sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Por que a igreja deve participar ativamente da evangelização do mundo?



por Rev. Paulo Serafim | Missionário da APMT/IPB na Guiné-Bissau, África Ocidental.
O evangelista João, no capítulo 4 do seu evangelho, registra o famoso encontro de Jesus com a mulher samaritana. Jesus estava caminhando para a Galileia e passou por Samaria, caminho que era evitado pelos judeus, pois estes consideravam os samaritanos impuros. Mas como Jesus tinha o propósito de evangelizar uma mulher que necessitava da graça de Deus foi por aquele caminho.
Chegando a cidade de Sicar, onde havia uma fonte de água, vendo uma mulher que se aproximava, Jesus lhe pediu água e se apresentou como a água da vida, que saciaria a sua sede espiritual; isto é, sua necessidade de perdão e vida eterna. Entendendo que Jesus era o Messias, o enviado de Deus que judeus e samaritanos aguardavam, saiu correndo para a sua cidade contar as boas novas para seus conterrâneos. Neste intervalo, apareceram os discípulos pedindo para Jesus comer.
Assim como levou a mulher a compreender realidades espirituais, a partir de realidades físicas, Jesus também chama a atenção dos discípulos, a partir da colheita física para a colheita espiritual, para a evangelização do mundo. Pensando nisso, chamo sua atenção para o tema deste artigo: Por que a igreja deve participar ativamente da evangelização do mundo?[1] Primeiro, porque a evangelização é prioridade para Jesus.
No verso 31, do capítulo 4, João escreve: “Nesse interim…”, no intervalo de tempo entre a conversa de Jesus com a mulher e a sua ida à cidade afim de pregar para os moradores da cidade, os discípulos apareceram e rogaram para que Jesus comesse. Jesus respondeu aos discípulos, falando de outra comida, do alimento espiritual, porém, os discípulos que não presenciaram a conversa de Jesus com a mulher, não entenderam o que ele estava falando.
Foi nesse ponto que Jesus disse no verso 34: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”. Jesus tinha um propósito a realizar: consumar a obra da redenção, salvando o seu povo pela sua morte e ressurreição. A sede e a fome física que tinha como homem não era mais importante do que o desejo de alimentar os famintos espirituais. Sua prioridade era salvar e buscar o perdido. Por isso, ia por toda a parte pregando o evangelho do reino, curando os enfermos e libertando os cativos do demônio.
Como Jesus, temos priorizado a evangelização? Temos priorizado a salvação dos nossos familiares, amigos e vizinhos que caminham como ovelhas que não têm pastor? Temos investido tempo, dons, oração, dinheiro e amor para alcançar pessoas que estão perto e longe de nós? Temos nos preocupado com as pessoas sem Cristo na nossa cidade, com os povos indígenas brasileiros, com aqueles que estão na cegueira espiritual no mundo islâmico, na Guiné-Bissau e no mundo?
Assim como Jesus, participemos da evangelização, pois segundo, ela é algo prioritário. Por isso, não podemos deixá-la de lado. Testemunhe para seus familiares, amigos e vizinhos. Ande com folhetos para distribuir. Convide pessoas para ouvir a Palavra de Deus nos cultos da igreja. Ore pela evangelização do mundo, invista financeiramente através dos dízimos e ofertas. A igreja também deve oferecer cursos, oficinas sobre evangelização, viagens missionárias e programar trabalhos evangelísticos com toda a igreja. Só que precisamos entender que evangelizar é um estilo de vida, é algo que deve ser feito todo dia e não somente quando tem um trabalho evangelístico realizado pela igreja.
A segunda razão porque a igreja deve participar ativamente da evangelização do mundo é que ela é urgente para Jesus. Jesus interpelou os discípulos: “Vocês dizem que faltam 4 meses para a colheita”. Era dezembro e a colheita acontecia em abril ou começo de maio. Eu, porém, vos, digo: erguei os olhos e vede os campos que já branquejam para a ceifa”. Na mente de Jesus, existe uma proximidade muito grande, embora também haja um contraste entre a colheita física e a espiritual. Devemos lembrar que nessa hora, Jesus e os discípulos contemplavam uma multidão de samaritanos que vinham até ele pelo testemunho da mulher samaritana. [2]
A colheita de grãos demoraria 4 meses, mas a colheita das almas já estava na hora. Ela era urgente, necessária e oportuna. Não havia necessidade de esperar para amanhã. As pessoas estão prontas para serem evangelizadas, para receberem as boas novas. Esse é o tempo da colheita, da evangelização. Até a volta de Cristo, temos a oportunidade de evangelizar o mundo. É algo que se deve fazer rápido, de forma urgente. Não podemos esperar.
Como diz uma música cantada nas igrejas guineenses, na língua Crioulo: “Ka bu pera amanhã camarada”, que significa: “não espere amanhã meu amigo”, amanhã pode ser muito tarde”. O dia é hoje, tanto da evangelização quanto da entrega da sua vida para Jesus. “Passa a Macedônia é ajuda-nos, continua sendo o clamor dos povos sem Cristo. Um fato comum que os missionários ao redor do mundo têm relatado é a indagação das pessoas que ouvem o evangelho pela primeira vez: “Por que vocês demoraram tanto para trazer essas boas novas ao nosso povo? Como ficarão nossos antepassados que morreram sem Cristo?”
Eu dei aula de evangelismo no curso de formação missiológica (CFM), e lá constatei que muitos alunos vieram de igrejas que não lhes deram nenhum treinamento de evangelismo. Quando não há ensino, treinamento, incentivo e exemplo por parte da liderança, fica difícil os membros perceberem a importância e a urgência da evangelização. Portanto, a começar dos líderes, despertemos nossos membros para a prioridade e a urgência da evangelização do Brasil e do mundo.
A terceira razão porque a igreja deve participar ativamente da evangelização do mundo é que ela é o instrumento de Jesus para essa tarefa. Quando Jesus disse: erguei os olhos e ponderar no espetáculo da aproximação dos samaritanos, bem como para considerar aquele grupo como um campo pronto para a colheita, isso indica claramente que o Senhor Jesus os está enviando para fazer essa colheita.[3] No verso 38, ele fala: “Eu vos enviei para ceifar”. No texto de Mateus 9, Jesus diz que a seara é grande e poucos são os trabalhadores, por isso, encoraja os discípulos que orem, pedindo mais trabalhadores. No capítulo 10 do mesmo livro, vemos o envio dos 12. Logo, a solução de Cristo para a grande colheita que é a evangelização do mundo são os seus discípulos, são seus seguidores, é a igreja, somos nós.
Jesus já havia comparado a evangelização do mundo a uma grande pescaria, por isso, transformou seus discípulos de pescadores de peixes em pescadores de homens. Agora ele compara a evangelização a uma grande colheita, onde seus servos, a igreja são os ceifadores, seus trabalhadores para cumprimento do seu propósito salvador no mundo. Portanto, nós somos o instrumento de Jesus para colher, para evangelizar o mundo.
Tanto a pescaria quanto a colheita exigem trabalho árduo, preparação, tempo, esforço e investimento. A disposição do nosso coração, a nossa vida, o nosso dinheiro entregue aos pés do Senhor, a nossa oração pela salvação dos pecadores, o trabalho dedicado de todos os membros da igreja na obra do Senhor, a pregação do evangelho na dependência do Espírito, são necessários para que esta grande colheita tenha êxito. Jesus poderia usar outro instrumento para fazer a grande colheita, mas ele preferiu usar a minha e a sua vida. Que grande privilégio e responsabilidade temos como igreja de Jesus.
Somos chamados a trabalhar na sua obra para que ela avance no mundo, como nos diz o hino 312, do nosso hinário: “Há trabalho certo para ti cristão, que demanda toda a tua devoção, vem alegremente, a Cristo obedecer, pois só tu, ó crente, o poderás fazer… Quantos há, sem a salvação, quantos que precisam de consolação! Como Cristo os ama, faze-os entender, pois só, tu o crente, o poderás fazer”.
A quarta razão porque a igreja deve participar ativamente da evangelização do mundo é que ela traz alegria tanto para Jesus quanto para a igreja. Jesus fala da alegria tanto dele, o semeador, quanto dos discípulos, os ceifeiros. Há alegria e recompensa para ambos. Jesus se alegra com os pecadores arrependidos se voltando para ele e nós nos alegramos vendo vidas sendo transformadas por Jesus e recebendo principalmente a vida eterna, inclusive nós. Uma das maiores alegrias depois da nossa salvação é ser instrumento para a salvação de outras pessoas. Já imaginou a alegria de chegar no céu e ver muitas pessoas que evangelizou? Já imaginou a alegria de Jesus?
Os discípulos se alegrariam em colher frutos que eles não plantaram em Samaria. Outros tinham semeado lá como Moisés que plantou a esperança messiânica na mulher samaritana, Jesus que a evangelizou e a mulher samaritana que se tornou a primeira missionária do Novo Testamento. No reino espiritual é comum que um colha o que outro semeou. Cada um de nós é ao mesmo tempo um ceifeiro, colhendo frutos que outras plantaram e um semeador da semente que produzirá uma colheita que outros irão colher. Por isso, tanto o semeador quanto o ceifeiro se alegram com esse plano divino: sempre haverá um campo para ser colhido.
Quando cheguei na Guiné-Bissau, um mês depois já estava batizando cerca de 20 pessoas que foram evangelizadas e discipuladas por meus antecessores. Colhi o que não plantei. No ano seguinte estávamos ordenando o primeiro pastor presbiteriano guineense: Malam Sanhá, em 26 de março de 2012. Tudo isso trouxe alegria para mim, para a igreja, para os nossos parceiros, para a AMPT e, principalmente para Jesus.
Em algumas igrejas não tem havido nova semeadura, só colheita. Com o tempo não haverá mais colheita. Não haverá mais crianças para serem ensinadas, não haverá mais adolescentes e jovens para professarem a fé, nem novos convertidos para serem batizados. A melancolia e a tristeza tomarão conta dessas igrejas, consequentemente haverá diminuição de membros e, até o fechamento das portas como igreja local, fato que já ocorre com frequência na Europa, EUA e agora com forte tendência no Brasil.
Discorri sobre a importância da igreja participar ativamente na evangelização do mundo. Apresentei quatro razões para isso: A evangelização é prioridade para Jesus; a evangelização é urgente para Jesus; a igreja é o instrumento de Jesus para a evangelização do mundo; e, a evangelização traz alegria tanto para Jesus quanto para a igreja. Acima de tudo, segundo toda a Bíblia, a evangelização glorifica a Deus e abençoa o mundo com a graça do evangelho de Jesus. Por isso, como igreja de Cristo, participemos ativamente da evangelização do mundo. Entregue sua vida a Jesus, seus dons, seu tempo, seu dinheiro, suas orações, seu testemunho e sua disposição de servi-lo, afim de que Cristo seja conhecido, vidas sejam salvas, Deus receba glória e nós nos alegremos, juntamente com ele.


[1] O texto bíblico que este artigo se baseia é: João 4.31-38.
[2] HENDRIKSEN, William. O evangelho de João. São Paulo, Cultura Cristã, 2004, p.232-233.
[3] HENDRIKSEN, 2004, p. 233.
Fonte: Site da APMT

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