sábado, 26 de abril de 2014

O QUE SÃO OS ATOS PROFÉTICOS?

Pare, Leia e Pense!


Uma reflexão sobre o significado dos atos proféticos para os dias de hoje

Por Robson T. Fernandes

Antes de qualquer coisa é preciso dizer que a intenção deste artigo não é denegrir a imagem de ninguém e nem difamar quem quer que seja, especialmente porque acreditamos sempre que existe a possibilidade de arrependimento e mudança de atitude diante de uma postura errada, principalmente porque, como cristãos, devemos sempre esperar que aja o exercício do arrependimento, confissão e perdão (2Cr 7:14).

Um dos problemas mais comuns e recorrentes na igreja evangélica brasileira diz respeito às falhas de interpretação bíblica, quando alguns textos são distorcidos, ora propositalmente ora por imperícia, imprudência ou negligência. De uma forma ou de outra, a utilização inadequada de um texto ou de uma passagem bíblica tem levado muitas pessoas ao engano e ao erro. É exatamente isso o que ocorre com as práticas dos atos proféticos, tão comuns entre aqueles que seguem o Movimento da Fé.

Mas, afinal de contas, o que é um ato profético?

René Terranova, que foi ungido apóstolo, depois “paipóstolo” e Patriarca, por Morris Cerrullo, tem se destacado como um dos principais líderes defensores do Ato Profético no Brasil. Ele diz: “A linguagem profética traz ao reino físico a existência do mundo espiritual. Na maioria dos seus discursos, Jesus falava de uma forma espiritual e o povo entendia na forma física, porque lhes faltava discernimento espiritual” (TERRANOVA, 2009) [1].

Ainda, o grupo Reavivamento Europa dá a seguinte definição para Ato Profético:
Como o nome já sugere são ações realizadas por homens, profetas de Deus com determinado sentido profético, com intuito de profetizar com ações e símbolos. São sinais que apontam para o reino espiritual e que tem conseqüências no reino físico. São ações expressas em atitudes e palavras [2]. 
Então, na visão dos seguidores do Movimento da Fé, o Ato Profético seria uma ação envolta em simbologia que supostamente traria ao mundo físico as realidades espirituais. Para isso, os defensores desse pensamento utilizam passagens bíblicas, especialmente do Antigo Testamento, em que Deus manda que os profetas utilizem símbolos para transmitir a Sua mensagem, a exemplo dos umbrais das portas com sangue na noite da décima praga do Egito (Ex 12), a pregação sem roupas de Isaías (Is 20:3-4), as sete voltas em torno de Jericó (Josué), a canga de Jeremias (Jr 27:2), o cinto de linho enterrado às margens do rio Eufrates (Jr 13:1-11), a botija de barro quebrada diante do povo (Jr 19:1-11) etc.

Em primeiro lugar, as ações praticadas pelos profetas bíblicos não traziam nada à existência, como afirmam os seguidores do Movimento da Fé. Antes, tinham um caráter didático de ensino, instrução e orientação para o povo de Deus, a exemplo do profeta Oséias que casou com uma prostituta. A ação de Oséias, ordenada por Deus, visava fazer o povo entender que havia se prostituído diante do Senhor, mas que Ele, o Senhor, continuava fiel ao Seu povo (Os 3) buscando tirá-lo da prostituição, assim como Oséias fez com aquela mulher. Essa passagem bíblica nos mostra que a situação de Gômer, a prostituta, era a mesma situação do povo de Israel. Esse meio didático utilizado por Deus só demonstra que o povo estava em prostituição.

Essas ações proféticas encontradas na Bíblia não trazem à existência coisas espirituais. Elas tinham um caráter didático para corrigir o povo, ensinar o povo ou trazer juízo sobre um povo. Por isso diz-se que tais ações fazem parte dos atos salvadores de Deus na história.

Por essa razão é que o escritor aos Hebreus declara:
Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. (Hb 1:1-4)
Em segundo lugar, a interpretação bíblica é distorcida com os Atos Proféticos da atualidade. Isso ocorre porque tais pessoas confundem o que é relato histórico e o que é ordem direta.

Um relato histórico é a descrição de algo que ocorreu no passado. Por exemplo, a Escritura relata que Judas traiu Jesus. E mais, a Bíblia revela que o próprio Jesus disse: “O que fazes, faze-o depressa” (Jo 13:27). Ainda, a Bíblia revela que Deus disse à Moisés: “tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (Ex 3:5). Ainda, a Bíblia revela que Jesus “cuspiu na terra e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego” (Jo 9:6). Ainda, a Bíblia revela que quando os sacerdotes entrassem na tenda da congregação, ou quando fossem ministrar no altar, deveriam lavar as mãos e os pés com água para não morrerem, e “isto lhes será por estatuto perpétuo, a ele e à sua posteridade, através de suas gerações” (Ex 30:20,21). Ou seja, se um relato bíblico e histórico é entendido como uma ordem para o povo de Deus e deve ser visto em forma de Ato Profético, deveríamos, então, trair Jesus, pois Ele mesmo disse “O que fazes, faze-o depressa”; deveríamos tirar as sandálias toda vez que entrássemos na presença de Deus em oração, na igreja ou em uma reunião espiritual com irmãos (Ex 3:5); deveríamos cuspir na terra e fazer “lodo” para passar nos olhos dos cegos para os quais oramos (Jo 9:6); deveríamos lavar as mãos e os pés todas as vezes que fôssemos oferecer algum tipo de serviço ao Senhor, para não sermos mortos (Ex 30:20,21) etc.

O fato é que esses atos, encontrados em sua grande maioria no Antigo Testamento, são direcionados à um povo, evento ou situação específica, e a Bíblia está apenas relatando o que houve. A Bíblia não está estabelecendo uma regra ou dizendo que deveríamos reproduzir o ato. Ainda, o leitor da Bíblia deve observar o que o texto está dizendo, para quem está dizendo e para quando está dizendo. Muitas vezes algumas pessoas erram porque se apropriam de promessas que dizem respeito ao povo de Israel no Antigo Testamento, como se isso dissesse respeito a nós hoje. Portanto, uma coisa é a Bíblia relatar um fato, e outra coisa completamente diferente é a Bíblia dar uma ordem direta e aplicável a nós hoje, como essa:
Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor. (1Co 5:11-13)
Em terceiro lugar, erram por ignorar a suficiência das Escrituras.

A busca por Atos Proféticos é gerada pela sensação de que a Bíblia não é suficiente para nos falar, para nos corrigir e nem para nos orientar, e muito menos para suprir nossas reais necessidades.

O apóstolo Paulo alerta seu discípulo Timóteo sobre isso:

Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério. (2Tm 4:1-5) Exatamente por essa razão, Jesus disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22:29).

O fato é que tais pessoas sentem a necessidade de algo mais, de uma nova experiência. Isso ocorre porque se afastaram dos princípios elementares da fé cristã e do Sola Scriptura. Para estes a Sagrada Escritura já não é suficiente, pois buscam algo mais. Contudo, esquecem que os atos dos profetas no Antigo Testamento, normalmente, estavam relacionados com o afastamento do povo dos princípios estabelecidos pelo Senhor, e como este povo estava negligenciando a Sagrada Escritura, Deus usa de outro meio para lhes falar ao coração. Por isso, ao buscar um suposto e hipotético Ato Profético estão apenas confessando publicamente o quão distante se encontram da Bíblia Sagrada.

Em quarto lugar, erram na contextualização e na aplicação dos princípios bíblicos.

Um exemplo que pode ser citado para ilustrar a questão é a armadura de Deus, em Efésios 6:10-20. Ali, naquele Texto, o apóstolo Paulo utiliza o artifício da ilustração para falar de verdades espirituais, e essas verdades são ilustradas através de uma realidade física. Ou seja, Paulo usa a armadura romana para falar da verdade da batalha espiritual, alicerçada no Evangelho da Paz (sandálias), Justiça (couraça), Salvação (capacete), Fé (escudo) e a Palavra de Deus (espada). Isso não quer dizer que o cristão tenha que usar uma armadura de verdade, ou que tenha que ter miniaturas de armaduras em sua casa como uma mandala, patuá ou amuleto, para estar protegido, pois isso seria superstição. Da mesma forma, os atos encontrados no Antigo Testamento, por exemplo, não precisam ser repetidos em nosso meio hoje, pois semelhantemente isso seria superstição, ou no mínimo seria o mesmo que achar que um método pode substituir ou provocar a ação do Espírito Santo, o que seria recair no erro do pragmatismo. Mas, é exatamente isso o que tem acontecido, quando essas “práticas” e “ações” são executadas com a finalidade de “bloquear”, “anular”, “derrubar” ou “vencer” fortalezas espirituais. Isso é o mesmo que os espíritas fazem ao usar sabonetes e sal grosso para tomar banhos de descarrego, ou usar alguns pós com supostos poderes especiais que acreditam poder livrar as pessoas de mal olhado, ou quando usam o pé de pinhão roxo para proteger suas casas e comércios, ou quando fazem um despacho para, supostamente, fechar o corpo contra maus espíritos. Tudo isso não passa de superstição, paganismo, feitiçaria e macumbaria.

Além do mais, é preciso destacar que não encontramos nenhuma ordem bíblica para que façamos tais coisas. É preciso relembrarmos que uma coisa é a Bíblia relatar algo que ocorreu, e outra, completamente diferente, é a Bíblia ordenar que pratiquemos algo.

Por isso, mais uma vez é preciso repetir o que o escritor aos Hebreus declara:
Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, NESTES ÚLTIMOS DIAS, NOS FALOU PELO FILHO, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. (Hb 1:1-4)
Portanto, no passado Deus utilizou alguns meios didáticos para ensinar o povo e conduzi-los à verdade da chegada e da presença do Messias, Jesus Cristo. Mas, a partir de Jesus o meio que Deus tem utilizado é o próprio Jesus, mediante a ação do Espírito Santo, por meio da Sagrada Escritura. Se no passado Deus usou, por exemplo, o Urim e o Tumim (Ex 28:30), hoje Ele usa a Sua Sagrada Palavra, revelada aos Seus filhos.
Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar. (Hb 4:12-13) Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra. (2 Tm 3:14-17)
A TRANSFERÊNCIA DE GERAÇÃO COMO UM ATO PROFÉTICO

A ideia de “Transferência de Geração”, praticada pelo grupo Diante do Trono, é caracterizada simplesmente como uma distorção e afastamento das Escrituras, baseada em manipulações de datas.

ASSISTA O VÍDEO DA TRANSFERÊNCIA DE GERAÇÃO NO 15º CONGRESSO DE ADORAÇÃO E INTERCESSÃO DIANTE DO TRONO 

O argumento utilizado para se defender a “Transferência de Geração” é de que existe uma promessa em Joel 1:3, em que são citadas cinco gerações, sabendo que uma geração dura em torno de 40 anos. Além disso, afirmam que um país só é considerado como tal após a sua independência, e como a independência do Brasil só ocorreu no dia 7 de setembro de 1822, a promessa de Deus é conduzida até meados dos anos 1980. Os defensores deste pensamento afirmam especificamente o ano de 1982. Então, essa geração de 1982 seria a responsável por promulgar um santo jejum, convocar uma assembleia solene, congregar todos os anciãos e todos os moradores da terra para a Casa do SENHOR e clamar à Ele (Joel 1:14).

O primeiro problema com o argumento utilizado é para quem foi destinada a promessa de Joel 1:3. Para quem o Texto está falando?

O contexto do livro de Joel diz respeito a devastação da terra por uma dupla praga, de locustas [3] e seca. Então, a promessa de Joel é de que se o povo de Israel voltar à adoração do Deus verdadeiro, a sua terra será restaurada, tanto da praga dos gafanhotos como da seca. Portanto, essa profecia diz respeito às pragas derramadas sobre o próprio povo de Deus por sua apostasia, na época de Joel. Dessa forma, se o fundamento para a transferência de Gerações, praticada pelo Diante do Trono, é o texto de Joel, então esse grupo está confessando publicamente a sua apostasia, assim como foi com o povo do profeta Joel.

O profeta Joel alerta o povo de que essa praga não deveria ser esquecida, e, por isso, precisava ser relembrada às gerações futuras para que estas gerações entendessem que ela era a representação de um juízo ainda maior no porvir. Se esta praga foi terrível, o Dia do Senhor será muito mais (Jl 2:1-11). Portanto, o que deveria ser lembrado às gerações futuras era o derramamento do juízo de Deus, que não tem nenhuma relação com a suposta Transferência de Gerações.

O segundo problema com o argumento utilizado é que não há nenhuma evidência bíblica de que uma geração dure 40 anos, como essas pessoas desejam.

Orlando Boyer afirmou que a geração é a “duração média da vida de um homem” (1998, p.292) [4], e Werner Kaschel e Rudi Zimmer afirmaram que uma geração é a “sucessão de descendentes em linha reta: pais, filhos, netos, bisnetos, trinetos, tataranetos (Sl 112.2; Mt 1.17)” (1999, p.79) [5], ainda afirmaram que geração pode ser o “conjunto de pessoas vivas numa mesma época” (Idem).

Então, o texto bíblico de Mateus 1:17 nos diz que de Abraão até Davi são 14 gerações, em que temos um tempo médio de mil anos. Portanto, cada geração dura em média 71 anos. Ainda, o Salmo 90:10 nos diz que “os dias da nossa vida chegam a setenta anos”, que é a duração média de uma vida. Portanto, aqui, uma geração dura em média 70 anos.

Com isso, não há nada que faça pensar que uma geração dure 40 anos, como pretendem os defensores dos Atos Proféticos e da Transferência de Geração.

O terceiro problema com o argumento utilizado é afirmar que um país só é considerado como tal após a sua independência. Mas a promessa de Joel não tem nenhuma relação com a formação de um país, especialmente porque o Israel étnico sempre existiu como nação, preservando a sua cultura e religiosidade, até mesmo quando não tinha um território, e mesmo durante os cativeiros. Ainda, este povo só passou a ser reconhecido como um país em 1948, quando foi fundado o Estado Moderno de Israel.

O quarto problema com o argumento utilizado é tentar fazer uma correlação entre esta profecia e o Brasil. Não existe nada no texto, absolutamente nada, que dê chance para isso. Dessa forma, podemos ver claramente como esses grupos distorcem a Bíblia deliberadamente e como fazem isso contando sempre com a falta de conhecimento, falta de discernimento e falta de entendimento do povo. Esse é um claro exemplo de como a Bíblia tem sido tratada com desprezo e descaso por esses grupos.

Para piorar a situação, ainda mais, utilizam os textos de 1Samuel 16:13 e 2Coríntios 3:4-6 para fundamentar a prática de Transferência de Geração. Vejamos os textos:
Tomou Samuel o chifre do azeite e o ungiu no meio de seus irmãos; e, daquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apossou de Davi. Então, Samuel se levantou e foi para Ramá. (1Sm 16:13)
E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. (2Co 3:4-6)
O texto de 1Sm 16:13 relata o encontro entre Davi e Samuel, quando Davi foi ungido pela primeira vez. Esse texto fala da chamada de Davi ao trono de Israel, mas não pode ser visto como algo que se repete nos dias de hoje, especialmente porque o texto diz que nesse momento, com Davi, o Espírito do SENHOR se apossou dele. Contudo, na Nova Aliança o Espírito Santo se apossa do convertido no momento da conversão. Por isso que o apóstolo Paulo nos diz que “em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1Co 12:13). E diz mais, pois “não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8:9). Portanto, não podemos afirmar que o fato de alguém ser ungido com azeite nos dias de hoje é o princípio para a chegada do Espírito Santo e nem para a Sua descida. Muito menos que é sinal da aprovação Divina.

O que vemos com isso, mais uma vez, é a apropriação indevida de um texto que está em outro contexto, dentro de outra Aliança e que é dirigido à outra pessoa. Um texto que é descritivo e que é manipulado para parecer uma ordem direta ou orientação Divina para sua repetição na atualidade.

O texto de 2 Coríntios 3:4-6 é outro que tem sido muito distorcido e mal interpretado por muitas pessoas. Essa passagem diz respeito a Nova Aliança, em que todo membro é um sacerdote, diferente da antiga Aliança. Se na antiga Aliança havia um grupo exclusivo de sacerdotes, na Nova Aliança todo membro é um ministro e sacerdote, como pode ser visto aqui. Portanto, todo aquele que nasceu de novo é um ministro da Nova Aliança, e esta Aliança não é da letra, ou seja, não é igual àquela que foi gravada com letras em pedras (3:7), porque a letra mata (3:6). Mas que letra é essa? Como já foi dito, é a letra que foi gravada em pedras (3:7), isto é, a Lei que foi dada à Moisés. Esta letra que mata, portanto, não tem nenhuma relação com o estudo ou pesquisa, mas com a Lei do Antigo Testamento.

Nesse sentido, Moisés fez algo que poderia ser visto como um ato profético, pois ele passou a usar um véu sobre a face. Porém, o apóstolo diz que “não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia” (3:13), e que para alguns, “até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido” (3:14). Por isso, não precisamos de certos artifícios, porque se essa letra em tábuas de pedra é vista como “ministério da condenação”, devemos entender que “em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça” (3:9), que é o que vivemos hoje na Nova Aliança. E este véu, usado por Moisés, foi apenas um artifício utilizado por ele para que o povo não percebesse que a glória de Deus estava desvanecendo. Portanto, o uso desse tipo de prática, nos dias de hoje, é apenas uma tentativa de ludibriar o povo, um artifício, para que este pense que a glória de Deus está presente ali, naquele “rosto”.

Por isso, não precisamos de Atos Proféticos e nem de unções descabidas.

Por isso, podemos ver com clareza como esses grupos distorcem a Sagrada Escritura, a exemplo da utilização de 2Coríntios 3:17: “Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade”.

Bem, a liberdade quando é do Senhor nem dá lugar à carne (Gl 5:13), nem deturpa a verdade do Evangelho (1Pe 2:16) e nem causa escândalo (2 Co 6:3). Já que esse não tem sido o caso desses grupos só podemos concluir, biblicamente, que essa liberdade que têm utilizado não provém de Deus e que mais uma vez o texto bíblico utilizado não fundamenta as suas práticas.

Por último, só para entender com mais clareza como a prática do Ato Profético é uma distorção e como tem sido utilizada para fins antibíblicos, vejamos o que René Terranova diz sobre a relação que existe entre Ato Profético, mapeamento de genealogia e maldição hereditária:
A Bíblia relata que os judeus davam muita importância à genealogia, ao conhecimento de suas origens. Os judeus ortodoxos têm o costume de registrar a genealogia de suas famílias. Nós poderíamos ter essa cultura, mas nossa história é muito mal formada. Mal conhecemos a identidade de nossos pais, muito menos do nosso povo e nem sabemos como retratar nossa árvore genealógica.Um dos nomes de Jesus é Raiz de Davi, porque no contexto messiânico se Jesus não fosse a Raiz de Davi, não seria o Messias (Mt. 1). Em certas ocasiões, poderemos tentar uma conquista de território, mas nosso argumento genealógico poderá ser empecilho por não termos respaldo local ou não termos um nome de família honrado. Deus pode mudar esse quadro restaurando a nossa genealogia com um ato profético de quebra de maldições dos antepassados. Procure pelo menos descobrir quem foram seus familiares até a quarta geração que lhe antecedeu. Quando resgatamos a nossa história genealógica conhecendo nossas origens, fica mais fácil quebrar maldições hereditárias [6].
Contudo, Colin Brown Lothar demonstra que esse tipo de pensamento não passa de uma heresia, e que já era praticada por grupos anticristãos a exemplo do gnosticismo, ebionismo e pelos defensores dos misticismos judaicos:
Genealogia ocorre no NT somente em 1Tm 1:4 e Tt 3:9, e alude especificamente à prática de pesquisar a árvore genealógica a fim de estabelecer a descendência. Segundo qualquer exegese direta, aqueles que assim faziam somente podem ter sido judeus, que, a partir de genealogias do AT e de outras, estavam propagando todos os tipos de “mitos judaicos”, bem como, provavelmente, especulações gnósticas pré-cristãs. É também possível que os ebionitas empregassem argumentos semelhantes para atacarem a doutrina do nascimento milagroso de Jesus que circulava na igreja cristã [7]. Portanto, a única coisa que podemos perceber com tudo isso é que estamos simplesmente presenciando o surgimento de heresia em cima de heresia e que não há nada novo debaixo do sol (Ec 1:9).
Que Deus nos ajude.

NOTAS

[1] Atos proféticos na Igreja - comandos do Espírito Santo. Disponível em: . Acesso em: 24 abr 2014. 
[2] O que é um ATO PROFÉTICO?. Disponível em: . Acesso em: 24 abr 2014.
[3] Locusta é uma espécie de gafanhoto.
[4] BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. São Paulo: Vida, 1998.
[5] KASCHEL, Werner; ZIMMER, Rudi. Dicionário da Bíblia de Almeida. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
[6] Atos proféticos na Igreja - comandos do Espírito Santo. Disponível em: . Acesso em: 24 abr 2014.
[7] LOTHAR, Colin Brown. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000. p.855

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Fonte: Blog Calebe Robson. Divulgação: Púlpito Cristão.

CRIANÇAS PODEM SER MÁS?



Por Mauro Meister 

Crianças podem ser más? Esse é o mais recente debate levantado a partir de uma novela global. Serviu para, pelo menos, uma coisa! Mas a pergunta inicial é, por que a pergunta precisa ser feita?

A resposta sociológica vem na matéria da Revista Época: "Um obstáculo para o tratamento de crianças com sinais de transtorno de conduta é o próprio tabu da maldade infantil. O senso comum afirma que as crianças são inocentes – uma crença que resulta da evolução histórica da família. Até o século XVII as crianças eram consideradas pequenos adultos e muitas nem sequer eram criadas pelos pais. No século XVIII, isso mudou. A família burguesa fechou-se em si mesma, dentro de casa. O lar virou um santuário e a criança o centro dos cuidados e das atenções. Foi o nascimento do sentimento de infância, dentro de um grupo que agora tinha como laços o afeto e o prazer da convivência. Se a criança é o eixo do sentimento moderno de família, ela não pode ser má. Eis o tabu." Como bem diz o texto, é uma crença social, senso comum. O que não diz a matéria é que essa crença tem sido usada como teoria educacional há várias décadas, a partir das teorias de Piaget e do construtivismo (que parte do princípio da neutralidade moral da criança, explicada em seu livro "O Juízo Moral da Criança - para uma ampla exposição do tema, veja o livro de Solano Portela, "O que estão ensinando aos nossos filhos?".

Mas o que a doutrina bíblica diz a respeito? Ora, uma doutrina clássica, rejeitada, inclusive por muitos cristãos, é a doutrina da depravação total do ser humano. Em suma, essa doutrina afirma que a partir da queda, o ser humano, em busca de autonomia, rejeitou a santidade de Deus e não tem mais como agradá-lo. Em tese, todos temos o potencial para ser Hitler ou ter "desvio de conduta", isto inclui, sim, as crianças. Elas podem ser más e pais podem ser ainda piores, abusando, seviciando e até matando os próprios filhos (basta ver o jornal para ver as últimas manchetes a respeito do pai e madrasta que assassinaram o filho, de 6 anos, com crueldade, por motivos mais do que fúteis). Mas, os especialistas já deram o seu veredicto na matéria: "Os especialistas afirmam que não se cura transtorno de conduta, mas ele pode ser amenizado".

E como a teologia poderia falar contra os especialistas? Afinal, a teologia não tem espaço na arena pública, é matéria de crença! Mas e a pressuposição a respeito da neutralidade das crianças, não é? Perceba o leitor que o que a sociedade crê a respeito da infância vira, em Piaget, teoria educacional, supostamente um especialista falando, aplicada por mais de 30 anos em nossas escolas. É claro que o próximo passo será a busca de uma razão fisiológica, afinal, no mundo contemporâneo tudo pode ser explicado sem causas espirituais.

A fé cristã vê a questão por dois ângulos: 1) a causa primária de qualquer 'transtorno', é sempre a mesma, a condição humana de queda e distância de Deus, até se houver uma explicação fisiológica/biológica . 2) a fé cristã acredita em redenção, uma salvação que está acima de nossas habilidades de "explicar" todas as coisas e fazer coisas que nós, homens, não podemos fazer. Sei, isto faz de mim um obscurantista...

Aqui, onde publiquei originalmente, meu perfil público no Facebook:
http://www.facebook.com/MauroMeister
Veja aqui a matéria da Revista Época:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI130697-15228,00.html

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Fonte: Ó Tempora, Ó Mores. Divulgação: Púlpito Cristão.

Batalhar pela Fé

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Por Morgana Mendonça dos Santos


"Amados, enquanto me empenhava para vos escrever acerca da salvação que nos é comum, senti a necessidade de vos escrever exortando-vos a batalhar pela fé entregue aos santos de uma vez por todas" - Judas 1.3

Orígenes, um pai da igreja, acerca do livro de Judas disse: "é um livro pequeno, mas cheio de um vigoroso vocabulário". Um livro muito esquecido pela maioria, vinte e cinco versículos, recheados de ensinamentos com um potente vigor apologético. Judas motiva seus leitores a pelejar, lutar pela fé, nos trazendo a memória que antigamente e que também hoje precisamos defender a fé, que foi recomendada entre o povo do Senhor. Não podemos afirmar a data da carta, nem ao menos o público para qual foi escrito, existe uma certa semelhança com a carta de 2 Pedro (capítulo 2), porém podemos afirmar com toda a convicção que foi escrita para cristãos, para a igreja, o povo do Senhor. Percebemos, de forma categórica que Judas escrevendo para uma igreja ou para várias, tendo a intenção de ajudá-las a defender-se de um ataque específico ao evangelho: Falsos ensinos, um ataque que acontecia dentro da igreja. Notamos que na época de Judas as heresias, falsas doutrinas, ensinamentos errôneos tomavam um proporção no meio dos cristãos. A igreja estava sendo atacada!

Percebemos no texto que a intenção de Judas (irmão de Tiago) ao escrever essa epístola, era encorajá-los à compartilhar a unidade que eles tinham em Cristo, no entanto, uma situação sobreveio, e como um alerta moveu-se a falar sobre a defesa da fé. Podemos afirmar que essa pequena carta nos motiva e nos encoraja com relação a apologética. É interessante notar também que alguém poderia dizer ou pensar que a apologética destina-se somente aos que estão do lado de fora da igreja de Jesus Cristo, em certo sentido sim, entre a igreja e o mundo. No entanto no verso 4 observamos Judas dizer: "se introduziram com dissimulação", estavam com o intuito de trazer dúvidas a fé santíssima (1.20), causando divisões, trazendo uma influência anticristã (1.19). Como Judas os descreve? Ele diz que: "Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Corá" (1.11). Ilustrações tiradas do Antigo Testamento, que ocorreram no contexto do povo do Senhor, mostram que seus leitores conheciam bem as Escrituras, inclusive os apócrifos (9,14).

O propósito de Judas seria lembrar aos seus leitores que existem falsos cristãos dentro das congregações. Esses homens entraram no caminho de Caim, que motivado por uma ira no seu coração, matou seu próprio irmão. O nome de Balaão é mencionado, levado pela ganância (Nm 31.16). A referência a Corá é chocante, um sacerdote, porém rebelando-se contra a ordem e a estrutura divina firmada em Israel. Sua oposição contra a autoridade da Igreja no Antigo Testamento (Nm 16; 26). Porém, qual o propósito de Judas com esses exemplos?

Para os leitores dessa carta, era necessário entender que esses falsos mestres não somente distorciam o verdadeiro ensino como também sorrateiramente manipulavam em prol das suas causas. Como Caim, esses invasores desejavam, de acordo com Judas, inverter a direção da igreja, assassinar o ensino a partir de dentro da casa do Senhor. Como Balaão, esses falsos mestres estão preocupados somente com o seu ganho, interesses pessoais (1.12). A citação do nome Corá, vem para provar que esses pseudocristãos estão arraigados na mesma revolta, (oposição), disputas rebeldes que os falsos mestres também estavam envolvidos.

"O problema é que a igreja tem sido infiltrada por aqueles que se opõe ao evangelho. Eles vieram para dentro da igreja e vivem entre os cristãos" disse Scott Oliphint¹. A pergunta de Oliphint, será a nossa nesse texto: Como, então, deveriam os cristãos responder a essa situação nos dias atuais?

Judas no verso três nos garante a resposta pratica para tal situação, ele diz que devemos "batalhar pela fé". A palavra traduzida por batalhar não é usada em nenhum outro lugar do NT. Os cristãos precisavam se ver em um campo de guerra, precisavam entender o que significa batalhar pela fé. São como soldados, recrutados dentro de um exército, para glória do seu Comandante Supremo. Deveriam estar prontos, preparados para tudo que tinha relação com a Fé dada aos santos. Assim como vemos o apóstolo Pedro orientando os cristãos:

"Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós" - 1Pedro 3.15

Vejamos mais atentamente as palavras inspiradas que Judas escreve no verso três:

"A batalhar pela fé (1) entregue aos santos de uma vez por todas (2)" (v.3)

Na visão de Judas, quando batalhamos por nossa fé não estamos travando combate por algo que temos e que poderíamos perder. Não é a fé dada a nós por Deus, essa na maioria das vezes é a referência ao dom de Deus (Ef 2.8). O cerne da questão em Judas é a fé como verdade das Escrituras, verdades que compõem o Evangelho. Batalhamos pelo Evangelho! Não faço menção de algo sobre o exercício pessoal de fé, a audiência de Judas deveria batalhar sobre o conteúdo da verdade da nossa crença, nossa declaração de fé.

"O credo cristão mais antigo de que temos ciência consistia da afirmação "Jesus é Senhor" (1Co 12.3). Não temos nenhum modo de saber no que, exatamente, consistia "a fé" quando Judas escreveu sua epístola. Mas não devemos subestimar a capacidade dos cristãos no primeiro século de articular sua fé". ²

Judas menciona essa fé fazendo o complemento de que foi "uma vez por todas entregue aos santos". O que ele quer dizer com "uma vez por todas"? Significa completude, foi recebido de forma completa, não é mais necessário nenhuma outra revelação além da que Deus lhes dera. Nada poderia ser acrescentado ou subtraído da revelação que receberam da parte do Senhor (Dt 4.2; Ap 22.18-19). Além de ser uma vez por todas, foi "entregue". Isso nos traz a memória à fonte da fé que defendemos. É uma fé revelada e dada pelo próprio Deus. Ao defender o cristianismo, precisamos entender que a nossa defesa está baseada na revelação divina, nós a recebemos pela graça de Deus.

Fazendo uma rápida análise e comparação de 1Pe 3.15 e Judas 1.3, notamos que Pedro usa a palavra "santificar" e a palavra que Judas usa é "santos" derivada da mesma semântica. Poderíamos então pensar que essa fé é entregue a todos aqueles que são separados, santificados. Judas escrevendo diz: que Deus concedeu essa fé, de uma vez por todas, ao corpo santificado de Cristo, àqueles que são separados como santos. Segundo Scott Oliphint: "Estar em Cristo é ser "declarado santo". Ser declarado santo é ter à fé. Ter fé traz consigo a responsabilidade de defesa e recomendação dela. A apologética é para todos os santos". ³

Vivemos nos dias atuais um tempo difícil. Podemos pensar na igreja que recebeu a carta de Judas: poderia ser essa a nossa condição hoje? Como, então deveríamos responder a essa situação nos dias atuais? A principal forma de batalhar pela fé seria explicar e expor a realidade e verdade das Escrituras Sagradas. No tempo de Judas, os falsos mestres (v.12,13) estavam pervertendo a graça de Deus (v.4), os cristãos precisavam lutar e argumentar que essa graça que leva a imoralidade é oposta à fé, mostrando que a graça genuína é resultado de uma gratidão obediente, santidade e fidelidade a esse Evangelho. Somos de fato chamados por Judas a defender esse evangelho (fé), dentro e fora das nossas igrejas, porém isso precede conhecer as Escrituras. Essa fé que culminou em Jesus Cristo, uma fé que entende que a revelação de Deus está completa em Cristo.

Judas finaliza sua carta orientando os cristãos: "Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna." (v.20,21). Termino, com um trecho da canção do grupo Logos: “Glória, glória ao Autor da minha fé”!

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Notas:
1- Scott Oliphint, A Batalha pertence ao Senhor, pág 68.
2- Ibid, pág 75.
3- Ibid, pág 83.

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Sobre a autora: Morgana Mendonça dos Santos, Recifense, Cristã Reformada, Missionaria, pecadora remida pela Graça.

Divulgação: Bereianos
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sexta-feira, 25 de abril de 2014

IRMÃ QUE USA BATOM SERÁ NOIVA DO CAPETA




Por Ruy Cavalcante

A provocação feita no título deste artigo traz à tona um problema antigo na igreja evangélica, que é a tentativa de se construir cristãos genuínos fundamentados em ordenanças humanas. Leia este artigo como uma espécie de continuação do anterior, de autoria de Maurício Zágari, sob o título "Usos e costumes, tradições e a Cruz de Cristo".

Portanto, continuando neste tema, vejamos o que dizem as Sagradas Escrituras:
Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que é que vocês, então, como se ainda pertencessem a ele, se submetem a regras: "Não manuseie!" "Não prove!" "Não toque! "? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne.” (Cl 2:20-23)
A tentativa de se alcançar a purificação do cristão a partir de regras estabelecidas por homens é antiga, remonta ao início da igreja. Afinal de contas, sempre foi mais fácil simplesmente proibir do que ensinar, pois este último exige dedicação, esforço e zelo.

A maioria de nós, cristãos evangélicos, já se deparou com algumas proibições sem qualquer vínculo com o Evangelho onde, em sua maioria, são uma tentativa sincera de nos afastar do pecado. Digo maioria, pois tenho consciência de que há casos em que a tentativa na verdade é de dominar a vida das pessoas, mas não entrarei nesse mérito.

Entretanto sinceridade não garante justiça, essa se alcança com a verdade, e a verdade está descrita na Palavra de Deus.

Quando não ensinamos com afinco a Palavra de Deus, a única que verdadeiramente liberta (Sl 119:9), só nos resta criar inúmeras regras para tentar impedir que o povo peque. Dai no lugar de ensinar a guardar a Palavra de Deus, proibimos as mais variadas práticas. Proibimos o namoro, proibimos a amizade de crentes com descrentes, proibimos que se use calça jeans, proibimos a televisão, o batom ou até mesmo que se leiam livros não cristãos.

Mas sinto informar que, conforme foi dito por Paulo aos Colossenses, essas regras não tem poder algum contra o pecado. Só quem pode converter o coração do ser humano é Deus, e Ele escolheu fazer isso através da pregação do Evangelho.

Quando Jesus nos mandou fazer discípulos ele foi taxativo ao afirmar que deveríamos ensina-los a guardar tudo o que Ele havia dito, em momento algum ele descreveu alguma lista de regras e leis a serem cumpridas por aqueles a quem anunciaríamos o Evangelho, pois obviamente Ele sabia que essa função, a de determinar o que deveria e o que não deveria ser praticado por nós, cabia ao Espírito Santo, conforme afirma:
“E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.” (Jo 16:8)
Como sabemos, o Espírito Santo faz habitação na vida daqueles que creram em Jesus, que foram alcançados pelo Evangelho de Cristo. A estes, conforme profetizado por Jeremias, as leis de Deus estariam escritas em seus corações, no seu interior, não havendo necessidade que se ensine o que se deve e o que não se deve fazer (Jr 31:33-34). Esse papel cabe ao Espírito Santo, e Ele o cumpre na vida dos regenerados, sem exceção.

Usemos a prática sexual como exemplo. Sexo fora do casamento é pecado? A resposta é sim, e duvido que qualquer cristão discorde dessa afirmação.

Porém, se abster de transar fora do casamento não é algo que se ensine proibindo o namoro (por exemplo), e sim ensinando o Evangelho. Sem Evangelho não há coração puro, e sem coração puro até a castidade é impureza. É justamente essa a ideia defendida por Tito, quando afirma:
“Tudo é puro para os que são puros, mas para os corrompidos e incrédulos nada é puro; antes tanto a sua mente como a sua consciência estão contaminadas.” (Tt 1:15)
A pureza no coração humano é obra do Espírito Santo de Deus e ele a executará até o fim (Fp 1:6). Não há nada que possamos fazer para nossa própria purificação. Qualquer tentativa humana de se lavar pode ter aparência sincera e de sabedoria, mas será ineficaz.

Repito, sem a pureza genuína executada por Deus em nós, até mesmo a abstinência radical de tudo o que possua aparência maléfica será considerada impureza, pois a contaminação vem de dentro, não de fora do ser humano (Mc 7:20).

Portanto, cabe a cada um de nós ensinarmos nossos irmãos tudo aquilo que a Palavra de Deus ensina, a começar do Evangelho, das Boas Novas da Salvação em Cristo. Este é o caminho para que o pecado seja odiado por eles, esta é a porta que Deus escolheu para operar transformação em nossos corações, nos tornando puros e santos.

Não negligencie isso por coisas inúteis, cumpra seu papel de evangelista e deixe que o Espírito Santo cumpra o dEle, pois Ele jamais falhará. Deus abençoe a todos.

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Ruy Cavalcante. Púlpito Cristão.

USOS E COSTUMES, TRADIÇÕES E A CRUZ DE CRISTO








Por Maurício Zágari

A cruz é o centro da nossa fé. Tudo o que tem a ver com a crença cristã se baseia na subida do Cordeiro à cruz, para se oferecer como sacrifício pelo perdão dos pecados. Sem o madeiro, não há cristianismo. Assim, podemos dizer que esse objeto é o mais importante da nossa religião. Mas… onde está a cruz? Por que ela não foi preservada? Que fim levou? Bem, eu acredito que sei onde está a cruz de Cristo.

O tempo de decomposição da madeira varia muito. Em uma floresta úmida, um galho de árvore caído ao chão leva cerca se seis meses para desaparecer. Madeira pintada, por sua vez, demora 13 anos. Se houver cupins por perto e nenhum produto químico que a preserve, a decomposição é acelerada. Imersa em água, por vezes ela dura mais (como antigos navios naufragados). Mas raríssimas vezes vai durar séculos – e, ainda assim, se constantemente tratada.

A cruz de Cristo, da mesma maneira que as cruzes em geral daquela época, ficava exposta à influência do clima. Chuva, vento, cupins, fluidos corporais e o constante contato com carne morta cheia de bactérias que causam decomposição. Ela certamente não foi usada somente por Jesus, mas, provavelmente, foi reaproveitada em dezenas, talvez centenas, de crucificações. Isso significa muito uso, muita exposição, degradação, decomposição facilitada por uma enorme gama de fatores ambientais.

Então, em minha opinião, ela apodreceu. Se fragmentou. Foi decomposta. Virou comida de cupins e outros seres que agem no apodrecimento de matéria orgânica. E suas moléculas estão espalhadas por aí. Talvez o café que você tomou está manhã tenha átomos de carbono que estiveram na cruz de Cristo dois mil anos atrás. Talvez aquele filé do almoço. Ou mesmo a camisa de algodão que está vestindo.

Que tragédia! A cruz que nos deu acesso ao céu possivelmente apodreceu! Bem, na verdade… não é uma tragédia tão grande assim. Atrevo-me a dizer que nem tragédia é. Porque aquela cruz, embora tenha desempenhado um papel superior ao de qualquer outro objeto na face da terra para a salvação da humanidade de seus pecados, não carrega em si nenhum valor espiritual. Ela foi importante para o ato da morte do Cordeiro, mas, depois disso, não servia para mais nada. Assim que Jesus expirou, a utilidade espiritual dela acabou. Estava consumado. Que apodreça em paz.

Na Idade Média, houve uma febre na Europa de pessoas ganhando dinheiro por vender a ricos ignorantes o que seriam “lascas da cruz de Cristo” (foto). Tudo falsificação, mas a falta de entendimento do papel de cada coisa no plano de salvação levou muita gente a valorizar o que não possuía valor algum. Pagavam fortunas para adquirir de espertalhões pedaços de um objeto que não tinha mais importância – isso se fossem de fato da cruz, mas não eram. Em vez de olhar para Jesus, esses cristãos sinceros, mas ignorantes, fixavam-se num acessório.

O ser humano não mudou. Continuamos, em nossos dias, dando valor ao que já teve sua função no passado mas hoje não tem mais. Nos agarramos a relíquias que cumpriram seu papel em algum momento de nossa fé e não percebemos que podemos deixá-las apodrecer sem que isso influencie em nada nossa relação com Cristo. Mantemos usos e costumes de uma era passada que absolutamente não têm mais nenhuma razão de ser e os consideramos o centro de nossa devoção.

Todos conhecemos a história do uso de instrumentos musicais nas igrejas. Quando chegaram as guitarras, os contrabaixos elétricos e as baterias, logo foram associados a musicas pagãs e, consequentemente, demonizados. Só o órgão era visto como um santo instrumento. Os cristãos de então estavam tão agarrados a suas tradições que não conseguiam enxergar que a cruz tinha apodrecido e perdera a importância. Outro exemplo é a chegada do retroprojetor. Quando o hinário começou a ser substituído por esse equipamento – um recurso para que as pessoas pudessem ter as mãos livres e levantá-las durante o louvor – houve gritaria. Como pode não usarmos mais os sacrossantos hinários?! Houve indignação. Hoje ninguém mais pensa nisso.

Os louvores, aliás, foram e ainda são alvo de intenso debate. A ponto de termos inventado uma separação entre “hinos” e “corinhos” que não faz nenhum sentido. Ambos são música cristã, mas os cânticos mais antigos acabaram sendo diferenciados para agradar os irmãos que não gostavam dos estilos musicais contemporâneos. Mas não há diferença na essência desses dois grupos de músicas: sua finalidade enquanto louvor é precisamente a mesma. Até porque aquilo que hoje chamamos de “hinos” foi considerado música contemporânea na época de sua composição. Daqui a 50 anos, tudo o que cantamos hoje serão velhas canções, dignas de serem entoadas por um coração sincero e contrito diante de Deus. Se a música for boa e bíblica, sobreviverá ao teste do tempo e permanecerá; se não, deixará de ser entoada. E só consegue enxergar isso com discernimento quem entende que o que importa é quem esteve na cruz e não a cruz em si.

Quando vou ao culto, leio a Bíblia em formato eletrônico, no meu iPhone. A mensagem é exatamente a mesma de qualquer outra Bíblia. As verdades sagradas estão todas ali. Mas já ouvi muitas vezes críticas a isso, como se só bíblias de papel fossem dignas de ser usadas na igreja. Nem vou entrar pela discussão acerca de usos e costumes mais frequentes, pois tudo o que tinha de ser dito a esse respeito já foi. Infelizmente, muitos irmãos extremamente bem-intencionados e que amam a Jesus de toda sua alma dão muita importância à madeira e com isso deixam de olhar para aquele que nela esteve pregada. Não devemos condenar ou discriminar quem abraça uso e costumes como se fossem questões centrais na fé, mas precisamos instrui-los. Mostrar que tais práticas não levam ninguém para o céu: a graça de Cristo leva. E que discriminar e oprimir filhos de Deus por causa delas é como dizer a Jesus: “Dá licença, Senhor, saia da frente, pois está atrapalhando a visão da cruz”. Olhe sempre para o crucificado, que é eterno. Não para o que vai se decompor.

Recentemente, uma irmã deixou um comentário no APENAS, profundamente agoniada. Ela escreveu: “Sr.MaurícioSou casada há 20 anos. meu esposo é maravilhoso, porém me obriga a pertencer a uma Igreja em que não acredito muito em suas doutrinas, diz que só aquela Igreja é a certa e que salva, que devo usar apenas saia e ter o cabelo nos pés. Faz acepção de pessoas, já não estou indo mais na Igreja, porém meu esposo tem me tratado muito mal e diz que tem vergonha de mim por eu usar calça. Ele não conversa mais comigo é como se eu não existisse dentro de casa, virei um “objeto” lá dentro. Por favor me ajude.“. Fiquei triste. Vi nesse e em tantos casos semelhantes a graça de Cristo ser substituída por algo que não terá nenhuma influência sobre a vida eterna.

Que fique claro que respeito profundamente os hábitos e a cultura de cada denominação, jamais vou me levantar para criticar, a troco de nada, algo que é importante para um determinado grupo e que não configura heresia, mas fico profundamente tocado quando lascas da cruz se tornam instrumento para oprimir, deprimir e impor um jugo desnecessário a irmãos e irmãs em Cristo. Todo e qualquer uso e costume que substitui a graça salvadora de Jesus pela prática de um hábito cultural olha para a cruz e não para o crucificado. E machuca pessoas, o que fere o primeiro e maior mandamento.

Tenho um carinho enorme por irmãos de todas as denominações. Todas. Respeito profundamente os membros de qualquer igreja que professe o verdadeiro Cristo. Batistas, presbiterianos, metodistas, assembleianos, Deus é amor… se quem está ali é sincero diante do Altíssimo e tem Jesus como Senhor e Salvador, é meu irmão. Não discrimino ninguém. Não ouso dizer que sou “mais cristão do que fulano e beltrano” só porque são adeptos de usos e costumes diferentes dos meus, só porque cantam hinos ou corinhos, só porque são verdes ou azuis. O que é heresia é heresia e devemos combater, mas o que não é não remove ninguém da família de fé. Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17). Se Deus não despreza, como poderia eu? Não me atrevo a ter tamanha arrogância.

Eu não sou melhor do que o irmão do reteté. Eu não sou melhor do que quem proíbe bater palmas ou só canta hinos medievais no culto. Tenho um desejo profundo de que todos alcancem a maturidade espiritual, que abandonem práticas sem sentido e fixem o olhar tão somente no Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Mas, enquanto isso não ocorre, abraçarei todos os que são filhos do meu Pai. Não farei (como já fiz no passado) piadinhas maldosas com quem é diferente de mim em detalhes de sua vida devocional. Não oprimirei quem presta adoração sincera a Deus enquanto adota usos e costumes sem sentido. Não tenho esse direito. Você tem?

Infelizmente, por falta de instrução bíblica correta, muitos se agarram a práticas e usos que não fazem sentido e a tradições decompostas. Naquilo que está ao meu alcance, farei o que puder para levar a eles conhecimento da sã doutrina, que os afaste dessas puerilidades espirituais. Mas, enquanto isso, vou abraçar e estender meu amor fraternal a todos os que fazem tais coisas de coração puro e em adoração sincera ao verdadeiro e único Salvador do mundo. Pois, se eu discriminasse um cristão bom e fiel por qualquer questão relacionada a usos e costumes, não estaria olhando para a cruz e muito menos para o crucificado, estaria cuspindo e esmurrando aquele que mandou amar, até mesmo, meus inimigos – quanto mais meus irmãos.
A cruz apodreceu. Mas o amor que devemos ter por todos precisa permanecer incorruptível – pois Jesus ressuscitou, seu corpo está vivo e seu coração pulsa eternamente por cada filho de Deus, sem exceção.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício

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Maurício Zágari é teólogo, jornalista e escritor premiado, membro da Igreja Cristã Nova Vida, em Copacabana, RJ e editor do excelente Blog Apenas.

A incompatibilidade da Fé Cristã e o Marxismo

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Neste vídeo o Rev. Ewerton B. Tokashiki explica com muita propriedade sobre a incompatibilidade da Fé Cristã com o Marxismo. Em tempos de propagação marxista no Brasil, é importantíssimo que os cristãos se posicionem contra esse sistema. Assista, comente e compartilhe:


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Fonte: Rev. Ewerton, canal do Youtube
Divulgação: Bereianos
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O mandato espiritual, social e cultural em Efésios

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Por Denis Monteiro


Antes da Queda, Deus deu algumas ordenanças a Adão e Eva o qual chamamos de ordenanças da criação. Deus ordenou ao primeiro casal: Que se casassem e procriassem para encher a terra, exercessem domínio sobre as criaturas, o trabalho e o descanso semanal – claro, sabemos que Deus ordenou que o casal não poderia comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas essa não é geralmente considerada uma ordenança da criação, pois Deus deu apenas para aquela ocasião e não uma ordenança perpétua. Chamamos estas ordenanças de mandatos. Mandato espiritual, social e cultural.

Mandato Espiritual: Este mandato envolve um relacionamento com o Deus que nos deu a Sua imagem (Gn 1.26). Uma paz entre Ele e suas criaturas, o qual, também, estabeleceu um dia de descanso de nossas obras para dedicarmos inteiramente a Ele em santidade. 

Mandato Social: Este mandato que envolve um relacionamento, não só com Deus, envolve com a família que por Deus fora criada. Este mandato envolve a liderança dos pais em saber guiar as suas famílias, segundo a ordem de Deus. 

Mandato Cultural: Este terceiro, e ultimo mandato, é um envolvimento com a sociedade. Você, assim como eu, já deve ter ouvido falar de que todos os nossos relacionamentos com aspectos culturais fossem seculares e nosso relacionamento com Deus espiritual. Este mandato envolve questões políticas, educação, artes, lazer, tecnologia, indústria, e quaisquer outras áreas. 

As consequências do pecado nas ordenanças da criação. 

No mandato espiritual, o pecado fez separação entre Deus e Sua criação. Até os animais e natureza ficou sujeita à servidão (Rm 8.20). O Homem já nasce alienado de Deus proferindo mentiras (Sl 58.3), mortos espiritualmente, pelo pecado, como diz Jean Diodati: “de onde provêm miséria e incapacidade de fazer o bem”.[1] 

No mandato social, além do pecado afetar o nosso relacionamento com Deus, ele afetou nosso relacionamento social entre os familiares. Após a entrada do pecado no mundo o relacionamento perdido, com Deus, afeta as bases da família causando até vergonha sexual entre o homem e a mulher. Desde o quarto capitulo do Gênesis o efeito de pecado se mostra claro, com a morte causada pelo irmão – Caim matando Abel. Filhos não respeitando os pais, desobedecendo-os, ou como o próprio Gênesis mostra, Jacó enganando seu pai com a ajuda de sua mãe (Gn 25). 

Assim como, o pecado afetou o relacionamento com Deus, ele afetou nosso relacionamento familiar, também, afetou o nosso relacionamento na sociedade –Mandato Cultural. John Frame diz: “indivíduos pecaminosos contaminam as instituições que formam, e estas instituições tornam o efeito do pecado ainda piores. Quando pecadores se juntam, eles alcançam impiedade maior do que conseguiriam individualmente”.[2] Desde o Gênesis já nos é dito que este mandato estava sendo impiamente desenvolvido. Em Genesis 4.17-24 os descendentes de Caim já desenvolviam certo tipo inicial de cultura.[3] Esses desenvolvimentos, em si não são maus, mas o uso dos mesmos voltados para a glória humana são, como podemos ver nas músicas de hoje, as quais faltam beleza, bondade e verdade. Vemos a Torre de Babel sendo erguida para chegar aos céus e a confusão que Deus faz com as línguas para que ninguém entenda ninguém, pois não queriam ser espalhados por toda a terra (Gn 11.4) desobedecendo à ordem de Deus de se espalhar (Gn 1.28). 

Então, a pergunta é: Como cumprir estes mandatos para a glória de Deus, conforme Sua vontade? [4]

Novo relacionamento com Deus (Efésios 4.17 – 5.1-21)

Nesta divisão Paulo nos mostra como devemos ser e o porquê viver de forma digna, por exemplo: Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. Efésios 4.22-24.

Fomos resgatados para despirmos do velho homem, pois somos a imagem de Deus. Em Cristo este relacionamento foi reconciliado por intermédio de Seu sangue derramado na cruz em favor de Seu povo. O pecado que fazia separação fora pago por Cristo, logo, Deus não está mais irado conosco. Por isso que Paulo admoesta aos crentes que vivamos antiteticamente: deixe a mentira mas fale a verdade; Irai-vos e não pequeis; se furtava não furte mais mas trabalhe; não saia palavra torpes da boca mas só boas para a edificação.” (4.25-29). E como imagem de Deus, devemos imitar a Deus, como filhos amados (5.1), produzindo frutos que provem de Deus ao contrário das obras das trevas, vivendo cheio do Espirito Santo, como diz Erasmus Sarcerius: Ser cheio do Espirito Santo é uma forma particular e uma manifestação do andar prudente, pelo qual a salvação, juntamente com as obras da luz, é preservada (...).”[5] Sendo assim, somente após a redenção e reconciliação que Cristo fez, podemos ter paz com Deus e tentar cumprir o Seu mandato, nos separando para servi-lo a cada dia e guardando o Dia do Senhor, como um dia santo dedicado totalmente a Ele. 

Novo relacionamento com nossa família (5.22- 6.1-4)

Aquilo que foi perdido na Queda no Éden, Paulo admoesta que deve voltar ativa no casal cristão. A mulher deve ser submissa ao marido porque ele é o cabeça constituído por Deus desde o Éden, oficio este que o homem não exerceu deixando a mulher ser enganada, e assim, pecando (1 Tm 2.14). Assim como Cristo é o cabeça da Igreja o marido deve ser o da esposa. O esposo deve amar sua esposa como Cristo amou a igreja se entregando por ela e amando como se fosse o próprio corpo. Pois, o que as crianças aprenderão ou descobrirão num casamento desestruturado? Um casamento desestruturado é aquele em que há disputas e lutas sobre quem está no poder, e assim, nenhum dos cônjuges cumpre o seu papel. Por isso que Paulo diz: Portanto, cada um de vocês tambémame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher trate o marido com todo o respeito. Efésios 5.33 (ênfase acrescentada). 

Os filhos devem obedecer a seus pais de forma justa, no Senhor, pois isto é obedecer ao quinto mandamento que é o primeiro mandamento como promessa: honra teu pai e tua mãe” (6.2; cf. Êx 20.12). Os pais devem amar seus filhos, mas não se esquecer da disciplina aplicada com amor e ensinando a temer a Deus e ensinados a rejeitar suas inclinações naturais.

Novo relacionamento cultural (6.5-9)

O fato de Cristo ser o nosso cabeça isso não quer dizer que não devemos obedecer outra autoridade. Paulo nos mostra que o servo cristão deve ser obediente aos seus senhores que são segundo a carne, em sinceridade de coração como se obedecesse diretamente a Cristo. O servo cristão deve servir ao seu senhor não com o fim principal de agradar aos homens, mas como servos de Cristo servindo de boa vontade. A ambição (pecaminosa) que permeava a edificação da torre de babel não deve existir entre o servo cristão e seu senhor, pois o servo deve trabalhar para a glória de Deus. Assim, o senhor deve respeitar ao seu servo não como respeitando à vista, deixando as ameaças de lado. Pois acima deste senhor há um Senhor que tem um nome que é acima de todo nome, o qual não faz acepção de pessoas. 

Conclusão


Só em Cristo podemos restabelecer aquilo que Deus ordenou às suas criaturas, podendo ter um relacionamento sincero com Deus. E assim, tendo um relacionamento com Deus, os outros tendem a ser restabelecidos: Uma família que serve a Deus em seus relacionamentos, bem como os servos que glorificam a Deus servindo ao seu senhor como se fosse a Cristo, pois não podemos ter em mente este dualismo: Sagrado e secular. Sagrado é tudo aquilo que é espiritual e secular aquilo que não é espiritual. Mas não é isso que a Bíblia nos diz, pois em tudo que fomos fazer, fazemos para a glória de Deus Pai. 

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Notas:
[1] BRAY, Gerald L. Comentário Bíblico da Reforma – Gálatas e Efésios. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 304. 
[2] FRAME, John M. A doutrina da vida cristã. São Paulo: Cultura Cristã, p. 257.
[3] Cf.: Ibid.
[4] Eu mostrarei nestes três capítulos de Aos Efésios, somente o que Paulo lista. Não tratarei de toda questão que envolve os mandatos.
[5] BRAY, Gerald L. Comentário Bíblico da Reforma – Gálatas e Efésios. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 397. 

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Fonte: Bereianos

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