sexta-feira, 4 de julho de 2014

Perseverança, o remédio para o desânimo



Por Leonardo Dâmaso

Texto base: Hb 12.1-3

Introdução



Dentre os vários temas que permeiam a carta aos hebreus, um deles é a necessidade e a importância da perseverança na vida cristã. Vemos praticamente por toda a síntese da carta que o autor encoraja os seus leitores a permanecerem firmes e obedientes ao evangelho da graça de Deus. (2.1-4; 3.1, 12-19; 4.1-3, 11, 14-16; 6.1-3, 11-12; 10.19-39; 12.1-28; 13.1-25). Se fosse para resumir o tema da carta aos Hebreus em uma só palavra, esse seria o tema: Perseverança na fé no filho de Deus! Acerca do tema da carta aos hebreus, Simon Kistemaker escreve:

O apelo do escritor chega ao leitor numa fraseologia marcada pelas repetições: Mantenham a fé, seja obediente, permaneça firme, vá a Deus e afirme a sua salvação. O autor adverte sobre o pecado da descrença, que no final faz sua cobrança e acaba em apostasia... À medida que o escritor exorta, ele também ensina. Ele expressa seu interesse em que os leitores obedeçam à Palavra de Deus, e assim ele os exorta. Ele também quer que seus leitores conheçam a Palavra, e ensina.1  

Podemos dividir a síntese do texto alume em três seções:

Na primeira seção, o autor vai tratar sobre a necessidade da perseverança (vs.1c); na segunda seção ele mostra o foco da perseverança na vida cristã (vs.2); e na terceira seção, o autor conclui com o objetivo da perseverança na vida cristã (vs.3).

Explanação

1. A necessidade da perseverança na vida cristã (12.1)

Deus preserva os cristãos da apostasia e da perda da salvação por meio da perseverança deles. Embora seja Deus quem os preserve (Rm 8.38-39; 1Cor 1.8; Fp 1.6; Ef 1.13-14), todavia, os cristãos tem um papel ativo e responsável na preservação de Deus perseverando. Não é Deus quem persevera para o cristão, mas o cristão é quem persevera em Deus (Hb 2.1; 10.25, 35; Jo 8.31; 1Cor 16.33). Sendo assim, qual a importância da perseverança na vida cristã?  

a) A vida Cristã é uma corrida (vs.1c)   
  
O autor da carta aos hebreus escreve aos seus destinatários, cristãos judeus e talvez até cristãos gentios, encorajando-os a correr, com perseverança, rumo à carreira que lhes está proposta. Note você que o próprio autor se inclui nestas palavras de encorajamento, dizendo que não somente os seus leitores deveriam correr e perseverar na vida cristã, mas que ele, sobretudo, deveria também fazer o mesmo. Todavia, de maneira proposital, o autor utiliza uma analogia para ensinar e encorajar não somente os seus destinatários históricos, mas também os de todos os tempos acerca da necessidade de perseverar. O autor aqui tem em mente as competições esportivas que aconteciam nos estádios gregos, no caso em pauta, especificamente as maratonas (Hb 10.36-39). Esse tipo de analogia também foi usado por Paulo em algumas de suas cartas (veja 1 Cor 9.24-27; Fp 2.16; 2Tm 2.5; 4.7-8).

Estes cristãos conheciam os esportes que eram praticados pelos gregos na época bem como as competições que se davam nos estádios. Portanto, o autor utiliza um exemplo simples, mas, sobretudo, preciso e bem conhecido por estes cristãos a fim de ensiná-los e encorajá-los a perseverança na vida cristã.

A palavra perseverança, no grego υπμονή (hupomnesis), pode ser traduzida como uma paciência que resiste; denota firmeza e persistência. Esta palavra traz a ideia de uma pessoa que tem a capacidade de persistir em suportar com firmeza inúmeras dificuldades em diferentes circunstâncias da vida sem entregar-se ao desânimo e a derrota. John Macarthur define perseverança como a constante determinação de seguir em frente, independentemente da tentação de diminuir o ritmo ou desistir.1  

William barclay corrobora:  

O termo paciência não implica aquela pessoa que senta e aceita as coisas; a paciência que, cansada e cabisbaixa, se senta com as mãos cruzadas e, conformada com os problemas e derrotas que a assolam, vai levando a vida superando tudo. Antes, paciência aqui, se trata da paciência que domina as coisas. Os obstáculos não a intimidam, a demora às vezes em ver as coisas melhorarem não a deprimem; o desânimo não lhe tira a esperança. Porventura se o desânimo que provêm de dentro e a oposição de fora tentarem contra esta pessoa, nada disso irá fazê-la desistir. Paciência aqui é a firme persistência que não retrocede até obter a vitória.2

Desse modo, poderíamos traduzir a palavra perseverança υπμονή (hupomnesis) aqui por “persistência”, que se enquadra melhor no contexto.

Aplicação

Parafraseando o texto, era como se o autor dissesse:

Assim como um atleta, nas competições olímpicas, corre a maratona com persistência até o seu objetivo, que é atravessar a linha de chegada e vencer, nós, como cristãos, também somos atletas, porém, atletas no âmbito espiritual, e, portanto, devemos correr a maratona da vida com persistência.  

b) Na vida cristã temos um alvo (vs.1c)

Além de persistirmos firmes na corrida da vida cristã, o autor da carta aos hebreus escreve que não corremos em vão, sem um objetivo, mas que corremos rumo à carreira que nos está proposta. A expressão carreira que nos esta proposta... (ARA), significa o percurso delimitado para o atleta onde ele deve seguir correndo com perseverança até o fim da maratona.

Aplicação

O autor da carta aos hebreus ensina e encoraja os seus destinatários, e também a nós, os cristãos atuais, que, “uma vez que se trata de uma maratona, e não de uma corrida de curta distância”3, é imprescindível corrermos com persistência este caminho que nos foi determinado. O Senhor Jesus traçou o nosso percurso de vida no qual devemos seguir, correndo com perseverança, até o fim, rumo ao objetivo que não é a linha de chegada de uma competição esportiva, mas a glória da salvação eterna que será consumada na segunda vinda de Cristo, que é a nossa maior vitória (2Tm 4.7; 1Cor 15.57).

c) Na vida cristã temos motivações (vs.1a)

Se na maratona da vida cristã temos um alvo, e devemos correr com perseverança até chegarmos nesse alvo, todavia, o autor da carta aos hebreus nos mostra que temos motivações para isso, para que não aconteça de nos cansarmos no meio da maratona e querermos desistir (vs.3).
      
Conforme vimos anteriormente, o autor se coloca na mesma posição de que os seus leitores, isto é, ele também é um corredor juntamente com eles, dizendo:Portanto, também nós. (ARA) A figura usada pelo o autor aqui é de um estádio na Grécia onde aconteciam as competições esportivas. Nesse estádio como em todos os outros, existem arquibancadas repletas de pessoas que apreciam os esportes e torcem pelos seus competidores favoritos e pelo seu país representado pelos competidores. Portanto, o autor aqui chama estas muitas pessoas de tão grande nuvem de testemunhas. (ARA) Em outras palavras, “o cristão aqui é comparado com um atleta que corre no estádio ou na arena para conquistar a coroa da vitória, enquanto milhares de espectadores nas arquibancadas são testemunhas da disputa”.4    

A expressão nuvem de testemunhas pode ser traduzida por “multidão de pessoas”. Portanto, as muitas testemunhas mencionadas pelo o autor, dentro do contexto imediato, são os crentes do Antigo Testamento descritos no capítulo 11.

As testemunhas, além de expressar “um grande número de pessoas, expressa, sobretudo, a sua unidade no testemunho”.Contudo, o que o autor enfatiza aqui não são as testemunhas propriamente ditas, mas, sim, o testemunho delas, ou seja, a vida de fé que viveram os crentes do Antigo Testamento que agora estão no céu.

Calvino ressalta que as virtudes dos santos do Antigo Testamento são como que testemunhos a confirmar-nos para que, confiando neles, como nossos guias e associados, sigamos avante rumo a Deus com mais entusiasmo.Em vista disso, os cristãos deveriam olhar como motivação para a vida de perseverança na fé destes crentes e seguirem o exemplo deles, isto é, deveriam perseverar firmes na fé na maratona da vida cristã.

Aplicação

A motivação que temos para perseverarmos na maratona da vida cristã está centrada no exemplo de vida que os crentes do Antigo Testamento deram durante a vida. Estes crentes que estão no céu não são os nossos espectadores em si, mas a vida deles no passado é testemunho para nos encorajar a viver como eles viveram. Devemos procurar viver como Abel, Enoque, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Davi, dentre outros viveram (11.2, 4-5, 7-10, 17-29, 33, 39). Devemos também nos pautar na vida dos primeiros mártires cristãos e dos reformadores.

d) Na vida cristã temos obstáculos (vs.1b)

Depois de mostrar aos destinatários que eles deveriam ter como motivação para perseverarem na maratona da vida cristã o exemplo de vida dos crentes do Antigo Testamento, o autor da carta aos hebreus continua dizendo que esta motivação, também, era oportuna devido às dificuldades e obstáculos que há na maratona da vida cristã. Estes cristãos deveriam olhar para a vida que viveram os crentes do Antigo Testamento em meio às muitas dificuldades e obstáculos que enfrentaram e continuarem perseverantes assim como eles perseveraram, não desistindo, assim, da maratona da vida com Deus.

Não obstante, o autor enfatiza dois tipos de obstáculos aqui. Ele diz aos seus leitores que eles deveriam se desembaraçar de todo peso e de todo o pecado que tenazmente assedia a todos. Senão vejamos estas duas expressões.

i. Desembaraçando-nos de todo o peso. A palavra desembaraçando-nos, no gregoάποθέμενοι (apothemenoi), é mais bem traduzida por “deixemos de lado” (ARC, NTLH) ou “livremo-nos”. (NVI) No grego, esta palavra traz a ideia de uma roupa longa e pesada que o atleta deveria “rejeitar ou abandonar”, pois seria um obstáculo para ele na maratona. Em vista disso, poderíamos traduzir o texto desse modo: “tirando de nós mesmos tudo o que nos atrapalha”. 
     
O autor da carta aos hebreus tem em mente aqui a condição física e as roupas de um atleta. Para estar apto para disputar uma maratona esportiva, o atleta precisa estar em boa forma física.  

Todavia, quando o atleta vai disputar uma maratona esportiva, ele não se veste com qualquer tipo de roupa, antes, ele se veste com uma roupa apropriada e que não seja pesada, isto é, uma roupa leve para se sentir confortável durante a corrida, que consiste numa camiseta, shorts e tênis, que juntos pesam cerca de meio quilo apenas.

ii. ... e do pecado que tenazmente nos assedia. A expressão “tenazmente nos assedia” ευπεριοτατον (efperiotaton), é um adjetivo verbal grego que pode ser traduzido por “que nos cerca tão de perto” ou “que tão de perto nos rodeia”. (ARC) pecado que nos cerca tão de perto aqui é o nosso próprio pecado, as nossas inclinações pecaminosas oriundas da nossa natureza pecaminosa (Mt 15.19; Gl 5.19-21; Ef 4.22-31). Portanto, em outras palavras, “livrem-se destes obstáculos”, diz o autor. 

Aplicação

Concordo com John Stott quando diz que, na maratona da vida cristã, tirar de nós todo o peso, significa abandonar o peso do pecado e também outros pesos que podem não ser pecaminosos em si, mas que atrapalham o nosso desempenho na corrida.7 Na pista da fé, observa Simon Kistemaker, nós somos desafiados a ir longe. Portanto, devemos correr leves.8

Calvino, neste mesmo pensamento, escreve:

Deparamo-nos com todo gênero de cargas que nos atrasam e embaraçam nossa corrida espiritual, ou seja, o apego a esta presente vida, os deleites que o mundo proporciona, os apetites da carne, as preocupações terrenas, as riquezas e as honras, bem como outras coisas desse gênero. Todo aquele que porventura queira competir na corrida de Cristo deve antes desvencilhar-se de todo e qualquer entrave; porquanto, por natureza já somos lentos do que deveríamos ser; de sorte que não permitamos que outras causas nos sirvam de atraso.9

Matthew henry diz que enquanto o pecado favorito de um homem permaneçer sem ser subjugado, seja qual for ele, este o impedirá de correr a carreira cristã, porque lhe tira toda motivação para correr e dá entrada ao desânimo mais completo. 

Que deixemos de lado até mesmo aquele obstáculo que não seja pecado em si. Entretanto, se algum obstáculo que não é pecado e também não edifica têm sido um peso para nós corrermos e tem produzido em nós desânimo, chegando ao ponto de pensarmos em desistir da maratona, todavia, este obstáculo que não era pecado se tornou pecado e, portanto, deve ser deixado (2Tm 2.4).

Parafraseando, era como se o autor da carta aos hebreus nos dissesse:

Que deixemos tudo aquilo que nos atrapalha ou nos torne lentos na maratona da vida cristã, em adição, aqueles pecados que são como uma roupa longa e pesada que prendem e embaraçam os nossos pés, nos fazendo tropeçar e cair! 

2. O foco na perseverança na vida cristã (12.2)

O autor da carta aos hebreus, agora, enfatiza o alvo primário da maratona da vida cristã, que é a obra, perseverança e a posição de Cristo Jesus. Vejamos então:
   
a) A singular motivação da vida cristã (vs.2a)  

O autor da carta aos hebreus continua a ensinar e encorajar os seus destinatários sobre a necessidade da perseverança na vida cristã dizendo, agora, que eles deveriam olhar firmemente para o autor e consumador da fé, que é Jesus. Logo de início ele enfatiza o resultado da obra da redenção dos pecadores eleitos. Note que o autor não coloca Jesus na mesma categoria daqueles crentes do Antigo Testamento, mesmo apesar de terem vivido uma vida maiúscula na presença de Deus. Antes, o autor coloca o nome de Jesus em proeminência, a fim de que os seus leitores se concentrem e sigam como finalidade o seu exemplo de vida terrena.

A expressão olhando firmemente αφορωντες, significa “manter o olhar fixo sobre algo”. Literalmente “fixar os olhos”.  Devemos olhar sem distração alguma, como a maior prioridade da nossa vida para Jesus, o autor e consumador da nossa fé. O termo autor αρχηγòς (archegos), no grego, significa iniciador, originador. Denota que Jesus é o que deu origem a nossa fé. 

O termo consumador τελειωτής (teleiotes), por sua vez, significa alguém que conclui algo. Aquele que completa uma obra (Hb 2.10). Sendo assim, era como se o autor da carta aos hebreus dissesse: “Mantendo os olhos fixos naquele que deu origem e completou a nossa fé, Jesus”! Parafraseando:

Mantenham os olhos em Jesus, que começou e terminou a corrida de que participamos!11

Aplicação

Como corredores empenhados na maratona da vida cristã não podemos olhar para os lados. Olhar para os lados implica distração; significa desviar o nosso olhar de Jesus, o objeto da nossa fé, o nosso alvo, e olhar para coisas que não são importantes. Não devemos nos distrair olhando para o estado lastimável em que a igreja evangélica, na sua maioria esmagadora, se encontra. Não devemos olhar para os pastores corruptos, para os falsos crentes, para a suposta “prosperidade” destes assim como a prosperidade dos falsos pastores e para as adversidades da vida. Devemos manter os nossos olhos focados em Cristo Jesus!

b) A base da motivação da vida cristã (vs.2b)

Na primeira parte do texto, o autor frisou “o resultado da obra da redenção”. Contudo, ele agora expande o tema, dizendo que, além de olhar para Jesus, o autor e consumador da nossa fé, (o resultado de sua obra), os seus destinatários deveriam também, sobretudo, olhar para a sua perseverança, porque Jesus, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia... (ARA)  

Senão vejamos os quatro aspectos da perseverança de Cristo:

i. ... em troca da alegria. Esta expressão não significa que Jesus preferiu trocar a alegria celestial que outrora tinha antes da encarnação pela morte de cruz, conforme acreditam alguns teólogos. Antes, “pela a alegria”, e não “em troca da alegria”, e para obtê-la, na qual foi planejada na eternidade por Deus Pai, por ele mesmo e pelo Deus Espírito Santo no conselho trinitariano, Jesus, o Deus filho encarnado, de forma voluntária, “sofreu na cruz em antecipação da alegria de ser o salvador do seu povo”.12 Semelhante a Moisés, que olhava para o seu galardão futuro (Hb 11.26), Jesus também olhava para o seu galardão que iria receber das mãos do Pai após a conclusão de sua obra redentora (Ap 5.9-10). 

ii. ... que lhe estava proposta. Esta expressão aponta para um tempo futuro, e descreve que, depois da morte de cruz, Jesus foi glorificado e exaltado pelo Pai. Deus predeterminou o sofrimento para Jesus (Hb 9.26; 1 Pe 1.20; Is 53.4-6) bem como uma alegria indizível por ver a sua obra de redenção consumada. Jesus perseverou para que pudesse receber a alegria de cumprir a vontade do Pai e exaltá-lo13 (Is 53.11; Sl 16.9-11; Lc 10.21-24; At 2.28). 

iii. ... suportou a cruz. Simon Kistemaker ressalta:

O termo cruz, junto com o verbo suportar, reflete toda a narrativa do sofrimento do julgamento e da morte de Jesus. Ele ficou sozinho durante seu julgamento perante o sumo sacerdote e perante Pilatos. Jesus suportou a agonia do Getsemâni sozinho. Ele carregou sozinho também a ira de Deus no calvário. Em seu sofrimento, Jesus demonstrou visivelmente sua fé em Deus. Em obediência, ele suportou a angustia da morte na cruz.14

iiii. .... não fazendo caso da ignomínia. A palavra ignomínia significa “afronta”. Jesus não levou em conta a afronta dos judeus incrédulos e dos líderes religiosos contra si, que planejaram e conseguiram com que ele fosse crucificado e morto, uma vez que estes homens o tinham como um homem maldito e herege (Dt 21.23; Gl 3.13). Jesus não desceu da cruz conforme muitos queriam que ele descesse tentando-o a isso (Mt 27.40; Mc 15.30). Jesus suportou a afronta para que o Pai fosse glorificado e os pecadores eleitos fossem redimidos, por isso ele está assentado à destra do trono de Deus, que indica a sua posição de glória, autoridade e poder (Mt 28.18).

3. A finalidade da perseverança na vida cristã (12.3)

Em vista da perseverança na maratona da vida cristã e todas as suas implicações, o autor da carta aos hebreus conclui dizendo aos seus destinatários que eles deveriam considerar, atentamente, a oposição que Jesus suportou dos pecadores contra si mesmo para que eles não se fatigassem, desmaiando em suas almas.

O verbo considerar significa comparar, calcular, reputar. O autor, aqui, salienta aos seus leitores que eles deveriam considerar o que aconteceu com Jesus, que, logo que acabará de nascer, já enfrentou perseguição por parte de Herodes (Mt 2.13-18). Mais tarde, quando iniciou o seu ministério, Jesus suportou afrontas, oposição e rejeição por parte dos seus conterrâneos, os judeus incrédulos (Jo 1.11). Foi maltratado, perseguido, espancado e morto pelas mãos destes pecadores (At 2.22-23) para que, pelo seu exemplo de vida de fé e perseverança em Deus, os hebreus não viessem a fatigar-se, desmaiando na maratona da vida cristã.

As palavras fatigar-se e desmaiar significam, em outras palavras, desanimar edesistir. James Moffatt diz que aparentemente, segundo Aristóteles, estas palavras eram comumente usadas no mundo dos esportes nessa época, onde ele próprio (Aristóteles) descrevia os corredores que desanimavam e caiam no final da maratona depois de alcançarem a meta.15  

Conclusão

Aplicação

Numa maratona, sabemos que nenhum atleta, por melhor que seja a sua forma física, não consegue manter o ritmo acelerado o tempo todo devido ao cansaço. No entanto, como estratégia para conseguir vencer e chegar até o fim, o atleta se intercala correndo em períodos rápidos e lentos. Assim é na vida cristã.

Nós, como atletas espirituais, também estamos sujeitos ao desânimo em meio à maratona da vida cristã; de fato, desanimamos algumas vezes. Elias desanimou e caiu em um profundo esgotamento, mas o Senhor o animou e o fortaleceu, e ele voltou a correr na maratona (1Rs 19.1-18). Os discípulos, após a morte de Jesus, desanimaram e ficaram trancados dentro de casa, com medo da perseguição dos judeus (Jo 20.19). Porém, quando viram Jesus ressurreto, foram animados novamente a perseverarem na fé (Jo 20.20-23).

Pedro, quando negou Jesus, por um momento desanimou da fé, mas logo foi restaurado e animado pelo Senhor Jesus após a sua ressurreição no mar de Tiberíades (Jo 21.15-17). Contudo, a questão não é desanimar ou correr mais lentamente devido ao cansaço das adversidades da vida, mas se entregar ao desânimo, que significa parar de correr. São muitos os que, em vista do desânimo, desistiram. Apostataram da fé!

Quando não mantemos o nosso olhar em Cristo, mas para o mundo ao nosso redor, para as pessoas, para as dificuldades da vida, e para nós mesmos, o desânimo sobrevém e ficamos tentados a desistir de continuar correndo perseverantes na maratona da vida cristã. Porém, quando mantemos o nosso olhar “fixo” em Cristo, não nos entregamos ao desânimo, antes, somos fortalecidos diariamente pelo Espírito Santo que habita em nós. Quando entendemos e olhamos para a vida e o sofrimento que Jesus experimentou, isso nos motiva celeremente a continuarmos firmes e perseverantes na maratona da vida cristã assim como ele perseverou até o fim (Jo 16.33; 1Cor 9.24-25).

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Notas: 

1 Bíblia de Estudo Macarthur. Notas de Rodapé, pág 1710.
2 William Barclay. Comentário Bíblico de Hebreus, pág 182.
3 Comentário Bíblico Africano. Hebreus, pág 1545.
4 Fritz Laubach. Hebreus. Comentário Esperança, pág 119.
5 Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave Linguística do Novo Testamento Grego, pág 529.
6 João Calvino. Hebreus, pág 336.
7 John Stott. A Bíblia toda, o ano todo, pág 392.
8 Simon Kistemaker. Hebreus, pág 519.
9 João Calvino. Hebreus, pág 336.
10 Dicionário Grego do Novo Testamento de James Strong anotado pela AMG, pág 2423.
11 A Mensagem. Bíblia em Linguagem Contemporânea, pág 1721.
12 Bíblia de Estudo Genebra. Notas de Rodapé,  pág 1665.
13 Bíblia de Estudo Macarthur. Notas de Rodapé, pág 1710.
14 Simon Kistemaker. Hebreus, pág 516. 
15 James Moffatt. Epistle to the Hebrews, International Critical Commentary series (Edimburgo: Clark, 1963), pág 199.

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Fonte: Bereianos
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quinta-feira, 3 de julho de 2014

ALINHAMENTO APOSTÓLICO VERTICAL: ENTRE NA ESFERA DO PODER E SAIA ENERGIZADO DE HERESIAS

Pare, leia e pENSE!




Pára tudo!! “ALINHAMENTO APOSTÓLICO VERTICAL”? Qué qué isso gezuiz?! Onde foi parar a sanidade mental dessa gente?? (ou é safadeza?)

Pois é, e como se diz por aí, ‘não há nada de tão ruim que não possa piorar’. E na verdade, tá tudo pior, louco, descontroladamente sem nexo algum.

(…) e a “apostolomania” não tem limites!! Acredite!!

Estou falando da Conferência Internacional: Convergência Rede Apostólica Esferas Globais. Nela os auto intitulados apóstolos Dr. Peter Wagner, Dr. Chuck Pierce e o Dr. Fernando Guillen irão palestrar no evento que ocorrerá em Belo Horizonte, entre os dias 24 e 26 de julho.

Então amigo, você que pretende fazer esse alinhamento (e balanceamento, quem sabe [??]) vertical junto com os “apóstolos” saiba o que é essa tal convergência.

No site do evento (clique aqui e veja) diz que a convergência “é uma direção comum para um mesmo ponto. Uma fase da vida aonde tudo começa a chegar junto”. Diz que é “estar no lugar certo, tempo certo, fazendo a coisa certa, promovendo assim um movimento nos céus ao nosso favor!”

O porquê do alinhamento era uma dúvida que eu tinha mas logo descobri. Segundo os organizadores é porque na convergência “o seu espírito está [estará] alinhado com o ritmo do céu e as ondas da terra ao mesmo tempo!” – Sacô?!

Bem, não sei como qualificar algo tão pretenso e maluco como esse. A ganja religiosa fica mais pesada quando você ler a explicação de uma tal zona de convergência. Eles dizem: “é como um campo de energia, um vórtice que suga para dentro de si coincidencias estranhas e “compromissos divinos.” Mais ainda, é “Um lugar aonde você acessa níveis de cumprimento incomparáveis. É o campo magnético que havia em volta do povo de Israel quando eles se acampavam ao redor da nuvem e da coluna de fogo no deserto (Êxodo 40:34-38)”.

A explicação sobre a “bilogaláxia apostólica” se encerra dizendo: “Viver na Zona de Convergência é quando Deus começa a alinhar os nossos tempos! Isso é o indício de que o favor sobrenatural se manifestará em nossas vidas!”

Gente, o que é que é isso “pelamordedeuss”??

Abaixo, o vídeo que não deixará dúvidas de que estamos vivendo num caos, circo, insanidade, safadeza, ou sei lá o que, só sei que são tempos cujo Deus deva estar irado com toda essa babel dissimuladamente religiosa que temos vivido. 

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Antognoni Misael, co-editor do Púlpito Cristão.

O Confessionalismo e a Igreja Moderna

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Por Thomas Magnum

Introdução


Vivemos numa época disseminadora de insubmissão e que é contrária a qualquer fonte de autoridade. O confessionalismo histórico da igreja reformada tem valor atual e continua tendo seu lugar como documentos importantíssimos para o povo de Deus. Ao usar o termo confessionalismo histórico nos remetemos ao Credo dos apóstolos, a fórmula de Calcedônia, o Credo Atanasiano, também os documentos confessionais pós-reforma. Referimos-nos aos mais populares como os artigos anglicanos: Livro da oração comum, os Artigos da Religião e o Livro das Homílias; no Luteranismo temos o Livro de concórdia que na realidade é uma serie de diferentes artigos: o credo apostólico, o credo niceno, o credo atanasiano, a confissão de Augsburgo (1530), A apologia a confissão de Augsburgo (1531), os artigos de Esmalcalde (1537), Tratado sobre o poder e o primado do papa (1537), Catecismo menor (1529), o catecismo maior (1529), e a formula de concórdia (1577). É imprescindível também as três formas de unidade que são a confissão Belga (1561), o catecismo de Heidelberg (1563) e os Cânones de Dort. Também mencionamos entre o confessionalismo histórico os padrões de Westminster: a confissão, o catecismo maior e o breve. Estes são os mais utilizados entre as igrejas reformadas. Finalmente a confissão Batista de 1689 e a Declaração de Savoy, que é a confissão dos congregacionais, ambas têm suas bases doutrinárias na confissão de fé de Westminster.

A Utilidade dos Documentos Confessionais

Ao lermos os documentos confessionais das igrejas reformadas, podemos destacar alguns pontos fundamentais: 

• O declaratório – Que tem por objetivo mostrar aos fiéis sua confissão de fé.
• O Apologético – Que tem por objetivo defender a fé e mostrar a grupos heterodoxos a firmeza da fé reformada e que ela está alicerçada nas Escrituras.
• O Didático – Que tem por objetivo ensinar a igreja os fundamentos teológicos de sua confissão.
• O Litúrgico – Que tem por objetivo o culto público e a proclamação do Evangelho pela pregação.[1]

Diante de uma evolução cultural relativista, negativista, burocrata e intelectualmente pragmática, não é raro ouvirmos alguém dizer que não tem confissão, que sua confissão é a Bíblia e que não precisa de tais documentos da igreja, porque isso seria substituir a Palavra de Deus por palavras de homens. É claro que consideramos tais declarações na sua maioria sinceras, mas, equivocadas por parte dos que pretendem negar e invalidar o confessionalismo histórico da igreja cristã.

O Contexto histórico das confissões 

Ao fazermos uma leitura da história e do contexto político, econômico, artístico e teológico do Século XVI, veremos que as transformações ocorridas na época não foram somente restritas a reforma protestante, mas, ocorreu também o florescer cultural da renascença. Da mesma forma que os reformadores questionavam a igreja católica nos âmbitos teológico, econômico e politico, os líderes do renascentismo questionavam os padrões da filosofia e das artes. Vivemos em semelhante contexto, temos um desafio cultural e espiritual que não se resume a diferenças de nomenclatura, mas, existe uma concentração de fatores que exigem da igreja sua postura doutrinária, e são os símbolos de fé que servirão como ferramenta. O Teólogo M.A. Noll nos diz:

O Mundo do século XVI precisava de novas declarações da fé cristã, não para meramente reorientar a vida cristã, mas também para reposicionar o próprio cristianismo dentro das forças da Europa moderna que nascia. [2]

Essa efervescência intelectual iniciada pela renascença e posteriormente com as revoluções tanto no âmbito político como cultural que vieram a posteriori, são o fundamento para a era cultural que vivemos no mundo ocidental. Estamos diante da urgência de um confessionalismo que nos proporcione bases sólidas teologicamente, uma característica da evolução do pentecostalismo e suas variantes, juntamente com a explosão das igrejas emergentes é uma postura que ignora a confessionalidade[3]. Essa é uma ideologia que trata pontos fundamentais da doutrina como secundários e irrelevantes. Isso nos mostra a fragilidade de uma teologia que despreza o confessionalismo histórico. Vivemos uma relativização do fundamento, e uma difusão de ideias que beiram o liberalismo teológico. Temos como exemplo  a postura papal de certos líderes evangélicos, dominando o povo de forma carismática, levam o rebanho a uma ignorância do verdadeiro conhecimento do cristianismo, privando o povo e roubando dele as verdades do Evangelho.

Questões Modernas Contra o Confessionalismo

Ao analisarmos os fatores mais comuns que formam o caráter cultural moderno, podemos apontar pelo menos quatro que versam contra o confessionalismo: 

     • O Sincretismo e Misticismo
     • O Pragmatismo
     • O Hedonismo
     • A Tecnologia

A grande mistura religiosa e de filosofias pagãs tem invadido as igrejas de todos os continentes, esse caldeirão místico tem levado o evangelicalismo a uma apostasia intelectual e dogmática. A confissão documental da fé não é viável as novas denominações, porque dentro desse sincretismo é que emerge opragmatismo, se der certo, então é verdadeiro, essa é sua declaração. Os resultados é que dizem o que é certo ou errado. Não é assim que devemos analisar a questão, se o pragmatismo é fator fundamental para o julgamento da verdade, então o Hinduísmo e Islamismo são religiões verdadeiras, pois, são as maiores religiões do mundo, elas deram certo. Outro fator que se levanta contra o confessionalismo é o Hedonismo, a exaltação do prazer que tem estado evidente nas novas igrejas, o ter em detrimento do ser, o que você tem diz quem você é; resumindo a vida cristã a prosperidade material. Temos também aTecnologia, que se usada de forma errada também labuta contra a importância da confissão nas igrejas, a sinuosidade do pensamento moderno que exalta a ciência e lhe dá um crédito canônico pode ser uma forca para a igreja.

A acusação mais comum é que as confissões engessam a igreja e diminuem sua espiritualidade, que o culto deve ser espontâneo e deve ser livre, dizem. Em nenhum lugar nas escrituras lemos algo sobre um culto espontâneo, ao contrário, Paulo exorta a igreja que está em Corinto a cultuarem com ordem e decência (I Co 14.40), no livro do profeta Malaquias observamos que é Deus quem estabelece o culto, na história da reforma observamos o princípio regulador do culto. Os tipos de cultos que vemos estão estreitamente ligados às manifestações modernas que pontuamos anteriormente.

É interessante pontuarmos que aqueles que são contra uma igreja prezar por seus símbolos de fé e utilizá-los no culto, não são contra o cântico de louvores escritos pelos mais diversos compositores, ao cantar tais músicas nos cultos estão confessando algo também. Pode-se ser contra a leitura de confissões ou credos na liturgia, mas, comumente não se é contra as manifestações rotineiras nos cultos como a recitação de poesias ou cantar uma música rotineira nos culto. Com isso entendemos que todos tem uma confissão seja ela materializada ou não. [4]

As Fontes de Autoridades

Os símbolos de fé não tem a mesma autoridade da Escritura, pelo contrário são baseados nas escrituras e defendem a suficiência das Escrituras, por isso temos a revisão das confissões. Embora muitos digam que a autoridade pertence só na Bíblia – e defendo isso também – é necessário esclarecermos alguns pontos. Os credos, confissões e catecismos não reivindicam autoridade infalível ou canônica. Segundo, a autoridade dada aos símbolos confessionais está baseada no arcabouço histórico e teológico da igreja cristã. De fato, mesmo os que dizem não ter por autoridade os documentos históricos da igreja, terão por autoridade outra fonte, sejam elas suas opiniões particulares ou o pensamentos de teólogos ou líderes eclesiásticos.  

Todos na Igreja tem uma Confissão de Fé

Ao ouvirmos alguém dizer que sua confissão de fé é a bíblia, temos aí uma declaração de fé. Afirmativas como esta, em vez de demonstrar superioridade e fidelidade às escrituras demonstram também uma confissão de fé, semelhante a uma confissão escrita. Neste caso a diferença está no fato que, os documentos históricos confessionais estão redigidos e podem ser avaliados e estudados pela igreja, o segundo existe na mente do professante e não pode ser julgado e examinado cuidadosamente, porque não é um documento confirmado pela igreja. Os símbolos de fé da igreja, principalmente os que foram redigidos após a reforma protestante nos mostram por um estudo cuidadoso, que os documentos que temos em mãos são declarações de fé que precisaram ser feitas principalmente pelo contexto que a igreja vivia. Muitos ainda levantam a questão que a utilização atual dos credos, confissões e catecismos é anacrônica, porque eles não correspondem à necessidade atual da igreja. 

O Confessionalismo e a Igreja Moderna

A problemática que enfrentamos no que diz respeito ao confessionalismo dentro das igrejas segue-se de motivos históricos, políticos e éticos. Desde a revolução estudantil na década de 60 como diz Francis Schaeffer [5], vivemos uma supervalorização da invalidação das fontes de autoridade, na verdade desde a queda o homem vive esse infortúnio condenatório sobre ele. A “liberdade” civilizatória e cultural na realidade levou a humanidade a estagnação intelectual a respeito de Deus e sua Palavra. O fato de a igreja não dar mais importância a uma declaração de fé, pautada nas escrituras, na verdade mostra claramente que ela na verdade não a tem. O testemunho cristão não está restrito a documentos, ele sai deles e isso é tão importante à fé cristã que as confissões valorizam essa práxis. 

Ao observarmos a construção do catecismo de Heidelberg e os padrões de Westminster notaremos o valor que tais documentos dão a uma vida santa e piedosa como fruto das verdades da Palavra de Deus. Isso nos leva a um imperativo confessional, a urgência que os reformadores tinham em esboçar suas crenças doutrinárias é a mesma que temos hoje de professa-las e emprega-las na catequese e doutrinamento da igreja. Igrejas historicamente reformadas esqueceram e ignoraram seus símbolos de fé, que consequentemente desembocou no abandono de uma dogmática sadia. Por isso é necessário um resgate da utilização das confissões, tanto no trabalho pastoral de doutrinamento da igreja, como no trabalho de ensino aos novos conversos. O valor dos documentos confessionais do protestantismo é inalienável, que possamos dar-lhes o devido valor e lugar.

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Notas:
[1] O Imperativo Confessional, Carl R. Trueman – Ed Monergismo
[2] Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã – Ed. Vida Nova
[3] A Subscrição Confessional, Ulisses Horta Simões -  Ed. Efrata
[4] O Imperativo Confessional, Carl R. Trueman – Ed Monergismo
[5] A Igreja no Final do Século 20, Francis Schaeffer – Ed. Cultura Cristã

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Divulgação: Bereianos

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Quem são os menos evangelizados no Brasil?


Deus chamou toda a Igreja para proclamar todo o Evangelho em todo o mundo. Há ainda mais de 2.000 povos no mundo sem o conhecimento do Evangelho, cerca de 3.000 línguas sem um verso bíblico em seu idioma e 2 bilhões de pessoas que não conhecem o Senhor Jesus.

No Brasil há oito segmentos reconhecidamente menos evangelizados, sendo sete socioculturais e um socioeconômico. 

1. Indígenas
Com 117 etnias sem presença missionária e sem o conhecimento do Evangelho1. Estas etnias, com pouco ou nenhum conhecimento de Cristo, espalham-se por todo o Brasil com forte concentração no Norte e Nordeste2

2. Ribeirinhos
Na bacia amazônica há 37.000 comunidades ribeirinhas3 ao longo de centenas de rios e igarapés. As pesquisas mais recentes apontam a ausência de igrejas evangélicas em cerca de 10.000 dessas comunidades4

3. Ciganos (sobretudo da etnia Calon)
Há cerca de 700.000 Ciganos Calon no Brasil5 e apenas 1.000 se declaram crentes no Senhor Jesus. Os Ciganos espalham-se por todo o território nacional nas grandes e pequenas cidades, vivendo em comunidades nômades, seminômades ou sedentárias.

4. Sertanejos
Louvamos a Deus por tudo que tem ocorrido no Sertão nos últimos 10 anos – centenas de assentamentos sertanejos evangelizados e muitas igrejas plantadas. Há, porém, ainda 6.000 assentamentos sem a presença de uma igreja evangélica6

5. Quilombolas
Formados por comunidades de afrodescendentes que se alojaram em áreas mais ou menos remotas nos últimos 200 anos. Há possivelmente 5.000 comunidades quilombolas no Brasil, sendo 3.524 oficialmente reconhecidas7. Estima-se que 2.000 ainda permaneçam sem a presença de uma igreja evangélica8

6. Imigrantes
Há mais de 100 países bem representados no Brasil por meio de imigrantes de longo prazo com uma população de quase 300.000 pessoas9. Dentre esses, 27 são países onde não há plena liberdade para o envio missionário ou pregação do Evangelho. Ou seja, dificilmente conseguiríamos enviar missionários para diversos países que estão bem representados entre nós, sobretudo em São Paulo, Brasília, Foz do Iguaçu e Rio de Janeiro. 

7. Surdos, com limitações de comunicação 
Há mais de 9 milhões de pessoas nesta categoria em nosso país e menos de 1% se declara crente no Senhor Jesus10. Há pouquíssimas ações missionárias especificamente direcionadas para os surdos em todo o território nacional.

8. Os mais ricos dos ricos e os mais pobres dos pobres
O oitavo segmento não é sociocultural como os demais, mas socioeconômico. Divide-se em dois extremos: os mais ricos dos ricos e os mais pobres dos pobres. As últimas pesquisas nacionais demonstram que a presença evangélica é expressiva nas escalas socioeconômicas que se encontram entre os dois pontos, porém sensivelmente menor nos extremos11. Em alguns Estados brasileiros há três vezes menos evangélicos entre os mais ricos e os mais pobres do que nos demais segmentos socioeconômicos12.

A Igreja de Cristo foi chamada para ser sal da terra e luz do mundo onde estiver e por onde passar (Mt 28.19). Foi-lhe entregue também um critério de prioridade nas ações evangelizadoras: onde Cristo não foi anunciado (Rm 15.20). É, portanto, momento de orar pelo mundo sem Cristo, por a mão no arado e não olhar para trás.

Notas:
1. Departamento de Assuntos Indígenas da Associação de Missões Transculturais do Brasil(DAI/AMTB).  
2. Há 32 etnias indígenas no Nordeste ainda sem presença missionária, segundo pesquisa da Aliança Evangélica Indígenas do Nordeste e AMTB.  
3. Reconhecidas pelo IBGE 2012.  
4. Projeto Fronteiras – pesquisa entre comunidades tradicionais da Amazônia – dados parciais 2014.Associação Evangélica Pró Ribeirinhos do Brasil
5. Missão Amigos dos Ciganos – Dados 2014. Associação Evangélica Pró Ciganos do Nordeste
6. Missão JUVEP – Dados 2014.  
7. Fundação Palmares.
8. Os dados são parciais. Pesquisa em andamento pela Associação Evangélica Pró Quilombolas do Brasil.  
9. IBGE 2012: 268.201 imigrantes no Brasil.  
10. IBGE 2014.  
11. IBGE 2010, 2012 e 2014.  
12. Projeção de dados quantitativos por categoria socioeconômica.

Leia também
Missões brasileiras 
Lausanne 3  
A Questão Indígena – uma luta desigual 
Indígenas do Brasil 
Cidades do Interior 
História da Evangelização do Brasil 

Ronaldo Lidório é doutor em antropologia e missionário da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais e da Missão AMEM. É organizador de Indígenas do Brasil -- avaliando a missão da igreja e A Questão Indígena -- Uma Luta Desigual.
Fonte:Ultimato

+Eva

Marxismo Cultural: uma nova religião?

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Neste vídeo o Pb. Solano Portela discorre acerca do Marxismo Cultural na 1ª Semana Teológica de 2014 do Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição. Assista:



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Fonte: Seminário JMC

Via Bereianos
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Uma teoria teísta cristã da realidade

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Por Cornelius Van Til


Vimos, anteriormente, que a primeira e principal pedra angular de uma verdadeira filosofia é uma teoria do conhecimento que esteja relacionada com a concepção de um Deus que conhece todas as coisas.

Devemos agora notar que a segunda pedra angular é, mais uma vez, a concepção de um Deus absolutamente autoconsciente. Imediatamente alguém levanta uma objeção e afirma que há, então, não duas, mas apenas uma pedra angular. Exatamente – as duas convergem em uma só. As duas são apenas uma. A razão para isso é que, em Deus, conhecimento e realidade são idênticos. Este ponto é fundamental, como veremos. Notemos que devido a essa identidade, uma verdadeira teoria do conhecimento implica numa verdadeira teoria da realidade e vice-versa.

Por outro lado, uma falsa teoria do conhecimento não é um brinquedo inocente, antes envolve uma falsa teoria da realidade e vice-versa. O ponto a partir do qual você inicia seu raciocínio faz pouquíssima diferença, contanto que você tome Deus em consideração desde o princípio. Um Deus absolutamente autoconsciente é a pressuposição de uma filosofia de vida verdadeiramente teísta. A razão pela qual devemos pressupor Deus é que não podemos tê-Lo de outra maneira. Apenas para se certificar: você pode ter um deus que não seja tomado como pressuposto, no entanto, ele não será mais do que um deus finito. A “espécie” de Deus que necessitamos deve ser pressuposta. Caso você seja demasiado “científico”, você não pode se dar ao luxo de começar com uma pressuposição. Contudo, eu não posso me dar ao luxo de estar desprovido de um Deus absoluto. Essas duas posições são semelhantes a dois homens, um dos quais preferem utilizar seu dinheiro para adquirir uma casa e o outro um carro? De modo nenhum – nós devemos raciocinar juntos até à morte. Eu continuarei mantendo que sua posição termina no inferno e a minha no céu. Ajo assim ousadamente porque o faço humildemente, como alguém que recebeu pela graça.

Deus

Na teologia, nós tratamos acerca dos atributos de Deus. Se tomarmos, agora, todos estes atributos juntos e direcioná-los para um único pensamento concentrado, nós podemos considerar tal pensamento como a pedra angular de nossa teoria da realidade. Esse pensamento, em si mesmo, não pode ser expresso em outra palavra a não ser Deus. Em nossa teoria da realidade, o elemento mais importante a ser mantido é que Deus tem a realidade de Si mesmo. Nós sempre ouvimos sobre a “realidade última”. Deus é nossa realidade última. Como tal, Ele deve ser eterno e, por sua vez, tudo que é temporal é derivado. Como realidade última, Ele deve ser completamente autoconsciente, e tudo aquilo que não é completamente autoconsciente é derivado. De semelhante modo, Ele deve ser autossuficiente; e tudo aquilo que não é autossuficiente é derivado.

O universo

O termo “universo” é frequentemente tomado como se incluísse Deus e o mundo. Nós o utilizamos como referência a toda a realidade não idêntica a Deus. O teísmo afirma que o universo é temporal. Assim, para um teísmo genuíno, o termo “dependência”, quando aplicado ao universo, não significa apenas “dependência lógica”. Antes, implica a temporalidade inerente do universo em distinção da eternidade de Deus. Roma talvez esteja satisfeita em dizer que, filosoficamente, nós não precisamos nem podemos manter algo além da “dependência lógica”; todavia, nós, como Protestantes, não podemos fazer outra coisa a não ser sustentar que a doutrina da criação temporal é um elemento do teísmo cristão. A relação entre tempo e eternidade é insondável para nós. Como teístas cristãos nós admitimos francamente este fato. Se alguém julga que não pode aceitar uma filosofia a menos que compreenda plenamente todos os seus conceitos, tal pessoa não pode se tornar um teísta cristão. Nossa única resposta a ela é que não podemos prescindir de Deus. Se não podemos manter duas posições simultaneamente, é preferível manter aquela que nos é imprescindível[1]. Mas nossos oponentes desprezam nossa inabilidade de prescindir de Deus. Eles pensam nisso como “uma prova de perdição”[2] intelectual. Para eles, nossa visão de criação temporal é a marca d’água de incompetência mental. Vejamos o que eles dizem.
  
O Deus do antiteísmo

Eles dizem que nosso Deus é tão inútil como (segundo o dito) o é um ministro numa pensão. É dito acerca de nosso Deus que Ele não possui “valor” algum para a “consciência religiosa”. Pelo contrário, Ele extrai uma grande quantidade de energia dos homens, que seria mais bem direcionada na melhoria das favelas. Eles substituem nosso Deus “inútil” por um deus útil. Para ser realmente útil, um deus não deve estar “afastado” do mundo. Ele deve ser um “Deus que suja suas mãos”. Ele não deve estar assentado, como um monarca oriental, mas deve ser “o Presidente da grande comunidade”. Desse modo, Ele é colocado no seu cargo mediante voto popular; Ele deve ser “a vontade comum idealizada” e “o Democrata”. Um deus dessa “espécie” é realmente útil porque ele fará tudo que puder para nos ajudar, bem como a si mesmo; ele é “o grande trabalhador”. Se nos sentimos desencorajados, ele está ao nosso lado, e se ele, por seu turno, também está desencorajado, talvez possa “extrair de nossa fidelidade força vital e um aumento de seu bem-estar”. Este deus é extremamente sociável. Ele não é aquele “monopolista rixoso que afirma:‘não terás outros deuses além de Mim’”, sobre o qual lemos nas Escrituras. O deus “útil” permitir-nos-á sermos “científicos”. Ele mesmo é realmente um cientista pioneiro – uma verdadeira “mente aberta”, sempre em busca de novos fatos. Sua juventude é constante renovada como a da águia[3]. “Atualmente, a deidade é sempre a qualidade empírica superior em relação à qualidade presentemente evoluída”. Ele é uma “variante” ao invés de uma constante. Ele é o produto de um Vir-a-ser ao invés da Fonte do Ser. Está intimamente unido ao fluxo universal das coisas. Portanto, Ele pode ser (e de fato é) o verdadeiro cientista.
  
O universo do antiteísmo

Para nós, Deus é a fonte do universo. Para nossos oponentes, o universo é a fonte de Deus. Para eles, o Espaço-tempo precede a Divindade; o Processo é anterior à Realidade. Deus "é, stricto sensu, uma criatura, e não um Criador”. Ou, novamente, talvez seja preferível dizer que Deus é um aspecto ao invés de um produto do processo do universo. Ele é “apenas a tendência ideal nas coisas”. Em cada caso, o universo é mais original do que Deus; Ele e os homens são cidadãos no universo que existe independentemente de ambos. Acerca da origem do universo, ninguém sabe nada efetivamente. Mas isso não importa. Acidentes acontecerão. Se você colocar seis macacos datilografando várias máquinas de escrever, eles eventualmente produzirão todos os livros do Museu Britânico. O racional, de alguma forma, procede do não-racional; o maior, de alguma maneira, procede do menor; a mais escassa possibilidade, de algum modo, produz a realidade.

O futuro deste universo é igualmente uma questão de sorte. Talvez haja propósito no mundo, mas caso haja, tal propósito é, de qualquer maneira, autogerado; Deus não o colocou ali. Em suma, devemos afirmar que o universo “adquiriu” Deus e anunciou publicamente a fusão empresarial. Enquanto a transição está sendo efetuada, os homens podem ainda assinar cheques no antigo banco e serão honrados pelo novo. Em breve, contudo, novas cédulas serão impressas e o comércio dos homens religiosos continuará exclusivamente com o universo. Então, por que não comprar algumas ações na nova “especulação da fé”? A religião não precisa do Deus antigo. Por enquanto, você pode pensar que sim – você se acostumou com o seu Deus antigo da mesma maneira que se acostumou com seu chapéu antigo. E, assim como você se habituará ao seu novo chapéu após usá-lo por um tempo, você se habituará ao seu novo Deus. Ele, de fato, tem uma aparência melhor do que o anterior – ele vai durar mais tempo. É hora de mudança.

Conclusão

Acaso fizemos uma caricatura da posição de nossos oponentes? Não, de modo nenhum. Há vários filósofos que acreditam num Deus tal como descrevemos. Não é necessário buscar em livros empoeirados, mas nas listas das obras mais populares para encontrar o tipo de deus e de universo que abordamos. Sendo assim, não é injustiça afirmar que a representação que se faz de Deus é o deus de grande parte da literatura atual. É verdade que há pensadores idealistas que não usariam a terminologia grosseira de seus irmãos mais pragmáticos. Contudo, se eles levassem a cabo as implicações de sua própria posição – até o amargo fim delas –, eles terminariam exatamente onde o Pragmatismo termina. Os Idealistas, assim como os Pragmatistas, admitem, logo no princípio de seu raciocínio, que o “universo” (ou, como eles constantemente se referem, a “realidade”) é um conceito fundamental mais extenso e mais fundamental do que o conceito de Deus. Podem não afirmar com estas palavras, mas o sentido é equivalente. Eles incluem Deus e o homem no seu termo “realidade”. Portanto, desde o princípio, a posição deles se configura como monista[4].

E se Deus está, desse modo, confinado ao universo, Ele deve se tornar um deus em evolução ou temporal, uma vez que o universo é temporal. Quando um se move, o outro também o faz, tal como as rodas da visão de Ezequiel. Podemos concluir que o Deus que esboçamos acima é a única alternativa para o Deus que servimos. Você deve servir um desses dois Deuses. Todo ser humano, na verdade, serve a um ou ao outro. A completude e a exclusividade desta alternativa deveriam ser apontadas em tempo oportuno e em tempo não oportuno. Josué afirmou que pouco importava quais deuses, dentre todos disponíveis, o povo serviria. Todos os ídolos, ele descreve, eram em última análise o mesmo, não importa quais eram seus nomes ou formas. Josué também não tentou ocultar do povo estes deuses. Ele apresentou todos os ídolos perante os olhos dos jovens e lhes disse para fazer uma escolha. Sua política era exibir todos estes ídolos a fim de que sua vacuidade pudesse vir à tona. Essa é uma política perigosa? Certamente, mas todas as outras são mais perigosas. Não se pode encontrar segurança tentando esconder de nossa juventude aquilo que está acontecendo no mundo. Eles descobrirão de qualquer modo. A única questão diz respeito ao modo como encontrarão, seja conosco e sob nossa orientação, seja por si mesmos. Portanto, devemos buscar, no desenvolvimento de uma filosofia verdadeiramente cristã, mostrar aos nossos jovens homens e mulheres que todas as posições, com exceção do teísmo, conduzem à total e final destruição de toda experiência humana. Se formos fiéis nisso, nesta nossa tarefa, podemos confiadamente esperar que o Espírito de Deus usar-nos-á como instrumentos para o estabelecimento de Seu reino nos corações dos homens.

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Notas:
[1] No original o autor realiza um jogo de palavras, baseado em uma expressão idiomática, praticamente intraduzível para o Português: “If we cannot have both cake and bread we would rather have bread than to have neither of the two”.
[2] Referência a Filipenses 1:28.
[3] Referência a Isaías 40:31.
[4] Monismo (do grego  μόνος, único, sozinho) é concepção filosófica segundo a qual a multiplicidade e variedade dos entes podem ser explicadas em termos de uma única realidade ou substância. Dito de outra forma, existe apenas uma substância da qual todos os entes são derivados. Dentre os pré-socráticos, Tales e Heráclito foram um dos principais adeptos dessa corrente e, séculos depois, Plotino, o principal Neoplatônico da Antiguidade, advogava a existência de um deus transcendental e inefável, denominado “O Uno”, a primeira hipóstase, de cuja natureza indivisível derivavam três outras hipóstases; são elas: o Nous (νους), o Pensamento, a Inteligência Divina; a Psyché (ψυχή), a Alma Cósmica; e, finalmente, o Cosmos (κόσμος), mundo em toda a sua ordem e harmonia.

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Fonte: Presuppositionalism 101Cornelius Van Til - Collection of Articles From 1920–1939. The Christian Theistic Theory of Reality - The Banner, 1931, Volume 66, Pages 1032ff
Tradução: Fabrício Moraes
Divulgação: Bereianos
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AGORA GAYS PODEM CASAR NA IGREJA PRESBITERIANA DOS ESTADOS UNIDOS (PCUSA)



Por Augustus Nidocemus

No dia 19 deste mês (Junho de 2014) a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (PCUSA) aprovou com maioria folgada uma alteração na sua Constituição. Em vez de dizer “o casamento é entre um homem e uma mulher,” a Constituição da PCUSA agora diz “o casamento é entre duas pessoas”. Obviamente, a alteração foi feita para poder acomodar dentro da PCUSA os gays que querem casar na igreja e ter cerimônia religiosa realizada por pastores/pastoras presbiterianos.

Esse é mais um passo na direção da apostasia, desde que a PCUSA entrou pelo caminho do liberalismo teológico. Veja a notícia aqui.

Antes de mais nada, preciso esclarecer que essa denominação norte-americana nada tem a ver com a Igreja Presbiteriana do Brasil. Na verdade, a IPB tem consistentemente rechaçado nas últimas décadas todas as tentativas oficiais de aproximação com PCUSA, feitas tanto das bandas de lá como das bandas de cá. É injusto colocar todos os presbiterianos no mesmo saco em que esta denominação apóstata se meteu. Ela traiu sua herança presbiteriana e o que é mais importante, traiu o Cristianismo bíblico.

Não vou dizer que fiquei estarrecido, surpreso ou chocado com a decisão tomada finalmente pela assembléia geral da PCUSA. Não estou surpreso porque já era de se esperar que tal coisa acontecesse, cedo ou tarde. Afinal, as decisões que vinham sendo tomadas por esta denominação presbiteriana em décadas recentes, não poderiam levar a outra coisa senão a decisões como tais. A decisão de aceitar casamento gay como sendo cristão é o resultado da fermentação de vários conceitos e pressupostos que ao longo do tempo foram lentamente sendo introduzidos na alma da denominação, formando irreversivelmente a sua maneira de pensar e de agir.

Tudo começou quando a PCUSA passou a tolerar que o liberalismo teológico fosse ensinado nas suas instituições teológicas, as quais são responsáveis pela formação teológica, eclesiástica e ministerial dos seus pastores. O liberalismo teológico retira toda a autoridade das Escrituras como palavra de Deus, introduz o conceito de que ela é fruto do pensamento ultrapassado de gerações antigas e que traz valores e conceitos que não podem mais ser aceitos pelo homem moderno. Assim, coloca a Bíblia debaixo da crítica cultural. O passo seguinte foi a aprovação da ordenação de mulheres cristãs ao ministério, em meados da década de 60, com base exatamente no argumento de que os textos bíblicos que impõem restrições ao exercício da autoridade eclesiástica por parte da mulher cristã eram culturalmente condicionados, e portanto impróprios para a nossa época, em que a mulher já galgou todas as posições de autoridade.

O argumento que vem sendo usado há décadas pelos defensores do homossexualismo dentro da PCUSA segue na mesma linha. Os textos bíblicos contrários ao homossexualismo são vistos como resultantes da cosmovisão cultural ultrapassada dos escritores bíblicos, refletindo os valores daquela época. Em especial, os textos de Paulo contra o homossexualismo (Romanos 1 em particular) são entendidos como condicionados pelos preconceitos da cultura antiga e pela falta de conhecimento científico, que segundo os defensores do homossexualismo hoje já demonstra que ser gay é genético, não podendo, portanto, ser mais considerado como desvio moral ou pecado. Já que a cultura moderna mais e mais aceita o homossexualismo como normal, chegando mesmo a reconhecer o casamento entre eles em alguns casos, por que a Igreja, que deveria sempre dar o primeiro exemplo em tolerância, aceitação e amor, não pode receber os homossexuais como membros comungantes e pastores da Igreja? Essa foi a argumentação que finalmente prevaleceu, pois a decisão permite que homossexuais praticantes considerem a sua escolha sexual como uma questão secundária e não como matéria de fé, sujeita à disciplina eclesiástica da denominação.

Não estou dizendo que todos os que defendem a ordenação de mulheres necessariamente são defensores da ordenação gay e do casamento de homossexuais. Tenho bons amigos que defendem um e abominam o outro. Estou apenas dizendo que, em ambos os casos, o argumento usado para sua aprovação dentro da PCUSA foi o mesmo: o que os escritores bíblicos dizem sobre estes assuntos não tem validade para os dias de hoje, e portanto, a Igreja deve se guiar por aquilo que é culturalmente aceitável, politicamente correto e que faz parte do bom senso comum.

Existe uma brava minoria dentro da PCUSA que, de longa data, tem lutado contra a introdução desses conceitos. Agora, assiste com tristeza a derrota bater à sua porta. Desde que a PCUSA aceitou o homossexualismo, mais de 10.000 igrejas já saíram dela. Esta que já foi a maior denominação presbiteriana do mundo hoje está reduzida a 1,8 milhões de membros. E este número cai mais a cada ano.

Não devemos pensar que esse é um problema que se restringe àquela denominação americana. Os mesmos pressupostos que a levaram a tomar essa decisão já estão em operação em nosso país, a começar pelos seminários e instituições de ensino teológico que já caíram vítimas do método histórico-crítico de interpretação, do liberalismo teológico, do pragmatismo e do relativismo. O campo está sendo preparado no Brasil para que em breve evangélicos passem a considerar a homossexualidade como sendo uma questão pessoal e secundária, abrindo assim a porta para ordenação de gays e lésbicas praticantes ao ministério da Palavra e para a realização de casamento gay nas igrejas evangélicas.

Acredito que a única medida preventiva é não abrirmos mão da legitimidade e aplicabilidade dos valores e dos ensinamentos bíblicos para todas as épocas e culturas. Isto nos permitirá sempre fazer uma crítica da cultura a partir do referencial da Palavra inspirada e infalível de Deus. Foi quando a PCUSA subjugou a Bíblia à cultura que a lata de minhocas foi aberta. A Bíblia passou a ser julgada pela cultura. Vai ser difícil para liberais, neo-ortodoxos, libertinos e outros grupos no Brasil, que de maneiras diferentes colocam a cultura à frente da Bíblia, resistir à pressão. Quem viver, verá.

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Fonte: Blog O Temporas, O Mores.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Um esclarecimento sobre os jogadores que oram a "Oração do Pai Nosso"



Por Denis Monteiro


É muito comum vermos os jogadores orando em campo diante de uma decisão, quando vão entrar no lugar de outro jogador e/ou quando vai começar o jogo, eles fazem uma roda, falam algumas palavras de incentivo e oram a "Oração do Pai nosso".

O problema em si não é o fato de que cada um exerça a sua fé - bom, sabemos que a fé verdadeira deve ser, totalmente, voltada para Deus em Cristo Jesus - mas por eles orarem a "Oração do Pai nosso" e, por conseguinte, os evangélicos que estão assistindo se alegrarem com isso.

Então, aqui vão algumas considerações sobre a "Oração do Pai nosso"; não é um estudo "sistemático" sobre esta oração, mas uma parte dela, na qual ninguém presta atenção.

A "Oração do Pai nosso" começa justamente com a frase, "Pai nosso...". Por que "Pai nosso"?

A oração se inicia com o sentido de confiança e humildade. Confiança por chamar Deus de Pai, não só como criador, mas como providenciador de nossas necessidades. Mas, acima de tudo, quando O chamamos de Pai, é pelo respeito que devemos ter por Ele. E assim, a nossa humildade de reconhecermos que necessitamos diariamente de um único Pai.

Mas quando O chamamos de Pai, devemos entender esse "Pai" por que Ele é o criador de toda a humanidade, pois a Bíblia chama alguns de filhos por causa da morte expiatória de Cristo, onde que, por esses que Cristo morreu, serão:Eleitos, Chamados, Regenerados, Convertidos, Justificados, Adotados, Santificados, Perseverantes e Glorificados.

Nem todo o mundo pode chamar Deus de "Pai".

• A Bíblia é clara em mostrar que os que são Seus filhos são nascidos de Deus: "Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus." João 1.13.
• Estes que são nascidos de Deus, também foram predestinados para serem adotados: "E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,"Efésios 1.3.
• E todos aqueles que são nascidos de Deus, predestinados para serem adotados por Cristo Jesus e recebem o Espirito Santo, podem clamar "Aba, Pai", porque recebemos o Espirito de Adoção (Rm 8.15; cf. Gl 4.6).

Calvino, diz:

A primeira regra em toda oração consiste em apresentar-se a Deus em nome de Cristo, pois neste nome ninguém pode ser-lhe desagradável.
Ao chamar a Deus de Pai nosso, já pressupomos o nome de Cristo.
Mais ninguém no mundo é digno de apresentar-se a Deus e de aparecer perante seu rosto. Este bom Pai celestial, para livrar-nos de uma confusão que inevitavelmente nos turbaria, nos deu como mediador e intercessor a seu Filho Jesus. Detrás dos passos de Jesus podemos aproximar-nos a Ele confiadamente, tendo plena certeza de que não será rejeitado nada do que peçamos em nome deste Intercessor, pois o Pai não pode negá-lhe nada.[1]

Então, podemos concluir, de que se alguém não se encaixa da ordem descrita acima e nem Cristo é o centro de sua vida, logo, não deve chamar Deus de Pai. Porque somente por Cristo, como o centro de nossas vidas, podemos nos achegar a Deus e chama-LO de "Pai".

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Nota:
[1] João Calvino, Breve Instrução Cristã.


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Fonte: Bereianos

A verdade sobre o sábado em 10 minutos

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Neste vídeo o Rev. Dorisvan Cunha faz uma breve exposição sobre o Dia do Senhor... afinal, é sábado ou domingo? Veja e tire suas conclusões.




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Sobre o autor: Rev. Dorisvan Cunha é pastor da Igreja Presbiteriana em Parauapebas-PA. 
Fonte: A Verdade do Evangelho
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