terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Davi e Bate-Seba: Escolhas erradas, consequências trágicas

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DAVI E BATE-SEBA: ESCOLHAS ERRADAS, CONSEQUÊNCIAS TRÁGICAS
Texto Básico: 2 Samuel 12.15-25

INTRODUÇÃO
É muito comum vermos as pessoas fazerem suas escolhas sem pensar nas consequências que elas trarão. Para muitos, e talvez para nós mesmos, o que vale na hora da escolha é o prazer imediato e a vantagem que se obterá. A preocupação com as consequências e implicações é mínima ou, até mesmo, inexistente. Esse imediatismo, infelizmente, tem afetado muitas pessoas e não são poucos os crentes que seguem por esse caminho. O resultado são inúmeros conflitos e dramas familiares.
A história de Davi e de seu adultério com Bate-Seba, serve para demonstrar que na vida não podemos fazer nossas escolhas de modo inconsequente. Todas as escolhas que fizermos trarão consequências, que podem ser boas ou ruins. Elas nos aproximarão ou nos afastarão de Deus.
Hoje veremos como escolhas erradas resultam em consequências trágicas e como devemos reagir quando isso acontecer conosco, dado o nosso pecado.
I. A FALTA DE VIGILÂNCIA ESPIRITUAL
As escolhas erradas de Davi e Bate-Seba foram derivadas de atitudes espirituais apáticas, as quais denunciam a falta de vigilância. Embora o texto bíblico enfatize o pecado de Davi, não podemos deixar passar de modo despercebido a conivência de Bate-Seba com os fatos. Diante de tudo, não há o registro de qualquer protesto contra aquela situação, nem mesmo um mínimo indício de reprovação ou desconforto. Por isso, consideramos que a sua participação também foi decisiva para a prática do pecado.
Para entender o que ocorreu com Davi e como um “homem segundo o coração” de Deus (1Sm 13.14; At 13.22) pôde trazer ruína para a sua vida e família, precisamos entender o que estava acontecendo com ele, e em que circunstâncias sua escolha ocorreu.
Em 2 Samuel 11.1, temos o contexto em que Davi comete adultério com Bate-Seba: “…no tempo em que os reis costumam sair para a guerra [...] Davi ficou em Jerusalém”. Tais palavras parecem uma crítica a atitude de Davi e apontam para as circunstâncias em que pecou. Ao que parece, Davi negligenciou as suas obrigações como rei de Israel. Ele deveria ter acompanhado seu exército, mas preferiu ficar em sua casa na ociosidade, a descansar e passear, enquanto seus homens estavam em batalha (veja o verso 2 e compare-o com os versos 1 e 11).
A escolha de Davi foi determinada por sua atitude de negligenciar seus deveres como servo de Deus, visto que a posição que ocupava fora estabelecida pelo próprio Deus. O Senhor o havia ungido como rei para governar e estar à frente de Israel.
Conforme 2Samuel 11.2, em sua ociosidade e negligência, Davi ao olhar pelo terraço de sua casa avistou uma mulher, que era mui formosa, tomando banho. A narrativa dos fatos dá entender que Davi agiu de forma descuidada. Estava onde não deveria estar e olhou o que não podia olhar e cobiçou o que não era seu. Talvez, as grandes conquistas de Davi (narradas no livro de 2Samuel, principalmente nos capítulos 8 a 12), a posição de segurança e o conforto que havia alcançado, tivessem “subido à sua cabeça”, e nesse momento o orgulho tomado conta de seu coração, a ponto de “baixar a guarda” espiritual de seu coração, ou seja, ele havia deixado de vigiar e esquecido que a carne é fraca (Mt 26.41; 1Co 10.12).
A história do adultério de Davi nos ensina como é necessário cuidarmos de nossa vida espiritual, mantendo constante vigilância, para não fazermos escolhas erradas. Davi subestimou a sua natureza pecaminosa, esquecendo-se de que ainda era um pecador e precisava vigiar sempre. Se tivesse agido diferente, não teria tomado a decisão de olhar pelo terraço e mandar buscar para si a mulher que não era sua esposa.
Ainda hoje, muitos caem em tentações, como Davi caiu, por subestimarem os perigos espirituais. Quantos são aqueles que fazem escolhas erradas, escolhendo o adultério, a fornicação, simplesmente porque olharam “pelo terraço”, acessaram aquela página na internet com imagens impróprias, que não deveriam acessar, cederam à tentação de dar uma olhadinha apenas, e isto desencadeou outras atitudes e escolhas que resultaram em ruína.
O que Jesus ensina em Mateus 5.27-32 deve ser levado em conta, para não fazermos escolhas semelhantes as escolhas de Davi. Vigiemos para não cairmos em tentação, fazendo escolhas que nos conduzam à ruína.
II. ESCOLHAS ERRADAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS
A decisão de Davi, após olhar para Bate-Seba, de mandar buscá-la e deitar-se com ela, cometendo adultério, desencadeou em outras escolhas erradas, na tentativa de esconder seu pecado. Tudo isso, inevitavelmente, resultou em terríveis consequências não só para eles, mas também, para suas respectivas famílias.
Após ter-se deitado com Davi, Bate-Seba achou-se grávida (2Sm 11.4-5). E quando informado disso, na tentativa de esconder o que havia feito, Davi mandou buscar Urias, esposo de Bate-Seba, sugerindo-lhe que retornasse para sua casa. O intenção de Davi, friamente calculada, era que Urias se deitasse com sua esposa (11.6-8), pois, uma vez que tivesse contato íntimo com Bate-Seba, provavelmente consideraria que o filho que ela estava gerando fosse seu – assim, tudo estaria resolvido e Davi e Bate-Seba teriam encoberto sua transgressão.
Urias, no entanto, não aceitou ir para casa, deitando-se à porta da casa real. Ele se sentia mal diante daquele “privilégio”, pois sabia que seus companheiros estavam no desconforto da batalha. Ele julgava-se no dever de voltar para ajudá-los. Isto levou o rei Davi a tomar outra escolha errada. Por meio do próprio Urias, ele encaminhou uma carta a seu oficial Joabe, para que o colocasse no local da batalha onde a peleja estivesse mais difícil, para que então fosse ferido e morresse. E foi o que aconteceu. Urias foi morto e Davi tomou Bate-Seba para ser sua mulher. Para Davi parecia que tudo estava resolvido.
Na vida as escolhas erradas que fazemos, sempre terão suas consequências. O que sucedeu com Davi e Bate-Seba é demonstração disto. Aprendemos na Bíblia que aquilo que semearmos isso ceifaremos (Gl 6.7). “Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna” (Gl 6.8). Davi e Bate-Seba semearam corrupção e tiveram que colher as consequências de seus atos. Isto porque de Deus não se zomba (Gl 6.7). Os homens podiam ignorar o que Davi e Bate-Seba fizeram, mas Deus que sonda os corações e conhece todas as coisas, sabia o que eles haviam feito (Sl 139). Nada ficou encoberto aos olhos do Senhor, que no tempo próprio enviou até Davi o profeta Natã, para repreendê-lo (2Sm 12.1-15).
Nas palavras do Senhor por intermédio do profeta Natã, as ações pecaminosas de Davi e as suas escolhas erradas, teriam consequências que afetariam tanto ele como a Bate-Seba e a sua família, por um longo período da vida deles. Situações surgiriam como resultado do pecado deles, mas também como manifestação do juízo de Deus por causa de suas transgressões. Davi demonstrou-se arrependimento pelo que fez, foi perdoado (2Sm 12.13), mas ainda assim teve de enfrentar as consequências das suas escolhas.
Primeiro, foi a morte do filho que Bate-Seba estava gerando: “o SENHOR feriu a criança que a mulher de Urias dera à luz a Davi; e a criança adoeceu gravemente” e “ao sétimo dia morreu a criança” (2Sm 12.15,18).
Depois, surgiram outras consequências. O Senhor por intermédio do profeta Natã, profetizou que a espada jamais se afastaria da casa de Davi. Assim como Urias foi morto de forma violenta, assim também a violência não se apartaria da casa de Davi. Então, tempos depois, seu filho Absalão, assassinaria seu próprio irmão Amnom, como vingança, por ter este estuprado a irmã deles, Tamar (2Sm 13.1-36). Isso fez com que Joabe matasse Absalão (2Sm 18.14-15).
Mas estas não foram as únicas e trágicas consequências. Conforme as palavras do Senhor, da própria casa de Davi, seria levantado alguém que tomaria suas mulheres e se deitaria com elas à vista de todos (2Sm 12.11-12). Aquilo que o rei havia feito as escondidas, agora seria realizado as claras. Isso começou a se cumprir quando Absalão pôs fim a sua fuga, depois de matar seu irmão Amnom, retornando para sua casa. Ele se revoltou contra seu pai Davi, que teve de fugir por causa de sua conspiração, incitando o povo contra o rei. Então, Absalão deitou-se com as concubinas de Davi (2Sm 16.20-23). Davi enfrentou em tal situação grande angústia (Sl 3) visto que, era perseguido por seu próprio filho, que cessou de persegui-lo, somente depois que foi morto por Joabe, oficial do exército de Davi. Somente com a morte de seu filho, Davi teve seu reino restituído e pôde voltar para sua casa (2Sm 19.11-15).
A história de Davi e Bate-Seba, de suas escolhas erradas e consequências trágicas, permanece por todos os tempos, como um alerta para todo crente na hora de fazer suas escolhas. Para todas escolhas erradas existe um preço a ser pago. Dependendo das escolhas erradas que fizermos, o preço poderá ser alto demais, como foi o preço pago por Davi e Bate-Seba. Portanto, sabendo que não podemos ser inconsequentes em nossas escolhas, procuremos fazer escolhas acertadas, sempre fundamentadas na Palavra de Deus.
III. A BÊNÇÃO DO PERDÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS
A despeito dos pecados cometidos principalmente por Davi, e também por Bate-Seba, Deus os perdoou. O perdão foi declarado logo depois de Davi reconhecer sua culpa: “…disse Davi a Natã: Pequei contra o SENHOR. Disse Natã a Davi: Também o SENHOR te perdoou o teu pecado; não morrerás” (2Sm 12.13). Já foi demonstrado que Davi colheu consequências por causa de suas culpas. Isto quer dizer que receber perdão divino não implica na anulação das consequências das suas escolhas.
No salmo 51, escrito por Davi quando o profeta Natã foi ter com ele, depois de haver ele possuído Bate-Seba, encontramos a confissão do rei de forma bastante detalhada, na qual reconhece suas culpas. Davi demonstra nesse salmo a certeza que tem de que Deus pôde perdoá-lo e restaurar sua vida, restituindo-lhe a alegria da salvação (Sl 51.12).
Se por um lado, a história de Davi serve como alerta de como podemos cair em tremenda transgressão e ruína espiritual, por outro, por maior que seja a nossa culpa, mesmo que seja na proporção da culpa de Davi, ou até maior, aprendemos sobre a grandeza da ação misericordiosa de Deus. Na descrição do perdão divino concedido a Davi, podemos entender a profundidade das palavras do profeta Jeremias: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lm 3.22-23).
Por maior que seja a culpa de alguém, não é suficiente grande em comparação a grandeza do amor e misericórdia de Deus, que são manifestados em Cristo Jesus, mediante o seu sacrifício na cruz (Rm 5.1-11). Paulo diz que “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5.20). Por maior que fosse a culpa e os pecados de Davi, a graça do Senhor era muito maior, sendo poderosa para perdoá-lo e superar sua culpa.
O perdão de pecados está disponível a todos que arrependidos confessarem os seus  pecados a Deus (1Jo 1.9). As Escrituras nos levam à certeza de que todas as vezes que confessarmos os nossos pecados, Deus em sua fidelidade e justiça, satisfeitas inteiramente em Cristo, nos perdoará. Davi foi perdoado imediatamente após ter reconhecido sua culpa (2Sm 12.13).
É preciso, também, entender que a certeza do perdão de Deus não deve servir como licença para pecar (Rm 6.1-14). Ela serve de conforto e amparo para que, quando pecarmos, podermos recorrer a nosso Advogado e lhe suplicar auxílio e perdão (1Jo 2.1-2). Temos de nos esforçar para não fazermos   escolhas erradas, que nos levem ao pecado. Mas se pecarmos, temos a certeza confortadora do perdão.
Além da bênção do perdão, Davi e Bate-Seba foram abençoados com um filho. Assim nasceu Salomão. Com esse nascimento seus pais foram consolados pela perda do primeiro filho. A essa criança o profeta Natã havia dado o nome de Jedidias, que significa literalmente “Amado do Senhor”. Este seria também alguém usado por Deus em seu serviço, pois se tornaria rei em lugar de seu pai e seria o responsável pela construção do templo de Jerusalém (2Cr 3.1-2). Salomão se destacou por sua grande sabedoria (2 Cr 1.7-13).
O nascimento de Salomão é a demonstração de que Deus está sempre pronto a abençoar seus servos, a despeito de não merecerem nada de suas mãos. Podemos perceber como a graça de Deus supera nossos pecados e deméritos. Davi havia se arrependido, recebido o perdão e agora tinha a oportunidade, juntamente com Bate-Seba, de ser instrumento das bênçãos de Deus e alvo de sua graça.
O fato mais significativo relacionado ao nascimento de Salomão está em que dele descenderia Cristo Jesus. Isto é destacado por Mateus na genealogia que apresenta de Jesus: “Jessé gerou ao rei Davi; e o rei Davi, a Salomão, da que fora mulher de Urias” (Mt 1.6). Nota-se que Mateus, inspirado pelo Espírito Santo ao escrever sobre a genealogia de Cristo, não deixou de lembrar que Salomão era filho de Davi com a mulher que fora esposa de Urias. Apesar do pecado de Davi e Bate-Seba, a graça do Senhor tornou possível, por meio deles, o nascimento daquele de quem descenderia o Messias.
Por meio desses fatos, que demonstram a bênção de Deus sobre Davi e Bate-Seba, somos encorajados e confortados, pois verificamos que os pecados perdoados do passado não podem interferir ou impedir que sejamos abençoados por Deus. Deus não mais se lembra das transgressões passadas praticadas por nós e perdoadas em Cristo. Assim não deixa de derramar sobre nós suas bênçãos.
CONCLUSÃO
A história de Davi e Bate-Seba, demonstra que na vida cada escolha feita de forma errada resultará em consequências desastrosas. Vimos que a escolha de Davi foi determinada por seu descuido espiritual. No entanto, apesar do grande pecado cometido por ele e Bate-Seba, dos desdobramentos de suas escolhas e das trágicas consequências, Deus demonstrou sua graça e amor, restaurando-os, perdoando-os e ainda mais, concedendo a eles a oportunidade de terem outro filho, de quem descenderia o Messias, o Salvador Jesus.
APLICAÇÃO
Agora que você aprendeu sobre Davi e Bate-Seba e sobre as consequências trágicas de suas escolhas, avalie sua vida verificando em quais áreas você tem pecado contra o Senhor. Confesse cada um dos seus erros e dispondo-se a abandoná-los. Lembre-se de que é indispensável você manter vigilância para que suas escolhas sejam sempre feitas segundo a instrução da Palavra de Deus. E não se esqueça de sempre render louvores ao Senhor pelo perdão que ele concede a você, bem como, por sua infinita graça que é revelada na continuidade de suas bênçãos em sua vida, apesar de seus erros.
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Nossa Fé -– Casais da Bíblia. Usado com permissão
Texto Básico: 2 Samuel 12.15-25
Leitura Diária
Domingo: Mt 26.36-46 – Vigiai e orai
Segunda: 1Co 10.1-13 – Um cuidado necessário
Terça: Mt 5.27-32 – Atitudes preventivas
Quarta: Gl 6.6-10 – Semear e colher
Quinta: Sl 51.1-19 – Confissão e arrependimento
Sexta: Sl 32.1-11 – O perdão traz a bênção
Sábado: 1Jo 1.5–2.2 – A certeza do perdão

Fonte:Ultimato

AS MARCAS DE UM VERDADEIRO CRISTÃO


1 João 1.1-2.17
A Primeira Carta de João, segundo alguns estudiosos, ocupa o lugar mais elevado nos escritos inspirados, a ponto de João Wesley chamá-la de “A PARTE MAIS PROFUNDA DAS ESCRITURAS SAGRADAS”.
Simon Kistemaker afirma que “ESSA EPÍSTOLA PODERIA SER CHAMADA DE TRATADO TEOLÓGICO
Donald Guthrie tem razão quando diz que “ESSA CARTA COMBINA PENSAMENTOS PROFUNDOS COM SIMPLICIDADE DE EXPRESSÃO. ELA, É TANTO PRÁTICA QUANTO PROFUNDA”.
Antes de prosseguirmos, precisamos conhecer o autor dessa epístola. Quem foi João?
Primeiro, João era filho de Zebedeu e Salomé e irmão de Tiago. Seu pai era um empresário da pesca e sua mãe era irmã de Maria, mãe de Jesus. João era galileu e certamente deve ter crescido em Betsaida, às margens do mar da Galileia. Ele, à semelhança de seu pai, também era pescador.
Segundo, João tornou-se discípulo de Cristo. Inicialmente João era discípulo de João Batista, mas deixou suas fileiras para seguir o carpinteiro de Nazaré, o rabino da Galileia. Depois da morte de João Batista, João abandonou suas redes para integrar o grupo de Jesus permanentemente (Mc 1.16-20), tornando-se mais tarde um dos doze apóstolos (Mc 3.3-19).
        Terceiro, João tornou-se integrante do círculo mais íntimo de Jesus. Ao lado dos irmãos Pedro e André, João integrava esse grupo seleto que desfrutava de uma intimidade maior com Jesus. Eles acompanharam Jesus no monte de Transfiguração (Lc 9.28), na casa de Jairo (Lc 8.51), onde Jesus ressuscitou sua filha de 12 anos, e também no Jardim do Getsêmani, na hora mais extrema da sua agonia (Mc 14.33). Desses três apóstolos, João é o único que encostou a cabeça no peito de Jesus e foi chamado de discípulo amado.
Quarto, João passou seus últimos dias em Éfeso. E muito provável que João tenha fugido para Éfeso por volta do ano 68 d.C., antes da destruição da cidade de Jerusalém por Tito Vespasiano em 70 d.C. Dali ele foi banido para a Ilha de Patmos pelo imperador Domiciano, onde escreveu o livro de Apocalipse (Ap 1.9). João morreu de morte natural, enquanto todos os outros apóstolos foram martirizados. Seu irmão Tiago foi o primeiro dos apóstolos a morrer enquanto João foi o último. De acordo com Irineu, o apóstolo João viveu “até o tempo de Trajano”. João morreu por volta do ano 98 d.C., durante o reinado do imperador Trajano (98-117 d.C.). O apóstolo João foi o autor desta carta que estamos considerando.
John Stott diz que as diferenças existentes entre o evangelho e a carta são explicadas pelo propósito diferente que o autor tinha ao escrever cada uma dessas obras. Assim escreve Stott: João escreveu O EVANGELHO PARA INCRÉDULOS A FIM DE DESPERTAR-LHES A FÉ (JO 20.30,31), e a EPÍSTOLA PARA CRENTES, A FIM DE APROFUNDAR A CERTEZA DELES (5.13).
O local e a data em que a carta foi escrita
 E muito provável que o apóstolo João, o último representante do colégio apostólico vivo, tenha passado seus últimos dias morando na cidade de Éfeso, a capital da Ásia Menor. E quase certo que João escreveu essa e as outras duas epístolas de Éfeso, onde João pastoreou a igreja nos últimos dias da sua vida. Estudiosos normalmente datam a composição das epístolas de João entre 90 e 95 d.C. A razão para isso é o fato de as epístolas terem sido escritas para contra-atacar os ensinamentos do gnosticismo, que estava ganhando proeminência perto do final do século primeiro.
Os destinatários da carta
A Primeira Carta de João não foi endereçada a uma única igreja nem a uma pessoa específica, mas às igrejas do primeiro século. Trata-se de uma carta circular, geral ou católica.
Esta carta de João não foi endereçada à igreja de Éfeso, nem à igreja de Pérgamo, nem mesmo às igrejas da Ásia coletivamente, mas a todas as igrejas. Não há dúvida que ela circulou primeiramente entre as igrejas da Ásia e João tinha suas razões para escrevê-la em face dos perigos que atacavam as igrejas daquele tempo. Entretanto, seus ensinos e suas exortações não se restringem àquela época e àquelas igrejasAs doutrinas e exortações são tão oportunas para as igrejas de hoje como o foram para as igrejas daquele tempo.
Os propósitos da carta
        João escreveu o evangelho para os descrentes e seu propósito era que seus leitores cressem que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenham vida em seu nome (Jo 20.31).
A Primeira Epístola, por sua vez, foi escrita aos crentes para dar-lhes segurança da salvação em Cristo (5.13). Myer Pearlman corretamente diz que o evangelho trata dos fundamentos da fé cristã, a epístola dos fundamentos da vida cristã.
        O apóstolo João teve um duplo propósito ao escrever essa carta:
Em primeiro lugar, expor os erros doutrinários dos falsos mestres.
Esses falsos mestres estavam disseminando suas heresias perniciosas. João mesmo diz: “Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar” (2.26). João escreveu para defender a fé e fortalecer as igrejas contra os falsos mestres e sua herética doutrina. Esses falsos mestres haviam saído de dentro da própria igreja (2.19). Eles se desviaram dos preceitos doutrinários. João identificou o surgimento de uma perigosa heresia que atacaria implacavelmente a igreja no segundo século, a heresia do gnosticismo.
Essa posição resultou em duas diferentes atitudes em relação ao corpo: ascetismo ou libertinagem.
As principais crenças do gnosticismo são: a impureza da matéria e a supremacia do conhecimento. Com isso, a filosofia gnóstica produziu uma aristocracia espiritual por um lado e uma acentuada imoralidade por outro.
O gnosticismo ensinava que a salvação podia ser obtida por intermédio do conhecimento, em vez da fé. Esse conhecimento era esotérico e somente poderia ser adquirido por aqueles que tinham sido iniciados nos mistérios do sistema gnóstico.
  A heresia gnóstica atingiu verdades essenciais do cristianismo.
A primeira delas foi a doutrina da Criação. Os gnósticos estavam errados quando afirmavam que a matéria era essencialmente má. Deus criou o mundo e deu uma nota: “Muito bom” (Gn 1.31).
A segunda verdade que foi afetada pela heresia gnóstica foi a doutrina da Encarnação. Para os gnósticos, era impossível que Deus houvesse assumido um corpo físico, material. Essa heresia em sua forma mais radical é chamada de Docetismo. O verbo grego dokein significa “parecer” e os docetistas pensavam que Jesus só parecia ter um corpo.
        De acordo com essa heresia de Cerinto Jesus morreu, mas Cristo não morreu. Para ele, o Cristo celestial era muito santo para estar em contato permanente com o corpo físico. Dessa maneira, ele negava a doutrina da Encarnação, que Jesus é o Cristo, e que Jesus Cristo é tanto Deus como homem.
 João se levanta, e refuta também essa heresia de Cerinto, quando escreve: “Este é aquele que veio por meio de água e sangue, Jesus Cristo; não somente com água, mas também com a água e com o sangue…” (5.6). Para eles, o Cristo divino abandonara a Jesus antes de sua crucificação. O apóstolo João afirma, entretanto, que Jesus Cristo veio por meio de água e sangue.
Augustus Nicodemus destaca o fato de que esses ensinamentos heréticos que negavam a humanidade e a divindade de Cristo foram posteriormente rejeitados pela igreja nos concílios de Niceia e Calcedônia, que adotaram o ensino bíblico da perfeita humanidade e divindade de Cristo.
Ela é uma carta que enfatiza a necessidade de obediência aos mandamentos divinos. A prova moral de que pertencemos à família de Deus é a obediência (2.3-8,29; 3.3-15,22-24; 4.20,21; 5.2-4,17-19,21). O conhecimento de Deus e a obediência a Deus devem caminhar sempre juntos. Aquele que diz que conhece a Deus, mas não guarda seus mandamentos é mentiroso (2.35). A obediência a Deus é uma das condições para termos nossas orações respondidas (3.22). Somos conhecidos como crentes pela obediência a Deus e pelo amor aos irmãos.
Diante do exposto quero meditar com os irmãos sobre as três provas cardinais que evidencia os verdadeiros cristãos:
1- A PRIMEIRA MARCA É TEOLÓGICA, CRER EM JESUS CRISTO “O FILHO DE DEUS” (3.23; 5.6,10,13).
A Primeira Carta de João tem uma mensagem tão urgente e decisiva para a igreja que o apóstolo, deixando de lado as saudações costumeiras, vai direto ao assunto e apresenta Jesus, a manifestação suprema de Deus entre os homens.
 João não se detém em detalhes como remetente, endereçamento e saudação quando tem algo tão imenso a declarar.
A intimidade com seus leitores é tal que várias vezes se dirige a eles como “filhinhos”, “amados”, “irmãos” (2.1,12,18; 3.7,18; 4.4; 5.21). João é uma pessoa que possui autoridade e fala como testemunha ocular.
No primeiro parágrafo (1.1-4) o tema central é Jesus, o verbo da vida. João abre sua carta falando sobre Jesus: Quem é Jesus. Como podemos conhecê-lo. Como ele pode ser experimentado. Como ele deve ser proclamado. Qual a principal razão da sua vinda ao mundo.
A mensagem de João é que Deus não está distante nem indiferente a este mundo, como pensam os gnósticos e deístas. O testemunho de João é que Deus está profundamente interessado neste mundo. Ele enviou seu Filho ao mundo e seu nome é Jesus Cristo, o verbo da vida. Ele é o Messias, o Salvador do mundo.
Não há qualquer sombra de dúvida de que o propósito da carta é anunciar aquele que é, desde o princípio, o verbo da vida, a vida eterna. Aquele que estava com o Pai manifestou-se em carne e foi ouvido, visto e tocado.
Destacaremos, agora, as verdades essenciais do texto em tela:
A preexistência do verbo de Deus (1.1)- Como a autoexistência e a eternidade sáo atributos exclusivos da divindade, concluímos, com diáfana clareza, que Jesus é divino. Essa verdade fica ainda mais clara quando lemos no prólogo do evangelho de João: “No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus” (Jo 1.1).
A humanidade do verbo de Deus (1.1) João continua: “[…] o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao verbo da vida” (1.1). O Eterno penetrou no tempo e foi manifestado aos homens. O verbo de Deus preexistente, eterno e divino fez- se carne (Jo 1.14).
A encarnação de Cristo é a pedra fundamental onde se apoia o cristianismo. Negando a encarnação, os falsos mestres estavam na verdade atacando todas as doutrinas centrais do cristianismo.
A proclamação do verbo da vida (1.3,4) Eis o relato de João: O que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa (1.3,4).
João combate os hereges gnósticos mostrando que Jesus é o Filho de Deus, o Messias prometido, o ungido de Deus (1.7; 2.1,22; 3.8; 4.9,10,14,15; 5.1,9-13,18,20).
Ela é uma carta que enfatiza a humanidade de Cristo. Contrariando os ensinos gnósticos que proclamavam que a matéria era essencialmente má, João mostra que Jesus veio em carne (1.1-3,5,8; 4.2,3,9,10,14; 5.6,8,20). John Stott está coberto de razão quando diz que a mensagem de João está supremamente interessada na manifestação histórica, audível, visível e tangível do Eterno. João está atestando a sua mensagem com a sua experiência pessoal.
        Ela é uma carta que enfatiza que Jesus é o Salvador. Jesus morreu pelos pecados dos homens (1.7; 2.1,2; 3.5,8,16; 4.9,10,14). O Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo (4.14).
Ele manifestou-se para tirar os pecados e nele não existe pecado (3.5). Com respeito ao pecado do homem, Jesus é: primeiro, o nosso advogado junto ao Pai (2.1) e, segundo, a propiciação pelos nossos pecados (2.2; 4.10). Um sacrifício propiciatório restaura a relação quebrada entre duas partes. E um sacrifício que reconcilia o homem e Deus.
2- SEGUNDA MARCA É MORAL (OBEDECER=SANTIDADE) – SE PRATICAMOS OS MANDAMENTOS DE DEUS (1.5; 2.3-11; 3.5)
A teologia não é separada da ética, mas exige santidade de vida. A teologia cristã não é apenas conceitual, mas, sobretudo, prática.
 João não é um filósofo, mas um teólogo. Sua mensagem não é apenas para o deleite da mente, mas para a transformação do coração. Sua teologia não é destinada apenas a uma elite intelectual na igreja, mas para todos os que reconhecem seus pecados e se voltam contritos para Deus.
Sua mensagem tem profundas implicações práticas. O propósito do apóstolo é mostrar que não podemos ter comunhão com Deus e com os irmãos sem santidade. E impossível andar nas trevas e ter comunhão com Deus, que é luz. William Barclay tem razão quando diz que o caráter de uma pessoa estará determinado necessariamente pelo caráter do Deus a quem adora.
 Simon Kistemaker diz: que a santidade exige verdade em palavras e atos.
A teologia não é neutra, mas exige do homem um posicionamento. Aqueles que dizem conhecer a Deus, que é luz, mas vivem nas trevas; aqueles que, embora pecadores, negam a própria natureza pecaminosa; aqueles que, embora manchados pela mácula do pecado.
A natureza santa de Deus é exposta (1.5) João escreve: “Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma”. João passa da revelação do verbo de Deus para a revelação do próprio Deus, a quem revela.
Destacamos aqui alguns pontos:
EM PRIMEIRO LUGAR, a mensagem acerca da natureza de Deus vem do próprio Jesus (1.5).
        A natureza pecaminosa do homem é declarada (1.6-10) Os falsos mestres, que haviam desembarcado na Ásia Menor, traziam em sua bagagem uma teologia falsa acerca de Deus, de Cristo, do homem, do pecado e da salvação. No pacote de suas heresias, esses falsos mestres desconectavam a religião da vida, afirmando que podiam ter comunhão com Deus e ao mesmo tempo viver nas trevas (1.6).
Eles chegavam a ponto de negar a própria existência do pecado (1.8) e afirmar que não eram susceptíveis a ele (1.10).
        Quais eram essas atitudes dos falsos mestres? Em primeiro lugar, a tentativa de enganar os outros (1.6). “Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade.” Os mestres gnósticos separaram a teologia da vida, a religião da prática da piedade. Mesmo imersos no caudal de seus pecados ainda proclamavam que tinham comunhão com Deus.
        Concordo com Augustus Nicodemus quando diz: “Os atos de um cristão professo são mais eloquentes do que suas palavras, e revelam o estado real de seu relacionamento com Deus”.
        Simon Kistemaker tem toda razão quando escreve: “O pecado aliena o ser humano de Deus e de seu próximo. Ele perturba a vida e gera confusão. Em vez de paz, há discórdia; em vez de harmonia, há desordem; e, no lugar de comunhão, há inimizade”.
        EM SEGUNDO LUGAR, a tentativa de enganar a nós mesmos (1.8). “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.”O pecado nos leva a mentir não apenas para os outros, mas também a mentir para nós mesmos. O problema agora não é enganar os outros, mas enganar a nós mesmos.
        O pecado anestesia o coração, insensibiliza a alma e cauteriza a consciência. E possível viver em pecado e ainda assim sentir-se seguro e ter a certeza de que tudo está bem na relação com Deus. Isso é mais do que esconder o pecado como fez Davi. Isso é negar a própria existência do pecado, como fizeram os falsos mestres do gnosticismo.
        EM TERCEIRO LUGAR, a tentativa de enganar a Deus (1.10). “Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua Palavra não está em nós.” O pecado pode nos fazer mentir para os outros, mentir para nós mesmos e mentir para Deus. Tendo-se tornado mentiroso, depois também se procura transformar Deus em mentiroso.
        Concluímos este ponto com as palavras de Warren Wiersbe, dizendo que os falsos mestres e os falsos crentes mentem sobre sua comunhão com Deus (1.6), sobre sua natureza pecaminosa (1.8) e sobre seus atos pecaminosos (1.10). Aquele que procura encobrir os seus pecados perde a Palavra de Deus. Ele deixa de praticar a Palavra de Deus (1.6), logo a verdade deixa de estar nele (1.8), e, finalmente, ele torna a verdade em mentira (1.10). Aquele que tenta encobrir os seus pecados perde a comunhão com Deus e com o seu povo (1.6,7).
        NO CAPÍTULO I de sua epistola, O apóstolo João identificou três marcas de um falso cristão: ele tenta enganar os outros, a si mesmo e a Deus.
        A obediência, a evidência do verdadeiro conhecimento de Deus (2.3-6) Conhecer a Deus e ter comunhão com ele é a própria essência da vida eterna (Jo 17.3). Comunhão com Deus e conhecimento de Deus são dois lados da mesma moeda.
        Em suas Confissões, Agostinho de Hipona diz: “DEUS NOS CRIOU PARA ELE E NOSSA ALMA NÃO ENCONTRARÁ REPOUSO ATÉ DESCANSARMOS NELE”.
                        Destacaremos quatro pontos para a nossa reflexão:
Em primeiro lugar, a obediência é a prova do conhecimento de Deus (2.3). “Ora, sabemos que o temos conhecido por isso: se guardamos os seus mandamentos.”
Conhecer nas Escrituras e especialmente em João (2.3,4,13,14) não significa nunca um conhecimento intelectual, teórico, mas um conhecimento experimental do coração. O que João está dizendo é que nenhum conhecimento é verdadeiro se não for transformador.
        Warren Wiersbe diz que a obediência pode ter três motivações: obedecemos porque somos obrigados, porque precisamos ou porque queremos. escravo obedece porque é obrigado. Do contrário, será castigado. O empregado obedece porque precisa. Pode não gostar de seu trabalho, mas certamente gosta de receber o salário no final do mês! Precisa obedecer, pois tem uma família para alimentar e vestir. Mas o cristão deve obedecer ao Pai celestial porque quer — porque tem um relacionamento de amor com Deus. Jesus disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14.15).
        Em segundo lugar, a inconsistência moral é a negação do conhecimento de Deus (2.4). “Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade.” O pior dos enganos é o autoengano.
        Em terceiro lugar, a obediência à Palavra é a prova de que Deus está em nós e nós nele (2.5). “Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele…” O amor de Deus por nós é aperfeiçoado na obediência à Palavra. Nosso amor por Deus é demonstrado pela observância dos mandamentos de Cristo (5.3; Jo 14.15,21,23).
 Como podemos saber que estamos em Deus? João responde com uma sucessão de declarações: Quando estamos nele (2.5), quando permanecemos nele (2.6) e quando andamos assim como ele andou (2.6).
   Em quarto lugar, a imitação de Cristo é a prova de que pertencemos a ele (2.6). “Aquele que diz que permanece nele, este deve também andar assim como ele andou.” Cristo não é apenas nosso mestre; é também nosso exemplo. Qualquer pessoa que diga que é cristão deve viver como Cristo viveu.
        Ela é uma carta que enfatiza a necessidade de separação do mundo. O amor a Deus e o amor ao mundo são incompatíveis e irreconciliáveis (2.1517; 3.1,3,13; 4.3-5; 5.4; 5.19). O mundo é hostil a Deus e ao crente (3.1). Os falsos profetas são do mundo e não de Deus, porque falam a linguagem do mundo (4.4,5). Todo o mundo está sob o maligno (5.19). Por isso, o crente deve vencer o mundo pela fé (5.4). Todos os desejos do mundo são passageiros (2.17). Entregar o coração ao mundo que marcha para a destruição é uma verdadeira loucura.
Ela é uma carta que enfatiza a necessidade de obediência aos mandamentos divinos. A prova moral de que pertencemos à família de Deus é a obediência (2.3-8,29; 3.3-15,22-24; 4.20,21; 5.2-4,17-19,21).
O conhecimento de Deus e a obediência a Deus devem caminhar sempre juntos. Aquele que diz que conhece a Deus, mas não guarda seus mandamentos é mentiroso (2.35).
A obediência a Deus é uma das condições para termos nossas orações respondidas (3.22). Somos conhecidos como crentes pela obediência a Deus e pelo amor aos irmãos.
John Stott diz que temos razão de suspeitar dos que alegam intimidade mística com Deus e, entretanto, “andam nas trevas”. Religião sem moralidade é ilusão, uma vez que o pecado é sempre uma barreira para a comunhão com Deus. Andar nas trevas significa viver no erro, no pecado, na ignorância de Deus e em hostilidade a ele. Nesse caso, mentimos e não praticamos a verdade. Andamos em trevas quando as coisas mais cruciais da vida passam sem o exame da luz de Cristo. Se nossa carreira, nossa vida sexual, dinheiro, família, autoimagem, esperanças e sonhos jamais lhe foram abertos, nosso cristianismo e vida eclesiástica são uma mentira eloquente. E esse o motivo da falta de poder de tantos cristãos hoje e a razão de haver igrejas sem vida e sem poder.
3-A TERCEIRA MARCA É SOCIAL (AMOR) –  SE NOS AMAMOS UNS AOS OUTROS ( 2.7-11)
O amor, a evidência da verdadeira caminhada na luz (2.7-11)
        Se CRER em Jesus é a Marca teológica, a obediência é a Marca Moral que identifica o verdadeiro cristão, o amor é a Marca Social.
João faz uma transição da Marca Moral para a Marca Social, da obediência aos mandamentos para o amor ao próximo.
        Algumas verdades preciosas são aqui destacadas:
Em primeiro lugar, o amor é um mandamento velho e novo ao mesmo tempo (2.7,8). O apóstolo João escreve: Amados, não vos escrevo mandamento novo, senão mandamento antigo, o qual, desde o princípio, tivestes. Esse mandamento antigo é a palavra que ouvistes. Todavia, vos escrevo novo mandamento, aquilo que é verdadeiro nele e em vós, porque as trevas se vão dissipando, e a verdadeira luz já brilha.
João não está entrando em contradição. Na língua grega há duas palavras para “novo”. A palavra NEÓS é novo em termos de tempo e KAINÓS é novo em termos de qualidade.
A palavra usada por João aqui é KAINÓS. O mandamento para amar uns aos outros não é novo em termos de tempo, mas o é em termos de qualidade.
Podemos afirmar que o mandamento de amar o próximo é novo em três aspectos:
O mandamento é novo em profundidade. O novo mandamento de Cristo nos desafia a amar como ele nos amou. Isso é mais do que amar o próximo como a si mesmo, uma vez que Cristo nos amou e a si mesmo se entregou por nós. O amor cristão não é sentimento, é ação. Não somos quem dizemos ser, mas o que fazemos. Cristo deu sua vida por nós e devemos dar a nossa vida pelos irmãos (3.16).
O mandamento é novo em extensão. Jesus redefiniu o significado de “próximo”. O próximo que devemos amar é qualquer pessoa que precise da nossa compaixão, independentemente de raça ou posição. Devemos amar até mesmo os nossos inimigos. Em Jesus o amor busca o pecador. Para os rabinos judeus ortodoxos, o pecador era uma pessoa a quem Deus queria destruir. Os judeus desprezavam os pecadores, considerando-os indignos do amor de Deus, e repudiavam os gentios, considerando-os combustível do fogo do inferno. Porém Deus amou o mundo.
O mandamento é novo em experiência. Andar em amor e andar na luz são a mesma coisa. Quando conhecemos a Deus tornamo-nos filhos da luz. Na vida cristã as trevas vão se dissipando, pois as trevas não podem prevalecer sobre a luz. Na vida cristã a verdadeira luz, que é Cristo, já brilha. Quando Jesus nasceu, o “[…] sol nascente das alturas” visitou o mundo (Lc 1.78).
Em segundo lugar, o ódio não sobrevive na luz (2.9). “Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas trevas.”
Concordo com Lloyd John quando diz que a inimizade é cancerosa. Ela gera a própria espécie. Ela se multiplica desordenadamente. Ela adoece, deforma e mata.
João repete a ideia desse capítulo nos dois capítulos seguintes, quando diz que “Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino” (3.15) e que “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso” (4.20). Quem odeia a seu irmão desobedece aos mandamentos de Deus, está longe da verdade e vive em trevas espirituais.
Augustus Nicodemus diz que o ódio ao irmão é bastante revelador: “indica a falta do verdadeiro conhecimento de Deus. Indica falta de conversão; aponta, portanto, para o estado de perdição daquele que odeia”.
 Em terceiro lugar, o amor não produz tropeço para si nem para os outros (2.10). “Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço.” A palavra grega SKANDALON, traduzida por “tropeço”, é metáfora bíblica para uma pedra saliente que faz tropeçar o viajor. O uso desta palavra mostra que a falta de amor produz escândalo e causa tropeço.
Lloyd John Ogilvie está correto quando escreve: “As trevas da animosidade tornam o caminho traiçoeiro, mas a luz de Cristo transforma as pedras de tropeço em calçada”.
Warren Wiersbe narra a história de um homem que certa noite andava por uma rua escura quando viu um ponto muito pequeno de luz vindo em sua direção com movimentos hesitantes. Pensou que a pessoa carregando a luz talvez estivesse doente ou bêbada, mas, ao se aproximar, viu que o homem com a lanterna também segurava uma bengala branca. Por que será que um homem cego está carregando uma lanterna acesa?, o homem pensou e resolveu perguntar  a ele. O cego sorriu e respondeu: “Eu carrego essa luz para que eu veja, mas para que outros me vejam. Não fazer coisa alguma a respeito da minha cegueira, isso fazer algo para não ser um tropeço”.
Em quarto lugar, o ódio é um veneno que corói aqueles que dele se nutrem (2.11). “Aquele, que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda na escuridão, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos.”
Augustus Nicodemus diz, acertadamente, que as trevas a que João se refere são a  escuridão moral e espiritual, característica de pecado e corrupção em que a humanidade vive.
Quem odeia a seu irmão evidencia em sua vida três amargas realidades:
Quem odeia a seu irmão não tem a salvação de sua alma (2.11a). “Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas…”. As trevas são o oposto da luz. O diabo é o príncipe das trevas.
Quem odeia a seu irmão não tem propósito na vida (2.11b). “[…] e anda nas trevas…”. Quem anda nas trevas, anda sem segurança. Quem anda nas trevas, anda sem projeto e sem propósito. Quem anda nas trevas, não sai do lugar, não faz progresso, não tem direção clara na jornada na vida.
Quem odeia a seu irmão não tem direção na caminhada da vida (2.11c). “[…] e não sabe para onde vai…”. Aquele que vive e anda nas trevas não tem direção segura na vida. Aquele que anda nas trevas vive tateando, tropeçando e caindo. Fazer uma viagem nas trevas é caminhar em direção ao desastre.
João ergue sua voz para dizer que o ódio cega como as trevas. O amor não é cego; o ódio, sim, cega! Uma pessoa amargurada fica cega. Seu raciocínio obscurece. Perde-se o equilíbrio. Perde-se o discernimento. Perde-se a direção. Perde-se a bem-aventurança eterna.
Pastor Eli Vieira

4 Características De Um Fariseu Digital


A internet juntamente com as redes sociais, tem sido ferramentas especiais na divulgação e propagação do evangelho e da sã doutrina. É inegável o fato de que milhares de pessoas em todo Brasil, tem sido abençoadas com textos, reflexões, áudios, vídeos, pregações e estudos bíblicos que glorificam a Deus. Contudo, juntamente com isso, tornou-se perceptível o crescimento de um grupo de pessoas extremamente criticas, as quais se encaixam naquilo que denomino de fariseus digitais.

Pensando nisso, resolvi escrever quatro características fundamentais de um fariseu digital:

1-) Geralmente um fariseu digital é um tipo de desigrejado. Ele diz que ama o noivo, mas, demonstra odiar a noiva, sempre destilando palavras “mal-ditas” a igreja,  falando contra pastores, bem como das doutrinas de que diverge. Esse tipo de pessoa, geralmente não frequenta uma igreja local, é insubmisso, avarento, e intratável em seus relacionamentos interpessoais.

2-) Um fariseu digital é aquele que se considera mais sábio e melhor do que os outros, ainda que não tenha lido livros suficientes, e nem tampouco vivido suficiente. Um fariseu digital acredita que sempre tem uma palavra melhor, considerando-se assim um “expert” em assuntos que nunca dominou.

3-) Um fariseu digital costuma ser arrogante, soberbo e prepotente em suas colocações e afirmações teológicas, sempre tratando os outros com ar de superioridade.

4-) Um fariseu digital briga e discute por qualquer coisa. Na verdade, um fariseu digital é um individuo brigão que encastelado em seu PC, age quixotescamente acreditando ser o único sobrevivente de uma igreja pura e cristã.

Pense nisso,

Renato Vargens

Petição contra filme do Porta dos Fundos na Netflix passa de 1 milhão de assinaturas


O avanço da petição online se tornou viral, devido à repercussão negativa que o filme gerou entre cristãos e até mesmo adeptos de outras religiões.

Escrito por Fábio Porchat e protagonizado pelo próprio humorista junto ao também ator Gregório Duvivier, o filme distorce a mensagem bíblica sobre Jesus. (Imagem: Entreterse)

Escrito por Fábio Porchat e protagonizado pelo próprio humorista junto ao também ator Gregório Duvivier, o filme distorce a mensagem bíblica sobre Jesus. (Imagem: Entreterse)

Na manhã desta quinta-feira (12), a petição para que a Netflix retire o filme “Especial de Natal Porta dos Fundos – A Primeira Tentação de Cristo” de seu acervo na plataforma de streamming ultrapassou 1 milhão de assinaturas.
O avanço da petição online se tornou viral, devido à repercussão negativa que o filme gerou, não apenas entre cristãos e conservadores, mas entre todos aqueles que não concordam com o uso indevido de elementos religiosos. Prova disso é que na última segunda-feira (9), o número de assinaturas era de 180 mil.
No roteiro, o filme apresenta Jesus como um homem que tem um relacionamento homossexual aos 30 anos com “Orlando”, que depois se revela como Satanás. Além disso, na história, Deus é representado como alguém que não controla seus impulsos sexuais, Maria é adúltera e um dos reis magos leva uma prostituta para a festa de aniversário de Jesus.
Pastores se posicionando
Durante os últimos dias, teólogos e escritores se pronunciaram sobre o assunto, repudiando o grupo Porta dos Fundos pela criação do roteiro e também a Netflix por promover a produção do filme.
Em uma publicação do Facebook, o Rev. Augustus Nicodemus confessou que não se espanta com esse tipo de ofensa à imagem de Cristo, mostrando que essa distorção já foi feita em outras ocasiões.
“Não é de hoje que também o chamam de homossexual. Seu pretenso caso com João, o jovem discípulo amado que se inclinou no seu peito durante a Ceia, tem sido apontado como evidência desde os primórdios da teologia inclusiva (gay) décadas atrás. Contudo, somente olhos homossexuais conseguem enxergar no episódio mais do que demonstração oriental masculina de amizade entre dois amigos”, explicou.
“Todas essas caricaturas de Cristo, inclusive essa requentada mais recentemente pelo Porta dos Fundos, não são novidade para os cristãos que conhecem a história de rejeição, perseguição, ódio e desprezo por Jesus de Nazaré conforme ele é retratado nos 4 Evangelhos canônicos e nos escritos de seus seguidores mais próximos, ainda no século I – aliás, as únicas fontes confiáveis que temos sobre sua identidade”, acrescentou.
O pastor continuou apontando a produção do Porta dos Fundos como resultado das ações de pessoas que simplesmente atacam o cristianismo.
“Essa representação, totalmente contrária aos textos bíblicos que servem de origem para entendermos quem é Jesus, é resultado do deboche, zombaria, cinismo e descaso consciente de pessoas que querem simplesmente atacar o Cristianismo”, destacou. “Não estou espantado. O que se espera que sairia de um grupo que tem um nome desses [POrta dos Fundos] para identificá-lo?”.
Já o pastor e escritor Franklin Ferreira destacou que esta não foi a primeira vez que o próprio grupo Porta dos Fundos vilipendiou a fé cristã e apontou o filme como mais uma revelação do ódio da esquerda contra a Igreja e o cristianismo.
“Mas, hoje, os esquerdistas não escondem mais seu ódio contra a religião mais perseguida do mundo: o cristianismo. E o Porta dos Fundos, que tem entre suas estrelas um ferrenho defensor do PT e PSOL, é parte desse movimento para vilipendiar e ridicularizar a fé no Senhor Jesus Cristo”, lembrou.
O pastor finalizou seu texto alertando cristãos a votarem com consciência nas próximas eleições.
“Que os cristãos católicos e protestantes se lembrem disso nas eleições de 2020 e 2022. Afinal, há cristãos que ainda pensam em votar no PT e PSOL? Esses partidos de esquerda já usaram e abusaram de católicos e evangélicos para tentar implementar seu programa de poder autoritário. Agora o PT, PSOL e seus acólitos abertamente atacam a fé cristã e vilipendiam seus símbolos. Haverá mesmo cristãos que ainda votarão nesses partidos?”, finalizou.
Posicionamento da Associação de Juristas Islâmicos
Surpreendentemente, o repúdio contra o Porta dos Fundos e a Netflix não veio apenas de cristãos e conservadores, mas até mesmo de representantes de outras religiões, como no caso de um grupo de juristas islâmicos.
“É com imenso pesar que a ANAJI – Associação Nacional dos Juristas Islâmicos e toda a comunidade Muçulmana, repudia a atitude do CANAL PORTA DOS FUNDOS E NETFLIX, que em vídeo deturpa a imagem do Profeta Jesus e sua mãe Maria (QUE A PAZ DE DEUS ESTEJA COM ELES)”, disse uma nota oficial da Associação.
“O artigo 5º, inciso VI, da Constituição Brasileira, deixa bem claro a proteção e respeito ao Sagrado. A liberdade de opinião e de expressão, também garantida pela Constituição, tem caráter relativo, podendo ser exercido tão somente dentro dos limites impostos pelo ordenamento jurídico, de maneira que não haja o desrespeito e a fomentação de aversões ou agressões a grupos religiosos, caso contrário implica na tipificação de crime (Lei 9.459, de 1997 e, artigos 140, 208 do CP)”, acrescentou.
“Não se permite é que uma pessoa intolerante possa agredir qualquer outra, motivada apenas pela sua ignorância e falta de compreensão básica de respeitar a religião alheia, ultrapassando assim os limites da lei”, lembrou.
Na nota, a Associação ainda pediu que “todos os cidadãos de bem denunciem os vídeos, independente da religião, pois a liberdade deve ser para todos sem exceção”.
A Netflix e o Porta dos Fundos ainda não se pronunciaram sobre o caso.

“O Estado é laico!” – A falácia do Estado ateu nas universidades (Parte 1)

O ambiente acadêmico brasileiro ainda dá muito o que falar (especialmente o público). Não apenas pelos alunos confusos em relação à sua vocação, fragilizados intelectualmente, ou que perpetuam atos de corrupção endêmica na hora de fazer uma prova (o famoso: colar na prova). Temos que lidar com professores que espalham ideias distorcidas e narrativas – quer como uma extensão do que receberam outrora como alunos, quer por desonestidade.
A grande verdade é que já passou o tempo de ser vítima da manipulação direta ou indireta, por parte de líderes pretensiosamente negligentes – a busca pela efetização de uma coalização pelo evangelho, nos faz contar com o reconhecimento das estruturas fortes que Igreja possui, além de perceber o direito como aliado à religiosidade cristã – mas ainda existem “hot spots” (pontos quentes), que não podemos esquecer. Nesta primeira parte de nosso texto, vamos abordar que o exercício da religião, em sua plenitude, é a comprovação da existência de senso crítico na cristandade. Passamos ao texto.

“Crede, Ut Intelligas: O exercício da religião é a comprovação de existência do senso crítico da cristandade”

A universidade é um ambiente para o desenvolvimento do senso crítico – de fato, não há dúvidas que está frase é verdadeira e importante. Entretanto, vemos em nossa era a profissão de fé tratada como um objeto estranho a essência da Universidade – fruto de uma constante separação entre fé e intelecto. Contudo, a história nos demonstra que a preocupação com o intelecto é uma das características da Igreja – protagonista na construção de centros para o exercício do saber, conforme aponta Justo L. González:
“A ORIGEM DA MAIORIA DAS UNIVERSIDADES MODERNAS – PARIS, SALERNO, BOLOGNA E OXFORD – DATAM DO SÉCULO 12, E TAL ORIGEM É O RESULTADO DE UMA COMBINAÇÃO DE FATORES TAIS COMO A TRADIÇÃO DAS ESCOLAS CATEDRAIS […]. PORQUE PARIS E OXFORD TINHAM AS MELHORES FACULDADES TEOLÓGICAS, A TEOLOGIA OCIDENTAL GRAVITOU EM TORNO DAQUELES DOIS GRANDES CENTROS UNIVERSITÁRIOS DURANTE O SÉCULO 13.”[1]
Este cenário que enaltece a ligação entre fé e conhecimento ganha mais força com os “cônegos regulares de Santo Agostinho”[2] – uma ordem criada por São Dominique, em 1215 d.C., com o objetivo de criar novas regras monásticas, para responder através de uma vida santa, tudo aquilo que contrariasse os pilares da verdadeira Igreja:
“DESDE SUA ORIGEM, ESTA NOVA ORDEM INSISTIU NA IMPORTÂNCIA DO ESTUDO PARA A CONCRETIZAÇÃO DESTA TAREFA. A VIDA MONÁSTICA FOI ADAPTADA ÀS NECESSIDADES DO ESTUDO, PREGAÇÃO E O CUIDADO DAS ALMAS. A PRINCÍPIO, OS DOMINICANOS CENTRARAM SEUS ESTUDOS E ENSINO EM SEUS PRÓPRIOS MONASTÉRIOS. MAS ELES LOGO VIERAM A OCUPAR CADEIRAS DAS PRINCIPAIS UNIVERSIDADES, ESPECIALMENTE PARIS E OXFORD.”[3]
Figuras da Igreja ocuparam e investiram nas “escolas catedrais que tornaram-se as universidades, espaço de pesquisa e produção do saber, mas também foco de vigorosos debates”[4] – vale lembrar da entrada do pensamento de Aristóteles e da filosofia árabe e judaica que também permearam, por anos, os debates acadêmicos. A motivação para estes envolvimentos entre fé e conhecimento está ligado à premissa bíblica reproduzida por Santo Agostinho: “Não procures entender para crer, mas crê para entender, porque, se não credes, não entendereis”[5].
Os cristãos sempre estiveram interessados na busca pelo conhecimento, por isso fazer parte da sistemática natural da Fé – o conhecimento em prol da excelência para a unidade cristã. Tal ideia é corroborada na proposta da mente renovada dissecada pelo Apóstolo Paulo em Romanos 12: 1-3, nas palavras de Craig S. Keener:Continua após anúncio:
“ESSA MENTE RENOVADA TEM CONSCIÊNCIA DE QUE CADA CRENTE RECEBEU UMA MEDIDA DE FÉ PARA DETERMINADAS ATIVIDADES (12.3,6), PORTANTO NENHUM MEMBRO É NEM MAIS NEM MENOS VALIOSO QUE OUTRO. OS PAPÉIS PODEM SER DIFERENTES, MAS CADA MEMBRO RECEBE DONS PARA SERVIR AOS OUTROS, SEM SE VANGLORIAR, CUMPRINDO FIELMENTE A INCUMBÊNCIA DE DEUS COMO SUA DÁDIVA PARA O CORPO.”[6]
Apesar desta herança claramente religiosa, há quem trate a fé cristã como algo intelectualmente debilitante, além de representar uma ameaça ao poder do Estado. Passeando pelas considerações salutares do Dr. Donald Carson, constataremos que isto é fruto de um julgamento “em nome da manutenção da separação entre Igreja e Estado”[7], que tem por objetivo a promoção de uma “rota da religião puramente privatizada […]”[8] – ao dissertar sobre a nova tolerância social (discurso para justificar o movimento secularista), ele apresenta uma modalidade de mundo – ao qual devemos atentar, pois é um objetivo buscado por organizações e intelectuais adversos ao Cristianismo:
“NESTE MUNDO BASTANTE PRIVATIZADO, PERMITE-SE QUE OS CIDADÃOS PENSEM QUALQUER COISA QUE QUISEREM A RESPEITO DE ASSUNTOS RELIGIOSOS. COMO ELES PRATICAM A RELIGIÃO COM OS OUTROS, NO ENTANTO, PODEM SER MONITORADOS E ALTAMENTE CONTROLADOS. PODE HAVER UMA RETÓRICA REBUSCADA SOBRE LIBERDADE DE RELIGIÃO (AFINAL, PERMITE-SE QUE AS PESSOAS ACREDITEM NAQUILO QUE DESEJAREM), MAS QUASE NÃO EXISTE UMA LIBERDADE AUTÊNTICA QUANDO A RELIGIÃO SE TORNA QUALQUER COISA EXCETO COMPLETAMENTE PRIVADA(POR EXEMPLO, PASSAR SUAS CRENÇAS PARA OS FILHOS, CULTUAR COM OUTRAS PESSOAS EM LOCAIS NÃO ESPECIFICAMENTE RELIGIOSOS, TENTAR TRAZER OUTRAS PESSOAS PARA A SUA RELIGIÃO).” [9]
Trata-se de uma intolerância disfarçada de tolerância – situação que nos parece imperar nas universidades, especialmente às públicas, em solo brasileiro. Este trabalho de influência tem efeitos patentes e violentos, conforme veremos adiante.

Universidade como infantário

Os secularistas chamam para si a identidade de simpatizantes à liberdade religiosa, mas em casos determinantes como o exercício de culto, demonstram uma intenção de aparar, progressivamente, a dinâmica da devoção. Ou seja, usam o discurso da liberdade religiosa como instrumento para promover a privatização da religião – conforme veremos adiante, isso se dá através do processo de subversão.
Trata-se de uma técnica que consiste na distorção do significado original de uma palavra, resultando em uma adulteração do conteúdo. No Brasil, este problema ainda é forte nas universidades, tendo em vista que temos um “excesso de estruturas de plausibilidade”, ainda enfatizando as lições do D.A. Carson, citando Peter L. Berger[10], definindo-as como:
“ESTRUTURAS DE PENSAMENTO ACEITAS POR UMA CULTURA ESPECÍFICA DE FORMA GERAL E QUASE INQUESTIONÁVEL. […] EM UMA CULTURA BASTANTE DIVERSIFICADA, COMO A QUE PREDOMINA EM MUITAS NAÇÕES DO MUNDO OCIDENTAL, AS ESTRUTURAS DE PLAUSIBILIDADE SÃO NECESSARIAMENTE MAIS RESTRITAS, PELO FATO DE HAVER MENOS POSIÇÕES SUSTENTADAS EM COMUM.”[11]
Com o excesso de deturpações às acepções originais, o pensamento ocidental fica dividido, gerando um consequente enfraquecimento do senso crítico – ambiente propício para a relativização, que resulta em um cenário ao qual “saltamos da permissão da articulação de crenças dos quais discordamos para a afirmação de que todas as crenças e todos os argumentos são igualmente válidos”.[12]
Nos termos do magistério de Camille Paglia, a linha do tempo da existência acadêmica foi afetada por uma espécie de destruição do ensino das humanidades – aniquilando o ambiente propício para a vida intelectual. A professora detecta tal problema como resultado do New Criticism – um modelo de pensamento que “produziu uma geração de acadêmicos que pensavam a literatura separadamente do seu contexto histórico.”[13]
Tal identificação explica, mesmo que por analogia, o fato de algumas figuras lutarem para tornar o ambiente acadêmico totalmente afastado da religião – mesmo que a religiosidade tenha contribuído para existência da Universidade. Assim como buscam pensar a literatura fora do contexto histórico, pensam a existência de ideias múltiplas fora do plano heterogêneo de pensamento (que inclui a religião).
Isto é resultado da substituição da pluralidade  (existem ideias diferentes mas nem todas são válidas) pelo pluralismo  (só serão válidas as ideias que estão debaixo de um mesmo plano) – que resulta na imposição de uma pequena comunidade ideológica sobre a maioria[14] que deseja exercitar sua fé livremente no campus.
Como isso funciona na prática? O fato que aconteceu no campus da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande) pode nos responder. Um grupo de oração universitário, tendo por nome Santa Terezinha de Jesus, tem os seus encontros às quartas e quintas fora dos horários de aula. Trata-se de um grupo não institucionalizado pela faculdade, sendo sua participação feita de forma voluntária para aqueles que assim o desejem. Apesar do grupo não ser um ato de imposição da faculdade (que apenas autoriza a realização da reunião), alguns professores e alunos sentiram-se contrafeitos com a existência do grupo, conforme declarações que circularam na Universidade. O argumento para justificar a insatisfação toma por base uma suposta “ameaça quanto a laicidade do Estado”, somada a um argumento de que “a Universidade é lugar de produção de conhecimento científico e do debate calçado no pensamento crítico”.
O argumento é defeituoso por dois motivos: 1) É subversivo – porque não expõe a real ideia do conceito de Estado Laico; e 2) É contraditório – por usar a característica de “ambiente para o pensamento crítico” como justificativa para vedar a realização de um encontro religioso. Como se proteger de tais afrontas? O Direito Religioso pode ser um bom aliado para tratar dessas questões e é exatamente o que veremos na segunda parte deste texto.
[1] GONZALÉZ, Justo L. UMA HISTÓRIA DO PENSAMENTO CRISTÃO – volume 2. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 218.[2] Ibdem, p. 220[3] Ibdem, p. 220[4] FERREIRA, Franklin. A IGREJA CRISTÃ NA HISTÓRIA: DAS ORIGENS AOS DIAS ATUAIS. São Paulo: Vida Nova, 2013. P. 123 e 124[5] AGOSTINHO, Santo. TRATADO AO EVANGELHO DE JOÃO. 29.6[6] KEENER, Craig s. A MENTE DO ESPÍRITO: A VISÃO DE PAULO SOBRE A MENTE TRANSFORMADA. São Paulo: Vida Nova, 2018. P. 249 e 250.[7] CARSON, D.A. A INTOLERÂNCIA DA TOLERÂNCIA. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. P. 144[8] Ibdem, p. 147[9] Ibdem, p. 147[10] BERGER, PETER L. THE SACRED CANOPY: ELEMENTS OF A SOCIOLOGICAL THEORY OF RELIGION. NOVA YORK: DOUBLEDAY, 1967.[11] CARSON, D.A. A INTOLERÂNCIA DA TOLERÂNCIA. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. P. 11.[12] Ibdem, p. 12[13] PAGLIA, Camille. MULHERES LIVRES HOMENS LIVRES – Sexo, género e feminismo. Quetzal Editores. Portugal, 2018. P. 121[14] JORDAN PETERSON: Pronomes de gênero e liberdade de expressão. Disponível em: < https://youtu.be/1NE4RkIhiTE > Acesso em 03/04/2019 às 19hr45min
Por: Thiago Rafael Vieira e Jean Marques Regina. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: “O Estado é laico!” – A falácia do Estado ateu nas universidades.
Thiago Rafael Vieira é advogado, professor, especialista em Direito Religioso. Presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Religião.

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