terça-feira, 26 de agosto de 2014

Calvino, a Fé e a Confissão Positiva

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Por Thomas Magnum


É claro que minha intensão nesse artigo não é trabalhar anacronicamente com relação ao reformador genebrino e a teologia da prosperidade. Mas não podemos negar que os reformadores no século dezesseis já tinham problemas com alguns hereges que gostavam de infiltrar certos tipos de heresias no meio da igreja Deus. O exemplo disso são os que defendiam revelações extrabíblicas nos dias de Lutero, afirmando que a bíblia não era suficiente [1].

Tenho por grande apreço ler as Institutas de Calvino, por esses dias meditando no que o reformador diz sobre a fé no terceiro livro, me debrucei sobre o trecho que diz:
Pois a fé certamente não promete nem longevidade nesta vida, nem honra, nem riquezas – uma vez que o Senhor não nos quis oferecer nenhuma dessas coisas –, mas se dá por satisfeita com a certeza de que, por mais que nos faltem muitas coisas que dizem respeito ao sustento desta vida, Deus não nos há de faltar jamais [2].

A fé defendida pelos pensadores da teologia da prosperidade tem por fundamento o pensamento positivo, a confissão positiva. Esse tipo de fé ou crença fundamenta-se no próprio homem, é uma fé psicologizada, humanista, que retorna a si num ciclo vicioso. Essa crença não tem nenhuma ligação com o que a Bíblia fala sobre a fé que repousa na vontade soberana de Deus. Nossa fé não é uma coleira posta em Deus, que lhe obriga fazer tudo que pedimos, como afirma a confissão positiva. Calvino refletia na fé como um dom de Deus (Ef 2.8), como sistema de doutrinas (I Tm 4.1), como o agarrar-se em Deus (Jo 3.16). A palavra fé e suas correlatas no Antigo Testamento equivalem à confiança e é encontrada mais de cento e cinquenta vezes. O Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento nos diz:
A fé em Deus significa, para Jesus, o estar aberto às possibilidades que Deus apresenta (cf. Mc 11.22: eehete pistin theouy “tende fé em Deus”). Inclui, também, o contar com Deus, que não se contenta apenas com a coisa dada e o evento acontecido. Expressões tais como: echein pistin theou (“ter fé em Deus, Mc 11.22) e prostithenai pistin (“aumentar a fé”, Lc 17.5) mostram como foi entendido o ensinamento de Jesus a respeito da fé. Havia um tipo especial de fé em Deus, ou seja, a fé em Jesus. A antítese entre pequeno e grande (Lc 17.6; Mt 17.20) apresenta um contraste entre a atitude humana e a grandeza da promessa. O que ocorre dentro do homem é pequeno em comparação com a grandeza que vem de Deus. Mesmo assim, Jesus falava de uma fé ilimitada como quem descreve algo novo. Não edificava sobre alguma coisa já existente: Sua base era uma coisa nova. Apesar disto, Seu ensino era bem diferente do entusiasmo desenfreado, porque não se divorciava do constante esforçar-se com Deus e do conversar com Ele. Ficava dentro do círculo da confiança (heb. bittahori) e do conhecimento (dalat). Jesus Se voltava para o indivíduo, porque Seu povo, como um todo, era conclamado à decisão da fé (Lc 19.42). As declarações que se fazem acerca da fé, na tradição sinótica, sempre são qualificadas. Aqui talvez se possa perceber influências posteriores (cf. o imperativo metanoeite, “arrependei-vos”, à luz do recebimento da mensagem da salvação). Não se deve, no entanto, esquecer-se de que toda conclamação e declaração da parte de Jesus continha os elementos da fé, da confiança, do conhecimento, da decisão, da obediência e da auto-direção. Não se pode entender a pregação de Jesus à parte dos aspectos multilaterais da fé (heb. *emunah) e confiança (heb. bittahori). A fé de Jesus era dirigida para a realidade. Estava profundamente envolvida no ato do viver, e estava num plano completamente diferente de abstrações hipotéticas. [3]

Portanto a fé em Deus não é uma mágica ocultista, não é uma abstração do poder interior ou a expressão de um sentimento mitológico de poder que provem do homem. A fé repousa em Deus que é o próprio autor dela (Hb 11.1), a fé é dada ao homem (Ef 2.8), embora essa fé precise ser posta em Deus por atitude do ser criado, ela provém do próprio Deus. Então, nossa fé não depende do que temos. Nossa felicidade não é proveniente do que Deus nos deu ou não, mas é equipada e sossegada no ser de Deus. Calvino continua:
Quaisquer que sejam as misérias e calamidades que atinjam na terra aos que Deus abraçou com seu amor, estas não podem, porém, impedir que sua benevolência seja para eles felicidade plena. Por isso, quando quisermos exprimir a suma felicidade, pusemos a graça de Deus como um manancial do qual brotam para nós bens de todos os tipos [4].

Esse manancial de bênçãos para o povo eleito de Deus é sua graça benevolente e soberana. Ao contrário do que os adeptos da teologia da prosperidade afirmam, lemos o que diz Habacuque:
Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas” [5].

Ainda continuamos a ler o que Calvino diz em seu comentário expositivo de Hebreus:
O Senhor prontamente e ao mesmo tempo encoraja nossa fé e subjuga nossa carne. Ele deseja que nossa fé permaneça serena e repouse como se estivesse em segurança, num sólido abrigo. Ele exercita nossa carne com várias provas a fim de que ela não se precipite na indolência [6]. 

Ao refletir sobre o repouso da fé na soberana vontade de Deus, entendemos que ele ouve nossas orações, mas, isso não é garantia que ele responderá positivamente a tudo que queremos, vide a passagem de I João:

E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos.” I Jo 5.14,15

Lemos ainda no Antigo Testamento:

Tu, pois, não ores por este povo, nem levante por ele clamor ou oração, nem me supliques, porque eu não te ouvirei. Jeremias 7.16

Com isso, fica claro para nós que Deus é Senhor de nossas vidas, ele nos dirige os passos e nos concede graciosamente o dom da vida.

Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. Atos 17.28

A vontade de Deus é tremenda e soberana como já dissemos, desejo finalizar com o Salmo 29, que nos convoca a tributar ao Senhor glória e força, pois sua voz se ouve sobre tudo e todos. Sua vontade majestosa reina para sempre:

DAI ao SENHOR, ó filhos dos poderosos, dai ao SENHOR glória e força. Dai ao SENHOR a glória devida ao seu nome, adorai o SENHOR na beleza da santidade. A voz do SENHOR ouve-se sobre as suas águas; o Deus da glória troveja; o SENHOR está sobre as muitas águas. A voz do SENHOR é poderosa; a voz do SENHOR é cheia de majestade. A voz do SENHOR quebra os cedros; sim, o SENHOR quebra os cedros do Líbano. Ele os faz saltar como um bezerro; ao Líbano e Siriom, como filhotes de bois selvagens. A voz do SENHOR separa as labaredas do fogo. A voz do SENHOR faz tremer o deserto; o SENHOR faz tremer o deserto de Cades. A voz do SENHOR faz parir as cervas, e descobre as brenhas; e no seu templo cada um fala da sua glória. O SENHOR se assentou sobre o dilúvio; o SENHOR se assenta como Rei, perpetuamente. O SENHOR dará força ao seu povo; o SENHOR abençoará o seu povo com paz.

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Notas:
[1] História da Igreja Cristã, Robert H. Nichors – Ed. Cultura Cristã
[2] As Institutas da Religião Cristã, João Calvino – Ed. Unesp
[3] Dicionário Internacional de Teologia do NT – Ed. Vida Nova
[4] As Institutas da Religião Cristã, João Calvino – Ed. Unesp
[5] Bíblia Sagrada, Almeida RA – Habacuque 3.17-19.
[6] Comentário Expositivo de Hebreus, João Calvino – Ed. Fiel.

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Divulgação: Bereianos

sábado, 23 de agosto de 2014

Sobre Pastores que são Políticos

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Por Thiago Oliveira


Eu não vou deixar de ser embaixador da pátria celestial para ser simplesmente presidente dos Estados Unidos”.

A frase acima é de Billy Grahan, pastor e evangelista bastante popular nos EUA. Foi uma resposta para aqueles que o convidavam a ingressar na carreira política e pretendiam lança-lo à presidência da república. Convicto do seu chamado como pastor, recusou veementemente. Todavia, não deixou de ser relevante para a sociedade norte-americana, tendo acesso a Casa Branca e sendo conselheiro de vários chefes de Estado.

No Brasil, em anos de eleição vemos a candidatura de diversos pastores, que se arvoram na carreira política com o discurso de ser “luz” e mudar os rumos da nação através do exercício do seu mandato. E como existe o chavão “irmão vota em irmão”, pastor, então, sai na frente. Mas seria mesmo algo bom para um pastor e para a igreja envolver-se com a política partidária? Será que um pastor pode ser político ao mesmo tempo em que exerce o ministério eclesiástico?

Diante de um questionamento parecido, o Rev. John MacArthur respondeu assim: "Se você é um pregador de Jesus Cristo e você é um pastor então deve ser conhecido por proclamar o evangelho de Jesus Cristo e nada mais. Então, se você quiser servir em algo que não tem qualquer influência na eternidade, não tem qualquer influência no Reino de Deus, então você pode fazer isso. Mas um pastor fazer isso eu acho que é se prostituir, distanciando-se da sua vocação e da única coisa que faz a diferença que é a pregação do evangelho de Jesus Cristo e o avanço do Reino. (...) A Igreja precisa ficar fora da politicagem e votar na justiça, e ela precisa proclamar o evangelho."

João Calvino, tratando sobre o governo eclesiástico em sua obra máxima, as Institutas (Volume 4, Capítulo XV), combateu veementemente as pretensões do clero. Calvino lembra da discussão que houve, durante a santa ceia, sobre quem era o maior dentre os apóstolos (Lc 22:24-26). Segundo ele, Jesus freia à aspiração dos discípulos dizendo-lhes que o Reino dele não era temporal, mas sim espiritual. Não pertencente a este mundo, sendo assim, deixou claro que a tarefa dos seus apóstolos não poderia envolver uma administração mundana (lembrando que nesse contexto os integrantes do clero eram também, em bom número, prefeitos das cidades e detentores de cargos públicos).

O reformador também recorda o exemplo contido em Atos 6: 1-4. Ali houve uma contenda quanto a distribuição dos alimentos. As viúvas dos gregos reclamavam que não estavam sendo assistidas como as viúvas dos hebreus. Quando a queixa chegou até os apóstolos estes disseram: “Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas”. Assim, incubiram outros homens para realizar tal tarefa. Calvino então chega à seguinte conclusão: Se os apóstolos não se acharam dignos de conciliar as duas funções, a de administrar à Palavra e a de administrar o serviço da distribuição dos mantimentos, como é que os que desempenham a função eclesiástica se acham no direito de realizar esta dupla empresa? O resultado desse duplo empreendimento é deixar a deriva o rebanho do Senhor, realizando o trabalho que outra pessoa poderia muito bem realizar.

A questão não é demonizar a política e desmotivar cristãos que tem vocação para a magistratura civil. O cristianismo é capaz de se inserir em toda e qualquer esfera da sociedade, julgá-la e redimi-la através do exercício dos valores bíblicos. Um cristão pode sim ser um político e prestar um grande serviço para Deus e para a sociedade. Todavia, não compete aos ministros da Palavra realizarem tal função, pois não há tarefa mais honrosa e mais impactante para a sociedade do que ministrar o Evangelho de Cristo e promover o Reino dos Céus.

Paulo escrevendo ao jovem pastor Timóteo, compara o episcopado com uma figura militar (2Tm 2:3-4). As palavras do apóstolo dizem que “ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra”. Um soldado em campanha é um soldado executando as ordens do seu superior. Pouco interessa se ele é agricultor, pintor, professor, ou empresário. Ele não pode pensar nos seus negócios particulares quando está prestando seus serviços militares. É preciso foco, obediência e sobretudo uma entrega total e sacrificial.

Assim como o soldado em guerra deixa para trás a sua vida e não pensa em nada a não ser a guerra, o pastor também deve evitar tudo aquilo que desvie a sua atenção e mergulhe de cabeça no penoso, e ao mesmo tempo gratificante, ofício ministerial. Sendo assim, é fácil concluirmos que um pastor que tem vocação dupla está muito mais propenso a ter um desempenho ruim no seu episcopado. Imaginemos então ele exercendo um cargo político, seja no legislativo ou no executivo. Ele daria conta?

Governar uma cidade, um estado, um país, é algo que exige muito de qualquer pessoa. É desgastante ter que passar o dia fazendo diversas reuniões de planejamento, viagens com a mais diversificada finalidade e etc. Gerir a coisa pública não é o mesmo que gerir uma empresa. E temos já exemplos negativos dos pastores empresários. Isso posto, deixo bastante clara a posição de que o pastor não pode exercer cargo político. Se quer abraçar a carreira política, que abra mão do seu ministério e deixe de usar indevidamente o título de pastor.

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Fonte: Bereianos

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Se Deus é soberano, por que fazer alguma coisa?

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Por Matt Perman


A soberania de Deus, tal como estou convencido de que a Bíblia ensina, significa que Deus preordenou tudo o que acontece. Antes da criação, Deus planejou e decidiu ("ordenou") toda a direção da história humana até os mínimos detalhes. Todas as circunstâncias no tempo são portanto a evidência externa do plano de Deus o qual Ele decretou na eternidade.

À luz disto, uma objeção comum é: "Se Deus já decidiu o que vai acontecer, então por que eu devo fazer alguma coisa? Nós, de qualquer jeito, não controlamos a história. Portanto, apenas nos acomodaremos num assento e não faremos nada". O oponente está dizendo que o resultado lógico da crença na absoluta soberania de Deus é o que nós chamaremos "fatalismo indiferente": a visão de que nós não devemos fazer nada, uma vez que Deus a tudo controla.

Como responderemos à objeção do fatalismo indiferente? Por que não acreditar na soberania absoluta de Deus leva ao fatalismo indiferente? E se Deus é absolutamente soberano, como nossas escolhas podem ter um sentido real? São questões muito boas que uma compreensão própria da soberania de Deus responderá.

Primeiro nós precisamos entender a diferença entre fatalismo e o que é chamado de compatibilismo. Compatibilismo é a visão de que Deus é absolutamente soberano e ainda assim nossas escolhas têm sentido real e somos responsáveis por elas. É o que creio que a Bíblia ensina, e é muitas vezes chamando "calvinismo". O fatalismo, de outra sorte, ensina que, aconteça o que acontecer, o que você escolha ou faça, as coisas produzirão o mesmo resultado. Por exemplo, se está determinado que Bill vai obter um "zero" na sua prova de amanhã, então não importa quão duro ele tenha estudado, ou quão bem ele saiba a matéria: ele vai fracassar. Suas escolhas não vão realmente afetar o que vai acontecer.[1]

A compatibilismo, em contraste com o fatalismo, diz que nossas escolhas realmente afetam o futuro, e que se uma escolha diferente tivesse sido feita, o futuro teria sido diferente. Nesse ponto de vista, se Bill não estudar, ele vai fracassar. Mas se ele estudar duro, então seu estudo será o meio que lhe fará obter uma boa colocação. Em consideração à soberania Do Deus, isso significa que Deus não apenas ordena os fins (por exemplo, uma boa classificação para Bill) e então dizer "isso vai acontecer, não importa como". Não, Deus também ordenou os meios de Seu plano final (por exemplo, Deus ordena que Bill vá estudar tal como os meios da obtenção de uma boa colocação que Ele decretou). Nossas decisões são como vínculos na cadeia de meios ordenados por Deus para ocasionar Seu plano final. Se decisões diferentes foram feitas, as conseqüências serão diferentes. Mas Deus trabalha para verificar que os meios que Ele tem ordenado certamente ocorrerão para que nenhum de Seus propósitos possa fracassar. Isto faz das decisões humanas realmente significativas e vitais.

Deveria ser agora mais evidente por que a absoluta soberania de Deus não remonta à indiferença do fatalismo. Em resumo, Bill deve estudar porque são esses os meios que Deus usa para perfazer sua boa colocação. Se Bill consegue boa colocação, então seu estudando esteve tão predestinado pelo plano de Deus como sua boa classificação. Todas as boas escolhas que alguém faz são definitivamente causadas por Deus; todas as más escolhas são permitidas de bom grado por Deus como uma parte de Seu plano. Além disso, Deus perfaz Seus decretos preservando de certo modo nossa responsabilidade e não viola nossa vontade (isso será explicado mais daqui a pouco).

A segunda razão para a indiferença do fatalismo é sua auto-contradição. A pessoa que é fatalisticamente indiferente estará dizendo: "Porque Deus decide tudo o que vai acontecer, eu pararei de fazer escolhas". Mas a escolha de parar de fazer escolhas é em si mesma uma escolha!

Deus nos fez de modo tal que somos seres tomadores de decisão. Sempre faremos um escolha ou outra em dada situação - não podemos ajudar mas para fazer escolhas quando confrontado com alternativas (não temos escolha nesse caso!). Por exemplo, quando confrontado com a opção de comer uma torta qualquer ou um bolo, seria impossível para mim não fazer um tipo de escolha. Eu teria ou a torta, ou o bolo, ou nenhum. Se eu me recuso a fazer uma escolha, eu ainda estou fazendo uma escolha - a escolha de não comer. O fatalismo indiferente é falso porque é impossível - ele se auto-destrói numa auto-contradição. Impossibilidades são totalmente inaplicáveis, porque tentar propor o fatalismo indiferente é negá-lo. Para esta razão isto não pode ser a aplicação lógica de opinião em soberania absoluto Do Deus.

Evidentemente, a soberania de Deus não REMOVE a necessidade e a realidade das nossas escolhas. Mas se uma pessoa "modifica" sua posição de fatalismo indiferente e tenta usar a soberania de Deus como uma desculpa para permanecer em pecado?

Alguém poderia tomar a soberania de Deus e (in)aplicá-la nesse caminho. Isso seria pecado. Mas um ensino não se torna falso tão-somente porque ele foi mal aplicado. Deveríamos chegar também à conclusão de que a confiança da segurança eterna e a justificação pela fé só seriam falsas porque algumas pessoas tentam usá-las como desculpa para o pecado? (veja em Romanos 6:1-2 como Paulo responde à inaplicabilidade dessas verdades) Uma pessoa pode decidir não buscar a Deus ou não O obedecer porque "tudo está submetido a Ele, de qualquer jeito". Mas perfaz indiferença e passividade o resultado lógico de crer na soberania de Deus? A crença na soberania de Deus não poderia apenas ser tomada tão facilmente em outra direção e devidamente aplicada para encorajar a obediência zelosa, ao invés de um fatalismo indiferenteUma vez que nós devemos fazer uma escolha ou para viver em retidão ou viver pecaminosamente, em que base se pode dizer que a soberania de Deus conduz logicamente para uma escolha de preguiça humana/pecaminosidade, em vez de uma escolha para a piedade humana? Paulo diz algo aplicável aqui: "e por que não dizemos, como alguns, caluniosamente, afirmam que o fazemos: Pratiquemos males para que venham bens? A condenação destes é justa." (Romanos 3:8).

Em vez de dizer "Deus é soberano, portanto Eu não me preocuparei em buscá-Lo e fazer o que é correto" poder-se-ia dizer com igual coerência lógica que "Deus é soberano, portanto eu O obedecerei zelosamente em todo tempo porque eu sei que Ele certamente abençoará minha obediência com ótimos frutos. E sei que Ele me susterá vitoriosamente com Sua força e perseverança, uma vez que Ele não está somente no controle mas também é um Deus santo e piedoso, que ama a justiça." Um caminho ou outro será escolhido. Nós nãopodemos não escolher.

Mas como são feitas as escolhas? Responder a essa pergunta nos levará à real questão em jogo. Como seres humanos, nós fazemos escolhas segundo nosso estrito desejo momentâneo - nós escolhemos o que pensamos ser a melhor opção no momento. Isso quer dizer que nossas escolhas revelam nosso caráter, uma vez que é nosso caráter quem produz nossos desejos e, portanto, determina o que consideramos a melhor opção. Um bom caráter geralmente desejará boas coisas, e um mau caráter desejará coisas más. O que nós escolhemos, portanto, revela a condição de nosso coração.

Portanto, se nós usamos a soberania de Deus como uma desculpa para pecar, isso revela a iniquidade em nosso coração. Se aplicamos corretamente essa doutrina, no entanto, e vemos a liberdade que ela nos dá para obedecer diligentemente, ela revela a bênção de que Deus está trabalhando em nossos corações. Se tentamos usar e usamos a soberania de Deus como desculpa para pecar, precisamos ir a Ele e nos arrependermos ao invés de concluir que Deus não é realmente soberano, afinal.

A soberania de Deus é, realmente, uma doutrina grandemente libertadora para nós. Ela nos liberta para obedecermos com alegre confiança, segurança e paz. Tal como um crente, nós devemos pensar assim: "Uma vez que Deus é soberano, a não obediência pode fazer mal ao meu relacionamento com Deus e, portanto, a obediência nenhuma, não importa quão "bobo" isso seja ao mundo e não importam as conseqüências, isso no final pode fazer mal a mim". Não é dessa maneira que Paulo usou a doutrina em Romanos 8:28-36? Ele disse no verso 28 e então procedeu à explicação de que a segurança que ela nos dá através do zelo, da obediência de risco porque "nada nos separará do amor de Cristo".[2]

Olhe a maneira pela qual Paulo aplica a soberania de Deus à nossa obediência em Filipenses 2:12-13: "desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor, porqueDeus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade." De acordo com Paulo, o fundamento de nossa obediência é o fato de que Deus é no final das contas Quem coloca em nós a boa vontade e o efetuar a obediência. Paulo não disse que "Deus põe a boa vontade e trabalha em você, portanto fique na cama". Muito pelo contrário, ele viu a soberania de Deus como uma razão profunda e animadora para a obediência de risco!

Tendo entendido como nós fazemos as escolhas, estamos agora numa posição de entender como Deus pode controlar todas as coisas, e ainda conduzir Seu plano de modo a preservar a responsabilidade e liberdade humanas. Provérbios 16:9 diz que "O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos." Este versículo parece afirmar a liberdade humana e o controle absoluto de Deus por cima de nossa liberdade - ao mesmo tempo. Como podem ser compatíveis?

Como vimos anteriormente, nós escolhemos sempre segundo nosso desejo -sempre escolhemos a opção que preferimos. Isso faz cada escolha determinada (está determinado que eu vou escolher a opção que eu acho preferível), livre ainda (uma vez que não estamos sendo forçados a escolher, mas estamos escolhendo o que nós queremos).[3] Além disso, a ação de escolher está sempre acompanhada, subconscientemente ou conscientemente, pelo processo de considerar todos os aspectos da situação e pelo nosso desejo de realizar a opção que mais queremos. Uma vez que nós percebemos qual opção preferimos, sempre decidiremos por aquela opção, então. Por exemplo, quando dada a opção entre chocolate ou bolo branco, eu não posso e não determinoespontaneamente que desejarei o bolo branco. Antes, eu reconheçoponderadamente que meu grande desejo é o bolo branco. Nossas escolhas são livres e são realmente nossas porque consideramos todos os aspectos da situação por nós mesmos e vimos à conclusão acerca de qual escolha ser melhor através de nossos próprios processos mentais. Assim, "a mente do homem planeja seu caminho"

Deus, no entanto, pode ainda estar no final das contas no controle e assim "dirigir nossos passos" regulando nossas situações e assim as informações sobre as quais baseamos nossas escolhas. Uma vez que sempre escolheremos a opção que nossas mentes encontram como a mais preferível à luz da situação, Deus pode simplesmente fazer as circunstâncias de modo tal que essa opção a qual achamos ser a preferível (e por isso a opinião que escolheremos) seja a escolha que Ele ordenou para realizarmos. Nossa escolha é livre e realmente nossa uma vez que é um resultado de nosso próprio raciocínio e processo mental ("a mente do homem planeja seu caminho"), mas Deus ainda a controla porque Ele ordenou e conduziu para que as informações de nossos processos mentais fossem a base para verificarmos que a escolha que fazemos é a que Ele desejou ("o Senhor dirige seus passos").

Se alguém com quem nós estamos conversando tenta sempre usar a soberania absoluta de Deus como uma desculpa para não buscar a Deus ou Lhe obedecer, a solução não é dizer que "Deus não é realmente soberano - você tem um livre-arbítrio para escolher contra os propósitos eternos de Deus". Os pecadores, a Bíblia diz, fogem de Deus por natureza e procuram uma desculpa qualquer para justificar sua fuga. Uma tentativa de usar a soberania de Deus como desculpa para continuar em pecado revela as pessoas pecadoras e a necessidade da graça de Deus. A soberania de Deus não é a causa da indiferença - o pecado é a causa. Não atribuímos a culpa a quem ela não pertence.

Então, o que devemos fazer não é apelar ao "livre-arbítrio" numa tentativa de convencer a pessoa de que ela deva obedecer, mas apontar-lhe seu pecado, dobrar nossos joelhos e orar: "Deus, Eu sei que controlas todas as coisas. Portanto eu oro a Ti para que mudes o coração do meu amigo e o faça buscar a Ti. Por favor, dá-lhe um desejo irresistível por Ti." Deus é a resposta para uma fuga de Deus pelo incrédulo, não o livre-arbítrio. Apelar para seu "livre-arbítrio" não pode ajudar, uma vez que seu "livre-arbítrio" não pode se submeter a Deus além de Sua graça soberana (Romanos 8:7; João 6:44,65). A soberania de Deus não é problema deles, é sua única esperança.

Concluindo, eu tive um experiência no verão passado que talvez dê uma luz a essa questão. Estava no topo do Monte Pike no Colorado. As nuvens acima eram de cor preta e ameaçadoras, mas eu não estava muito consciente do perigo. Estava gostando da vista do cume da montanha numa área escancarada, longe de qualquer abrigo. De repente meu cabelo levantou todo. Isso sinalizou a mim de que um relâmpago ia cair bem perto a mim, e logo. Eu não tinha nenhum controle sobre isso, se iria acertar ou não, e eu sabia. Soube também que não havia nenhum lugar para procurar abrigo do relâmpago. Não havia nem permanecido ali ainda e disse: "Eu não estou no controle da situação, então que importa se ele vai me acertar ou não - não me interessa." Não - eu estava assustado e corri até um abrigo, mesmo sabendo que podia não conseguir. Sabendo ser incapaz foi a razão pela qual eu procurei refúgio.

É uma situação parecida com a soberania de Deus. Nós não estamos no controle - Deus está. Mas saber disso pode ser talvez o sentido de Deus usar meios para MOVER um santo ocioso a agir. A soberania de Deus, no entanto, é ligeiramente diferente da minha experiência do relâmpago. Se Deus principia em nós um escape para refúgio em Sua misericórdia e bondade, essa não é uma esperança fugaz. Ele nos trará com segurança a Si mesmo.

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Notas:
1. Veja Lowell Kleiman e Stephen Lewis, Filosofia: Uma Introdução Através da Literatura, (Paragon House: Nova Iorque, 1992), p. 554.
2. Se somos cristãos obedientes, podemos estar sempre satisfeitos completamente na esperança que a divina providência nos dá - mesmo quando experimentamos momentos difíceis nessa terra. O desejo íntimo de um cristão é que eles se deleitem nisso e estejam plenos na glória de Deus e adorem exaltá-Lo no mais alto do céu. O maior desejo de Deus, por outro lado, também é o de ser exaltado no mais alto do céu. E Ele é mais glorificado quando Seu povo se satisfaz Nele. Uma vez que Deus é soberano - tão bem quanto infinitamente desejoso por Sua própria glória - Ele não deixará Seu prazer em ser glorificado fracassar. Realmente, Ele trabalha todas as coisas em conjunto para Sua maior glória, o que é nosso maior bem. E isso significa que um deleite de um cristão obediente por um dia apreciar a glória de Deus ao máximo possível não pode ser decepcionado!
3. Que ocorre quando você escolhe, por exemplo, estudar para uma prova quando você na verdade quer ir ao cinema à noite? Nesse caso, você desejou os benefícios, de longo prazo, da boa nota que o estudo lhe trará, mais do que o prazer de curto prazo que um bom filme trará. Assim quando opta pelo estudo, você ainda está escolhendo o que prefere, no final das contas.

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Fonte: Center for Biblical Theology and Eschatology 
Tradução: Cleber Olympio

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Pornografia: uma ilusão que realmente aprisiona

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Por Thomas Magnum


Meu objetivo ao escrever sobre esse tema não é fazer um exame estatístico, psicológico ou mesmo dos efeitos neurológicos sobre a questão da sexualidade humana e seus desdobramentos históricos. A sexualidade foi criada por Deus e dada ao homem e a mulher como meio de procriação, de satisfação e felicidade. Vale ressaltar que Deus criou a sexualidade com fins familiares, ou seja, o casamento. O sexo foi criado para um relacionamento de um homem e uma mulher perante seu criador, Deus quer que seus filhos desfrutem dessa bênção, no entanto, dentro do âmbito conjugal. Toda a manifestação sexual fora do casamento é pecado, e a Bíblia trata isso como fornicação e adultério.

Com esse entendimento sobre sexualidade, baseado na Palavra de Deus, podemos falar um pouco agora sobre o problema que realmente tem sido um inimigo feroz na vida de muitas pessoas dentro da igreja: a pornografia. Numa média de dez anos atrás não tínhamos tanto problema com material pornográfico na proporção que temos hoje, embora o Brasil sempre foi “terra fértil” para o mercado pornográfico. Com o passar dos anos o Brasil se tornou uma grande indústria do sexo. Com o advento da internet a coisa mudou e muito, o que antes era limitado a revistas de mulheres nuas e a filmes pornôs, agora possui amplo material free, disponível na web. 

Ao analisarmos essa evolução é importante pontuarmos aqui que o problema não se limita a pessoas que estão fora da igreja, mas, as que estão dentro também. E mais, não são somente jovens que tem problemas com a pornografia, mas pessoas das mais variadas idades e de ambos os sexos. 

A pornografia, na verdade, começa com pensamentos libidinosos que são vendidos a desejos com pessoas com quem não são casadas. Desse desejo não mortificado surge a “necessidade” do prazer, isso é a porta para a pornografia e às práticas sexuais desenfreadas. A Pornografia está entre os negócios mais rentáveis do mundo, a sociedade e a mídia praticamente vivem em torno de sugestões sexuais. Adultérios são incentivados pelas novelas e filmes, nas redes sociais vivemos um momento bem curioso das selfs, é normal vermos jovens cristãs fazendo poses sensuais para seduzir e sugestionar desejo nos homens que admirarem suas fotos. 

Existe, de fato, um estimulo a sexualidade desenfreada, o culto ao sexo, e a precocidade disso tem sido prejudicial não só a sociedade, mas também a igreja. Muitos casamentos têm sido prejudicados pela pornografia. Materiais eróticos têm sido cultuados como um bem cultural. O que é interessante notar é que, quanto mais a pornografia se avoluma e as exposições do mundo erótico se tornam comuns, a tendência é um abismo chamar outro abismo. As exposições tendem a ficar cada vez mais intensas e provocantes, e a demanda por material pornográfico aumentar a cada dia. 

Os jovens cristãos e a pornografia

A liberdade para navegar na internet tem sido um dos fatores que mais contribuem para o crescimento da procura por pornografia. Infelizmente muitos jovens cristãos têm caído nesse laço. Podemos identificar alguns motivos que mais tem levado jovens, que frequentam comunidades cristãs, a estarem envolvidos com pornografia, vejamos:

1 - Pelo fato de não serem casados procuram um escape ao seu desejo sexual em material pornográfico.
2 - Muitos foram inseridos no mundo erótico por amigos, parentes, namorados ou namoradas, e até mesmo pelos pais.
3 - Por não poderem manter relações sexuais no NAMORO, buscam um escape na pornografia.

É claro que temos uma lista de motivos muito maior que isso, mas, vale a reflexão. 

Como combater a pornografia em sua mente 

Como dissemos anteriormente, todo o processo erótico não começa quando se está na frente de um computador, mas, na mente. Ao alimentar pensamentos pecaminosos, ao desejar sexualmente pessoas que não são pares conjugais, ao manter um NAMORO libertino, o jovem está contribuindo para que sua vida continue presa nas correntes da pornografia. Mas, não devemos ficar no problema, e sim avançar para a solução. Primeiro, deve-se entender isso como pecado de idolatria. Quando um jovem não confia ao Senhor em suas afeições e suas necessidades, ele está sendo idólatra. Segundo, a busca pela pornografia é pecado e é uma afronta a Deus, a sexualidade está limitada ao casamento e toda manifestação sexual extraconjugal é prostituição. Terceiro, depois de uma convicção de pecado, arrependa-se. O arrependimento é o início do fim dessa prisão. Em quarto lugar, cultive em sua mente pensamentos espirituais. Deus lhe dará poder espiritual para vencer as tentações externas e internas. Leia a Palavra de Deus, uma vida devota ao Senhor é o maior instrumento para vencer as tentações. Ore, tenha uma vida de oração constante. 

Bom, até aqui falamos de armas espirituais, mas devem-se tomar alguns cuidados para não entrar em tentação.

1 - Lembre-se da história de José – Ao ser abordado pela mulher de Potifar ele fugiu dela. Fuja do pecado, fuja de toda aparência do mal.
2 - Evite circunstâncias que o leve facilmente a pornografia, como por exemplo, determinados sites, programas de televisão e revistas.
3 - Cuidado com o que você está olhando no facebook, muitas fotos de “amigos e amigas” são sensuais e provocantes, isso é muito prejudicial e pode levar ao pecado de cobiça. Se necessário faça uma faxina no seu facebook, é melhor perder uma amizade virtual do que sofrer com esse peso.
4 - Lembre-se do texto de Mateus 4 – Jesus estava sendo tentado por satanás, o inimigo lhe instigou para transformar pedras em pães, Jesus recusou. A Bíblia nos diz que Jesus estava com fome, mas aquele não era o tempo de comer. No final do texto nós lemos que os anjos o serviam. Espere o tempo de Deus, Ele o sustentará e ajudará. Deseje a Deus acima de tudo, o sexo não é a coisa mais importante da vida. Viver uma vida santificada é gratificante e fortalecedor.

Creia que o Senhor Jesus é a fonte da vida e da liberdade, anseie ser servo somente de Cristo e não de práticas vis como a pornografia. Os cafetões do mundo pornográfico estão enriquecendo porque sabem que esse é o desejo mais baixo do ser humano. Não destrua sua vida e família por causa de um prazer momentâneo. Como dissemos, o sexo é bom e uma dadiva de Deus, dada exclusivamente ao matrimônio entre um homem e uma mulher. Considere o que dissemos aqui, sua felicidade não está na pornografia, toda verdadeira felicidade está em Cristo. A pornografia é uma prisão podre, fria e mortificadora. Se você leu esse texto e tem vivido nessa prisão, não foi por acaso que abriu essa página, procure refúgio em Deus e sua palavra, você vencerá essa situação quando zelar mais pela vontade de Deus do que a sua. 
Valorize as disciplinas espirituais: Leitura bíblica, meditação, oração e jejum.

Deus o abençoe.

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Divulgação: Bereianos
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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Qual o futuro da igreja evangélica no Brasil?

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Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes


Quando olho o atual cenário da igreja evangélica brasileira – estou usando o termo “evangélica” de maneira ampla – confesso que me sinto incapaz de prever o que vem pela frente. Há muitas e diferentes forças em operação em nosso meio hoje, boa parte delas conflitantes e opostas. Olho para frente e não consigo perceber um padrão, uma indicação que seja, do futuro da igreja.

Há, em primeiro lugar, o crescimento das seitas neopentecostais. Embora estatísticas recentes tenham apontado para uma queda na membresia de seitas como a Universal do Reino do Deus - que ressurge das cinzas com o "templo de Salomão" - , outras estão surgindo no lugar, como na lenda grega da Hidra de Lerna, monstro de sete cabeças que se regeneravam quando cortadas. A enorme quantidade de adeptos destes movimentos que pregam prosperidade, cura, libertação e solução imediata para os problemas pessoais acaba moldando a imagem pública dos evangélicos e a percepção que o restante do Brasil tem de nós. Na África do Sul conheci uma seita que mistura pontos da fé cristã com pontos das religiões africanas, um sincretismo que acaba por tornar irreconhecível qualquer traço de cristianismo restante. Temo que a continuar o crescimento das seitas neopentecostais e seus desvios cada vez maiores do cristianismo histórico, poderemos ter uma nova religião sincrética no Brasil, uma seita que mistura traços de cristianismo com elementos de religiões afro-brasileiras, teologia da prosperidade e batalha espiritual em pouquíssimo tempo.

Depois há o movimento “gospel”, que mostrou sua popularidade ao ter o festival “Promessas” veiculado pela emissora de maior audiência do país. Não me preocupa tanto o fato de que a Rede Globo exibiu o show, mas a mensagem que foi passada ali. A teologia gospel confunde “adoração” com pregação, exalta o louvor como o principal elemento do culto público, anuncia um evangelho que não chama pecadores e crentes ao arrependimento e mudança de vida, que promete vitórias mediante o louvor e a declaração de frases de efeito e que ignora boa parte do que a Bíblia ensina sobre humildade, modéstia, sobriedade e separação do mundo. Para muitos jovens, os shows gospel viraram a única forma de culto que conhecem, com pouca Bíblia e quase nenhum discipulado. O impacto negativo da superficialidade deste movimento se fará sentir nesta próxima geração, especialmente na incapacidade de impedir a entrada de falsos ensinamentos e doutrinas erradas.

Notemos ainda o crescimento do interesse pela fé reformada, não nas igrejas históricas, mas fora delas, no meio pentecostal. Não são poucos os pentecostais que têm descoberto a teologia reformada – particularmente as doutrinas da graça, os cinco slogans (“solas”) e os chamados cinco pontos do calvinismo. Boa parte destes tem tentado preservar algumas idéias e práticas características do pentecostalismo, como a contemporaneidade dos dons de línguas, profecia e milagres, além de uma escatologia dispensacionalista. Outros têm entendido – corretamente – que a teologia reformada inevitavelmente cobra pedágio também nestas áreas e já passaram para a reforma completa. Mas o tipo de movimento, igrejas ou denominações resultantes desta surpreendente integração ainda não é previsível.

O impacto das mídias sociais também não pode ser ignorado. E há também o número crescente de desigrejados, que aumenta na mesma proporção da apropriação das mídias sociais pelos evangélicos. Com a possibilidade de se ouvir sermões, fazer estudos e cursos de teologia online, além de bate-papo e discipulado pela internet, aumenta o número de pessoas que se dizem evangélicas mas que não se congregam em uma igreja local. São cristãos virtuais que “freqüentam” igrejas virtuais e têm comunhão virtual com pessoas que nunca realmente chegam a conhecer. Admito o benefício da tecnologia em favor do Reino. Eu mesmo sou professor a quinze anos de um curso de teologiaonline e sei a benção que pode ser. Mas, não há substituto para a igreja local, para a comunhão real com os santos, para a celebração da Ceia e do batismo, para a oração conjunta, para a leitura em uníssono das Escrituras e para a recitação em conjunto da oração do Pai Nosso, dos Dez Mandamentos. Isto não dá para fazer pela internet. Uma igreja virtual composta de desigrejados não será forte o suficiente em tempos de perseguição.

Eu poderia ainda mencionar a influência do liberalismo teológico, que tem aberto picadas nas igrejas históricas e pentecostais e a falta de maior rapidez e eficiência das igrejas históricas em retomar o crescimento numérico, aproveitando o momento extremamente oportuno no país. Afinal, o cristianismo tem experimentado um crescimento fenomenal no chamado Sul Global, do qual o Brasil faz parte.

Algumas coisas me ocorrem diante deste quadro, quando tento organizar minha cabeça e entender o que se passa.

1 – Historicamente, as igrejas cristãs em todos os lugares aqui neste mundo atravessaram períodos de grande confusão, aridez e decadência espiritual. Depois, ergueram-se e experimentaram períodos de grande efervescência e eficácia espiritual, chegando a mudar países. Pode ser que estejamos a caminho do fundo do poço, mas não perderemos a esperança. A promessa de Jesus quanto à Sua Igreja (Mateus 16:18) e a história dos avivamentos espirituais nos dão confiança.

2 – Apesar de toda a mistura de erro e verdade que testemunhamos na sincretização cada vez maior das igrejas, é inegável que Deus tem agido salvadoramente e não são poucos os que têm sido chamados das trevas para a luz, regenerados e justificados mediante a fé em Cristo Jesus, apesar das ênfases erradas, das distorções doutrinárias e da negligência das grandes doutrinas da graça. Ainda assim, parece que o Espírito Santo se compraz em usar o mínimo de verdade que encontra, mesmo em igrejas com pouca luz, na salvação dos eleitos. Não digo isto para justificar o erro. É apenas uma constatação da misericórdia de Deus e da nossa corrupção. Se a salvação fosse pela precisão doutrinária em todos os pontos da teologia cristã, nenhum de nós seria salvo.

3 – Deus sempre surpreende o Seu povo. É totalmente impossível antecipar as guinadas na história da Igreja. Muito menos, fazer com que aconteçam. Há fatores em operação que estão muito acima dos poderes humanos. Resta-nos ser fiéis à Palavra de Deus, pregar o Evangelho completo – expositivamente, de preferência – viver uma vida reta e santa, usar de todos os recursos lícitos para propagar o Reino e plantar igrejas bíblicas e orar para que nosso Deus seja misericordioso com os seus eleitos, com a Sua igreja, com aqueles que Ele predestinou antes da fundação do mundo e soberanamente chamou pela Sua graça, pela pregação do Evangelho.

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Fonte: O Tempora! O Mores!
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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Copiloto da aerovane de Eduardo Campos era evangélico

“Não cai uma folha de uma árvore sem que seja vontade de Deus”, disse mãe do piloto
por Jarbas Aragão
geraldo e esposa Copiloto da aerovane de Eduardo Campos era evangélico 
Copiloto da aerovane de Eduardo Campos era evangélico
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Geraldo Magela Barbosa da Cunha, 44, um dos pilotos queestava no acidente aéreo que vitimou Eduardo Campos, tinha 20 anos de experiência. Com mais de 1500 horas de voo, foi piloto da TAM antes de assumir o cargo de piloto do candidato, há 3 meses.
A família afirma que ele estava feliz com a nova conquista profissional. De berço evangélico, era natural de Governador Valadares (MG), mas viajava constantemente para os EUA, onde reside seu cunhado.
Entrevistada pelo jornal Estado de Minas, a mãe do piloto, Odete Ferreira da Cunha, 73, soube da notícia da morte do filho caçula pela televisão. “Eu estava no médico quando vi a notícia”, lembra. Afirmou ainda que sua fé está ajudando a superar a perda. “Não cai uma folha de uma árvore sem que seja vontade de Deus. O Senhor está me confortando. É nosso refúgio e nossa fortaleza”.
Sua esposa, Joseline, está em New Jersey (EUA). Segundo o EM, ela viajou para fazer o enxoval do segundo filho do casal. A menina deverá nascer em Outubro e se chamará Ana. Rui Barbosa, irmão do piloto, conta que a mulher está em estado de choque. Assim que se recuperar voltará para Santa Luzia, zona urbana de Belo Horizonte, onde mora.
Copiloto da aerovane de Eduardo Campos era evangélicoO pastor Renato Bernarde, da Comunidade Cristã Presbiteriana de Newark, onde Geraldo e Josiane congregavam nos EUA, deixou a seguinte nota em sua página do Facebook.
“Aos irmãos, congregados e amigos da CCP Newark. Um dos tripulantes do avião que caiu em Santos, São Paulo, onde faleceu o candidato Eduardo Campos, era o nosso Geraldo (Magela) Cunha. Ele está com o Senhor. Josiane, sua esposa, grávida de 7 meses, está aqui NJ, preparando o enxoval do bebê. Muitos irmãos e amigos estão juntos neste momento de dor com eles. A presença e conforto de Deus são claras. Cubra-os com suas orações e cuidado”.

Fonte:gospelprime


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