quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A HISTÓRIA DESCONHECIDA DO PROTESTANTISMO NO BRASIL: OS INDIOS PROTESTANTES REFORMADOS NOS ANOS 1600.


Com a recém-conquistada colônia holandesa, a Igreja Cristã Reformada, nome da Igreja Protestante na Holanda, inicia sua expedição missionária com os índios do Brasil holandês. Além da pregação religiosa na língua nativa, outras iniciativas pretendiam a tradução da Bíblia para o tupi e a ordenação de pastores indígenas.

por Frans Leonard Schalkwijk

Na urgência de encontrar aliados para assegurar o seu domínio, os holandeses firmaram alianças com os tapuias.
Três vezes a igreja protestante foi implantada no Brasil Colônia, três vezes foi expulsa pelos portugueses católicos. Primeira vez: a igreja reformada dos franceses no Rio de Janeiro (1557-1558); segunda, a dos holandeses na Bahia (1624-1625); terceira, a dos holandeses, alemães, ibéricos, ingleses, franceses e índios no Nordeste, quase 30 anos depois.

A história da igreja protestante indígena durante a ocupação holandesa do Nordeste (1630-1654) está registrada em vários arquivos, especialmente em Amsterdã e Haia, na Holanda.

No século XVII, Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco constituíam os três principais centros urbanos do Brasil Colônia. A riqueza produzida pelo açúcar brasileiro ajudava a Espanha a consolidar o seu domínio, enquanto procurava estrangular a jovem República dos Países Baixos - ou seja, a Holanda.

OS CONFLITOS DA COROA DE CASTELA

Embora o Brasil tivesse nascido como colônia portuguesa, a partir de 1580 Portugal havia passado a fazer parte da União Ibérica, comandada pela Espanha. O Brasil, em conseqüência, foi envolvido nos conflitos internacionais da coroa de Castela.

Na Holanda, pouco depois de 1500 a casa de Habsburgo chegou ao poder e reuniu as possessões alemãs, espanholas e holandesas nas mãos de Carlos V. Foi quando eclodiu, na Europa, a Reforma Protestante (1517).

O sucessor de Carlos V, Filipe II, rei da Espanha, decidiu eliminar os protestantes de suas terras, o que levou à Guerra dos 80 Anos (1568-1648).

Com a derrota da armada espanhola, em 1588, o poder da Espanha entrou em declínio, enquanto a Holanda ganhou impulso, especialmente porque recebeu milhares de refugiados franceses, belgas, espanhóis, alemães, poloneses. Tinha início a Idade de Ouro dos Países Baixos.

O trono espanhol, em represália, fechou seus portos para os holandeses, que foram obrigados a singrar os oceanos, considerados até então considerados mares territoriais ibéricos.

A Igreja Cristã Reformada (Protestante) também crescia com o afluxo de refugiados perseguidos por sua fé religiosa. Nessa Primeira Guerra Mundial, o vigoroso comércio ultramarino holandês organizou duas grandes companhias - a das Índias Orientais e a das Índias Ocidentais - para fortalecer a cooperação entre as empresas e se proteger dos espanhóis.

O Atlântico era a área da Companhia das Índias Ocidentais, cuja diretoria era composta de 19 membros, os chamados Senhores XIX, representantes das cidades cooperadoras, das quais Amsterdão era a principal.

Cientes de que as maiores riquezas da inimiga Espanha provinham das Américas, estes senhores começaram a pensar na conquista de parte das colônias americanas como forma de estancar a fonte de sustentação econômica das forças espanholas.
Nesse contexto, a Bahia parecia presa fácil, e a cidade de Salvador foi tomada. Conquista, entretanto, perdida um ano depois (1624-1625). Os holandeses, porém, decidiramprosseguir com a empreitada, agora voltada para Pernambuco. O sucesso do projeto deu início ao Brasil Holandês (1630-1654).

Durante esse período, tem lugar um capítulo pouco conhecido da história eclesiástica brasileira, a da Igreja Cristão Reformada, nome da Igreja Protestante na Holanda. Era umaigreja do Estado, situação das igrejas no Ocidente, seja nos países católicos, seja nos protestantes. A Igreja Cristã Reformada veio para o Brasil sob a bandeira holandesa, e foi expulsa com ela.

Na medida que os holandeses ampliavam o território conquistado, eram implantadas congregações reformadas. Durante algum tempo, existiram 22 igrejas protestantes no Nordeste, sendo que a do Recife era a maior, contando, inclusive, com uma congregação inglesa e uma francesa. Esta se reunia no templo gálico, que tinha no conde Maurício de Nassau seu membro mais ilustre e o pastorado era exercido pelo espanhol Vicentius Soler.

Na leitura dos documentos da época, surge uma igreja cercada de pessoas dispostas a expulsá-la de sua terra como a religião dos invasores.

Entretanto, para os índios, os holandeses não eram invasores, mas sim libertadores, o que levou a missão reformada no Nordeste a fazer uma opção preferencial pelos indígenas. Para os holandeses, as tribos aculturadas constituíam os brasilianos e as não-subjugadas os tapuias.

Filipe Camarão: O líder dos Potiguares recebeu honrarias do Rei Português por sua lealdade aos interesses lusos.

O primeiro contato entre os brasilianos e a Companhia das Índias Ocidentais ocorreu em Salvador. Com a perda da cidade, em 1625, o almirante da frota holandesa seguiu para onorte e aportou na baía da Traição, cerca de nove quilômetros ao norte da Paraíba.

Os índios locais, da tribo potiguar, viram nos holandeses os seus libertadores do jugo português e muitos quiseram embarcar quando a frota partiu. Apenas seis jovens índios conseguiram seguir para a Holanda, enquanto a tribo procurava refúgio na mata para fugir da vingança dos portugueses.

Os seis índios potiguares - entre eles o índio Pedro Poti - permaneceram durante cinco anos nos Países Baixos, onde foram alfabetizados e instruídos na religião reformada. Pouco depois da invasão de Pernambuco, alguns desses índios foram enviados de volta ao Brasil para servirem de línguas (tradutores) no contato com seus compatriotas nas aldeias nordestinas.

O sistema de aldeamento dos índios foi iniciado pelos padres católicos e continuou com os holandeses. Por volta de 1639, o Rio Grande abrigava cinco aldeias de brasilianos, a Paraíba sete, Itamaracá cinco e Pernambuco quatro. O trabalho da igreja reformada teve início em cima do trabalho realizado pelos padres católicos.
Os índios tinham aprendido algumas orações, a confissão apostólica, conheciam os nomes de Jesus e de Nossa Senhora, e tinham sido batizados; quanto ao mais, mantinham suas crenças animistas. Cedo a Igreja Reformada começou a evangelizar os indígenas, com apoio do governo, que precisava dos guerreiros na luta contra os portugueses.

Mas, apesar dos esforços, os holandeses não conseguiram estabelecer um método ideal de evangelização. Entretanto, os documentos registram anotações sobre batismos. No Presbitério de 1637, por exemplo, surge a questão do batismo de filhos de brasilianos e de africanos de pais já batizados pelos padres católicos. A Igreja Cristão Reformada reconheceu o batismo da Igreja Católica Romana, e decidiu que os filhos de pais batizados poderiam receber o sinal da aliança desde que seus pais confessassem a Jesus Cristo.

Em 1638, índios da Paraíba pediram ao Presbitério um predicante próprio. Nestas alturas, o Presbitério decidiu atender ao pedido dos indígenas e deslocar um pastor para as aldeias para pregar a palavra de Deus, administrar os sacramentos e exercer a disciplina eclesiástica, lembrando as três marcas da verdadeira igreja, conforme o artigo 29 da Confissão Belga. Esse plano recebeu o apoio do governo, sob a liderança de Nassau.

APESAR DOS ESFORÇOS, OS HOLANDESES NÃO CONSEGUIRAM ESTABELECER UM MÉTODO EFICIENTE DE EVANGELIZAÇÃO

Convidado, o pastor David à Doreslaer mudou-se da capital da Paraíba para a aldeia de Maurícia. O trabalho do pastor Doreslaer teve sucesso, pois foi elogiado pelos representantes do Presbitério do Brasil em carta aos Senhores XIX, enquanto Nassau comunicava que os próprios índios expulsaram os padres das aldeias.

Doreslaer e o pastor inglês Johannes Eduardus ampliaram o trabalho missionário e deram início ao ministério da educação. O primeiro professor protestante entre os índios foi o espanhol Dionísio Biscareto, casado com uma holandesa. Biscareto foi nomeado professor em Itapecerica, a maior aldeia da região de Goiana. Para as aldeias paraibanas, foi indicado o professor inglês Thomas Kemp.

Em 1640 começou o trabalho de brasilianização, movimento idealizado pelo pastor Soler, da Igreja Francesa no Recife. Ele conheceu um brasiliano razoavelmente experimentado nos princípios da religião, e no ler e escrever, capaz de instruir os índios. O pastor Eduardus, por sua vez, lembrou a existência de índios em idênticas condições em Goiana.

Assim, solicitaram ao governo que esses índios fossem nomeados professores nas aldeias, com um salário mensal de 12 florins, soldo de um cabo do exército. Esses dois índios foram os primeiros professores indígenas da Igreja Protestante na América do Sul.

Em livro publicado em 1651, Pierre Moreau cita um jovem ministro britânico que traduzira as Santas Escrituras para a língua brasiliana. Tudo indica que o hábil lingüista era o pastor Eduardus. Mas o que foi traduzido? Provavelmente apenas trechos bíblicos, mas, até hoje, não foram encontrados registros sobre o assunto nos arquivos. O que fica evidente é o interesse da Igreja Cristã Reformada em entregar aos índios a mensagem bíblica em sua própria língua.

Com a necessidade de um catecismo em língua tupi, o pastor Doreslaer organizou um livro de instrução que foi impresso na Holanda com o título Uma instrução simples e breve da Palavra de Deus nas línguas brasiliana, holandesa e portuguesa, confeccionada e editada por ordem e em nome da Convenção Eclesial Presbiterial no Brasil com formulários para batismo e santa ceia acrescentados. Embora o livro tenha sido criticado pelo Presbitério de Amsterdã, a Companhia das Índias Ocidentais mandou imprimi-lo em 1641 e, no ano seguinte, distribuiu-o no Brasil.

No terreno da assistência social, a Igreja Reformada enfrentava a caótica situação matrimonial existente na colônia, inclusive entre os índios. Muitos brasilianos casados viviam separados de suas esposas e não podiam casar-se novamente, embora muitos desejassem fazê-lo.

O Presbitério, em 1638, foi de opinião que a parte desertora do casal deveria ser citada por edital público do juiz civil. Depois de determinado período, a parte abandonada deveria ser considerada livre da parte desertora, o que deveria ser aprovado pelo magistrado. Esta determinação, reconhecendo a fraqueza da natureza humana, representa o primeiro projeto de reconciliação ou divórcio legal na América do Sul.

Os resultados práticos, entretanto, foram limitados, em razão das hesitações do magistrado, temeroso de conseqüências mais amplas. Na outra ponta, o problema da escravidão dos índios exigia solução urgente.

Desde o início da chegada dos holandeses ficou claro que os indígenas, aculturados e não-aculturados, deveriam ser livres. A liberdade dos brasilianos seria um dos capítulos fundamentais da Constituição do Brasil Holandês e tratada nos Regulamentos de 1629, 1636 e 1645.

Os holandeses não só precisavam dos índios na guerra contra os ibéricos, como sentiam profunda empatia pelos indígenas, pois, como eles, também estavam sendo oprimidos pela União Ibérica, a superpotência mundial da época.

LIBERTAÇÃO DOS INDÍGENAS

Os Senhores XIX insistiram para que fossem postos em liberdade os brasilianos escravizados pelos portugueses em 1625, depois da partida da esquadra holandesa. Esta libertação demorou, e começou a se tornar concreta com o início do trabalho missionário.

Em 1638, descobriu-se que os moradores portugueses de Recife ainda mantinham indígenas como escravos domésticos. Boa parte desses índios havia sido aprisionada pelas expedições punitivas levadas a efeito ao redor da baia da Traição, em 1625. O governo ordenou que todos os escravos fossem libertados imediatamente.

O governo holandês também combateu duramente a semi-escravidão, lembrando aos proprietários rurais, em Alagoas, que índios somente poderiam trabalhar nas lavouras por livre vontade e recebendo a devida remuneração. O sub-pagamento foi outra forma de exploração firmemente reprimida no Nordeste holandês. O governo determinou que os capitães que abusassem de sua autoridade fossem exemplarmente castigados.

Os índios, por sua vez, desejavam se transferir para as aldeias que possuíam missionários e, após intervenção do Presbitério, as autoridades promoveram as transferências para colaborar com o crescimento da igreja de Deus.

Na história da luta da Igreja Reformada no Brasil em favor da libertação dos índios é necessário lembrar a lei do ventre livre de 1645, originária de consulta do pastor Kemp sobre a situação de brasilianos casados com escravas africanas e escravos negros casados com indígenas.

Em resposta, as autoridades decidiram que a parte escrava do casal não se libertava pelo matrimônio, mas podia ser alforriada, e que os filhos resultantes desse tipo de casamento seriam considerados livres, reiterando que brasilianos, sem exceção, eram livres.

EM RELAÇÃO À ESCRAVIDÃO DOS NEGROS AFICANOS, AS CONSCIÊNCIAS CRISTÃS ERAM PRIMITIVAS, CONSIDERAVAM-NA UM ESCRÚPULO DESNECESSÁRIO

Infelizmente, quanto à escravidão africana, na época as consciências cristãs era subdesenvolvidas. Quando o pastor Jacobus Dapper questionou se era lícito ao cristão negociar ou possuir escravos africanos, até o conde de Nassau afirmou que se tratava de escrúpulos desnecessários.

Nassau se conformava ao espírito de seu tempo, mas contrariava o pensamento do pai espiritual da Companhia, o belga Willem Usselinex, e do patriarca da Igreja Reformada, o francês João Calvino.

O derradeiro período da missão da Igreja Cristã Reformada começou com a realização de duas importantes assembléias, uma eclesiástica, outra política. A mesa da Assembléia Geral das Igrejas recebeu pedidos de tribos que queriam receber seus próprios obreiros.

O professor Dionísio Biscareto foi ordenado pastor e dois brasilianos nomeados professores. Poucos meses antes da chamada insurreição pernambucana, em 1645, realizou-se a primeira grande assembléia indígena, com 120 representantes, em Itapecerica, na capitania de Itamaracá.

Foram organizadas três câmaras,: a câmara de Itamaracá, dirigida pelo índio Carapeba; a de Paraíba, pelo índio Pedro Poti; e a do Rio Grande, pelo índio Antônio Paraupaba.

O teste final e violento da missão reformada veio com a eclosão da guerra de restauração portuguesa. Os documentos atestam a impressionante fidelidade dos brasilianos refugiados ao redor das fortalezas litorâneas.

O mais famoso desses registros são as chamadas cartas tupis, trocadas entre dois primos colocados em campos opostos, o capitão-mór Filipe Camarão e Pedro Poti. Camarão era defensor do lado luso-católico na guerra; Poti, defensor do lado flamengo-reformado. Essa correspondência deixa claro a estreita vinculação entre fé e nação, igreja e Estado. Filipe Camarão escreveu: não quero reconhecer a Antônio Paraupaba, nem a Pedro Poti, que se tornaram hereges [...].

Em resposta datada de 31 de outubro de 1645, dia da Reforma Protestante, Poti garante que seus índios viviam em maior liberdade do que os outros, ressaltando que os portugueses queriam apenas escravizá-los.

Poti lembra a Camarão as matanças ocorridas na baia da Traição e em Sirinhaém, havia poucas semanas, quando os portugueses, após a rendição da frota holandesa, mataram perversamente 23 índios prisioneiros de guerra, quebrando as condições previamente acordadas.

Confessou também ser cristão, crendo somente em Cristo, não desejando contaminar-se com a idolatria, e convidou seus parentes e amigos a passar para o lado dos piedosos, que nos reconhecem no nosso país e nos tratam bem.

Ambos os primos não veriam o final dessa luta sangrenta: Camarão faleceu em 1648, depois da primeira batalha de Guararapes, e Poti no ano seguinte foi preso no cabo Santo Agostinho pelos portugueses. Segundo testemunho de Paraupaba, Poti foi lançado num poço, onde permaneceu durante seis meses.

O PRIMEIRO MÁRTIR INDIGÊNA BRASILEIRO

Retirado de vez em quando, padres se atiravam sobre ele, tentando obrigá-lo a abjurar a religião protestante. Poti, entretanto, resistiu bravamente na fé protestante, e foi embarcado para Portugal, para as câmaras de tortura do Santo Ofício, mas a viagem não acabou, atalhada pela morte.

A guerra de restauração aproximou ainda mais os índios dos holandeses e apenas o pacto com os brasilianos garantiu a resistência flamenga durante nove anos.

Quando não houve mais condições de manter Recife, com as tropas luso-brasileiras às portas das fortificações e a armada portuguesa á entrada do porto, o Nordeste foi devolvido a Portugal. Terminava, também, a missão cristã reformada, impossível sem a proteção de um país protestante.

E DEPOIS?

Os holandeses no Nordeste (1630-54): depois de uma árdua guerra contra a Espanha, a Holanda calvinista conquistou a sua independência em 1568 e começou a tornar-se uma das nações mais prósperas da Europa. Pouco tempo depois, Portugal caiu sob o controle da Espanha por sessenta anos – a chamada "União Ibérica" (1580-1640).
Em 1621, os holandeses criaram a Companhia das Índias Ocidentais com o objetivo de conquistar e colonizar territórios da Espanha nas Américas, especialmente uma rica região açucareira: o nordeste do Brasil. Em 1624, os holandeses tomaram Salvador, a capital do Brasil, mas foram expulsos no ano seguinte. Finalmente, em 1630 eles tomaram Recife e Olinda e depois boa parte do Nordeste.

O maior líder do Brasil holandês foi o príncipe João Maurício de Nassau-Siegen, que governou o nordeste de 1637 a 1644. Nassau foi um notável administrador, promoveu a cultura, as artes e as ciências, e concedeu uma boa medida de liberdade religiosa aos residentes católicos e judeus.

Sob os holandeses, a Igreja Reformada era oficial. Foram criadas vinte e duas igrejas locais e congregações, dois presbitérios (Pernambuco e Paraíba) e até mesmo um sínodo, o Sínodo do Brasil (1642-1646). Mais de cinquenta pastores ou "predicantes" serviram essas comunidades.

A Igreja Reformada realizou uma admirável obra missionária junto aos indígenas. Além de pregação, ensino e beneficência, foi preparado um catecismo na língua nativa. Outros projetos incluíam a tradução da Bíblia e a futura ordenação de pastores indígenas.

Em 1654, após quase dez anos de luta, os holandeses foram expulsos, transferindo-se para o Caribe. Os judeus que os acompanhavam foram para Nova Amsterdã, a futura Nova York.

Frans Leonard Schalkwijk é coordenador do Departamento de História e professor de História da Igreja na Faculdade Internacional de Teologia Reformada.

Fonte: Teologia Reformada


Os Dez Mandamentos e a Ética Cristã

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Antes de tudo, é necessário termos uma coisa em mente: a lei de Deus, os Seus dez mandamentos são divididos em duas tábuas. A primeira diz respeito ao relacionamento do homem com Deus; a segunda nos guia no nosso relacionamento com o próximo. Como os cristãos devem se portar na sua vida diária? O que fazer com as escolhas morais? Como fazê-las e baseada em quê será nossa decisão? Essas são perguntas que, de forma geral, tentaremos responder ao longo do texto. Como os dez mandamentos são bastante extensos e grandemente profundos, não será possível esgotar, de maneira nenhuma, este assunto aqui neste ensaio. A minha intenção, então, será analisarmos a importância deste tema para o cristão, assim como observarmos o mandamento “Não terás outros deuses diante de mim.”

A lei é o reflexo da santidade de Deus, da sua perfeição. Através dela podemos ver o que Deus é, e o que nós somos. Aquele (o decálogo) é o padrão pelo qual o caráter de Deus é composto, e pelo qual o nosso é julgado. Nessas dez regras temos conceitos simples, mas abrangentes. Pequenos, mas complexos. Devemos nos achegar à revelação divina da Sua vontade para o nosso dia a dia de forma humilde, sabendo que nada somos e que Deus nos revelará o que lhe apraz nos momentos certos. Podemos ler dez, vinte ou até trinta vezes o decálogo, mas nunca ele será esgotado. O próprio Cristo, no sermão do monte, desenvolve os dez mandamentos e aplica-os ao povo e a nós, através das Escrituras. Devemos então nos curvar de forma humilde, reconhecendo a grandiosidade e santidade do nosso Senhor descrita no Decálogo.

Tiago Santos coloca sabiamente a definição da palavra “ética cristã”, ele diz: “é o 'modus vivendus' do povo de Deus.” Ou seja, o modo pelo qual o povo de Deus deve se guiar. Salmo 119:105 afirma que a palavra de Deus é lâmpada para os pés e luz para o caminho. Precisamos entender que é extremamente necessário e de tamanha importância que o cristão saiba como viver. A primeira pergunta do Catecismo Maior de Westminster diz: “Qual o fim supremo e principal do homem?” imediatamente ele responde: “O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e alegrar-se nele para sempre [Rm 11:36; 1Co 10:31; Sl 73:24-26; Jo 17:22-24].” A pergunta é: como viveremos para glorificar e alegrar-se em Deus? Observando a Sua Santa Palavra e vivendo de acordo com a Sua Santa vontade [o modus vivendus do homem].

Podemos também observar o texto de Romanos 12:2, que diz: “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Como cristãos, devemos não apenas fazer o correto, mas pensar correto. Não devemos nos moldar ao modelo deste mundo, e muito menos às regras morais deste mundo. Pelo contrário, não podemos nos deixar ser influenciados e nem nos conformar com este mundo, mas devemos renovar nossa mente, dia após dia, para que possamos viver de modo bom, agradável e perfeito, de acordo com a vontade de Deus. Esse é objetivo do homem!

Outro fator importante que devemos saber é que o cumprimento do decálogo não salva, pelo contrário; ele condena! Ele nos mostra quem somos. Essa é uma diferença central do cristianismo bíblico para as outras religiões. A maioria, senão todas as outras religiões, são movidas por boas obras. As pessoas, para alcançarem o “céu” precisam fazer boas obras e etc. Esse é o pensamento que gira no mundo a respeito do homem. Porém, isso não é o que as Escrituras falam. O homem é impuro, corrupto, miserável, condenado, pecador, manchado, depravado, e tudo mais. Por isso, ele não tem a capacidade de cumprir todo o mandamento do Senhor. O cristão não cumpre a lei de Deus para ser salvo, mas por amor! [João 14:23] O que nos move e capacita a cumprir a lei de Deus é o Santo Espírito. Ele, apenas Ele, pode nos capacitar a fazê-lo.

Não terás outros deuses diante de mim.”

Aqui temos um mandamento tão conhecido, e ao mesmo tempo tão negligenciado. Deus diz ao povo de Israel que não tolera diante da Sua face qualquer outro Deus, pois Ele é o único. No contexto da época, o povo estava rodeado de religiões pagãs, onde cada uma reivindicava o seu próprio deus. Na verdade, nesse exato momento, o povo tinha acabado de sair de uma cultura onde vários deuses eram cultuados. Cada um na sua “área”. O sol, o rio, a natureza, a vida, e por aí vai. Cada área do ser humano era governada por um deus diferente. Essa era a ideia.

O povo de Israel, o povo escolhido e separado por Deus, precisava entender que o Deus deles, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó era o Deus verdadeiro, hoje e sempre. Infelizmente, essa ideia não ficou presa àquela época. Hoje, não só pagãos, como também cristãos, acreditam “mesmo que sem querer” num deus compartimentado; o qual não é o Deus das Escrituras. Michael Horton coloca da seguinte forma: “Podemos ver em nossos próprios círculos cristãos traços dessa mudança de ideia de um Deus Soberano que revelou-se num tempo e espaço reais na História, para a noção de deidades locais que gerenciam os compartimentos separados de nossa vida, garantindo o sucesso e a felicidade em suas esferas respectivas. Isso é raramente declarado, mas frequentemente praticado: Deus está encarregado da área chamada “religião”, mas a própria vida é governada por um panteão de deidades: carreira, posses, ambição, auto-estima, família, amigos, entretenimento, moda. Sempre que tomamos uma decisão de violar a vontade revelada de Deus em favor de uma dessas “deidades”, estamos colocando outros deuses diante do único e verdadeiro Deus vivo.”¹ Quantas “deidades” não existem em nossos corações querendo tomar o trono do Senhor dentro de nós? Simples coisas do dia a dia nos impedem de adorar a um único Deus, o verdadeiro.

A cultura brasileira está arraigada no catolicismo romano. Cristãos tem repúdio a imagens por causa dessa cultura donde vivemos e viemos, mas às vezes esquecemos que não só existem ídolos físicos (imagens), mas também os do coração. Pessoas estão tão presas a condenar alguém que adora uma imagem – de forma nenhuma estou concordando com a adoração de imagens – que se esquecem que no seu coração, talvez, exista mais ídolos do que todos aqueles os santos da Igreja Católica Romana. O Senhor neste mandamento não condena somente ídolos visuais, mas qualquer coisa que ocupe o lugar Dele em nossas vidas.

Salmos 115:1 diz: “Não a nós Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua misericórdia e da tua fidelidade.” O povo de Israel que tantas vezes abandonou a Deus por causa de falsos deuses reconhecem a majestade de Deus. Por que será que no início diz-se 'Não a nós Senhor, mas ao teu nome dá glória […]'? Simplesmente porque o coração do homem tem dois deuses, ou o Deus verdadeiro ou ele mesmo. Como já dizia João Calvino: “O coração do homem é uma fábrica de ídolos”. Calvino, como um perspicaz teólogo, entende exatamente o ponto. Se o deus do homem não é o Deus verdadeiro, é ele mesmo. Ele fabrica, seja: religiões, ele mesmo (ateísmo), trabalho, esposa, namorada, dinheiro, sexo, vícios; qualquer um. Fora do Deus santo e verdadeiro - que é aquele que preenche o vazio que o homem tem – não há verdade. Só há pseudo-deuses, tentando ocupar o lugar que não é para eles, e como não é para eles, eles não vão conseguir preenchê-lo.

No decorrer do Salmos 115:4-8, o salmista descreve como são os deuses das nações ao seu redor: “Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens. Têm boca, mas não falam; têm olhos e não veem; têm ouvidos, e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai pela garganta. Tornem-se semelhantes a ele os que os fazem e quantos neles confiam.” Os idólatras se tornam inúteis diante do Deus que está no céu (ver Sl 115:3). Eles são como mortos, são como os deuses que eles adoram.

C. J. Mahaney no seu artigo² observa alguns meios de identificar a idolatria do homem, alguns deles são:

(1) – As Escrituras: como cristãos não só precisamos, como devemos observar toda nossa vida de acordo com as Escrituras Sagradas. Ela é a nossa única regra de fé e prática. É através dela que o Senhor nos ensina como devemos viver. Como disse anteriormente, toda a idolatria do homem flui do seu próprio coração corrupto, e as Escrituras penetra-o e o corta (ver Hb 4:12-13).
(2) – O Espírito Santo: Através da ação divina do Espírito Santo podemos perceber o que está em nosso coração que está tomando o lugar do nosso Deus. Investir tempo em oração clamando a Deus que o ES ilumine nossa mente para identificar e deixar a nossa idolatria.
(3) – Os outros irmãos: através do amor mútuo, da comunhão que desfrutamos através do sangue de Cristo, precisamos confrontar uns aos outros. O nosso coração é orgulhoso e enganoso, e muitas vezes não conseguimos identificar, por nós mesmos, o que está no nosso coração tomando o lugar do Senhor. Portanto, através de humildade precisamos escutar os outros, e através do amor confrontar os outros.

Catecismo Maior de Westminster, pergunta 104 diz: “Quais são os deveres exigidos no primeiro mandamento?” Como resposta: “Os deveres exigidos no primeiro mandamento são: conhecer e reconhecer Deus como único verdadeiro Deus, e nosso Deus; adorá-lo e glorificá-lo como tal; pensar e meditar nele; lembrar-nos dele, altamente apreciá-lo, honrá-lo, adorá-lo, escolhê-lo, amá-lo, desejá-lo e temê-lo; crer nele, confiando, esperando, deleitando-nos e regozijando-nos nele; ter zelo por ele; invocá-lo, dando-lhe louvor e agradecimentos, prestando-lhe toda a obediência e submissão do homem todo; ter cuidado de lhe agradar em tudo e tristeza quando ele é ofendido em qualquer coisa; andar em humildade com ele.” Na pergunta seguinte é descrito todos os pecados que são condenados com o primeiro mandamento. De forma singular o Catecismo de Westminster explora as Escrituras quanto a esse assunto. Soli Deo Gloria, Sola Fide, Solus Christus, Sola Scriptura e Sola Gratia; esses brados da reforma ecoam como um funil, onde no início têm-se todos eles juntos, mas no fim, lá no fim do funil, temos uma única coisa: a Glória de Deus.

Esse primeiro mandamento – não terás outros deuses diante de mim – é nada mais, nada menos que o Senhor dizendo ao Seu povo: 'Toda a glória seja dada a mim! Eu sou o único e verdadeiro Deus, qualquer outro deus é abominação. A glória que seria dada a ele (o suposto deus) é para ser dada a mim!' A glória é Dele, a salvação é dele, o nosso coração deve repousar somente Nele.

Soli Deo Gloria.
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Referências:

[1] HORTON, Michael, A Lei da Perfeita Liberdade, Ed. Cultura Cristã, pág. 34.
[2] http://www.monergismo.com/textos/pecado_tentacao/idolatria_mahaney.htm

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Autor: Danyllo Gomes
Fonte: Verdade do Cristianismo

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Porque os crentes não devem comemorar o Halloween


Notícias
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Apesar de ser absolutamente errado, muitos cristãos ainda comemoram o Halloween, o famigerado Dia das Bruxas. Algumas igrejas e pastores, especialmente nos Estados Unidos, até mesmo incentivam, como revela Jamie Morgan, pastor da Assembléia de Deus na cidade de Williamstown nos EUA. Recentemente, vi uma propaganda de uma igreja em que eles estavam tendo uma Corrida de Zumbis. Sério mesmo? Na casa de Deus?
Quando eu era um crente novo, reconheço que permiti que meu filho participasse do Halloween. Em parte porque o meu marido ainda tinha aceitado Jesus como salvador de sua vida e insistiu que fizéssemos isso. Outro motivo foi que eu não via mal nisso. Afinal de contas, muitos cristãos que eu respeitava também faziam isso. Então, como um cristão novo como eu poderia questionar? Certo? Errado!
Como eu cresci mais perto do Senhor e aprendi sobre a sua Palavra, comecei a me sentir incomodado com o Halloween. Eu tive pensamentos como: Deus é um Deus de vida, mas o Dia das Bruxas centra-se na morte. Então, devo mesmo comemorar um feriado (nos Estados Unidos) em que as pessoas decoram seus quintais com lápides?
As Escrituras nos ensinam a repudiar as obras das trevas (Romanos 13.12) e que a luz não tem nada em em comum com as trevas (2 Coríntios 6.14.). Comemorar uma negra festa pagã é mesmo algo que uma criança da luz deveria estar fazendo? Bruxaria é claramente detestável para o Senhor (Deuteronômio 18. 10-13). Caso não credite nestas palavras, basta dar uma caminhada através das lojas que vendem produtos para o Halloween para confirmar ser algo detestável.”
Halloween é um sagrado, elevado feriado para os wiccanos (a religião oficial da bruxaria). Esta é uma festa pagã que os cristãos devem celebrar ao lado daqueles que divulgam e incentivam a bruxaria e outras atitudes ue o Deus Todo-poderoso abomina em sua Palavra? É bonito quando vestimos nossas crianças como o diabo, bruxas, ghouls (seres demoníacos que consemem carne humana), personagens assustadores etc.? Isso não é demoníaco?
E se, em vez disso, eu simplesmente vestir meus filhos com uma saudável roupa de bombeiro Romanos 16.19 diz que é preciso ser sábio para o que é bom e inocente para o mal. Se eu deixar meus filhos participarem do Halloween, mesmo quando vestido como um bombeiro, não estou lhe passando uma mensagem confusa para uma criança, permitindo-lhe participar de uma celebração do mal?
O Senhor disse em 2 Coríntios. 6.17: “Saí do meio deles, separai-vos… não toqueis coisa imunda …” Será que Deus não quer que seus filhos sejam separados do mundo e do pecado e do mal? Minha família e alguns amigos acham ridículo não permitimos que o nosso filho vist-se como a maioria das outras crianças para o Dia das Bruxas. As opiniões importam mais do que a Palavra de Deus? Minha maior preocupação deve ser a de agradar a Deus.
O Dia das Bruxas traz glória a Deus? Não! Ele glorifica o diabo! Isso é definitivo.
Assim como um crente novo, salvo apenas havia dois anos, entendi a mensagem do Espírito Santo e me arrependi de desagradar ao Senhor e permitir que meu filho fosse ao Halloween. E como pastor, que conhece a destruição que o inimigo traz para a vida das pessoas quando estas eles lhe dão espaço, estou ainda mais do que convencido de que tomei a decisão certa para fechar a porta para o inimigo nesta comemoração do mal.
Separar um dia para celebrar o mal, a escuridão, a feitiçaria, o medo, a morte e algo demoníaco entristece e desagrada a Deus. Um cristão que comemora o Halloween seria como um adorador de Satanás montar um presépio no Natal enquanto canta, “Feliz aniversário, Jesus!” Os dois simplesmente não andam juntos. Jesus não tem nada em comum com Satanás (2 Coríntios 6.14), e nem nós devemos ter.
Então, o que podemos fazer no Halloween? Nos esconder com as luzes apagadas? Sair de casa com toda a família? Não. Nesse caso, casas escuras são a vitória do inimigo! Onde é que sua luz tem de ser mais brilhante ainda? Claro que na escuridão!
Halloween é o um dia do ano quando (nos Estados Unidos) algumas crianças da vizinhança vêm a sua porta esperando receber alguma coisa. Então dê-lhes JESUS! A nossa família escolheu, para a glória de Deus apresentar o Evangelho de Jesus Cristo aos vizinhos! “Vós sois a luz do mundo … deixe sua luz brilhar entre os homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5. 14-16).
Então pare de tentar justificar que é interessante celebrar esta festa claramente demoníaca. Não existem linhas confusas ou áreas cinzentas sobre este assunto. É simples assim: um verdadeiro e comprometido seguidor de Jesus Cristo não deve comemorar o Halloween.
Fonte: Charisma News
Adaptação: Milton Alves

Líderes evangélicos assinam a declaração "A Reforma acabou?”



“As questões que suscitaram a Reforma quinhentos anos atrás ainda estão muito presentes no século 21 em toda a igreja”, declara o documento, publicado antes do quingentésimo aniversário e assinado por mais de 50 líderes evangélicos.


No dia 24 de outubro de 2016, tornou-se público o manifesto “A Reforma Acabou? Uma Declaração de Convicções Evangélicas”. O documento (ler abaixo) é uma resposta à abordagem assumida, de comum acordo, pela Igreja Católica Romana e algumas igrejas e organizações protestantes e evangélicas.
Elaborado pela Reformanda Initiative, o manifesto declara: “Às vésperas do quingentésimo aniversário da Reforma Protestante, cristãos evangélicos de todo o mundo têm a oportunidade de refletir novamente sobre o legado da Reforma tanto na igreja global de Jesus Cristo como no desenvolvimento do trabalho evangelístico. Após séculos de controvérsias e tensões entre evangélicos e católicos, a cordialidade ecumênica de tempos recentes criou condições propícias para que líderes de ambos os lados afirmassem que a Reforma está em seus momentos finais e que as principais discordâncias teológicas que levaram à ruptura do cristianismo ocidental no século 16 já estão resolvidas.” São exemplos dessa cordialidade o papel ativo que o Papa Francisco desempenhará na Comemoração Ecumênica da Reforma em Lund, Suécia, no dia 31 de outubro deste ano, e as atividades que visam buscar “unidade” e “reconciliação” na Alemanha entre a Igreja Protestante (EKD) e a Igreja Católica Romana.

MAIS INFORMAÇÕES
O documento foi assinado por mais de 50 teólogos evangélicos, líderes de igrejas e líderes de instituições evangélicas de peso. Veja a lista completa de signatários aqui. Você pode baixar o documento “A Reforma Acabou? Uma Declaração de Convicções Evangélicas” em Português, Inglês, Italiano, Eslovaco e Espanhol.

Leia o manifesto abaixo:

A REFORMA ACABOU? 
Uma Declaração de Convicções Evangélicas
Às vésperas do quingentésimo aniversário da Reforma Protestante, cristãos evangélicos de todo o mundo têm a oportunidade de refletir novamente sobre o legado da Reforma tanto na igreja global de Jesus Cristo como no desenvolvimento do trabalho evangelístico. Após séculos de controvérsias e tensões entre evangélicos e católicos, a cordialidade ecumênica de tempos recentes criou condições propícias para que líderes de ambos os lados afirmassem que a Reforma está em seus momentos finais e que as principais discordâncias teológicas que levaram à ruptura do cristianismo ocidental no século 16 já estão resolvidas.

Por que alguns afirmam que a Reforma acabou
Em apoio à ideia de que a Reforma acabou, são geralmente citadas duas razões principais:
1) Os desafios para os cristãos em todo o mundo (como, por exemplo, o secularismo e o Islã) são tão atemorizantes que protestantes e católicos não podem mais se dar ao luxo de permanecer divididos. Um testemunho unificado, talvez com o Papa como porta-voz, beneficiaria grandemente o cristianismo global.
2) As divisões teológicas históricas (por exemplo, a salvação somente por meio da fé, a autoridade última da Bíblia, a primazia do bispo de Roma) são consideradas questões de diferença legítimas em termos de ênfase, mas não são pontos críticos de divisão e contraste que impeçam a unidade.
A força cumulativa desses argumentos tem amenizado a compreensão e a avaliação de alguns evangélicos acerca da Igreja Católica Romana.
É também importante notar que, no último século, o evangelicalismo global tem crescido em uma velocidade avassaladora, enquanto o mesmo não ocorre no catolicismo romano. O fato de milhões de católicos tornarem-se evangélicos nos últimos anos não passou despercebido por líderes católicos romanos, que buscam responder a essa perda de fiéis de maneira estratégica: adotando uma linguagem evangélica tradicional (conversão, evangelho, missão, misericórdia) e estabelecendo diálogos ecumênicos com igrejas que outrora condenaram. Onde antes havia perseguição e animosidade, agora há relacionamentos e diálogos mais amistosos entre católicos e protestantes. A questão, porém, permanece: as diferenças fundamentais entre católicos e protestantes ou evangélicos desapareceram?
A Reforma acabou?
A Reforma Protestante, em todas as suas variantes e por vezes tendências conflitantes, foi, em última instância, um chamado para (1) resgatar a autoridade da Bíblia sobre a igreja e (2) reconhecer novamente o fato de que a salvação chega até nós somente por meio da fé.
Há cinco séculos, o catolicismo romano é um sistema religioso que não é baseado exclusivamente na Escritura. De acordo com a perspectiva católica, a Bíblia é apenas uma fonte de autoridade: não se mantém autônoma, nem é a fonte mais importante. De acordo com esta visão, a tradição precede a Bíblia, é maior do que a Bíblia e não é revelada somente pela Escritura, mas através do ensino contínuo da Igreja e de sua agenda atual, de acordo com os tempos. Uma vez que a Escritura não tem a última palavra, a doutrina e a prática católicas permanecem indeterminadas e, portanto, confusas em sua própria essência.
A promulgação de três dogmas (ou seja, crenças obrigatórias) sem qualquer base bíblica ilustra perfeitamente o método teológico do catolicismo romano. São eles: o dogma da imaculada conceição de Maria, de 1854; o dogma da infalibilidade papal, de 1870; e o dogma da assunção corpórea de Maria, de 1950. Esses dogmas não representam o ensinamento bíblico e, na verdade, claramente os contradizem. No sistema católico, isso não importa, pois não depende da autoridade exclusiva da Escritura. Talvez sejam necessários dois milênios para se formular um novo dogma, mas, tendo em vista que a Escritura não detém a última palavra, a Igreja Católica pode eventualmente adotar tais inovações.
Quanto à doutrina da salvação, muitos têm a impressão de que há uma convergência crescente no que diz respeito à justificação pela fé e que as tensões entre católicos e evangélicos têm diminuído consideravelmente desde o século 16. No Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja Católica reagiu fortemente contra a Reforma Protestante ao declarar “anátema” (amaldiçoados) aqueles que defendessem a justificação somente pela fé, ao mesmo tempo em que afirmou o ensino de que a salvação é um processo de cooperação com infusão da graça, ao invés de ser um ato alicerçado exclusivamente na graça e na fé.
Alguns argumentam que a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, assinada pela Igreja Católica Romana e a Federação Mundial Luterana em 1999, uniu a ambos os lados. Conquanto o documento favoreça, por vezes, uma tendência mais bíblica no entendimento da justificação, explicitamente afirma a visão de justificação do Concílio de Trento. A condenação sobre convicções protestantes e/ou evangélicas históricas permanece; apenas não se aplica àqueles que afirmam a desfocada posição da Declaração Conjunta.
Assim como em Trento, na Declaração Conjunta a justificação é um processo representado pelo sacramento da Igreja (o batismo); ela não é recebida exclusivamente pela fé. É uma jornada que requer colaboração do fiel e uma participação contínua no sistema sacramental. Não há qualquer entendimento de que a justiça de Deus é imputada por Cristo ao crente; logo, não há qualquer segurança de salvação. Além disso, a visão da Igreja Católica Romana é revelada por seu uso contínuo de indulgências (ou seja, a remissão da punição temporal por pecado atribuído pela Igreja em ocasiões especiais). Foi a teologia das indulgências que desencadeou a Reforma, mas esse sistema tem sido invocado recentemente pelo Papa Francisco no Ano da Misericórdia (2015-2016). Isto mostra que, para a Igreja Católica Romana, a visão básica da salvação – que depende da mediação da Igreja, da distribuição de graça por meio dos sacramentos, da intercessão dos santos e do purgatório – permanece a mesma após a elaboração da Declaração Conjunta.
Perspectivas
O que dissemos sobre a Igreja Católica Romana como realidade doutrinal e institucional não é necessariamente verdadeiro para indivíduos católicos. A graça de Deus está trabalhando em homens e mulheres que se arrependem e confiam somente em Deus e que respondem ao seu evangelho, vivendo como discípulos cristãos que buscam conhecer a Cristo e fazê-lo conhecido.
Entretanto, por conta de suas afirmações dogmáticas flutuantes e de sua estrutura política complexa e diplomática, a instituição Igreja Católica deve ser examinada com muito mais cautela e prudência. Iniciativas atuais para renovar aspectos da vida e adoração católicas (como, por exemplo, a acessibilidade à Bíblia, a renovação litúrgica, o papel crescente dos leigos e o Movimento Carismático) não indicam, por si mesmas, que a Igreja Católica Romana esteja compromissada com uma reforma substanciosa em consonância com a Palavra de Deus.
Em nosso mundo globalizado, encorajamos a cooperação entre evangélicos e católicos em áreas de preocupação comum, tais como a proteção da vida e a promoção da liberdade religiosa. Essa cooperação se estende a pessoas de outras orientações religiosas e ideológicas. Em pontos onde valores comuns estão em jogo – questões éticas, sociais, culturais e políticas –, os esforços colaborativos devem ser encorajados. Todavia, quando se trata de cumprir a tarefa missionária de proclamar e viver o evangelho de Jesus Cristo em todo o mundo, os evangélicos devem ser cautelosos, mantendo padrões bíblicos claros ao formar plataformas e coalizões.
A posição que articulamos aqui é um reflexo de convicções evangélicas históricas, junto a uma paixão pela unidade entre crentes em Jesus Cristo de acordo com a verdade do evangelho1. As questões que suscitaram a Reforma 500 anos atrás ainda estão muito presentes no século 21 em toda a igreja. Enquanto acolhemos de bom grado toda oportunidade para esclarecê-las, nós evangélicos afirmamos, juntamente com os reformadores, as convicções fundamentais de que nossa autoridade final é a Bíblia e que somos salvos somente por meio da fé.
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[1] Essas convicções fundamentais são expressas em papers oficiais de duas organizações evangélicas mundiais: Fraternidade Evangélica Mundial e Movimento Lausanne. Após abordar temas como mariologia, autoridade na igreja, o papado e a infalibilidade, justificação pela fé, sacramentos e a Eucaristia, e a missão da igreja, este foi o pronunciamento da Fraternidade Evangélica Mundial: “A cooperação na missão entre evangélicos e católicos está seriamente impedida por conta de obstáculos ‘insuperáveis’” (Fraternidade Evangélica Mundial, Evangelical Perspective on Roman Catholicism (1986) in Paul G. Schrotenboer (ed.), Roman Catholicism. A Contemporary Evangelical Perspective (Grand Rapids: Baker Book House 1987) p. 93). A mesma visão é refletida no documento de Lausanne intitulado Occasional Paper on Christian Witness to Nominal Christians among Roman Catholics, de 1980, bem como em uma declaração de John Stott, principal autor do Pacto de Lausanne: “Estamos dispostos a cooperar com eles (católicos romanos, ortodoxos ou protestantes liberais) em boas obras de compaixão cristã e justiça social. É no momento em que somos convidados a evangelizar com eles que nos vemos em um duro dilema, pois o testemunho comum necessita de uma fé comum e a cooperação no evangelismo depende de concordância sobre o conteúdo do evangelho” (Lausanne Committee for World Evangelization. “Lausanne Occasional Paper 10 on Christian Witness to Nominal Christians among Roman Catholics” (Pattaya, Thailand, 1980); John Stott, Make the Truth Known. Maintaining the Evangelical Faith Today (Leicester, UK: UCCF Booklets, 1983) p. 3-4.).
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Traduzido por Jonathan Silveira no Teologia Brasileira

Martinho Lutero: O precursor da Reforma Protestante



Martinho Lutero nasceu a 10 de novembro de 1483 no centro da Alemanha, em Eisleben, Turíngia/Alemanha. Seus pais, João e Margarida, eram pobres - João era mineiro e lenhador - porém não iletrado, de modo que puderam dar-lhe boa orientação educacional. Visando a melhorar a vida econômica, fixaram residência, em 1484, em Mansfeld, onde Martinho iniciou seus estudos. Terminando o curso da escola daquela localidade, então com 14 anos, deixou a casa paterna e ingressou na escola superior de Magdeburgo. Depois de um ano ali, teve que retornar à casa paterna acometido de grave enfermidade, indo por esta razão, no ano seguinte, estudar em Eisenach. Três anos cursou o colégio de Eisenach. Em 1501 ingressava na Universidade de Erfurt, cidade conhecida como "Roma Alemã" pelo número de suas igrejas e mosteiros. Obteve ali os graus de Bacharel (1502) e Mestre em Arte (1505). No mesmo ano ingressou no curso de Direito.

Este, porém, foi interrompido visto que, a 02 de julho de 1505, regressando da casa paterna, teve sua vida seriamente ameaçada por uma tempestade que, por pouco, lhe tirara a vida. Fez, nesta oportunidade, um voto a Sant’ana que, se lhe fosse dado viver, ingressaria no mosteiro para tornar-se monge. No dia 17 de julho de 1505 as portas do convento da Ordem dos Agostinhos fechavam-se atrás dele.
Sacerdote
Em fevereiro de 1507 foi ordenado sacerdote. Vivia, no entanto, em completo desespero, buscando, dias e noites a fio, em tremendos tormentos espirituais, resposta à pergunta: "De que maneira conseguirei um Deus misericordioso?" Reconheceu muito logo que jamais seria possível obter certeza de sua salvação mediante boas obras, pela impossibilidade de saber se são suficientes, mormente em se tratando de uma alma de consciência extremamente sensível.
Professor
Por indicação do vigário da ordem, João de Staupitz, que reconhecia em Lutero urna erudição e inteligência incomuns, Lutero foi designado professor na Universidade de Wittenberg, fundada em 1502 por Frederico, o Sábio, duque da Saxônia e presidente dos sete eleitores civis que, juntamente com sete autoridades religiosas, elegiam o imperador do Sacro Império -Romano da Nação Alemã. Ocupou ali a cadeira de Teologia. Continuou também seus estudos, instruindo-se principalmente nas línguas gregas e hebraica. A 09 de março de 1509 obteve o grau de Baccalaureus Biblicus.
Viagem a Roma
Em 1511, então com 28 anos, foi enviado em missão diplomática a Roma, para solucionar uma divergência entre sete conventos de sua Ordem e o vigário geral da mesma. A corrupção, imoralidade, as zombarias, o desrespeito do clero e da cúpula da igreja para com as coisas sagradas marcaram nele uma profunda decepção. Embora profundamente entristecido, as esmagadoras desilusões sofridas não o levaram a descrer de sua igreja.
Doutor em Teologia
Em outubro de 1512, recebia, das mãos do decano da faculdade de Teologia, o grau de Doutor em Teologia. Assumiu, a seguir, a cadeira de Lectura in Bíblia lecionando, à base das línguas originais, o hebraico do Antigo Testamento e o grego do Novo Testamento, incorporando conquistas do humanismo na ciência da interpretação de textos. Ainda em 1512, foi eleito subprior do convento de Wittenberg. Em maio de 1515, o cabido geral reunido em Gotha o designava vigário do distrito, que compreendia onze conventos sob sua orientação e autoridade.
Preleções
As suas preleções eram tão concorridas que a elas acorriam estudantes de todas as partes e países vizinhos. Os professores assistentes também aumentavam. O reitor da Universidade chegou a declarar, como que em antevisão: "Este frade derrotará todos os doutores; introduzirá uma nova doutrina e reformará toda a igreja; pois ele se funda sobre a palavra de Cristo, e ninguém no mundo pode combater nem destruir esta Palavra..." (Melchior, Adam. Vita Lutheri, p. 104). Ocupando o púlpito, a capela logo não mais podia comportar os assistentes. O senado o convidou então a ocupar a igreja paroquial da cidade.
Justificação pela fé
Nos seus conflitos espirituais, o texto bíblico que lhe trouxe a luz da verdade e a paz de consciência veio a ser a célebre passagem da Epístola aos Romanos (1.17), em que o apóstolo cita o profeta Habacuque: "0 justo viverá por fé" Viu que São Paulo fazia do sacrifício de Cristo o centro da verdade em religião. Seus pecados, angústias, sofrimentos haviam caído sobre os ombros de Cristo na cruz; Cristo fizera o que ao pecador teria sido impossível fazer com suas penitências e méritos pessoais.
As Teses
Em 1517, Lutero quis provocar um debate público sobre a venda de indulgências promovidas pelo Papa Leão X e o arcebispo Alberto de Mogúncia através da Ordem dos Dominicanos. Quando pregou à porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em 31 de outubro de 1517, o pergaminho com as 95 teses em latim para serem debatidas entre os acadêmicos, conforme o costume da época, não desejava desencadear um movimento na história da igreja. Era o pároco que, com preocupado, via como as almas dos fiéis eram desnorteadas por um grande escândalo, descaradamente apregoado em nome da santa Igreja: a venda do perdão de Deus, como se fosse mercadoria, por meio de cartas de indulgência, cujo lucro se destinava ao término da basílica de São Pedro e à cruzada contra os turcos. Seu principal proclamador era o dominicano Tetzel. Eis algumas das teses apresentadas por Lutero: - Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos... etc., pretendia falar da vida interior do cristão que deveria ser um contínuo e ininterrupto arrependimento (Tese I) - Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório (Tese 27) - Todo o cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados e sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indigência (Tese 36) - Esperar ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências e o próprio papa oferecessem sua alma como garantia (Tese 52) As proposições sobre as indulgências eram completadas por algumas outras, que continham o que viria a ser fundamental na doutrina luterana: - Aos olhos de Deus, não há na criatura senão concupiscências; - Ninguém se salva senão pela graça de Deus através da fé. O efeito dessas teses foi tão inesperado, que elas não ficaram entre os letrados; traduzidas ao alemão, em poucas semanas se espalharam por toda a Alemanha e outras partes da Europa, chegando ao conhecimento do povo em geral.
Reação de Roma
Em 1518, Roma tratou de liquidar o caso do monge de Wittenberg. Lutero foi chamado para responder processo em Roma, dentro de sessenta dias. Mas, por interferência de Frederico, o Sábio, Príncipe da Saxônia, o Papa consentiu que a questão fosse tratada em Augsburgo, pelo Cardeal Cajetano. Este exigia simplesmente que Lutero se retratasse, o que este, naturalmente, não fez. Tinha Lutero nessa época o apoio do capítulo da Ordem dos Agostinhos e do corpo docente da Universidade de Wittenberg. Cajetano declararia depois dos três encontros com Lutero: "Ele tem olhos que brilham, e raciocínio que esconcertam".
O Papa temia suscitar oposição cerrada entre os príncipes alemães. Valeu-se, para que isso não acontecesse, da diplomacia. Condecorou o protetor de Lutero, Frederico, o Sábio, com a "Ordem da Rosa Áurea da Virtude" para afastá-lo de Lutero, e enviou o conselheiro Karl von Miltitz. Este conseguiu, com brandura, queLutero escrevesse uma carta ao papa, declarando sua fiel submissão; mas reafirmou, também, sua doutrina da justificação pela fé somente, sem os méritos de obras. Expôs e defendeu sua posição num debate com o Dr. João Eck em Leipzig. O que precipitou o rumo das coisas foi sua declaração de que nem todas as doutrinas de João Hus (queimado como herege em Constança, em 1415) eram falsas, e que os concílios são passíveis de erros em suas decisões. Isto o colocou à margem da igreja papal, que se fundamentava sobre a infalibilidade do papa e dos concílios.
Primeiros Escritos
Em 1520 escreveu três livros fundamentais mostrando o antagonismo do sistema de salvação papal e o ensino bíblico: "À Sua Majestade Imperial e à Nobreza Cristã sobre a Renovação da Vida Cristã",- "Sobre a Escravidão Babilônica da Igreja" e "Da Liberdade Cristã" ' Alguns de seus pensamentos-chave aí registrados são estes: - "0 cristão é um livre senhor sobre todas as coisas e não submisso a ninguém - pela fé"; "o cristão é servidor de todas as coisas e submisso a todos - pelo amor". "Não fazem as boas obras um bom cristão, mas um bom cristão faz boas obras".
Excomunhão
A resposta do Papa foi a bula de excomunhão Exsurge Domine. Tinha ainda 60 dias para retratar-se do que havia escrito e ensinado. Em 03 de janeiro de 1521 esgotou-se o prazo dado na bula, sendo então proferido o anátema definitivo, pela bula Decet Romanum Pontificem.
Dieta de Worms
Em 1521 reunia-se a primeira Dieta ou Assembléia do império, presidida pelo jovem imperador Carlos V, eleito em 1520, em sucessão a Maximiliano, para dirigir o reino "em que o sol não se punha". Lutero, intimado, compareceu diante da assembléia em 17 e I S de abril de 15 2 1. Perguntado se renunciava ao que tinha escrito, respondeu: "Não posso, nem quero retratar-me, a menos que seja convencido do erro por meio da palavra bíblica ou por outros argumentos claros. Aqui estou; não posso de outra maneira! Que Deus me ajude. Amém".
Tradução do Novo Testamento
Proscrito pelo imperador, foi posto em segurança pelo duque Frederico, através de um seqüestro simulado de cavaleiros embuçados, durante sua viagem de retomo, e escondido no Castelo de Wartburgo, nas proximidades de Eisenach. Sua principal realização nesse período foi a tradução do Novo Testamento grego para um alemão fluente de grande aceitação popular. Os primeiros 5 mil exemplares esgotaram-se em 3 meses. Em cerca de dez anos houve 58 edições. Em 1522, com risco de vida, reassumiu as funções de professor em Wittenberg. Juntamente com Felipe Melanchthon (cognominado Praeceptor Germaniae - educador da Alemanha), seu grande amigo e colaborador, instruiu centenas de estudantes alemães, boêmios, poloneses, finlandeses, escandinavos.
Guerra dos Camponeses
Marcou o ano de 1525 a Guerra dos Camponeses - uma revolução armada em que os camponeses, sob federação, reivindicaram mais liberdade aos latifundiários. Em seus objetivos políticos sociais idealizaram Martinho Lutero como chefe. Confundiram reivindicações políticas com aspirações religiosas. Lutero, embora compreendendo suas necessidades, viu-se forçado a distanciar-se do movimento porque não era política a missão dele. A carnificina, com batalha final em Frankenhausen, trouxe prejuízos ao movimento da Reforma. Mas esta, a despeito de todos os abusos praticados em seu nome, se expandia. Lutero procurava consolidar as igrejas e escolas que haviam aderido à Reforma em território alemão e países vizinhos. Neste mesmo ano (I 525) casou-se com uma ex-freira, Catarina de Bora, de cujo casamento lhes nasceram 6 falhos.
Culto e Liturgia
De 1527 a 1529 esteve empenhado na organização da Igreja Evangélica. Compositor e poeta, compôs trinta e sete hinos. Cabe-lhe a celebridade de popularizar o Lied eclesiástico. Era também conhecido como o "Rouxinol de Wittenberg". Traduziu a ordem da missa para o alemão - Deutsche Messe 1526 - a partir do que os cultos passaram a ser celebra. dos na língua do povo, e não no latim que ninguém entendia.
Os dois Catecismos
Em 1529 redigiu dois manuais de instrução, até hoje em uso nas igrejas luteranas: "Catecismo Menor" e "Catecismo Maior" Os dois volumes apresentam, em seis partes, um sumário da doutrina cristã. O primeiro é escrito, especialmente, para as crianças; o segundo, para os pais. Justificando, o Reformador afirma: "A lamentável e mísera necessidade experimentada recentemente, quando também fui visitador, é que me obrigou e impulsionou a preparar este Catecismo ou doutrina cristã nesta forma breve, simples e singela. Meu Deus, quanta miséria não vi! O homem comum simplesmente não sabe nada da doutrina cristã, especialmente nas aldeias". Numa outra oportunidade afirma: "Eu também sou doutor e pregador, e, na verdade, tenho de continuar diariamente a ler e estudar, e ainda assim não me saio como quisera, e devo permanecer criança e aluno do Catecismo".

Somente a Escritura
No mesmo ano realizou-se, no mês de outubro, um encontro entre Ulrico Zwínglio e Lutero para um debate doutrinário, denominado Colóquio de Marburgo, urna controvérsia eucarística. O pregador Zwínglio, que vivia na Suíça, também reconhecera a apostasia da igreja romana, pregai)do a Palavra e testemunhando contra as indulgências. Diferia, no entanto, da doutrina de Lutero e a discrepância básica resumia-se na pergunta: Os artigos de fé devem basear-se exclusivamente na Palavra de Deus ou também na razão humana? Não chegaram a um acordo, visto que a resposta de Lutero não admitia dúvida: A Escritura, e nada além dela, é fonte de artigos de fé, como também, mais tarde, a Fórmula de Concórdia o expressa: "Cremos, ensinamos e confessamos que somente os escritos proféticos e apostólicos do Antigo e do Novo Testamento são a única regra e norma segundo a qual devem ser ajuizadas e julgadas igualmente todas as doutrinas e todos os mestres".
Confissão de Augsburgo
Auxiliou o duque João Frederico a delinear sua estratégia em relação à Dieta de Augsburgo (l53O), convocada Pelo imperador para superar o cisma- Acompanhou a redação, por Felipe Melanchthon, duma defesa oficial, que veio a chamar-se Confissão de Augsburgo.
O documento - a primeira e mais notável das confissões evangélicas - foi lido em público à assembléia imperial, em nome de príncipes e cidades partidárias da Reforma, a 25 de junho de 1530. Era Composto o documento de duas partes: uma, dogmática; outra, apologética. Argumentavam na Confissão que, quanto à doutrina, continuavam fiéis ao que a igreja vinha ensinando à base das Escrituras Sagradas, conforme os Credos Apostólico e Niceno; com respeito ao culto, mantinham os ritos antigos consentâneos ao evangelho, cancelando apenas aqueles costumes, ritos e cerimônias que obscureciam a glória de Jesus Cristo como o único Mediador entre Deus e Os homens. Reivindicaram, por conseguinte, o direito de conviver em Paz com o papa e os bispos no seio da igreja do império. O imperador, ouvida a Confissão, determinou que os teólogos de Roma elaborassem a Confutação Católica à confissão de Augsburgo. A 03 de agosto fez-se a leitura desta. Não terminava ainda a apresentação de confissões religiosas, e Lutero e Melanchthon responderam à Confutação com a Apologia da Confissão de Augsburgo, de alto valor teológico, mas da qual a Dieta não quis tomar conhecimento. A Dieta lhes concedeu o prazo até 15 de abril de 1531 para voltarem ao seio da igreja romana e exigiu rigoroso cumprimento do Édito de Worms. Embora desaconselhados por Lutero, constituiu-se em fevereiro de 1531 uma poderosa agremiação política dos príncipes luteranos, denominada "Lida de Esmalcalde". Porém, em vista do perigo dos turcos às portas do império, em Viena, o imperador dependia do auxilio militar dos príncipes evangélicos; por isso, pela Paz de Nüremberg, para a qual Lutero muito contribuiu, em 1532, permitiu aos adeptos da Confissão de Augsburgo a persistirem nas suas doutrinas e concedia-lhes ainda outros privilégios. Essa tolerância seria dada até a realização de um concílio da igreja.
Tradução do Antigo Testamento
Não houve, assim, apesar dos esforços, uma maneira de restabelecer a unidade na igreja e no império. Em 1534 Lutero terminava uma tarefa em que havia trabalhado mais de 10 anos: a tradução do Antigo Testamento para o alemão. No mesmo ano pode-se publicar, então, a Bíblia completa. Em 1536 Lutero redigiu, por solicitação do duque João da Saxônia, artigos para serem apresentados num "Concilio geral livre" convocado pelo Papa. Os Artigos de Esmalcalde, porém, não chegaram a ser apresentados. Os líderes evangélicos concluíram que o concilio não seria livre e se negaram a participar do Concílio de Trento (l545 - 1563), que desencadeou a contra-reforma, no pontificado de Paulo III.
Paz de Augsburgo
A Paz de Augsburgo, em 1555, atendeu, de certa forma, aos reclamos dos evangélicos. Substituiu a tolerância religiosa nestes termos: os príncipes e cidadãos do império respeitariam a filiaçao religiosa de cada um, e o povo teria a opção de adotar a confissão religiosa do respectivo domínio ou de emigrar a território que tivesse a confissão desejada.
Martinho Lutero faleceu aos 62 anos de idade, em 18 de fevereiro de 1546, em sua cidade natal, Eisleben, depois de solucionar um litígio entre os condes de Mansfeld. Com grande cortejo fúnebre e ao som de todos os sinos, Lutero foi sepultado sob as lajes da igreja do Castelo de Wittenberg, onde sempre pregava o evangelho.
Contra-Reforma
A Contra-reforma, liderada pela ordem dos jesuítas, reconquistou vários territórios que tinham aderido à Reforma. Não obstante, a doutrina, o culto e a piedade preconizados por Lutero se enraizaram na Alemanha, nos países bálticos, nos países escandinavos e na Finlândia. Através doutros reformadores, foram acolhidos na França, Inglaterra, Escócia e Países ' Baixos. Em todos estes países, a Reforma ocasionou extraordinário desenvolvimento cultural, notadamente na educação, ciência, economia e política. Pela emigração, os "Luteranos" se espalharam por todos os continentes. Contam, hoje, cerca de 70 milhões. Frade, sacerdote, professor, doutor em Teologia, pregador considerado o primeiro de seu tempo, escritor vigoroso e de grande riqueza lexicografia, fixador da língua alemã, poeta e músico, Lutero abalou o mundo de seus dias e sobre ele se tem pronunciado. ciado o juízo dos séculos.
Pronunciamentos sobre Lutero
O historiador Schaff diz que "este foi o maior homem que a Alemanha produziu e um dos maiores vultos da história". Goethe dá o seu testemunho nestes termos: 'Dificilmente compreendemos o que devemos a Lutero e à Reforma em geral. Ficamos livres dos grilhões da estreiteza espiritual (... ) compreendemos o cristianismo em sua pureza". .Heinrich -Heine, o poeta excelso, exclama: "Honra a Lutero, a quem devemos a reconquista dos nossos direitos mais sagrados, e de cujos benefícios vivemos hoje em dia. Através de Lutero adquirimos a liberdade religiosa. Criou a palavra para o pensamento. Criou a língua alemã, através da tradução da Bíblia": Dollinger, historiador católico liberal, diz: "Lutero deu aos alemães o que nenhum outro jamais dera a seu povo: a língua, a Bíblia, a hinologia..." É reconhecido c omo "pai da alfabetização". Dirigiu-se aos pais através de profusas publicações, encarecendo-lhe a escola e a educação dos filhos como necessidade inadiável, para a pátria e a igreja verem melhores dias. Um escritor moderno declarou: "A Lutero deve a Alemanha seu esplendido sistema educacional - em suas origens e concepções. Porque ele foi o primeiro a reclamar uma educação universal, uma educação do povo todo, sem consideração de classe". Deixou à posteridade, em sua fecundidade literária, dezenas de volumes contendo obras doutrinárias, apologéticas, exegéticas, homiléticas, pastorais e pedagógicas. Funck-Brentano, célebre historiador contemporâneo assim se expressa: "Qualquer que seja o julgamento formulado em torno da doutrina religiosa de Martinho Lutero, é preciso reconhecer nele uma das mais poderosas personalidades que o mundo conheceu. Sua energia, seu valor, sua poderosa ação - que decorriam em grande parte da intensidade de suas convicções - estão acima de todo elogio. Calculou-se que seriam precisos a um homem dez anos de vida para simples cópia das cartas, orações e inumeráveis escritos do reformador, e Lutero não só redigiu suas obras, mas pensou-as, deu-lhes estudo e reflexões, corrigiu-as, e isso entre ocupações múltiplas, quase sempre absorventes e das mais diversas, suas prédicas, sua atividade social e política, os cuidados e o tempo que consagrou aos antigos e à família" (Martim Lutero, pág. 22, Ed Veccki). Dezenas de testemunhos dessa natureza poder-se-ia acrescentar à sua pessoa. Os exemplos citados, porém, exemplificam o veredito sobre sua pesso e a obra deixada até os nossos dias atesta a sua grandiosidade.
ROSA DE LUTERO
Símbolos são figuras que expressam verdades e convicções. Uma Cruz, um Coração, uma Rosa Messiânica, um Fundo Azul e um Anel Dourado formam o BRASÃO DE LUTERO.
O coração se apega a Cristo, centro da fé e da vida cristã. A fé se reflete em alegria, consolação, paz e esperança, aguardando a realização das promessas de felicidade sem fim, que ainda serão cumpridas.
A ROSA DE LUTERO tornou-se um símbolo visual da REFORMA e do LUTERANISMO.
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Presas por evangelizar na Etiópia, adolescentes cantam e oram na prisão: “Não temos medo”

Mulheres cristãs da Etiópia e da Eritreia louvam em igreja improvisada no campo de refugiados, na França. (Foto: Reuters)


No início do mês, quatro adolescentes foram presas na Etiópia por distribuírem livros que falam sobre o cristianismo na cidade de Babille, localizada cerca de 550 km a leste da capital, Adis Abeba.

De acordo com a organização World Watch Monitor, as quatro meninas — Deborah, 18, Eden, 15, Gifti e Mihiret, 14 — acabaram sendo libertadas sob fiança depois de pagar 3 mil Birr (cerca de R$ 425) para o tribunal da cidade vizinha, Harar.
No entanto, Deborah foi novamente detida poucas horas depois de sua libertação por motivos ainda desconhecidos. Outra adolescente, Eden, também voltou a ser presa e foi espancada em sua primeira noite na prisão.
Um representante da World Watch Monitor visitou as meninas na prisão e falou com Eden e Deborah.
Eden ressaltou que sua fé permanece inabalável. "O sofrimento é uma honra para nós. Devemos esperar a perseguição. Não temos medo. Nós estamos cantando e orando aqui na prisão", disse ela.
"É uma honra ser presa pelo Reino de Deus", Deborah acrescentou.
O livro que desencadeou a prisão das meninas é intitulado “Vamos falar a verdade em amor: Perguntas e respostas por Ahmed Deedat” — um estudioso islâmico sul africano. Escrito em amárico, língua principal da Etiópia, a obra responde a perguntas sobre a fé cristã.
Os líderes muçulmanos de Babille alegaram que o livro insulta o Islã. A ação de evangelismo levou grupos extremistas a atacarem as igrejas e ameaçarem líderes cristãos.
De acordo com uma classificação feita este ano pela World Watch Monitor em parceria com a Portas Abertas, a Etiópia é o 18º que mais persegue cristãos no mundo.
"A Etiópia tem muitas tribos que não são necessariamente favoráveis ao cristianismo. Em alguns lugares como Afar e as regiões da Somália, as tribos estão interligadas ao Islã", diz o relatório da Portas Abertas. "O partido que está no poder no país bloqueou todos os canais de liberdade de expressão e tentou controlar todas as instituições religiosas, em uma tentativa de conter a dissidência".

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Guiame

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

07 tipos de canções que não devemos cantar em nossas igrejas


A música entoada em boa parte das igrejas evangélicas tem contribuído significativamente para a disseminação tanto de conceitos como doutrinas equivocadas. É impressionante a quantidade de besteiras cantadas pelos chamados "levitas" que em nome de Deus disseminam entre o povo do Senhor,  ensinos estapafúrdios os quais afrontam a inerrante Palavra de Deus. 

Isto posto, resolvi escrever sete tipos de canções que não devemos cantar na igreja, senão vejamos:

1-) Canções cujo conteúdo contém letras absortas em psicologia barata e autoajuda.

2-) Canções antropocêntricas cujo foco da adoração não é a glória de Deus, mas, sim a satisfação humana.

3-) Canções que maculam as doutrinas fundamentais do evangelho relativizando a salvação em Cristo, atribuindo ao homem poder para ser salvo mediante seus esforços e sacrifícios pessoais.

4-) Canções que pregam e que defendem a prosperidade financeira.

5-) Canções que pregam e defendem a confissão positiva.

6-) Canções cujo conteúdo fundamenta-se na vingança, no toma-lá-dá-cá e na satisfação de ver a derrota do outro.

7-) Canções com teologia duvidosa, onde os atributos de Deus são cantados com vistas somente a satisfação do cliente, cujo objetivo não é exaltar o Senhor, mas extrair dele todo tipo de bênção.

Pense nisso!

Renato Vargens

Dez Motivos pelos quais Pastores Conservadores Costumam ter Igrejas Minúsculas



Sei que há exceções, mas elas não são muitas. A regra é que, aqui no Brasil, pastores e pregadores mais conservadores e reformados pastoreiam igrejas pequenas, entre 80 a 150 membros. Esse fato é notório e não poucas vezes tem sido usado como crítica contra a doutrina reformada. Se ela é bíblica, boa e correta, porque os seus defensores não conseguem convencer as pessoas disso? Por que suas igrejas são pouco freqüentadas, não têm envolvimento missionário, não evangelizam, não crescem e têm poucos jovens?

Como eu disse, há exceções. Conheço igrejas reformadas que são dinâmicas, crescentes, grandes, evangelizadoras e missionárias. Conheço também outras menores, que crescem não pelo aumento do número de membros na sede, mas pela plantação de outras igrejas. Quando eu digo "igrejas minúsculas" refiro-me não somente ao tamanho, mas à visão, ao envolvimento na evangelização e missões e à diferença que fazem. Tenho em mente as igrejas que se arrastam na rotina de seus trabalhos, ensaios e cultos há dezenas de anos, sempre do mesmo tamanho diminuto, sem que gente nova chegue para fazer a diferença.
Consciente de que há igrejas reformadas grandes e crescentes, mas também consciente das muitas pequenas que não crescem faz muito tempo, em nenhum sentido, eu faria os seguintes comentários nesse post, que bem poderia ser intitulado de "Navalha na Carne":
  1. Infelizmente, ao rejeitar a idéia de que em termos de crescimento de igrejas os números não dizem tudo, muitos de nós, reformados, nos esquecemos de que eles, todavia, dizem alguma coisa. Podemos aceitar que está tudo bem e tudo certo com uma igreja local que cresceu apenas 1% nos últimos anos, crescimento em muito inferior ao crescimento da população brasileira e do crescimento de outras igrejas evangélicas? Especialmente em se tratando de uma igreja em um país onde os evangélicos não são perseguidos pelo Estado e as oportunidades estão escancaradas diante de nós?

  2. Igualmente infeliz é a postura de justificar o tamanho minúsculo com o argumento da soberania de Deus. É evidente que, como reformado, creio que é Deus quem dá o crescimento. Creio, também, que antes de colocar a culpa em Deus, nós, pastores reformados, deveríamos fazer algumas perguntas básicas: nossa igreja está bem localizada? O culto é acolhedor e convidativo? A igreja tem desenvolvido esforços consistentes e freqüentes para ganhar novos membros? A pregação tem como objetivo direto converter pecadores? A pregação é inteligível para algum descrente que por acaso esteja ali? Os membros da igreja estão possuídos de espírito evangelístico? Existe oração na igreja em favor da conversão de pecadores e crescimento do número de membros? Creio que muitos pastores reformados colocam cedo demais a responsabilidade do tamanho de suas igrejas em Deus, antes de fazer o dever de casa.

  3. É triste perceber que, em muitos casos, a soberania de Deus é usada como desculpa para não se fazer absolutamente nada em termos de esforço consciente para ganhar pessoas para Cristo. Que motivos Deus teria para querer que as igrejas reformadas fossem pequenas e que os anos se passem sem que novos membros sejam adicionados pelo batismo? Que motivos secretos levariam o Deus que nos mandou pregar o Evangelho a todo o mundo impedir que as igrejas locais reformadas cresçam em um país livre, onde a pregação é feita em todo lugar e onde outras igrejas evangélicas estão crescendo vertiginosamente? Penso que o problema da naniquice não está em Deus, mas em nós. Ai de nós, porque além de não crescermos, ainda culpamos a Deus por isso!

  4. É verdade que muitas igrejas evangélicas crescem usando estratégias e metodologias questionáveis. Especialmente aquelas da teologia da prosperidade, que atraem as pessoas com promessas de bênçãos materiais e curas que não podem cumprir. Todavia, criticar o tamanho dessas igrejas e apontar seus erros teológicos e metodológicos não nos justifica por termos igrejas minúsculas. O que nos impede de termos igrejas grandes usando os métodos certos?

  5. O problema com muitos de nós, pastores conservadores e reformados, é que não estamos abertos para mudanças e adaptações, nos cultos, nas atitudes e posturas, por menores que sejam, que poderiam dar uma cara mais simpática à igreja. Ser simpático, acolhedor, convidativo, atraente, interessante não é pecado e nem vai contra as confissões reformadas e a tradição puritana. Igrejas sisudas com cultos enfadonhos nunca foram o ideal reformado de igreja. Pastores reformados deveriam estar pensando em como fazer sua igreja crescer, em vez de se resignarem e racionalizarem em suas mentes que ter uma igreja pequena é OK.

  6. Os crentes fiéis que estão nas igrejas já por muitos e muitos anos também precisam de alimento e pastoreio. Que Deus me livre de desprezá-los. Sei que Deus pode chamar alguém para o ministério de consolar e confortar crentes antigos durante anos a fio, igreja pequena após igreja pequena. Mas vejo essa vocação como apenas uma pequena parte do ministério pastoral, quase uma exceção. O que me assusta é ver que essa exceção tem se tornado praticamente a regra no arraial conservador e reformado. Será que Deus predestinou as igrejas conservadoras e reformadas para serem doutrinariamente corretas mas minúsculas, e as outras para crescerem apesar da teologia e metodologia erradas? Será que ele não tem vocacionado os conservadores para serem ganhadores de almas, evangelistas, plantadores de igrejas e expansores do Reino? Será que a vocação padrão do pastor conservador é de ministrar a igrejas minúsculas ano após ano, sem nunca conhecer períodos de refrigério e grande crescimento no número de membros? Será que quando um pastor, que era um evangelista ardente, se torna reformado, sempre vai virar teólogo e professor?

  7. O que mais me assusta é que tem pastores reformados que se orgulham de ter igrejas nanicas! "Muitos são chamados e poucos escolhidos", recitam com satisfação. Orgulham-se de serem do movimento do "esvaziamento bíblico", em vez do "avivamento bíblico"! Dizem: "os verdadeiros crentes são poucos. Prefiro uma igreja pequena de qualidade do que uma enorme cheia de gente interesseira e superficial". Bom, se eu tivesse que escolher entre as duas coisas talvez preferisse a pequena mesmo. Mas, por que tem que ser uma escolha? Não podemos ter igrejas reformadas cheias de gente que está ali pelos motivos certos? Eu sei que a qualidade sempre diminui a quantidade, mas será que tanto assim?

  8. Nós, pastores reformados em geral, temos a tendência de considerar a sã doutrina o foco mais importante da vida da Igreja. Portanto, muitos de nós passam seu ministério inteiro doutrinando e redoutrinando seu povo nos pontos fundamentais da doutrina cristã reformada. Pouca atenção dão para outros pontos igualmente importantes: espiritualidade bíblica, vida de oração, evangelismo consciente e determinado e planejado. Acho que uma coisa não exclui a outra. Aliás, creio que a doutrinação bíblica sempre será evangelística, e que o evangelismo bíblico é sempre doutrinário. "Pregação", disse Spurgeon, "é teologia saindo de lábios quentes".

  9. Alguns pastores reformados ficam tão presos pela doutrina da depravação total que não sabem mais como convidar pecadores a crerem em Jesus Cristo. Temos medo de parecer arminianos se ao final da mensagem convidarmos os pecadores a receberem a Cristo pela fé, ou mesmo se, durante a pregação, pressionarmos as pessoas a tomarem uma decisão. O fantasma de Finney, o presbiteriano criador do sistema de apelos, assombra e atormenta os pregadores reformados, que chegam ao final da mensagem e não sabem como aplicá-la aos pecadores presentes sem parecer que estão fazendo apelação. Ficam com receio de parecerem pentecostais se durante a pregação falarem de forma mais coloquial, falar de forma direta às pessoas, se emocionarem ou ficarem fervorosos, ou mesmo se gesticularem demais e andarem no púlpito. Acho que se os pregadores reformados parecessem mais humanos e naturais, mais à vontade nos púlpitos, despertariam maior interesse das pessoas.
  10. Creio, por fim, que ao reagirem contra os excessos do pentecostalismo quanto ao Espírito Santo, muitos reformados ficaram com receio de orar demais, se emocionar demais, jejuar, fazer noites de vigília, pregar nas praças e ruas e de pedirem a Deus que conceda um grande avivamento espiritual em suas igrejas. Só tem uma coisa da qual os reformados têm mais medo do que parecer arminianos, que é parecer pentecostais. Aí, jogamos fora não somente a água suja da banheira, mas menino e tudo! Acho que se houvesse mais oração e clamor a Deus por um legítimo despertamento espiritual, veríamos a diferença.
Pedi a alguns amigos meus, reformados, que criticassem esse post, antes de publicá-lo. Um deles me escreveu:
"Gostei mesmo. Me irrita o espírito de 'seita sitiada' tão comum em nosso meio [reformado]; a idéia de que a vocação da igreja é defender uma fortaleza. Somos rápidos para criticar, mas tão tardos em propor alternativas".
Acho que ele resumiu muito bem o ponto.
Não tenho respostas prontas nem soluções elaboradas para o nanismo eclesiástico. Todavia, creio que passa por um genuíno quebrantamento espiritual entre os pastores, que nos humilhe diante de Deus, nos leve a sondar nossa vida e ministério, a renovar nossos compromissos pastorais, a buscar a plenitude do Espírito Santo e a buscar a Sua glória acima de tudo.


Fonte: O tempora O Mores

sábado, 22 de outubro de 2016

70% DOS ESTUDANTES DEIXAM A IGREJA DURANTE A UNIVERSIDADE, DIZ PESQUISA


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A maioria dos jovens deixam de frequentar a igreja durante os anos de faculdade, de acordo com um estudo feito pela LifeWay Research. Cerca de 70% dos estudantes abandonam suas denominações, mas acabam retornando mais tarde.


Segundo a pesquisa, 70% dos jovens frequentavam a igreja durante o ensino médio, mas a abandonaram. Dos que saíram, quase dois terços retornaram mais e atualmente frequentam a igreja.

A frequência à igreja entre jovens e adolescentes é um fator de importância, segundo o estudo. Entre 16 e 17 anos, a queda na frequência é de 10%; entre 17 e 18 é de 14% e entre 18 e 19, a queda é de 13%.

Na maioria dos casos, as pesquisas mostram que os jovens não têm a intenção de deixar a igreja. Cerca de 80% dos jovens que abandonaram suas denominações durante a faculdade não tinham a pretensão. Muitos a deixaram por suas discordâncias com a educação teológica e encarar a igreja com menos importância em sua vida.

Estatisticamente, os pesquisadores encontraram quatro fatores determinam a permanência dos jovens na igreja:

- A igreja me ajuda a tomar algumas decisões no dia a dia (antes dos 18 anos).

- Meus pais são casados ​​e frequentam a igreja (antes dos 18 anos).

- As pregações do pastor são relevantes para a minha vida (antes dos 18 anos).

- Um adulto da igreja investe em mim pessoalmente e espiritualmente (entre 15 e 18 anos).

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