Casado e pai de um casal de filhos, Dallagnol se apresenta no twitter como “um seguidor de Jesus”. Com a família, frequenta a Igreja Batista do Bacacheri, em Curitiba. Na quarta-feira, promotor fez a apresentação das evidências reunidas pelo MPF para denunciar Lula por corrução e lavagem de dinheiro.
O coordenador da força-tarefa da Lava-Jato é movido por sua fé. Deltan Martinazzo Dallagnol acredita que pode mudar a forma de combater a corrupção no país. Os brasileiros se acostumaram a ver pela TV o procurador longilíneo, de bochechas rosadas, cabelo bem aparado, óculos de aro fino e trajado de terno preto quando irrompe um novo ato bombástico da operação — o mais recente foi a denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A imagem de Dallagnol também se associou às 10 medidas de combate à corrupção, projeto que chegou ao Congresso com a assinatura de mais de 2 milhões de pessoas. Em busca de apoio, o procurador peregrinou por igrejas batistas. Em fevereiro, ao ser anunciado por um pastor no Rio de Janeiro para uma palestra à noite, mesclou fé e bom-humor.
— Na minha oração de hoje, pedi duas coisas. A primeira, que todos saiamos daqui edificados para fazer mais justiça. A segunda, como estamos em um ambiente noturno, foi para que vocês não dormissem.
Casado e pai de um casal de filhos, Dallagnol se apresenta no twitter como “um seguidor de Jesus”. Com a família, frequenta a Igreja Batista do Bacacheri, em Curitiba. A partir dos cultos, elevou sua palavra contra a corrupção, que ecoou por escolas, associações, clubes e o plenário do Congresso. Em junho, durante audiência com parlamentares, sentenciou:
— A corrupção é uma assassina sorrateira, invisível e de massa. Ela é uma serial killer que se disfarça de buracos de estradas, de falta de medicamentos, de crimes de rua e de pobreza.
Descrito por amigos como metódico, carinhoso e sossegado, Dallagnol muda o estilo quando sobe no skate ou pega uma prancha. Em 2014, no início da Lava-Jato, viajou para surfar na Indonésia. Desde então, sua única praia é a investigação que desbaratou o esquema de desvio de recursos da Petrobras. Aos 36 anos, coordena a força-tarefa responsável pelos casos de primeira instância da operação, grupo composto por 11 procuradores, que denunciou 239 pessoas, entre elas os maiores empreiteiros do país, e provoca pânico na classe política.
A trajetória de Dallagnol começa no sudoeste do Paraná. Ele é natural de Pato Branco, cidade conhecida dos colorados por ser o berço do atacante Alexandre Pato. Filho de um promotor de Justiça, nasceu em 1980 e aprendeu em casa a separar diversão e trabalho. Nas classes do Colégio Mater Dei, evitava a “turma da bagunça”. Gostava de escrever redações e participava de peças de teatros.
— Ele não era de conversa fora de hora. Prestava atenção, era observador e muito educado — recorda a professora Ivete Bridi Rotava.
A professora reencontrou o antigo aluno em maio passado, quando ele voltou a Pato Branco para duas palestras intituladas a “A Sociedade contra a Corrupção”. Desceu no acanhado aeroporto do município e concedeu entrevista ainda na pista.
— Foi uma emoção rever aquele menino. Não me surpreende ele ter ido tão longe, tinha uma família muito presente — diz Ivete.
Festejado em Pato Branco, Dallagnol não é unanimidade em Curitiba. A exemplo do juiz federal Sergio Moro, o trabalho do procurador suscita paixões e ódios, inclusive na faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde estudou. Apesar das divergências, ex-professores concordam: foi um “aluno modelo”. Com médias altas, obteve o diploma e, um ano depois, passou no concurso do Ministério Público Federal (MPF). Tinha apenas 22 anos.
Na graduação, tabelou com o Direito Privado. A monografia tratou de “correção monetária e juros no mútuo bancário”. A guinada à área criminal ocorreu no MPF. No início da carreira, atuou no caso Banestado. Depois, fez mestrado em Harvard. Na prestigiada universidade americana, estudou as provas indiretas, que também o ajudam a embasar as denúncias da Lava-Jato. Diretor da FGV-Direito Rio, Joaquim Falcão observa que Dallagnol se encaixa no “arquétipo” da nova geração de procuradores e juízes.
— Eles têm por volta de 40 anos, fizeram concurso público, ou seja, acreditam na meritocracia, lidam bem com tecnologia, têm formação internacional e são bem pagos em termos de servidor — descreve.
Para Falcão, uma das virtudes do coordenador da força-tarefa é o poder de síntese.
— O profissional de Direito do passado se alongava para falar. Dallagnol tem comunicação sintética, rápida e visual. Seus PowerPoints fazem sucesso. Viram brincadeiras na internet, mas conseguem transmitir a mensagem. Como os processos são de interesse público, a divulgação é a força da Lava-Jato.
De fato, a comunicação é um dos pilares da estratégia do procurador e seus colegas. Quando aparece para uma entrevista, fica claro que ele preparou cada tópico da fala e não foge do roteiro. Assim, dribla a timidez. Cordial, emprega frases de efeito, que também recheiam os processos. Para ele, por exemplo, Lula é o “comandante máximo” do desvio de recursos da Petrobras.
Advogados e procuradores mais experientes não aprovam o estilo. Adversários dizem que Dallagnol quer “santificar” a Lava-Jato. Colegas negam. Explicam que ele acredita na necessidade de mudanças na legislação, cujas brechas garantem a impunidade.
O credo colocou as medidas contra corrupção entre as prioridades do procurador paranaense, que enfrenta críticas com dados e frases fortes. Em debates, ouve juristas reclamarem do teor das propostas, consideradas pesadas contra os réus, capazes de criar um Estado policialesco. Deltan não recua. Relator das medidas na Câmara, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) entende todo o empenho.
— Dallagnol estudou a operação Mãos Limpas na Itália. Lá, chegou um momento em que, para se proteger, a classe política fragilizou a legislação e a corrupção aumentou. Ele quer que o Brasil escreva uma história diferente.
CCNews, com informações do ZH Notícias.