vários anos por inveja. Os fariseus, escribas e sacerdotes maquinaram contra Jesus, levando-o à morte, por inveja. Os membros do sinédrio judaico lançaram os apóstolos na prisão, por inveja. A inveja é a arma dos fracos, é o recurso mesquinho dos covardes, é o combustível que alimenta a caminhada dos fracassados.
2. A rejeição de Abimeleque (Gn 26.16)- Ao ver o sucesso de Isaque, Abimeleque sentiu-se ameaçado, encarando-o como um rival que precisava sair do seu caminho. Em vez de aprender com Isaque, Abimeleque afastou-o da sua vida. Em vez de observar os princípios que estavam por trás do sucesso de Isaque, mandou-o embora.
O nosso sucesso incomoda não apenas os nossos pares, mas também os nossos superiores. O nosso progresso muitas vezes produz um gosto amargo naqueles que nos rodeiam. Nossas vitórias muitas vezes nos levarão para o deserto da solidão, para o campo árido da rejeição. Para muitos, nossas conquistas representam uma ameaça que deve ser retirada do caminho a qualquer custo.
O drama vivido por Isaque é contemporâneo. Muitos ainda hoje continuam sendo rejeitados não por causa dos seus fracassos, mas por causa de suas conquistas e vitórias.
3. A contenda dos pastores de Gerar (Gn 26.20,21) – Isaque foi expulso por Abimeleque. Tomou então a direção do vale de Gerar. Ele não se sentiu derrotado nem se entregou às lamúrias e lamentações. Não deixou o seu coração azedar, mas buscou novos horizontes. Ao chegar ao vale de Gerar, Isaque não cultivou uma atitude saudosista em relação ao seu passado de prosperidade e riqueza. Não se deixou deprimir com o fim de uma história timbrada por tantas conquistas. Resolveu construir uma nova história naquele vale.
Isaque começou a cavar poços. O lugar era seco. Não havia possibilidade de sobreviver ali sem água. A água era a sua maior necessidade. A água era uma condição não apenas para a sua sobrevivência, mas também para a possibilidade de novas conquistas. O mesmo Deus que lhe dera prosperidade na terra dos filisteus agora lhe faria prosperar no vale. Contudo, o sucesso de Isaque em cavar poços produziu contenda entre os pastores de Gerar. O sucesso de Isaque nova mente incomoda quem está perto dele. As pessoas que estão à sua volta não conseguem conviver com o seu triunfo.
Mais uma vez, Isaque não briga pelos seus direitos. Ele não declara guerra contra os
Deus nos honra quando agimos de acordo com os seus princípios. A verdadeira prosperidade não vem como fruto da ganância e de expedientes escusos, mas como resultado da bênção do Senhor. “”A bênção do Senhor traz riqueza, e não inclui dor alguma” (Pv 10:22).
6- REABRIR AS ANTIGAS FONTES, SEM DEIXAR DE CAVAR NOVOS POÇOS (GN 26.18-22,25,32)
1. Isaque tem um problema vital no Vale de Gerar – Não há água. Sem água, não há vida. Você pode ter o melhor solo, a melhor se mente e os melhores fertilizantes, mas sem água a semente morrerá mirrada no útero da terra. Sem água, a morte prevalece.
O problema de Isaque não podia ser adiado. Não era algo secundário. Não era um problema periférico. Requeria uma solução urgente. De forma semelhante, a nossa necessidade espiritual hoje não é um assunto secundário. A água é um símbolo do Espírito Santo. Sem o Espírito de Deus, você pode ter nome de crente, aparência de crente, mas você está morto. A não ser que nasça da água e do Espírito, você não pode entrar no Reino de Deus. Sem as torrentes do Espírito, sua vida torna-se árida como os cactos do deserto. Sem o orvalho do céu, sua vida murcha e seca.
Nossa maior necessidade não é de templos mais ricos e modernos. Nossa maior necessidade é do Espírito de Deus. Hoje temos grandes igrejas, com ricos templos, com pastores cultos em seus púlpitos, mas muitas delas estão fracas, áridas e doentes porque está faltando o essencial, a presença e o poder do Espírito de Deus. A água é insubstituível. É vital. Assim é o Espírito de Deus. Sem ele, a igreja não tem vida espiritual. Sem ele, a igreja não respira o oxigênio do céu.
2. Isaque aprende com a experiência dos mais velhos – Isaque não chama os especialistas para cavar poços, mas aproveita a experiência do seu pai. Abraão já havia cavado aqueles poços e encontrado água. Precisamos reabrir as fontes de vida que abasteceram nossos pais. Precisamos redescobrir as fontes de vida que nossos pais beberam e que foram entulhadas pela corrupção dos tempos. Os filisteus modernos têm jogado muito entulho nas fontes que abastecem nossa vida. Precisamos cavar esses poços outra vez, La existe água boa. Lá existem mananciais.
Precisamos voltar às antigas veredas, à prática das primeiras obras. Precisamos voltar ao nosso primeiro amor, reunir a família em torno da Palavra, voltar a orar juntos, a fazer o culto doméstico. Precisamos voltar a orar por avivamento, reaprender a jejuar. Precisamos matricular-nos na escola do quebrantamento, romper com o pecado e buscar uma vida de santidade. Precisamos apegar-nos com mais fervor às verdades eternas da Palavra de Deus. Não estamos precisando de novidades, de correr atrás de cisternas rotas. Precisamos do Antigo Evangelho.
Hoje, na ânsia de buscar algo novo, muitas pessoas jogam fora toda a herança que receberam de seus pais. Muitas abandonaram as antigas veredas e embrenharam se por caminhos desconhecidos. Muitas igrejas têm descambado para a heterodoxia, porque, na busca do novo, removeram os marcos antigos.
3. Isaque não se contentou apenas com as experiências do passado; ele queria mais (Gn 26.19-22,32) – Isaque era um homem sedento. Queria sempre mais. Ele saiu da terra dos filisteus, foi para o vale de Gerar, depois para Reobote, depois para Berseba. Mas, por onde ia, cavava poços. Ele não desanimava diante das dificuldades. Queria água no deserto. Berseba, antes um deserto, agora era uma cidade, porque Isaque encontrou água ali. Isaque não apenas desentupiu os poços antigos; ele cavou poços novos. Não desprezou o passado, mas também não ficou preso a ele. Isaque não jogou fora a herança deixada por seu pai, mas não se limitou a ela. Isaque sabia que podia alargar os horizontes da sua vida. Não se acomodou e continuou cavando poços. Foi além. Ele queria mais. Transformou o seu deserto em fonte de águas.
O exemplo de Isaque deve ser uma inspiração para nós. Não podemos desprezar o rico legado que recebemos de nossos pais na fé. Eles cavaram poços antes de nós e encontraram água limpa. Esses poços foram muitas vezes soterrados com o entulho dos filisteus. Precisamos desentupir esses poços. Precisamos reabrir as antigas fontes, porque delas pode jorrar água em abundância.
Nossos pais experimentaram o tremendo milagre de ver o deserto seco transformar-se em mananciais. Eles cavaram poços e beberam de suas águas. Oraram e receberam avivamento. Buscaram o Senhor e encontraram mananciais de águas vivas. Eles viram Deus transformar o deserto árido em pomares frutuosos.
É tempo de buscar as riquezas insondáveis do Evangelho de Cristo. É tempo de ver também o nosso deserto florescendo!
Conclusão
Meus irmãos, os nossos dias de fato são difíceis, mas não podemos desanimar, devemos caminhar firmados nas orientações da Deus, na sua Palavra, em obediência, na certeza de que ele pode realizar um milagre hoje. E mesmo quando as dificuldades se levantarem nós vamos seguir firmados no Senhor Deus, pois só ele é a nossa esperança em todo tempo.
Extraído e Adaptado do livro Prosperando no Deserto do Pr. Hernandes Dias Lopes
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