Sheikh Ali Al-Qaradaghi, presidente da União Internacional de Estudiosos Muçulmanos. (Foto: Wikipedia)
A declaração foi emitida por um conselho islâmico sediado no Catar e liderado pelo Sheikh Ali Al-Qaradaghi.
A União Internacional de Estudiosos Muçulmanos (IUSM) emitiu uma fatwa ampla, convocando uma "Jihad armada" contra Israel e declarando a normalização dos laços como religiosamente proibida.
Entre os muçulmanos existe o dever religioso de defender o islã através de uma luta que se chama “Jihad” – que para eles é a “Guerra Santa”.
A fatwa é uma opinião ou decreto religioso emitido por um estudioso islâmico qualificado, conhecido como mufti. Baseada na interpretação da Sharia, que é a lei islâmica, a fatwa pode abordar uma ampla gama de questões.
O pronunciamento, divulgado no site oficial da organização e na conta oficial do X/Twitter de seu presidente, Sheikh Ali Al-Qaradaghi, reflete uma posição teológica significativa adotada por uma entidade islâmica internacional no contexto do atual conflito em Gaza.
لجنة الاجتهاد والفتوى بالاتحاد العالمي لعلماء المسلمين تصدر فتوى في نازلة استمرار العدوان على غزة ونقض الهدنة، أهم ما تضمنته ما يلي:
— د. علي القره داغي (@Ali_AlQaradaghi) April 4, 2025
1️⃣ وجوب الجهاد بالسلاح ضد الاحتلال في فلسطين على كل مسلم مستطيع في العالم الإسلامي.
2️⃣ وجوب التدخل العسكري الفوري من الدول العربية والإسلامية.…
Com sede em Doha e presença em Istambul, na Turquia, a IUSM, fundada em 2004 pelo xeque Yousef Al-Qaradawi, afirma representar milhares de acadêmicos religiosos globalmente.
Al-Qaradawi, um clérigo notório e respeitado, liderou o eixo da Irmandade Muçulmana e ganhou destaque por apoiar e promover os atentados suicidas do Hamas contra civis israelenses.
Nesta semana, o "Ijtihad and Fatwa Committee" da União emitiu um edital sobre a chamada "agressão em andamento contra Gaza". A declaração inclui diversas demandas, como um cerco total a Israel "por terra, mar e ar" e a "intervenção militar imediata de países islâmicos" para fortalecer a luta armada palestina em frentes militares, econômicas e diplomáticas.
Diretrizes teológicas
Os estudiosos religiosos mencionaram as estatísticas de baixas do Hamas em Gaza, que supostamente ultrapassam 50.000, classificando a situação como um "genocídio metódico conduzido com apoio explícito dos Estados Unidos, em meio à quietude árabe e à passividade de nações de todo o mundo islâmico".
No âmbito econômico, o conselho reiterou seu apoio a boicotes contra "empresas que apoiam a entidade sionista" e afirmou que muçulmanos abastados devem "contribuir para a jihad com recursos financeiros e equipar militantes".
A diretriz teológica detalha os deveres atribuídos aos muçulmanos com base em sua proximidade ao conflito. Surpreendentemente, a fatwa classifica Israel como "Kafir" (infiel), contrastando com visões islâmicas tradicionais que reconhecem o judaísmo como parte do "Povo do Livro".
A posição do conselho abrange também restrições comerciais, afirmando que é religiosamente proibido fornecer a Israel "petróleo, gás natural e quaisquer produtos que sustentem sua campanha militar", incluindo "alimentos e bebidas enquanto a população de Gaza sofre com a fome".
Entre os aspectos mais ambiciosos da decisão está o apelo para que os países árabes e islâmicos "formem uma coalizão militar unificada para defender os territórios islâmicos", descrito pelo conselho como "uma obrigação urgente e inadiável".
A fatwa aborda questões geopolíticas, convocando as nações com vínculos diplomáticos com Israel a "reavaliar esses acordos e aplicar pressão conforme necessário", além de proibir categoricamente "qualquer forma de normalização com a entidade ocupante sionista".
Reações cautelosas
Apesar da ampla influência e do papel central da IUMS nos movimentos islâmicos, houve reações mais cautelosas ao decreto.
O Dar Al-Ifta do Egito, órgão islâmico consultivo e governamental, argumentou que, segundo a Sharia, aqueles que defendem a Jihad armada devem estar dispostos a participar pessoalmente.
Acrescentou ainda que "convocar para a jihad sem considerar as capacidades da nação e sua realidade política, militar e econômica é irresponsável e contradiz os princípios da lei islâmica".
'Obrigação religiosa'
A Dra. Nesya Shemer, especialista em Sharia e relações judaico-islâmicas, esclareceu ao Jerusalem Post que a fatwa que convoca a Jihad armada contra Israel exemplifica o Fard 'Ayn, uma obrigação religiosa que recai sobre todos os muçulmanos, independentemente de sua localização.
“Isso significa que a IUMS considera a Jihad contra Israel como uma ‘Jihad defensiva’, destinada a repelir inimigos da pátria que deve ser governada pelo Islã”, explicou Shemer, acrescentando que, em sua visão, a Palestina esteve sob domínio islâmico desde o século VII até o mandato britânico e, portanto, deveria ser “recuperada”.
“Isso contrasta com a Jihad ofensiva, considerada como Fard Kifayah, uma obrigação que recai sobre a nação islâmica como um todo, na qual uma força representativa de muçulmanos seria suficiente”, ela esclareceu.
Ao ser questionada sobre o significado da nova fatwa, Shemer destacou que ela segue a linha adotada pela IUMS desde o início da guerra.
“Embora suas implicações imediatas ainda não sejam totalmente compreendidas, cresce o receio de que a fatwa se amplie, transformando-se em uma guerra religiosa global contra os judeus, com um impacto direto na vida das comunidades judaicas ao redor do mundo”, explicou Shemer.
“Além disso, a guerra e as imagens que circulam na mídia podem influenciar a opinião pública nos países fronteiriços de Israel, impactando a estabilidade dos regimes nessas nações”, continuou Shemer.
“No entanto, com todo respeito, nem essas fatwas nem a percepção dos regimes vizinhos devem orientar Israel em sua busca para derrotar o Hamas e seus apoiadores globalmente.”
Shemer concluiu: “Essa fatwa demonstra que o Hamas não é apenas uma pequena organização terrorista operando em Gaza, mas sim uma entidade apoiada por corpos e organizações muçulmanas internacionais que defendem a mesma ideologia. Enfrentar o Hamas significa, na verdade, lidar com essa ideologia islamista, que é internacional e amplamente disseminada no mundo muçulmano.”
Fonte: Guiame, com informações do Jerusalem Post