terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Vale tudo para evangelizar?

.


Por Richardson Gomes


Nesse final de semana li um pequeno texto de uma antiga edição da revista da Juerp,de um autor que não me lembro o nome, onde ele cita uma pesquisa que foi feita em várias igrejas com a pergunta: "Qual a principal missão da Igreja?" A resposta foi quase sempre a mesma: "Evangelizar". E provavelmente esta também foi sua resposta. Diante de tantas estratégias para se conseguir um número maior de pessoas, onde muitos têm promovido festas, baladas, bares, curas, milagres, prosperidades e acham que "tá tudo certo com Deus" se colocarem o nome "gospel" no final da frase, uma reflexão deve ser feita: A principal missão da Igreja é glorificar a Deus, inclusive quando se prega a Sua Palavra. 

Hoje, os jovens não se contentam mais com a Palavra de Deus, não estão mais satisfeitos com ela, querem algo a mais. E aí, vêm aqueles que querem atrair o povo fazendo todo tipo de coisa pra chamar a atenção dos jovens. Se vestem de Chapolin, fazem encenações, põem jogos de luz, fumaça, artistas e pronto, o show está feito. Estão deixando de lado o que é certo pra fazer o que dá certo. O que falta hoje é amor à Glória de Deus. O que estão fazendo é simplesmente um circo para entreter toda essa criançada.

Contudo, ainda insistem no erro de que "muitos estão sendo transformados". E esse é o grande problema. Resultados nunca foram e nunca serão prova que ministério A ou B é fiel ao Senhor. Testemunhos, mudanças de vida, milagres e até vidas salvas não garantem que uma pessoa é correta. Garantem que Deus é misericordioso e soberano para usar quem quer que seja para cumprir seus planos eternos.

Pense comigo num violão e num instrumentista. Ainda que o violão seja perfeito, não haverá música boa se o instrumentista não souber tocar. Mas todos nós sabemos o que um exímio instrumentista pode fazer com qualquer violão. Não há glória para o instrumento. A diferença está na habilidade do instrumentista. Eis algumas passagens na Bíblia que nos ensinam que ser usado não significa ser fiel: 

Nabucodonosor foi um homem perverso, mas Deus o chamou de “meu servo”: E agora eu entreguei todas estas terras na mão de Nabucodonosor, rei de babilônia, meu servo; e ainda até os animais do campo lhe dei, para que o sirvam. E todas as nações servirão a ele, e a seu filho, e ao filho de seu filho, até que também venha o tempo da sua própria terra, quando muitas nações e grandes reis se servirão dele.” (Jeremias 27:6-7)

Na parábola dos talentos, todos são chamados de servos. Tanto os bons e fiéis, como os maus e inúteis: Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens. E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe. [...] Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que granjeei com eles. E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. [...] Mas, chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei?” (Mateus 25: 14-15; 20-21; 24-26)

Até Satanás, quando Deus se irou contra Israel, foi usado por Ele para se levantar contra Seu povo. Até Satanás é servo de Deus. “Tornou a ira do SENHOR a acender-se contra os israelitas, e ele incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, levanta o censo de Israel e de Judá” (2Sm 24.1). “Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi a levantar o censo de Israel” (1Cr 21.1).

Reflita no que o apóstolo Paulo diz, quando ele e Apolo são vítimas de idolatria por parte de alguns de seus seguidores: Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.” (1 Coríntios 3:4-7)

Um ministério não é bom porque é usado por Deus, um ministério é usado por Deus porque Deus é bom. O problema é que quando as pessoas se prendem aos resultados para justificar seus ministérios, estão demonstrando que amam mais os resultados do que a Deus. Fidelidade é continuar temente a Deus, sem corromper-se, sem desviar-se do evangelho, sem deixar a centralidade de Cristo e a autoridade das Escrituras, mesmo que não haja nenhum resultado. Nem mesmo o apóstolo Paulo usou os resultados para defender-se. Pelo contrário, ele disse: “Pois, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, porque me é imposta essa obrigação” (1 Co 9:16). Peço-lhe que reflita nisso, com temor e tremor, e antes de achar que uma pessoa está no caminho certo somente porque é usada por Deus, lembrem-se: Deus usou uma mula.

Se você sabe que tem ouro nas mãos, você entende que não precisa de nenhum enfeite para valorizá-lo. Preguemos somente as Escrituras. Nos voltemos somente para Cristo. Nos rendamos somente à Graça de Deus. Glorifiquemos somente à Deus. Esta é a nossa missão: Proclamar a Glória de Cristo. Enquanto você oferecer doces para que as pessoas venham a Cristo, elas serão apenas cheias de doces e vazias de Cristo. Que em meio à tanta falta de zelo por Deus, nós possamos nos revestir da Sua Palavra, para que não caiamos nos mesmos erros. Que Deus tenha misericórdia de nossas vidas e nos preserve até o fim.

***
Sobre o autor: Richardson Gomes é bacharelando no Seminário Batista do Ceará. Membro da Igreja Batista Missionária em Jd. América - Fortaleza/CE.
Divulgação: Bereianos
.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Natal e o nome de Jesus

.


Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes


Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.” Mateus 1:21

De acordo com o relato acima, do Evangelho de Mateus, o nome de Jesus Cristo foi dado pelo anjo Gabriel, quando anunciou seu nascimento a José, desposado com a virgem Maria. Gabriel não somente disse que Maria estava grávida pelo Espírito Santo de Deus, como orientou José a chamar o filho de “Jesus”.

A razão para este nome, cuja raiz em hebraico significa “salvar”, é que aquele menino, filho de Maria e Filho de Deus, haveria de salvar o seu povo dos seus pecados, conforme anunciou o anjo.

Não precisamos ir mais longe do que isso para entender o significado do Natal. Está tudo no nome do Menino. No nome dele, Jesus, temos a razão para seu nascimento, a sua identidade e a missão de sua vida. Em outras palavras, aquilo que o Natal realmente representa.

A razão do seu nascimento é simplesmente esta, que somos pecadores, estamos perdidos, não podemos resolver este problema por nós mesmos e precisamos desesperadamente de um Salvador, alguém que nos livre das consequências passadas, presentes e futuras dos nossos erros. Deus atendeu nossa necessidade escolhendo um homem como nós para ser nosso representante e Salvador, alguém que partilhasse da nossa humanidade e fosse um de nós. Esse homem nasceu há dois mil anos naquela manjedoura da cidade de Belém, num país remoto, lá no Antigo Oriente. E ganhou o nome de Jesus por este motivo.

Sua missão era assumir nosso lugar como nosso representante diante de Deus e sofrer todas as consequências de nossos pecados, erros, iniquidades, desvios e desobediências. Em vez de castigar-nos com a morte eterna, como merecemos, Deus faria com que ele a experimentasse em nosso lugar, que ele experimentasse toda dor e sofrimento consequentes dos nossos pecados. Essa missão foi revelada logo ao nascer, pelo anjo Gabriel, ao recitar seu nome a José: Jesus.

Para nos salvar de nossos pecados, ele teria de sofrer e morrer, ser sepultado, ficar sob o domínio da morte e, desta forma, pagar inteiramente nossa dívida para com Deus. Somente assim poderíamos ser salvos das consequências eternas de nossa desobediência. Mas, para que os benefícios de seu sofrimento e de sua morte pudessem ser transferidos a outros seres humanos, ele não poderia ter pecado ou culpa, pois, senão, ao morrer, estaria simplesmente recebendo o salário do seu próprio pecado. Mas, se ele fosse inocente, sem pecado e perfeito, sua morte teria valor para os pecadores. Por este motivo, ele foi gerado pelo Espírito Santo no ventre de Maria, ainda virgem, Filho de Deus, sem pecado. O Salvador tinha que ser Deus e homem ao mesmo tempo.

Quando um colunista, que objeta ao nascimento sobrenatural de Jesus, escreveu recentemente em um jornal de grande circulação de São Paulo que virgens não dão à luz todos os dias, ele estava mais certo do que pensava. Esse é o único caso. Jesus é único. Deus e homem numa só pessoa. Nem antes e nem depois dele virgens engravidam sobrenaturalmente. Da mesma forma que Deus não cria mundos todos os dias, também não gera salvadores de virgens cotidianamente. Pois nos basta este.

O famoso teólogo suíço Emil Brunner disse que todo homem tem um problema no passado, no presente e no futuro. No passado, culpa. No presente, medo. E no futuro, a morte. Jesus nos salva de todas estas consequências do pecado: nos perdoa da culpa de nossos erros passados, nos livra no presente do medo ao andar conosco e nos livrará da morte, pois ressurgiu dos mortos e vive à direita de Deus. Um dia haverá de nos ressuscitar.

É isto que o Natal representa. É por isto que os cristãos o celebram com tanta gratidão e alegria. Nasceu o Salvador. Nasceu Jesus! Como este anúncio alegra o coração daqueles que têm culpa, sentem medo e sabem que vão morrer!

***
Fonte: PIPG - Boletim Semanal, Ano XXIII - Nº 101 - 7/12/2014

Quanto custa ser um Cristão?

.

Por Leandro Antonio de Lima

Quanto custa ser um cristão hoje? Em muitos casos pode ser bastante caro. E não estamos falando dos custos do discipulado conforme Jesus descreveu, ou seja, sobre a necessidade de deixar para trás a velha vida, de amar menos os pais ou os amigos, de tomar a cruz e seguir Jesus pelo caminho. Estamos falando de dinheiro mesmo. Custa caro. Em muitas igrejas, em todos os cultos, o momento da entrega dos dízimos e ofertas ocupa uma parcela considerável, com todo tipo de testemunhos sobre as vantagens de fazer grandes ofertas e até apelações sobre invocação de maldições para aqueles que se recusarem a ser fiéis. Há também todo tipo de objetos “abençoados” que se forem adquiridos trarão bênçãos especiais sobre os possuidores, sem falar em todos os “produtos” gospel, como CDs, camisetas, chaveiros, livros, etc. Toda essa apelação tem um argumento muito simples: quanto mais você contribuir com a obra de Deus, mais Deus o abençoará financeiramente.

Jesus ensinava seus discípulos a não se apegarem aos bens materiais e a estarem preparados para enfrentar sofrimentos e privações por causa dele, mas hoje os pregadores proclamam dos púlpitos que os crentes serão prósperos, que terão todos os seus sonhos realizados, que desfrutarão de todo o conforto que esta terra pode oferecer. Hoje os pregadores resumem todo o sofrimento a que Jesus se submeteu desde seu nascimento até à sua terrível morte por crucificação como sendo para fazê-los “felizes”, “prósperos” e “saudáveis”. Esses mesmos pregadores ensinam os crentes a fazerem negócios com Deus, a provar a fidelidade de Deus. O método geralmente é o de depositar uma gorda quantia na conta da igreja e esperar que Deus irá recompensarem dobro ou triplo. Na verdade isto, além de ser uma excelente técnica de arrecadação, é também um excelente método de fazer discípulos de Mamon. Este tipo de pregação que se torna mais comum a cada dia tem criado “crentes” obcecados por dinheiro e felicidade. O apelo que o dinheiro produz dentro de nós é muito grande. Como diz John White, “nenhum cristão diria que o dinheiro é Deus; mesmo assim, creio que carregamos a culpa de adorá-lo” ¹. Ainda mais, quando a pregação o exalta tanto.

Quase sempre quando se fala em contribuição na Igreja, um texto monopoliza as exposições: Malaquias capítulo 3. O famoso e quase onipresente texto do momento da entrega dos dízimos e ofertas descreve uma situação peculiar do povo de Israel. Com as seguintes palavras Deus se dirigiu ao seu povo: “
Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos. Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos e não os guardastes; tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós outros, diz o SENHOR dos Exércitos; mas vós dizeis: Em que havemos de tornar? Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida. Por vossa causa, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos. Todas as nações vos chamarão felizes, porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o SENHOR dos Exércitos” (Ml 3.6-12).

Esse é um texto riquíssimo em que Deus se manifestou ao povo de Israel em sua imensa misericórdia, pois mesmo o povo estando em pecado, Deus não os consumiu. Por causa de sua imutabilidade, Deus continuava amando e tratando com o povo desobediente. Mas em que eles estavam sendo desobedientes? Deus os havia feito voltar do exílio da Babilônia. Era o tempo da reconstrução da nação e do serviço religioso. Mas, o povo estava mais preocupado em reconstruir suas próprias casas e seu conforto familiar. Ao invés de cumprir aquilo que a Lei ordenava a respeito das ofertas e dos sacrifícios, eles estavam manipulando essas coisas, sacrificando animais defeituosos (Ml 1.6-8) e claramente, retendo aquilo que deveria ser entregue na casa de Deus. Por causa disso, Deus reteve sua bênção e não abençoou seus campos, de modo que a produção deles estava muito baixa. Mesmo assim, eles não percebiam que era a mão de Deus. Então, Deus os chamou ao arrependimento e disse que fizessem uma prova. Deus mandou que eles entregassem corretamente os dízimos e ofertas e assim os abençoaria novamente.

A pergunta que precisa ser feita é: esse texto pode ser aplicado às igrejas hoje? Primeiramente precisamos dizer que tudo o que foi registrado na Bíblia, como Paulo disse, foi registrado para nossa edificação e advertência (1Co 10.11). Sendo assim, tudo o que está escrito na Bíblia é útil para nós. Mas isso não significa que tudo possa ser aplicado diretamente à nossa situação em todos os seus detalhes. Precisamos considerar os contextos de cada escrito. A necessidade de entregar dízimos e ofertas para a casa de Deus não é algo que se possa discutir. A questão é: qual é a motivação que um crente deve ter ao fazer isso? Nessa passagem, Deus não está mandando todo mundo fazer “prova dele” ao entregar os dízimos e ofertas. Aquilo foi uma questão especial para aquele povo que não estava entregando e também não estava percebendo que por causa disso estava sendo amaldiçoado por Deus. Deus propôs uma prova justamente para que eles percebessem que a infidelidade era a causa da retenção da bênção.

A motivação correta para alguém entregar seus dízimos e ofertas não pode ser o anseio de receber mais. Todo anseio exagerado por lucro tende a ser pecaminoso. Seria totalmente nefasto alimentarmos um sentimento errado diante de Deus ao entregarmos nossos dízimos e ofertas para ele. Então que sentimento devemos nutrir? Primeiramente o de obediência. Se somos chamados a fazer isso, então, cabe a nós obediência. Mas é preciso ir além. O verdadeiro sentimento é o de gratidão. Na verdade, o que faltava ao povo de Judá era justamente gratidão. Deus não os havia libertado do cativeiro da Babilônia? Não os havia devolvido a terra e o próprio templo? Mas eles não percebiam essas coisas.

Paulo em seu tempo já falou de homens que misturavam fé e lucro. Ele alertou Timóteo a respeito de homens “cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5). Evidentemente estes homens estavam mais interessados nos ganhos financeiros que podem ser obtidos através da religião, do que em relação ao compromisso com Deus que se requer para uma vida piedosa. Eles pensavam que a piedade podia ser fonte de lucros, e isto também se parece com as pessoas dos dias de hoje que enfrentam todo tipo de “rituais evangélicos” para obterem prosperidade. Paulo entende que a piedade é fonte de lucro sim, mas de outro tipo de lucro, aquele que vem com o contentamento (1Tm 6.6). A lógica de Paulo é muito parecida com a de Jó:
“Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes”(1Tm 6.7-8).
 
O contentamento é a grande virtude do cristão. É preciso entender o quanto a tentação de obter riquezas pode causar mal à vida do cristão. Paulo diz:
Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1Tm 6.9-10).
Estes versos deveriam ser afixados em todos os pára-brisas dos carros dos crentes, pois é uma palavra extremamente importante para os nossos dias. Nos alerta sobre coisas terríveis que podem sobrevir àqueles que se enveredam pelo caminho da cobiça e da ganância. É muito importante entender que Paulo está falando de cristãos neste capítulo. Ele percebe claramente que muitos estão tentando servir a Deus e a Mamon conjuntamente, mas ele sabe que afinal, se continuarem nesta prática, servirão apenas a Mamon. Tentação e ciladas sempre estão no caminho de quem tem o desejo de enriquecer. Especialmente o auto-engano se apresenta como uma cilada difícil de evitar. Quem se torna avarento, dificilmente percebe sua própria avareza, pois sempre encontrará álibis para justificá-la. Não é sem motivo que Paulo diz que o amor pelo dinheiro conduz as pessoas a todo tipo de pecados, pois como diz Calvino:
não há males que este não produz farta e diariamente: incontáveis fraudes, falsidades, perjúrio, impostura, extorsão, crueldade, corrupção judicial, contendas, ódio, envenenamentos, homicídios e toda sorte de crimes”²
Calvino está relatando o que era comum em seus dias no século 16, mas parece estar falando de coisas do noticiário de hoje. O maior de todos os perigos e que é também o maior de todos os feitos que Mamon consegue realizar é desviar as pessoas da fé. A advertência de Paulo, portanto, é premente. Amar ao dinheiro desvia as pessoas da fé. Mas é curioso que hoje tantos pregadores dizem que é preciso ter fé para conseguir mais dinheiro.


Notas:
1 John White, Dinheiro não é Deus, p. 14.
2 João Calvino, As Pastorais, p. 170. 1b39


Autor: Leandro Antonio de Lima
Fonte: [ Igreja Presbiteriana de Stº. Amaro 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A igreja está parcialmente adormecida, diz pastor Ronaldo Lidório

O Brasil poderia ter 30 mil missionários e tem apenas 6 mil
por Leiliane Roberta Lopes


A igreja está parcialmente adormecida, diz pastor Ronaldo Lidório

Em entrevista ao programa Na Missão, do canal Up TV, o pastor Ronaldo Lidório falou sobre seu ministério missionário. Pastor presbiteriano, Lidório desenvolveu trabalhos em regiões consideradas áridas, nomenclatura que não se refere ao clima, e sim a falta de frutificação dos trabalhos.
As missões em regiões áridas acontecem nos locais onde a Palavra de Deus ainda não chegou ou nos locais onde já houve evangelização, mas nenhuma igreja foi estabelecida.
“Há regiões onde o evangelho chegou há 10, 20, 30 anos e não há ainda nenhuma igreja do Senhor Jesus naquele lugar”, disse. Lidório tem feito treinamento para missionários que atuam nessas localidades para que essa situação seja mudada, acreditando ser este um dos maiores desafios da Igreja em todo o mundo.
Por falar em desafios, o pastor foi questionado sobre o jargão de “despertamento” para a Igreja Brasileira e respondeu que ela está “parcialmente dormindo”. Na visão do de Ronaldo Lidório, apesar dos avanços de trabalho missionários, há um déficit de ações voltadas para alcançar mais pessoas com a mensagem do evangelho.
“O número de iniciativas missionárias está muito aquém do potencial da Igreja brasileira”, disse ele. O Brasil tem cerca de 6 mil missionários, mas pelo tamanho da Igreja Brasileira este número poderia ser de 30 mil.
A falta de missionários pode estar ligada à forma como a sociedade tem influenciado as igrejas, fazendo com que as pessoas busquem bens materiais e realizações pessoais que vão contra a missão. “Eu creio que a igreja reflete a própria influência da sociedade sobre o crente de maneira ampla, hoje a sociedade leva cada um dos seus participantes a olhar mais para si mesmo de uma maneira mais hedônica”, afirmou.
Assista:



Fonte:gospelprime

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Filha de Bebeto, modelo Stephannie Oliveira conta porque abandonou a carreira e se tornou missionária em um lixão; Assista

Por Tiago Chagas

A filha do ex-jogador Bebeto (tetracampeão do mundo pela Seleção Brasileira em 1994) deixou a carreira nas passarelas para se dedicar a um trabalho missionário. Stephannie Oliveira tinha uma carreira promissora como modelo, mas resolveu se dedicar ao trabalho de ajuda aos mais necessitados na periferia do Rio de Janeiro.
Stephannie foi entrevistada no programa Balaio, da Rede Super, e contou que encontrou a vocação para o trabalho missionário ao fazer uma reflexão dos Evangelhos: “Ao ler a Bíblia percebia que Jesus estava sempre com os pobres, então, notei que tinha alguma coisa errada em minha vida”, contou.
Ao menos três vezes por semana Stephannie vai a uma comunidade em Duque de Caxias, na baixada fluminense, e se dedica a oferecer ajuda aos moradores do Jardim Gramacho, localizado no terreno onde antes funcionava o maior aterro de lixo da América Latina.
“Eu falava: Deus, eu preciso que você me leve para o lugar que você quer que eu fique e que eu vou fazer a diferença”, contou a jovem missionária.
Antes de se dedicar ao trabalho nas comunidades do Rio de Janeiro, Stephannie se arriscou em missões mais distantes do lar: “Estive na África, na Índia e passei um mês e meio na Amazônia. Essas experiências me transformaram, e minha visão da vida mudou completamente”, contou a ex-modelo numa entrevista dada ao Fox Sports há cinco meses.
Bebeto disse à época que ficou chocado com a decisão da filha: “No auge da carreira [de modelo], ela chegou em mim e disse: ‘pai, não é isso que eu quero para minha vida, Deus tem outro plano na minha vida’. Eu fico preocupadíssimo toda vez que ela viaja, eu fico com o coração apertado, mas quando eu vou orar, pedir a Deus, eu sinto a presença de Deus na vida dela muito forte e aí me dá um conforto no coração”, revelou o ex-jogador na mesma entrevista.
Assista a íntegra da entrevista de Stephannie Oliveira ao Balaio, da Rede Super:
Assista a íntegra da entrevista de Stephannie Oliveira ao Balaio, da Rede Super:
Fonte:gospelmais


É pecado jurar?

.


Por Frank Brito


Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao Senhor. Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus; Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei; Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna”. (Mateus 5:33-37)

Alguns cristãos acreditam, com base nestas palavras de Cristo, que todo juramento é pecado e que não podemos jurar em quaisquer circunstâncias. Todavia, uma análise cuidadosa do que Cristo disse demonstra que esta interpretação é errada e que, em vez de proibir toda forma de juramento, Cristo, na verdade, ordenou e exigiu os juramentos lícitos, em conformidade com o terceiro mandamento da Lei de Deus, “Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão”.

Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas

No princípio de Seu sermão, o Senhor deixou muito claro que em nenhuma parte de Seu sermão Ele estaria ab-rogando a Lei ou os Profetas: “Não cuideis que vim destruir a Lei ou os Profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir… Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mt 5:20). No Sermão do Monte, então, Cristo não ab-rogou os mandamentos anteriormente dados por Seu Pai, mas os confirmou e defendeu contra a corrupção dos escribas e fariseus. Como Ele falou em outra ocasião contra os escribas e fariseus: “Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição? (…) Invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus” (Mt 15:6). Sendo assim, os comentários de Cristo no decorrer do sermão precisam ser entendidos como esclarecimentos sobre o verdadeiro sentido dos mandamentos contra a má interpretação dos escribas e fariseus, pois “querendo ser mestres da Lei, não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (I Tm 1:7).

O templo e o ouro do templo

No vigésimo terceiro capítulo do Evangelho de S. Mateus, lemos sobre o último confronto público entre Cristo e os escribas e fariseus. No decorrer deste capítulo, Jesus, diante de uma “multidão” (v. 1), chama os escribas e fariseus de “hipócritas” sete vezes (v. 13, 14, 15, 23, 25, 27, 29), além de “condutores cegos” (v. 16), “insensatos” (v. 17), “serpentes” e “raças de víboras” (v. 33). Cada vez, Ele fazia alguma crítica por algum mandamento de Deus que eles violavam e distorciam. Algumas das críticas que Jesus faz nesse capítulo são parecidas com as que Ele faz no Sermão do Monte, como em relação ao juramento:

Ai de vós, condutores cegos! pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro? E aquele que jurar pelo altar isso nada é; mas aquele que jurar pela oferta que está sobre o altar, esse é devedor. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar, que santifica a oferta?” (Mateus 23:16-19)

Aqui nós vemos que os escribas e fariseus, provavelmente com base em tradições anteriores que recebiam dos antigos (Mt 15:6), haviam desenvolvido um sistema de juramentos em que se um juramento fosse feito de determinadas maneiras, ele não precisava ser considerado como válido e obrigatório. Se alguém dissesse, “eu juro pelo ouro do templo de Jerusalém”, havia a obrigação de cumprir o juramento, mas se dissesse, “eu juro pelo templo de Jerusalém”, o juramento poderia ser quebrado de consciência limpa. Nós temos algo parecido em nossa própria cultura. Fazer uma promessa de dedos cruzados significa que não existe a obrigação de cumprir a promessa. A diferença é que, em nosso caso, isso é normalmente feito em forma de brincadeira. No caso dos escribas e fariseus, havia um jogo de palavras que era levado a sério como forma de anular juramentos. Cristo os criticou duramente por isso e mostrou que o sistema deles era internamente contraditório. Se o templo era mais importante do que o ouro do templo, como um juramento pelo templo poderia ser considerado inválido enquanto um juramento pelo ouro do templo seria válido? “Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro?” (v. 17)

Além disso, é importante observar que os eventos narrados em Mateus 23 aconteceram no templo (Mt 24:1). Por que isso é importante? Porque no último livro do Antigo Testamento, o livro do Profeta Malaquias, nós encontramos uma profecia sobre esta chegada de Cristo ao templo:
Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais; o Mensageiro do pacto, a quem vós desejais, eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem subsistirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros (…) E chegar-me-ei a vós para juízo; e serei uma testemunha veloz contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que juram falsamente, contra os que defraudam o diarista em seu salário, e a viúva, e o órfão, e que pervertem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o SENHOR dos Exércitos”. (Malaquias 3:1-2, 5)

O “mensageiro, que prepará o caminho diante de mim” (v. 1) foi João Batista, como o Evangelho de Marcos deixa claro:
Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus; Como está escrito nos profetas: Eis que eu envio o meu mensageiro ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti. Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas. Apareceu João batizando no deserto, e pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados”. (Marcos 1:1-4)

E o segundo “mensageiro” mencionado por Malaquias, “o Mensageiro do pacto” (v. 1) foi o próprio Senhor, que de repente veio ao templo, para declarar juízo de Deus:
E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”. (Mateus 21:12-13)

E como o profeta Malaquias havia predito, Jesus Cristo, o Mensageiro do pacto, foi uma testemunha veloz “contra os que profetizam falsamente” (v. 5).

O que isso tudo mostra é que Cristo não era contra os juramentos legítimos, mas somente contra os falsos, como os escribas e fariseus, “condutores cegos” (Mt 23:16), ensinavam. Pelo contrário, a crítica de Cristo contra o sistema de falsos juramentos era justamente porque Ele ama e requer o juramento genuínos e sinceros!

Sim, sim; não, não

Com base nisso, podemos entender melhor do que Cristo está falando no Sermão do Monte. Quando Cristo diz, “nem pelo céu… nem pela terra… nem por Jerusalém… nem jurarás pela tua cabeça” (Mt 5:34-35), Ele não está falando de juramentos que eram lícitos no Antigo Testamento, mas que agora, na nova dispensação, Ele estava proibindo. Como já foi demonstrado, os comentários de Cristo no decorrer do Sermão do Monte precisam ser entendidos como esclarecimentos sobre o verdadeiro sentido dos mandamentos contra a má interpretação dos escribas e fariseus, exatamente como Ele fez no templo em Mateus 23. Pelo céu, pela terra, por Jerusalém, pela própria cabeça, eram as formas ilícitas de juramento que os escribas e fariseus praticavam e ensinavam, não formas de juramento que Deus havia ordenado. Cristo não estava combatendo os mandamentos de Deus sobre o juramento, mas a corrupção dos escribas e fariseus. Assim como em Mateus 23, o que Ele condenou no Sermão do Monte eram estas formas de ilícitas de juramento que os escribas e fariseus haviam desenvolvido com base na tradição dos antigos.

Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis” (Mt 5:34), então, não trata-se uma proibição absoluta contra todo e qualquer juramento, mas somente com os tipos de juramentos que Ele lista logo em seguida, pelo céu, pela terra, por Jerusalém, pela própria cabeça, etc. Como Mateus 23 mostra, essas formas de juramentos faziam parte de um sistema de falsos juramentos desenvolvido pelos escribas e fariseus. A Lei de Deus nunca mandou jurar por qualquer uma dessas coisas, mas somente pelo nome do próprio Deus:
O SENHOR teu Deus temerás e a ele servirás, e pelo seu nome jurarás”. (Dt 6:13)
Não furtareis, nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo; nem jurareis falso pelo meu nome, pois profanarás o nome do teu Deus. Eu sou o SENHOR”. (Levítico 19:11-12)

Como ensina o Catecismo de Heidelberg:
102. Podemos jurar também pelos santos ou por outras criaturas?
R. Não, porque o juramento legítimo é uma invocação a Deus, para que Ele, o único que conhece os corações, testemunhe a verdade e nos castigue, se jurarmos falsamente. (1) Tal honra não pertence a criatura alguma (2).
(1) Rm 9:1; 2Co 1:23. (2) Mt 5:34-36; Tg 5:12.

A Lei de Deus manda jurar pelo nome de Deus e proíbe de jurar falsamente pelo nome dEle. Os escribas e fariseus, então, para não ter que jurar falsamente pelo nome de Deus, juravam por outras coisas. Mas com isso eles acabavam pecando duplamente. Primeiro, porque a Lei de Deus não autoriza qualquer outra forma de juramento, somente no nome de Deus. Segundo porque, o mesmo lugar que proíbe o falso juramento diz também, “nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo”, que é o que eles faziam com estes juramentos alternativos que eles inventavam. Então, eles não usavam o nome de Deus para evitar pecar em uma coisa, mas acabavam duplicando a culpa, se enforcando com a própria corda.

Além disso, é importante entender que Cristo não disse que “sim” e “não” sejam as únicas palavras que podemos usar em nosso vocabulário. O que ele disse é que o nosso falar deve ser “Sim, Sim; Não, não”. O que isso significa não é que só podemos usar essas palavras, mas que nosso linguajar, especialmente nossos juramentos, devem ser verdadeiros. Os falsos juramentos, sendo falsos, não eram “Sim, sim; Não, não”, mas eram dúbios, sem clareza, mentirosos. O verdadeiro juramento deve ser “Sim, Sim; Não, não” porque ele deve ser prestado, como ensina a Confissão de Westminster, “conforme o sentido claro e óbvio das palavras, sem equívoco ou restrição mental (CFW 22:4). Por isso, Paulo escreveu aos Coríntios:
Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, que entre vós foi pregado por nós, isto é, por mim, Silvano e Timóteo, não foi sim e não; mas nele houve sim. Porque todas quantas promessas há de Deus, são nele sim, e por ele o Amém, para glória de Deus por nós. Mas o que nos confirma convosco em Cristo, e o que nos ungiu, é Deus, O qual também nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações”. (II Coríntios 1:19-22)

Aqui é importante observar que Paulo está falando das promessas de Deus. É o conceito de juramento. Deus nos fez promessas por juramento, como Paulo explicou em Sua carta aos Hebreus:
Pois os homens juram por aquele que é maior do que eles, e o juramento para confirmação é, para eles, o fim de toda contenda. Assim, querendo Deus mostrar mais abundantemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu conselho, se interpôs com juramento; para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos poderosa consolação, nós, os que nos refugiamos em lançar mão da esperança proposta; a qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até o interior do véu; aonde Jesus, como precursor, entrou por nós, feito sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”. (Hebreus 6:16-20)

É por isso que, aos Coríntios, Paulo escreveu que “o Filho de Deus, Jesus Cristo, que entre vós foi pregado por nós, isto é, por mim, Silvano e Timóteo, não foi sim e não; mas nele houve sim” (I Co 1:19). “Sim e não” seria uma promessa e juramento duvidosa, como juravam os escribas e fariseus. O verdadeiro juramento, como o que o próprio Deus presta, é segundo “a imutabilidade do seu conselho” (Hb 6:17), pois “é impossível que Deus minta” (Hb 6:18) e por isso, “não foi sim e não; mas nele houve sim” (I Co 1:19). É exatamente sobre isso que que Cristo fala no Sermão do Monte, “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não” (Mt 5:37). Se é sim, é sim. Se é não é não. O que passar disso, “sim e não”, é dubiedade e, portanto, “vem do Maligno” (Mt 5:37).

Toda língua jurará

Segundo o profeta Isaías, uma das característica dos que são salvos por Deus é que eles juram, em verdade, pelo nome de Deus:
Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado, já saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás; que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua. (Isaías 45:22-23)
Assim que aquele que se bendisser na terra, se bendirá no Deus da verdade; e aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus da verdade; porque já estão esquecidas as angústias passadas, e estão escondidas dos meus olhos”. (Isaías 65:16)

Este verso de Isaías 45 é citado duas vezes pelo Apóstolo Paulo no Novo Testamento:
Porque está escrito: Como eu vivo, diz o Senhor, que todo o joelho se dobrará a mim, E toda a língua confessará a Deus. (Romanos 14:11)
E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”. (Filipenses 2:8-11)

Aqui nós vemos que “confessar a Deus” ou “confessar que Jesus Cristo é o Senhor” é tratado por Paulo como sendo equivalente ao juramento por Deus. Em outras palavras, “confessar que Jesus Cristo é o Senhor” significa é uma promessa feita, sob juramento, de ser Seu servo, tendo-O como Senhor. Sendo assim, se todo juramento fosse proibido no Novo Testamento, Paulo não poderia aplicar o princípio de Isaías 45 ao que acontece na conversão do homem ao Evangelho.

O juramento, então, longe de ser proibido pelo Novo Testamento, é reafirmado, em Seu sentido original, contrário a corrupção dos escribas e fariseus. Como diz o Salmo:
Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam. Porque ele a fundou sobre os mares, e a firmou sobre os rios. Quem subirá ao monte do SENHOR, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a bênção do SENHOR e a justiça do Deus da sua salvação”. (Sl 24:1-5)

***
Fonte: Resistir e Construir
.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Vivendo “Já” com Vistas ao “Ainda Não”

.


Por Heber de Campos Jr.


O cenário brasileiro tem experimentado um influxo impressionante de livros que abordam o tema da cosmovisão. Simplificando um assunto bastante complexo, cosmovisão diz respeito a pressuposições que todo o ser humano possui (esteja ele consciente ou não) que residem em nosso mais interior (coração) formando assim uma orientação de vida, um comprometimento com verdades pelas quais você vive e morre. Trata-se de um conjunto de motivações, crenças, certezas, valores e ideais que formam o instrumento interpretativo da realidade, além de ser a base de nossas ações e decisões.

Devido à tradição reformada refletir sobre esse assunto há mais tempo do que qualquer outro segmento da cristandade (com nomes como James Orr, Abraham Kuyper, Herman Dooyeweerd, Francis Schaeffer, etc.), os autores modernos tratam de certos marcos históricos do cristianismo como fundamentos da cosmovisão reformada: criação, queda e redenção. Esse tripé tem sido uma das características mais comuns entre os livros que tratam de cosmovisão. Não que outros cristãos não afirmem tais acontecimentos na história da humanidade, mas são os reformados que costumam enfatizar com maior frequência a importância de considerar a praticidade desses eventos para o nosso dia a dia.

Esses pilares históricos não devem ser vistos como meros conceitos ou categorias intelectuais. Não se tratam de proposições atemporais. A cosmovisão é uma história, a história da humanidade, a nossa história. Esse elemento existencial não pode ser esquecido no estudo de cosmovisões. Sendo assim, é quando encarnamos as verdades dessa história, e vivemos conscientes dessa história, que nossa cosmovisão se coaduna com a revelação bíblica. Viver à luz da criação significa, por exemplo, relacionar-se com as pessoas mais complicadas à luz do fato de ainda serem imagem e semelhança de Deus. Viver à luz da queda implica em não nutrir sonhos utópicos resultantes do esforço humano para construir uma sociedade melhor. Viver à luz da redenção envolve a noção de uma redenção tão abrangente que afeta pessoas não só em sua espiritualidade, mas em todas as áreas de sua vida, inclusive o seu habitat.

Na área da redenção é que calvinistas têm o perigo de comunicar uma mensagem indevida. Se por um lado, atacam corretamente o pessimismo do mundo evangélico em não integrar a fé às várias áreas de nossa atuação secular, por outro lado, correm o risco de criarem uma falsa expectativa de nossa atuação no reino de Deus. Desde a célebre obra de H. Richard Niebuhr, Cristo e Cultura, os calvinistas têm sido descritos como possuindo uma visão transformacionista da cultura. De acordo com Niebuhr, os calvinistas não são essencialmente contra a cultura, nem a recebem indiscriminadamente, não colocam a fé em um patamar acima da vida comum, nem mantém a fé e a vida comum em constante tensão. Eles se colocam como agentes transformadores da cultura. Autores modernos têm perpetuado essa leitura de Niebuhr e falado da importância de uma fé holítisca no engajamento cultural. Os proponentes dessa visão falam de ir além de envolvimento cultural. [1] Os cristãos devem trazer os efeitos da obra redentora de Cristo para as várias esferas da vida.

Precisamos de cautela para não sermos nem pessimistas demais, nem otimistas demais. Aos cristãos cabe o redirecionamento da cultura numa direção redentiva que a restaure, o máximo possível, dos efeitos do pecado. Isto não significa que nossa postura é de “transformação”, uma palavra otimista demais. Nossa atitude é de Reforma, participando dos movimentos de Deus em restaurar certas áreas da sociedade inclinada ao mal. Podemos ser instrumentos de Deus para frear a derrocada moral e espiritual como foram os reis de Judá que operaram Reforma após períodos de grande incredulidade e vileza (Ex: Asa, Ezequias, Josias). A Reforma Protestante do século 16, o Grande Despertamento na América colonial e Inglaterra do século 18, foram movimentos em que Deus freou a decadência de um povo e permitiu que certas áreas da sociedade fossem reformuladas segundo o padrão bíblico. A linguagem de Reforma impede que sejamos pessimistas quanto ao que Deus pode fazer neste mundo antes da segunda vinda de Jesus.

Todavia, para que não sejamos otimistas demais, faz-se necessário acrescentar ao tripé reformado um quarto pilar: o da consumação. Tal inclusão ajuda-nos a separar o “já” e o “ainda-não” da história da redenção. Isto é, a consumação é o completar da redenção, mas não é para esta vida e não é operada pela igreja. Se, por um lado, somos e devemos ser “sal da terra” (Mt 5.13) no sentido de contribuir para o retardamento da putrefação de nossa sociedade – esse aspecto está de acordo com a visão transformacionista –, por outro lado, a parábola do joio (Mt 13.24-30, 36-43) é uma demonstração de que a construção de uma sociedade com a consequente retirada do mal no mundo será uma realização de Deus por intermédio dos seus anjos (isto é, sem a participação do ser humano) e não ocorrerá nesta vida (como é o anseio de muitos seres humanos).

David VanDrunnen faz uma ressalva à visão transformacionista de representantes modernos como Henry R. Van Til (O Conceito Calvinista de Cultura), Cornelius Plantinga (O Crente no Mundo de Deus) e Albert M. Wolters (A Criação Restaurada). Ele chama atenção para um elemento preocupante da escatologia dos transformacionistas:
“Os autores transformacionistas tendem a colocar muita ênfase no caráter já manifesto do reino escatológico. Embora eles obviamente reconheçam que Cristo está voltando e que somente então é que todas as coisas serão perfeitamente restauradas, é curioso que a sua comum divisão tripartida da história em criação, queda, e redenção não inclua a quarta categoria de consumação. Lendo nas entrelinhas, eu sugiro que o relacionamento muito solto entre a transformação da cultura agora e a transformação final a ser realizada no retorno de Cristo contribua substancialmente para a ausência dessa quarta categoria… [Para eles] A obra de trazer a realização perfeita do reino escatológico na presente terra começa já nos esforços culturais do cristão aqui e agora. Consumação parece ser o clímax de um processo de redenção que já está a caminho ao invés de um evento único e radical na história.” [2]

VanDrunnen acertadamente nos lembra do aspecto radical e único da consumação. Cristo não irá só completar o que começou. Ele irá mudar tudo radicalmente. Após o amor esfriar, a apostasia se alastrar, e este mundo ser permeado por um governo maligno, Deus irá eliminar todo o mal com fogo (2 Pe 3.10-13) e para o fogo (Ap 21.10) a fim de criar Novo Céu e Nova Terra.

A ênfase no envolvimento com a cultura, por parte dos transformacionistas, é positiva. Afinal, não fomos remidos para vivermos em um gueto cristão, nos relacionando somente com crentes, realizando tarefas eclesiásticas, criando uma cultura separatista. Porém, nós não fomos chamados para remir a cultura que, de acordo com a Escritura, tende a piorar devido à apostasia. Somos instrumentos para remir pessoas, isso sim. A mensagem de Paulo no Areópago não transformou a cultura de Atenas, mas alcançou pessoas. Só Deus, e isto na consumação, é que promoverá a extinção das culturas pecaminosas e a santificação dos costumes e do conhecimento humano. Só Deus conseguirá plena redenção da cultura.

Kevin DeYoung, avaliando a perspectiva missiológica da igreja moderna, afirma que o que “está faltando na maioria das conversas sobre o reino é alguma doutrina de conversão ou regeneração. O reino de Deus não é essencialmente uma nova ordem da sociedade. Isso era o que pensavam os judeus nos dias de Jesus… Creio que entendo o que as pessoas querem dizer quando falam sobre redimir a cultura ou ser parceiras de Deus na redenção do mundo, mas o fato é que precisamos encontrar outra palavra. A redenção já foi realizada na cruz. Não somos parceiros na redenção de nada. Somos chamados a servir, dar testemunho, proclamar, amar, fazer o bem a todos e embelezar o evangelho com boas obras, mas não somos parceiros de Deus na obra da redenção. De modo similar, não há um texto nas Escrituras que fale que os cristãos constroem o reino. Ao falar sobre o reino, o Novo Testamento usa verbos como entrar, buscar, anunciar, ver, receber, olhar e herdar… no Novo Testamento nunca somos aqueles que trazem o reino.” [3]

Essa observação é muito perspicaz. O problema fundamental dessa tendência, de acordo com DeYoung, é que eles “estão repletos de ‘já’ e carentes de ‘ainda não’ em sua escatologia.” [4]

Creio que o equilíbrio foi estabelecido pelo nosso Salvador nas parábolas do reino em Mateus 13. Se por um lado a parábola do joio nos apresenta uma redenção completada pelo Salvador sem a nossa participação, por outro lado temos as parábolas do grão de mostarda e do fermento (Mt 13.31-33) que falam do crescimento e da influência dos princípios do reino na sociedade. Não podemos ser extremados em nosso entendimento escatológico. Toda escatologia que enfatiza só o que Deus já fez, e está fazendo, produz uma cosmovisão ufanista demais. Toda escatologia que destaca o que Deus irá fazer na segunda vinda de seu Filho, sem levar em conta a redenção que se iniciou na primeira vinda, gera uma visão pessimista do crente no mundo. Precisamos de equilíbrio em nossa cosmovisão. Precisamos viver o “já” com vistas ao “ainda não”.

_________

Notas:
1 – “De vez em quando os cristãos dizem que nosso alvo principal é mudar o indivíduo, não o sistema. O dualismo persiste: de algum modo nossa vida espiritual pode ser separada de nossa vida cultural, e isso significa que podemos trabalhar no sistema aceito.” Walsh e Middleton, A Visão Transformadora, p. 89. Essa forma de colocar o problema demonstra o espírito revolucionário de subverter o sistema, o qual é próprio dos autores.
2 – David Vandrunnen. “The Two Kindgoms: A Reassessment of the Transformationist Calvin”,Calvin Theological Journal 40, no. 2 (nov 2005), p. 252.
3 – Kevin DeYoung e Tedd Kluck, Por que amamos a igreja (São Paulo: Mundo Cristão, 2010), p. 50, 51.
4 – DeYoung e Kluck, Por que amamos a igreja, p. 40.

***
Fonte: Ministério Fiel
.

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *