segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Falsos Apóstolos já Atacavam Igrejas no Novo Testamento

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Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes


Examinemos agora o caso daqueles a quem o apóstolo Paulo chama de “superapóstolos” e “falsos apóstolos”, na sua segunda carta aos coríntios (2Co 11.5; 11.13 e 12.11). Trata-se de obreiros que apareceram na igreja de Corinto, ostentando o título de apóstolos, apresentando credenciais que supostamente provavam esta reivindicação, querendo diminuir Paulo como apóstolo e assumir a liderança da igreja.

Paulo os chama de “super apóstolos,”  (2Co 11.5; 12.11), provavelmente como uma ironia.[1] Os tais se apresentavam com reivindicações extravagantes e se colocando acima de Paulo e talvez dos doze. Paulo os considera “falsos apóstolos” (2Co 11.13), não somente porque a mensagem deles representava um desvio do ensino apostólico original, mas também porque eram imitadores, tentando se passar por apóstolos de Cristo. [2]

Robertson e Plummer afirmam que “não poderia ter havido falsos apóstolos (2Co 11.13), a menos que o número de Apóstolos [sic] fosse indefinido”. [3] O que eles querem dizer é que se reconhecia a existência de apóstolos além de Paulo e dos doze, e que não havia limite para o número de apóstolos naquela época. De acordo com esta interpretação, os “falsos apóstolos” eram falsos não porque estavam usurpando um título que era somente dos doze ou de Paulo, pois havia muitos outros apóstolos além deles. Eles eram falsos somente porque pregavam um falso evangelho. Assim, de acordo com esta linha de interpretação, a existência de falsos apóstolos no período apostólico é uma prova de que havia muitos apóstolos em atividade naquela época e que consequentemente não existe nenhuma razão pela qual se deva negar a existência deles em nossos dias.

Todavia, uma análise mais atenta aos textos de 2 Coríntios que se referem aos falsos apóstolos, parece sugerir que Paulo os considera “falsos” não somente por serem falsos mestres, mas também por serem usurpadores do título. Eles se apresentavam como apóstolos similares aos doze e a Paulo, e não como enviados de alguma igreja para cumprir uma missão. Eles queriam poder, autoridade, reconhecimento e, especialmente, GANHAR DINHEIRO. Suas credenciais envolviam sonhos, visões, revelações, milagres, ascendência judaica e outras coisas destinadas a impressionar os crédulos coríntios. É verdade que haviam outros apóstolos além de Paulo e dos doze, conforme já mostramos anteriormente, mas estes que apareceram em Corinto não eram do nível de Silas, Timóteo, Barnabé ou Epafrodito – não, eles eram “superapóstolos”, como os doze e acima de Paulo. Eles eram falsos porque o grupo de “apóstolos de Jesus Cristo” ao qual eles queriam pertencer – os doze e Paulo – era limitado. [4]

Examinemos mais de perto as evidências. Quase que certamente esses obreiros eram judeus, supostamente convertidos ao Cristianismo, pregadores itinerantes, que se vangloriavam de sua ascendência judaica e de serem ministros de Jesus Cristo. [5] Eles haviam entrado na igreja de Corinto e estavam fazendo graves acusações contra Paulo, o que levou o apóstolo a ter de escrever esta carta depois de haver visitado a cidade para tratar do assunto.

Paulo diz que eles “mercadejavam a Palavra de Deus”, uma alusão às exigências financeiras que estavam fazendo (2Co 2.17). Eles se apresentavam com “cartas de recomendação,” provavelmente da igreja de Jerusalém, com o intuito de imporem a sua autoridade sobre a igreja (2Co 3.1-3). [6] Ao apresentar-se como “ministro de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito” (2Co 3.6) e ao fazer o contraste entre o Evangelho e o Judaísmo (2Co 3.6-18), Paulo deixa transparecer que eles pregavam as glórias da antiga aliança baseada na lei de Moisés como superior ao Evangelho de Paulo. [7] Ao fazer isto, eles astutamente “adulteravam” a Palavra de Deus (2Co 4.2) e pregavam a si mesmos e não a Cristo (2Co 4.5). Paulo os critica por se “gloriarem na aparência”, o que pode ser uma referência ao fato de que se gloriavam de ser judeus legítimos, talvez de Jerusalém, ao contrário de Paulo que era da Dispersão (2Co 5.12). Eles haviam sugerido que Paulo havia enlouquecido (2Co 5.13). Criticavam-no por proceder como o mundo (2Co 10.2) e de ser covarde, pois escrevia cartas fortes e graves quando estava distante, mas quando estava presente, sua apresentação pessoal era “fraca” e sua palavra “desprezível” (2Co 10.9-10; cf. 11.6). Eles insinuavam que Paulo queria aproveitar-se financeiramente deles, ao inventar uma coleta para os pobres de Jerusalém (2Co 8.14-18). [8] Eles apresentavam-se como verdadeiros israelitas (2Co 11.22) e “ministros de Cristo” (2Co 11.23), talvez operadores de milagres (2Co 12.12), que tinham visões e revelações do Senhor (2Co 12.1). Apresentavam-se como no mesmo nível de Paulo, ou mesmo como superiores a ele, por terem maiores e melhores credenciais (2Co 11.12). A igreja de Corinto, ou um grupo dentro dela, estava aceitando a presença e o discurso deles, com suas críticas a Paulo, que certamente tinham o objetivo de minar a sua liderança e autoridade e, finalmente, assenhorear-se da comunidade (2Co 11.1-4).

A resposta de Paulo a tudo isto vem de várias maneiras. Primeira, ele responde às reivindicações destes “apóstolos” apresentando, constrangido, as suas próprias credenciais apostólicas, aceitando, num primeiro momento, que estas credenciais definem um apóstolo de Cristo: ele também é judeu (2Co 11.22), faz sinais e prodígios (2Co 12.12), tem visões e revelações do Senhor (2Co 12.1-4).

Mas, paralelamente, Paulo apresenta as credenciais de um verdadeiro apóstolo que estes “apóstolos” não tinham, e que o faziam um verdadeiro “ministro de Cristo,” em contraste com eles, que eram ministros de Satanás: eles traziam cartas de recomendação, mas a recomendação de Paulo eram os próprios coríntios, convertidos pela sua pregação (2Co 3.1-4). Eles se vangloriavam de seus predicados e credenciais, mas Paulo se gloriava de seus sofrimentos (2Co 6.4-10), de um espinho na carne (2Co 12.7-10) e de ter tido de fugir uma vez de uma cidade descido num cesto, pelo muro, para não ser morto pelos judeus (2Co 11.32-33).

Terceiro, Paulo os denuncia como “falsos apóstolos,” “obreiros fraudulentos,” que na verdade eram ministro de Satanás travestidos de ministros de Cristo, seguindo a estratégia do diabo de se passar por Deus (2Co 11.13-15). Ele apela aos coríntios para não se porem em “jugo desigual com os incrédulos,” no que parece ser uma referência a estes falsos apóstolos (2Co 6.14-18).

Fica evidente, então, de nossa análise, que estes obreiros fraudulentos haviam arrogado a si mesmos o título de apóstolos de Jesus Cristo, numa tentativa de se imporem autoritativamente sobre as igrejas, numa espécie de imitação dos doze, com o fim de dominarem sobre elas. Eles eram apóstolos falsos, não somente porque o grupo de apóstolos ao qual eles reivindicavam pertencer estava já fechado, mas também porque não possuíam as credenciais essenciais de um verdadeiro apóstolo. Além disso, estavam adulterando a Palavra de Deus no intento de auferir ganhos financeiros das igrejas.

Nossa conclusão está de acordo com o fato de que apareceram muitos, quando os doze e Paulo ainda viviam, reivindicando um status similar. Encontramos um exemplo disto no livro de Apocalipse, na carta à igreja de Éfeso: “Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos” (Ap 2.2). À semelhança do que havia acontecido em Corinto, homens maus apareceram na igreja de Éfeso dizendo-se apóstolos. Ao contrário do que havia acontecido na igreja de Corinto, os crentes de Éfeso puseram estes apóstolos à prova – certamente examinando as suas reivindicações, suas credenciais e sua mensagem – e concluíram que eles eram impostores, no que foram aprovados pelo Senhor. Aqui cabem as palavras de Spence-Jones: “Chamar um homem de sucessor dos apóstolos, o qual não tem o caráter apostólico – nobreza, lealdade a Cristo e total auto-abnegação – é uma farsa malévola”. [9]

O status de apóstolo era cobiçado desde cedo na história da igreja cristã, não como um indicativo de alguém que estava envolvido na obra missionária, mas pelo poder, autoridade e respeito que este status comandava. E é exatamente neste sentido que ele vem sendo apropriado e usado por muitos hoje que se apresentam como apóstolos de Jesus Cristo.

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Notas:
1. Cf. “tais apóstolos”, ARA; “superapóstolos”, NVI; “superapóstolos” NTLH. A ARC, todavia, traduziu como sendo uma referência não irônica,“aos mais excelentes apóstolos”, o que altera substancialmente a interpretação da passagem, sugerindo que estes apóstolos “mais excelentes” eram os doze com quem Paulo estava se comparando.
2. Alguns estudiosos sugerem que Paulo estava se referindo ironicamente aos doze apóstolos de Jesus Cristo, sediados em Jerusalém. Contudo, diante dos relatos do livro de Atos e de Gálatas capítulo dois, da concordância e harmonia entre Paulo e os doze, esta sugestão não se sustenta. Veja os argumentos contra a ideia de que os “superapóstolos” eram os doze em Kirk, “Apostleship since Rengstorf,” 253.
3.  Robertson, Corinthians, 279.
4.  “Apóstolos de Jesus Cristo” é uma designação quase que exclusiva dos doze e Paulo no Novo Testamento, cf. a argumentação na seção “Apóstolos de Jesus Cristo”.
5.  Cf. Carson, New Bible Commentary, na Introdução.
6.  Isto não quer dizer que os apóstolos de Jerusalém estariam de acordo com a atividade sectária e mercenária deles, em Corinto.
7. Para uma posição contrária, veja Clark, “Apostleship,” 359-360 e Carson, New Bible Commentary, Introdução. Mesmo admitindo que os oponentes de Paulo eram judeus cristãos, Carson não acredita que eram judaizantes, como aqueles que infestaram as igrejas da Galácia. Contudo, o contraste entre as duas alianças no capítulo 3 só faria sentido no contexto de uma mensagem judaizante dos oponentes de Paulo.
8. Esta é, provavelmente, a razão pela qual Paulo toma várias precauções para evitar acusações de apropriação indébita das ofertas que ele haveria de levar a Jerusalém, cf. 2Co 8—9.
9. Spence-Jones, Galatians, 140.

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Fonte: Ministério Fiel

Se você vive nesse contexto e é liderado por algum "apóstolo" ou se deseja conhecer a fundo sobre esse movimento, não deixe de ler o livro Apóstolos - verdade bíblica sobre o apostolado. Você poderá adquiri-lo diretamente no site da Editora Fiel. Acesse o hot site aqui!

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Pr. Silas e Magno Malta detonam hipocrisia de Dilma; assista


Na noite desta segunda-feira (1º), após o debate entre os presidenciáveis no SBT, Dilma Rousseff deu uma declaração em que a defende a criminalização da homofobia no país:
“Sou contra qualquer forma de violência contra pessoas. No caso específico da homofobia, acho que é uma ofensa ao Brasil. Então, fico triste de ver que temos grandes índices atingindo essa população. Acho que a gente tem que criminalizar a homofobia, que não é algo com o que a gente pode conviver”, disse Dilma.
Confira a fala do Pr. Silas Malafaia e deixe o seu comentário:
Na última terça-feira (2) o senador Magno Malta também detonou a hipocrisia da presidente-candidata Dilma Rousseff.
Assista a declaração:

Fonte:Verdade Gospel


Aniversário do Presbitério de Garanhuns

Convidamos a todos para juntos louvarmos ao Senhor por mais um ano de organização do Presbitério de Garanhuns. 


A Consistência da Soberania Divina e da Responsabilidade Humana 1/3

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Por Matt Perman


No último artigo, nós vimos como pode ser que o Deus de toda eternidade ordenou “tudo quanto acontece” e ainda assim não é “o autor do pecado” (Confissão de Fé de Westminster III.I). Tendo mostrado isso, o assunto que nós iremos focar nesse artigo é: como o controle de Deus sobre todas as coisas não destrói a responsabilidade humana. Como a Confissão de Fé de Westminster prossegue dizendo, a soberania de Deus não violenta a “vontade da criatura”.

Muitas coisas que nós dizemos no último artigo lançam luz nesse assunto da responsabilidade humana sob a providência de Deus. Por exemplo, o fato que o pecado não é um resultado de Deus injetar o mal no coração de alguns, mas mais um problema dele conter sua graça que impediria a pessoa de pecar, é uma coisa que preserva nossa responsabilidade moral e torna claro que Deus não é o autor do pecado. Nós iremos, agora, olhar mais de perto como Deus determina a vontade, que irá primariamente mostrar por que sua soberania não destrói a responsabilidade moral, e secundariamente dar adiante prova do fato que Deus não é o autor do pecado.

Para ser específico, esta análise irá responder duas perguntas para nós. Primeira, como nós podemos sustentar a responsabilidade por nossas ações pecaminosas quando elas são pré-determinadas por Deus? Segunda, como podem nossas escolhas boas serem genuínas quando elas todas foram pré-determinadas e trazidas a tona por Deus?

O Ensino das Escrituras

A primeira coisa que eu gostaria de ressaltar é que as Escrituras vêem a soberania divina como consistente com a responsabilidade moral. Elas ensinam tanto que nós somos responsáveis por nossos atos e que Deus, no final das contas, determina nossas escolhas. Como nós iremos ver em breve, isso nos dá um princípio que é essencial para resolver o mistério.

Em Êxodo 7.2-4 Deus diz a Moisés: “Tu falarás tudo o que eu te ordenar; e Arão, teu irmão, falará a Faraó, para que deixe ir da sua terra os filhos de Israel. Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó e multiplicarei na terra do Egito os meus sinais e as minhas maravilhas. Faraó não vos ouvirá; e eu porei a mão sobre o Egito e farei sair as minhas hostes, o meu povo, os filhos de Israel, da terra do Egito, com grandes manifestações de julgamento.” Esta é uma PASSAGEM incrível! No verso 2, Deus diz que Moisés e Arão estão, na autoridade de Deus, para comandar ao faraó que deixe Israel ir. Mas no verso 3, Deus diz que ele irá endurecer o coração do faraó tanto que ele não deixasse Israel ir. No verso 4, nós lemos que Deus irá julgar o faraó e o Egito por sua desobediência. Desta forma, não vemos nas Escrituras a soberania de Deus destruindo a responsabilidade moral de faraó ao endurecer o coração dele, por Deus julgar faraó por sua desobediência. Nós sabemos que o faraó merecia este julgamento porque todos os julgamentos e caminhos de Deus são justos; “todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto” (Deuteronômio 32.4). de fato, mais tarde na história, o próprio faraó reconheceu sua culpa: “Esta vez pequei; o SENHOR é justo, porém eu e o meu povo somos ímpios” (Êxodo 9.27).

Igualmente, no livro de Atos nós lemos que o ato pecaminoso dos judeus, gentios, Heródoto e Pôncio Pilatos que resultaram na morte de cruz de Cristo, foram todos predestinados por Deus (Atos 4.28). Todavia, eles foram considerados moralmente culpados por esses pecados (2.23; 7.52). Jesus parece afirmar no mesmo sentido que a soberania de Deus sobre sua traição e a culpa moral daquele que o traiu: “Porque o Filho do Homem, na verdade, vai segundo o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído!” (Lucas 22.22). Em 2 Tessalonicenses 2.9-12 nós lemos de um tempo quando, para aqueles que rejeitaram o Evangelho, “Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça”. Muitas outras instâncias poderiam ser dadas, mas esta é suficiente para mostrar que as Escrituras crêem que a soberania de Deus é consistente com o fato que ele nos atribui toda responsabilidade por nossos pecados.

As Escrituras também crêem que nossas escolhas boas são genuínas, tanto quanto elas são trazidas por Deus. Em 2 Coríntios 8.16, Paulo diz que o amor e a solicitude de Tito pelos corintos foram colocadas por Deus em seu coração. Desse modo, Paulo considera a solicitude de Tito como genuína, dizendo “partiu voluntariamente para vós outros” (v.17). Ezequiel 33.27 ensina que a obediência dos cristãos é causada pelo Espírito de Deus: “Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos …”. Assim, quem ousaria dizer que sua obediência não é genuína! Igualmente, da fé é dita ser dada a nós vinda de Deus (Filipenses 1.29), ainda assim nossa fé agrada a Deus (Hebreus 11.6).

As Escrituras parecem claramente negar a crença comum que humanos são a causa última que determina suas próprias escolhas (“livre-arbítrio”). Jeremias 10.23 diz: “Eu sei, ó SENHOR, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos”.

De tudo isso, devemos concluir que de acordo com a Escritura, o controle de Deus não destrói a responsabilidade moral em considerar nossos atos pecaminosos, e nem destrói a genuinidade das boas escolhas que os cristãos fazem. Desde que as Escrituras ensinam, nós deveremos acreditar nisso, mesmo que não entendamos como isso se encaixa na lógica. Em outras palavras, nós deveremos acreditar que a soberania de Deus é consistente com nossa ação moral porque Deus diz que isso é assim, e Deus sempre fala a verdade.

Existem aqueles que param após este ponto, dizendo que o modo para ser entendido de como essas coisas são consistentes é um mistério. Isso é perfeitamente normal. Parece-me, porém, que a simples reflexão revela que as Escrituras resolvem muito desse problema. Como isso? Isso me parece desta forma: o fato que as Escrituras ensinam que nós somos responsabilizados pelo que Deus, em última instância causa em nós, ensina que o livre-arbítrio não é um pré-requisito para a responsabilidade moral. Em outras palavras, você não precisa ter o poder de autodeterminação como regra para ter responsabilidade por suas escolhas.

Você vê, a razão que podemos pensar que a relação entre soberania divina e responsabilidade humana é um mistério, é por causa de uma fixa pressuposição que temos: que responsabilidade moral requer que nós tenhamos autodeterminação – que nós tenhamos a palavra final sobre o que irá acontecer. Mas, desde que as Escrituras mostram que Deus, em última instância, determina o que irá acontecer, e ainda assim nós temos responsabilidade por nossas ações, nós devemos concluir que a crença comum que responsabilidade moral requer livre-arbítrio é falsa. Porém, responsabilidade moral é estabelecida por alguma outra coisa vinda da liberdade de determinação de Deus.

E sobre os versos de “escolha”?

Antes de olhar o que nos faz ter responsabilidade por nossas escolhas, há uma coisa que é importante para entender neste ponto. Muito freqüentemente, pessoas tentam refutar a soberania divina mostrando várias passagens onde humanos são ditos fazerem escolhas. O argumento é como este: “Olhe para todos esses versos que dizem que fazemos escolhas. Por exemplo, João 3.36 diz que quem crê no Filho tem a vida eterna. Isso significa que Deus deu-nos o poder de decisão última sobre o que irá acontecer. Ele não controla todas as coisas porque ele deixou muitas coisas sobre nós”.

Mas esse argumento vai além do texto. Aqueles que acreditam no controle de Deus sobre todas as coisas, reconhecem que nós fazemos escolhas. Eu repito: humanos fazem escolhas. Esse não é o assunto que é debatido. O assunto é este: Por que nós fazemos as escolhas que fazemos? Como nós viemos a fazer nossas escolhas? É Deus, talvez, aquele que, em última instância, causa-nos a escolha do que fazemos? As muitas passagens na Bíblia onde nos é dito escolher certas coisas não interessam a esse assunto, por elas não dizerem como é que nós fazemos as escolhas que fazemos. Tudo o que eles dizem é que fazemos escolhas. Com isso, a predestinação concorda. Mas os textos não dizem que nós temos autodeterminação. Eles não lidam com o assunto de se Deus é ou não a causa última atrás de nossas escolhas. Para esse assunto, nós devemos nos voltar para outros textos das Escrituras, que nós vimos que claramente ensinam o controle de Deus sobre todas as coisas. Assim, nós devemos concluir que humanos fazem, realmente, genuínas escolhas. Mas Deus é a causa última que determina o que nós iremos escolher.

Com esse entendimento, nós iremos agora examinar a visão chamada compatibilismo, que se esforça em explicar como a soberania divina é consistente com a responsabilidade humana. Talvez o melhor defensor desta visão, que largamente influenciou este artigo, é o trabalho de Jonathan Edwards chamado On the Freedom of the Will (Na liberdade da vontade).

Depois de dada evidência para o compatibilismo e mostrar como é consistente com o senso comum (e, como nós vimos acima, que isso é assumido pelas Escrituras), nós iremos, então, ver como a visão oposta da liberdade, chamada Arminianismo (que acredita que os humanos têm poder de autodeterminação), é contraditória e impossível.

Tudo que acontece tem uma causa

Uma causa é uma coisa que faz algo acontecer do jeito que é. X é a causa de Y se X é a razão de Y acontecer. Além disso, causas são necessariamente conectadas aos seus efeitos. Em outras palavras, se X faz certo que Y irá ocorrer, X é dito ser a causa de Y. Se a ocorrência de X não faz certo a ocorrência de Y, nós não dizemos que X causa Y. Particularmente, nós poderíamos meramente dizer que X faz Y possível.

Nós todos sabemos que tudo que acontece tem uma causa. Nós vivemos vidas baseadas sobre esta suposição, sem ela, o mundo poderia não fazer sentido. Se seu carro não quer ligar, você tenta encontrar o porquê. Se você fica extremamente doente, você vai ao médico para encontrar o que está causando sua enfermidade. Ninguém espera um tigre enfurecido vir à existência no meio da sala por nenhuma razão. Isso é absolutamente oposto ao senso comum, pensar que algo pode vir a ser sem alguma causa por de trás disto.

Outro bom argumento é que “se um acontecimento não tem causa, então este pode ter sido diferente na forma que ele aconteceu, mesmo se tudo anterior a ele era exatamente o mesmo. Desde que a observação mostra que não importa o que seja, há formas diferentes no modo como as coisas habitualmente acontecem, há também diferenças nas condições primárias, nós podemos concluir que tudo que acontece tem causas”.

Todas as nossas escolhas têm uma causa – isto é, foram feitas por alguma razão

Se todas as coisas têm uma causa, então está claro que nossas escolhas devem ter causas também. Elas não acontecem sem razão. Isso é, na verdade, a concepção que todos nós temos. Freqüentemente nós dizemos um ao outro: “Por que você fez aquilo?” Isso é o mesmo que dizer: “Qual é a razão por de trás de sua escolha? O que fez você agir dessa forma?” A pessoa irá frequentemente responder: “Eu fiz por causa de x, y e z”.

Todas as nossas escolhas são feitas de acordo com as razões que nós pensamos serem as melhores

Mas não existem frequentemente várias razões a favor de várias escolhas? Por exemplo, que tal quando você está entre fazer o dever de casa e ficar com os amigos? Como nós decidimos, então? A resposta é que em toda escolha nós sempre escolhemos a coisa que é mais apelativa a nós. Em outras palavras, nossas escolhas não são apenas feitas por uma razão, elas são feitas de acordo com a razão que nós pensamos ser a melhor. Agora, isso não significa que nós sempre escolhemos o que é mais lógico. Nossas emoções, bem como nossa lógica, participam de nossas decisões. Assim, talvez seja melhor expressar dessa forma: nós sempre escolhemos a opção que nós temos uma grande preferência por ela. Outros dois caminhos para expressar isso são que nós escolhemos de acordo com nosso grande desejo, ou que nós sempre escolhemos o que nós pensamos ser melhor. Mas parece que o caminho mais claro para expressar esta verdade é dizendo “grandes preferências”, porque isso parece conduzir mais claramente ao fato que há uma combinação da lógica e fatores emocionais nas razões de nossas escolhas.

Eu irei dar três razões para sustentar o fato de que nós sempre escolhemos o que preferimos. Primeiro, isso é auto evidente, negar isso é correr para absurdos. As alternativas seriam: “nós sempre escolhemos o que é pior”, ou “nós freqüentemente escolhemos o que nós não queremos”. Segundo, se escolhermos contrários a nossa grande preferência, então, isso significará que uma influência fraca pode sobrepor a influência mais forte – o que é uma contradição.

Terceiro, escolher contrário a sua grande preferência seria igual a escolher sem razão (o que vimos ser impossível). Por que isso? Porque, então, não há explicação por que a pessoa veio a escolher o que ela escolheu. Deixe-me escrever o dilema dessa forma: se você pode escolher contrário a sua grande preferência, você terá uma razão para agir dessa forma, ou não teria. Se há uma razão para você agir dessa forma, então, isso significa que você está realmente fazendo a escolha porque era mais razoável que outra. Mas, isso é o mesmo que dizer que você escolheu de acordo com sua preferência – sua grande preferência sendo a coisa mais razoável. Mas, se havia razões para essa escolha que eram contrárias a sua grande preferência, então a escolha foi essencialmente feita sem causas porque nenhuma razão poderia ser dada para o porque de você escolher uma coisa ao invés de outra. Nessa situação, você poderia ser inclinado a uma certa escolha, e ainda, sem razão alguma, escolher alguma outra coisa. Como vimos anteriormente, é impossível fazer uma escolha sem uma causa.

Mas o que dizer, por exemplo, quando alguém opta por estudar para um teste quando essa pessoa realmente teria encontrado maior prazer em ir ao cinema? Nesse caso, a pessoa desejou os benefícios de longo alcance através da boa nota que o estudo poderia trazer, mais do que o prazer de curto prazo que um bom filme teria trazido. Em si, o filme teria sido mais agradável. Mas considerando todas as coisas, estudar era mais preferível. 

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Continua nos próximos dias...

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Fonte: The Consistency of Divine Sovereignty and Human Accountability
Tradução: Rev. Ricardo Moura Lopes Coelho
Revisão: Ruy Marinho
Divulgação: Bereianos

domingo, 31 de agosto de 2014

Os Perigos do Sectarismo Religioso

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Por Thomas Magnum


O Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns se desviarão da fé e darão ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios, sob a influência da hipocrisia de homens mentirosos, que têm a consciência insensível.” I Tm 4.1,2.

A admoestação do Apóstolo Paulo ainda é pertinente para nossos dias, é de considerável urgência uma reflexão séria e bíblica sobre o sectarismo religioso.

Introdução

Sectário - Pertencente ou relativo a seita. sm 1 - Membro ou aderente de uma seita religiosa. 2 - Pessoa que segue outra no seu modo de pensar, ou lhe obedece cegamente; partidário, sequaz. 3 - Membro de um partido, que o segue e defende com facciosismo. 4 - Partidário apaixonado, intransigente, faccioso.[1]

Diante de tal definição, compreendemos como sectarismo a atitude decorrente de um indivíduo ou grupo sectário.

Entendemos como seita, um grupo dissidente e divergente do que comumente se prega em doutrinas religiosas ou filosóficas. Diante de tal realidade, a multiplicação de pensamentos religiosos, decorrentes do cristianismo ortodoxo, iremos abordar os efeitos maléficos de grupos separatistas que saíram da igreja cristã por conta de heresias.

Deve ficar claro que não estamos tratando aqui de denominações evangélicas que tem comunhão nos pontos centrais do cristianismo, como: A trindade de Deus, A divindade de Cristo, A divindade e pessoalidade do Espírito Santo, na inspiração, inerrância e suficiência das Escrituras, na segunda vinda de Cristo.

O Impacto Sociológico

Ao observarmos a aderência e a permanência de pessoas em grupos sectários, é notório o fator de isolamento. Quando o individuo é levado a “fé” no que o grupo ensina, ele é doutrinado a crer que somente seu grupo está correto e que os ensinos ali passados são realmente o que Deus quer para seu povo. Ligado a isso, vem à questão afetiva dentro do grupo, o adepto é agora inserido em um novo contexto social que realmente existe "amor", inexistente em outas religiões. Então, o próximo passo ao doutrinamento do novato é o afeto. Um terceiro ponto que podemos observar no sectarismo de tais grupos é o legalismo. A obediência cega aos líderes é fundamental para o "desenvolvimento" espiritual do fiel. Nessa submissão, incluímos a proibição ou recomendação, como dizem eles, de lerem algo que esteja fora dos ensinos da organização religiosa pertencente. Geralmente, isso inclui até a Bíblia, alegando a velha falácia romana de que somente os sacerdotes podem interpretar os ensinos sagrados ao povo. O que tais grupos sabem da Bíblia são versículos soltos, que aprenderam em treinamentos internos para evangelizarem os "pagãos". Ocarisma é outro fator que devemos destacar do ponto de vista social das seitas. Tais grupos possuem liderança carismática; com isso falamos de retenção de poder profético e gigantismo espiritual, através de gurus que se camuflam com nomenclaturas cristãs como: Profetas, Apóstolos, Bispos, Patriarcas e uma quantidade imensurável de títulos.

O Efeito Camaleão

As seitas tem efeitos camaleônicos e se infiltram entre os verdadeiros cristãos. Dr. Walter Martin, certa vez, relatou a presença de Testemunhas de Jeová nas cruzadas de Billy Graham, para enlaçarem os convertidos no evento e levarem para os Salões do Reino.[2] Outros exemplos claros são grupos musicais de seitas heréticas, que arrebatam muitos evangélicos com propósitos proselitistas, como grupos e cantores adventistas e o grupo Voz da Verdade que é unicista. Diante de tudo isso, vemos o crescimento de grupos sectários e a multiplicação de heresias dentro dos arraiais evangélicos, por três motivos básicos:

          • Imaturidade Espiritual
          • Subversão Espiritual
          • Soberba Intelectual

As ideias sectárias atingem mais as personalidades sugestionáveis, instáveis, sem fundamento doutrinário e sem sentido crítico. A seita é como um ramo que se desprendeu da árvore; originou-se como um protesto que considerava errado na igreja mãe. Para as seitas as igrejas perderam o sentido autêntico e o conhecimento verdadeiro das Escrituras.[3]

O Aspecto Doutrinário

Podemos identificar alguns aspectos doutrinários em grupos sectários:

          • Afirmam uma nova revelação dada por Deus
          • Reivindicam poder espiritual
          • Pregam a apostasia da igreja cristã
          • São proselitistas
          • Rejeitam as principais doutrinas da fé cristã histórica

Esses são apenas alguns pontos listados aqui, podemos apontar também os aspetos antropológicos.

Aspectos Antropológicos

O grupo exerce domínio sobre a mente do indivíduo, seus líderes pensam por ele, dirigem sua vida. Se o adepto resolver abandonar o grupo, ele corre o risco de perder amigos, família, ou seja, perde sua vida social. Esse é o fator mais traumatizante para quem abandona um grupo herético. São conhecidos vários fatos de pessoas que foram ameaçadas e torturadas psicologicamente em tais grupos, que infelizmente não estão distantes de nós, inclusive em igrejas que professam serem evangélicas, reivindicam exclusividade de salvação e se orgulham exageradamente do nome de sua denominação. Pessoas que são oprimidas por costumes legalistas e que não tem respaldo nenhum nas Escrituras, mas, são fruto de delírios de homens, como disse Paulo: 

Sabe, porém, que nos últimos dias haverá tempos difíceis; pois os homens amarão a si mesmos, serão gananciosos, arrogantes, presunçosos, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, incapazes de perdoar, caluniadores, descontrolados, cruéis, inimigos do bem, traidores, inconsequentes, orgulhosos, mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus, com aparência de religiosidade, mas rejeitando-lhe o poder. Afasta-te também desses. Porque entre eles estão os que se intrometem pelas casas e conquistam mulheres tolas carregadas de pecados, dominadas por várias paixões; que estão sempre aprendendo, mas nunca podem chegar ao pleno conhecimento da verdade. E à semelhança de Janes e Jambres, que resistiram a Moisés, eles também resistem à verdade. São homens de entendimento corrompido e reprovados na fé. Mas eles não irão adiante, pois sua insensatez será revelada a todos, assim como aconteceu com aqueles.” 2Tm 3.1-9.

Conclusão

Além de todos os danos listados aqui, não poderíamos deixar de incluir os psicológicos e espirituais. Existem pessoas que saíram de seitas ou de grupos neopentecostais que, mesmo depois de anos, sofrem os efeitos maléficos de tais mestres da mentira. Pessoas que tiveram suas personalidades assaltadas e suas vidas emocionais destruídas, seus afetos destroçados e suas mentes controladas. Muitas vezes, o motivo do avanço das heresias é o comodismo e descompromisso de igrejas cristãs, com membros fracos ou sem nenhum ensinamento Bíblico. Portanto, precisamos voltar às Escrituras, cultos de doutrina, treinamentos Bíblicos, seminários de doutrinas, fóruns e debates sobre seitas e heresias.

Antes, reverenciai a Cristo como Senhor no coração. Estai sempre preparados para responder a todo o que vos pedir a razão da esperança que há em vós. Mas fazei isso com mansidão e temor, tendo boa consciência, para que os que caluniam o vosso bom procedimento em Cristo fiquem envergonhados naquilo de que falam mal de vós.” I Pe 3.15,16

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Notas:
[1] Dicionário Michaelis
[2] O Império das Seitas - Walter Martin
[3] Resistindo as Tempestades das Seitas – Tácito da Gama Leite 

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Divulgação: Bereianos

Evangelismo sem apelo

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Por Aaron Menikoff


Cinco anos atrás, eu preguei meu primeiro sermão como pastor da Mount Vernon Baptist Church. O ministro de música me abordou antes do culto com uma pergunta. Ele queria saber como eu faria o apelo.

Eu estava confuso. Antes daquela manhã de domingo, eu havia estado nessa igreja três vezes e nunca vi ninguém fazer apelo. Eu assumi que a igreja havia decidido há muito tempo abandonar a prática. Eu estava errado.

Na verdade, minha igreja tinha um costume histórico de fechar o culto com um apelo a vir ao altar para se unir à igreja, a entregar a vida novamente ao Senhor ou a fazer uma profissão de fé pública. Os três domingos que eu estive presente foram exceções à regra! De fato, muitos dos membros chegavam a entender que o apelo era o meio primário que a igreja usava para alcançar os perdidos. Eles viam o apelo como sinônimo de evangelismo.

Por que não fazer apelo?

Tenho certeza de que muitos que fazem apelo têm as melhores intenções. No início dos anos noventa, eu frequentei uma igreja cujo pastor terminava o culto convidando cada um na congregação a fechar os olhos e curvar as cabeças. Em seguida, ele convidava qualquer um que quisesse receber a Cristo a levantar a mão e olhar para o púlpito. Por cerca de trinta segundos o pastor observava o salão, notava as mãos levantadas e, com uma voz calma e tranquilizante, dizia: “Sim, irmão, eu vejo você. Muito bom, irmã. Amém”, etc. Creio que esse pastor queria o melhor para aqueles desejosos.

No entanto, estou convencido de que o apelo faz mais mal do que bem. A prática de conceder às pessoas imediata garantia de salvação — sem ter o trabalho de testar a credibilidade da profissão delas — parece, na melhor das hipóteses, insensata, e na pior, escandalosa. É insensata porque o pastor não é capaz de conhecer suficientemente a pessoa que ele está prestes a afirmar como cristã. É escandalosa porque substitui a porta estreita e apertada designada pelo nosso Salvador (Mc 8.34; Mt 7.14) por uma porta larga e espaçosa designada por nós. Com a melhor das intenções, aqueles que praticam o apelo deram a pessoas não salvas a falsa confiança de que elas realmente conhecem Jesus. [1]

Mas isso não é tudo. O apelo tem a tendência de colocar o foco da congregação no lugar errado. Após a Palavra ser pregada, tanto membros quanto visitantes devem examinar seus próprios corações. Todos devem dar séria atenção a como a mensagem o chama a responder. Contudo, o apelo, ironicamente, tende a produzir a resposta oposta. Em vez de autoexame, ele leva ao exame dos outros. As pessoas olham para os lados imaginando quem irá à frente. E se ninguém se move? Imagina-se que o pastor falhou? Ou pior, que Deus tirou o dia de folga?

Essas são apenas algumas razões pelas quais penso que é insensatez usar o apelo como evangelismo.

Como evangelizar sem apelo

Como um pastor que rejeita o apelo deve pensar sobre evangelismo em um culto público? Em outras palavras, como um culto marcado pelo zelo evangelístico deve se parecer? Aqui vão sete respostas pelas quais me empenho ao máximo nos cultos que dirijo:

1. Seja diligente

Seja diligente. Embora não haja nada mais importante para um pregador do que a fidelidade à verdade do evangelho, a diligência deve vir logo após. Deus usa homens cujos corações são convencidos pela tragédia do pecado e a realidade da salvação. Até que a doutrina da maravilhosa graça de Deus tenha se estabelecido no sangue do pregador, ela nunca flamejará em seus lábios.

2. Seja claro a respeito do evangelho

Seja claro a respeito do evangelho. Toda passagem da escritura é um texto do evangelho. Em todo livro de Ester, o nome de Deus nunca é mencionado, e ainda assim sua obra está em cada página. Um pastor que quer ver pecadores salvos ensinará fielmente a Bíblia, mostrando à sua congregação como a pessoa e a obra de Cristo é o assunto de cada texto.

3. Chame as pessoas ao arrependimento e à fé

Chame as pessoas ao arrependimento e a crer. Existe um lugar em cada sermão em que o pastor deve convidar os pecadores a encontrar esperança em Cristo. Tão frequentemente ouço sermões que terminam com um chamado à mordomia, um chamado ao risco, um chamado à fidelidade — mas nem sequer uma vez um chamado a Cristo. O pregador deve cuidadosa e apaixonadamente instar seus ouvintes a arrepender-se e crer nas boas novas, a submeter suas vidas ao Cristo Rei.

4. Crie espaço para conversas de acompanhamento

Crie espaço para conversas de acompanhamento. Quando eu prego o evangelho durante meus sermões, quero que os incrédulos saibam que estou ansioso para falar mais da fé que acabo de compartilhar. Assim, me disponibilizo após o culto para conversar a respeito do evangelho e suas implicações.

Outros pastores com os quais tenho conversado convidam os desejosos a uma sala especial após o culto para orar ou conversar. Spurgeon disponibilizava duas tardes de terça-feira por mês para aconselhar desejosos e recém-convertidos.[2] Como quer que você decida fazer, dê oportunidades para as pessoas conversarem mais pessoalmente a respeito do que você acaba de pregar.

5. Ofereça estudos evangelísticos

Ofereça estudos evangelísticos. Eu frequentemente aviso aos desejosos que eles estão convidados a comparecer a um estudo curto e franco que explica as bases da fé cristã. O estudo que eu uso é o Christianity Explained, um estudo de seis semanas pelo Evangelho de Marcos publicado pela Good Book Company. Cheguei à conclusão de que essa é uma introdução inestimável ao evangelho. De fato, o treinamento em como liderar esse estudo se tornou uma classe de extrema importância em minha igreja.

6. Dê muita importância aos batismos

Dê muita importância aos batismos. É claro, batismos já são muito importantes. Nós devemos reconhecer que cada batismo é uma oportunidade de mostrar à congregação que Deus está operando ao edificar sua igreja.

Em nossa igreja, nós pedimos que cada candidato ao batismo compartilhe seu testemunho com a congregação. Eu nunca exigi isso, mas ninguém nunca disse não. Esses novos cristãos são ardentes para testificar da graça de Deus, e os desejosos são levados a questionar sua própria resposta ao evangelho.

7. Ore

Finalmente, ore. Na oração pastoral e até na oração final, eu regularmente oro para que os desejosos se arrependam e creiam no evangelho. Eu oro para que eles submetam suas vidas a Cristo, vencendo quaisquer obstáculos que veem no caminho. Eu oro para que Deus se faça conhecido por atrair para si pecadores hoje mesmo.

Como você pode observar, eu não faço apelo na igreja em que sirvo, mas eu apelo todo domingo que pecadores venham a Cristo. Que desejemos ver santos em nossas congregações encorajados pelo evangelho e desejosos convencidos de sua necessidade de se arrepender e crer nas boas novas de Deus.

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Notas:
1. Para um tratado detalhado dos perigos do apelo, leia Erroll Hulse, The Great Invitation: Examining the Use of the Altar Call in Evangelism (Audoban Press, 2006) e D. Martyn Lloyd-Jones,Pregação e Pregadores (Editora Fiel, 1976), capítulo 14.
2. Arnold Dallimore, A New Biography (Banner of Truth, 1985), 80.

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Fonte: 9Marks
Tradução: Alan Cristie
Revisão: Renata do Espírito Santo
Via: Ministério Fiel | Voltemos ao Evangelho
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terça-feira, 26 de agosto de 2014

À noite, todos os gatos são pardos

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Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes


Confesso que no fundo de meu coração tenho medo de um dia vir a afastar-me de Deus e de Sua verdade.

Tenho medo, explico, porque vejo no fundo de meu coração uma tendência constante para afastar-me de Deus. Sinto que a tentação para a heterodoxia e para a liberação total são perigos reais que me cercam diariamente. Vejo com muita clareza que submeter-me às Escrituras e crer em Deus é um milagre na minha vida.

Vi a apostasia acontecer muito de perto ao longo da minha vida. Um famoso professor de Bíblia do Recife, que foi a pessoa que me encaminhou ao seminário, abandonou a fé cristã depois de trair a mulher e abandoná-la com nove filhos. Eu estava no primeiro ano! Três colegas meus de classe, no seminário, entre os mais brilhantes da turma, hoje nem professam mais o cristianismo. Um jovem promissor que chegou ao Evangelho por minha instrumentalidade, e que posteriormente chegou até a estudar no L’Abri, com Francis Schaeffer, renegou o cristianismo histórico. Uma conhecida minha, desde a infância, que é missionária no estrangeiro, acaba de comunicar aos pais que não é mais cristã, depois de começar a viver com um homem casado. Líderes que conheci e admirei e segui durante os primeiros anos de minha vida, não deixaram as denominações evangélicas, mas já não crêem mais naquilo que me ensinaram.

Há advertências constantes nas Escrituras contra a apostasia. Apostatar significa afastar-se da verdade de Deus revelada nas Escrituras, como resultado de uma mudança de pensamento, e levantar-se em rebelião aberta contra ela. O que leva uma pessoa a fazer tudo isso, a abandonar a fé bíblica, seguir a heterodoxia, renegar os valores morais do cristianismo e pregar a liberação total?

Não pretendo entrar aqui na delicada questão acerca da salvação do apóstata. Talvez noutro post eu tente esclarecer os motivos para acreditar que um apóstata, no sentido real da palavra, nunca foi verdadeiramente salvo. Creio na perseverança final dos santos, dos eleitos.

O que eu gostaria é de inquirir acerca dos motivos que levam uma pessoa a abandonar a fé histórica do Cristianismo, após ter pregado e defendido essa fé por muito tempo. É evidente que não poderei inquirir aqui sobre os desígnios misteriosos de Deus. A minha inquirição é apenas psicológica, espiritual e teológica.

O Novo Testamento nos dá vários motivos pelos quais as pessoas se desviam da fé. Na parábola do semeador, lemos acerca dos que creram por um tempo e depois se desviaram, por causa dos cuidados desse mundo e por causa das perseguições que começaram a experimentar por causa do Evangelho. São aqueles que não acolheram sinceramente a verdade para serem salvos. A eles, o próprio Deus envia a operação do erro e da mentira (2Ts 2.9-11). Há também os que, depois de algum tempo, passaram a dar ouvidos a doutrinas de demônios (1Tm 4.1). Outros, se desviaram da fé para professar uma doutrina que acharam que era mais intelectual (1Tm 6.20-21). Com mais freqüência, há os que foram levados pela cobiça, como Judas, Balaão e Demas, que amou o presente mundo. A demora, a relutância, a indolência e a negligência em romper definitivamente com o pecado e o erro são causas prováveis de apostasia, conforme o autor de Hebreus ensina em toda a sua carta. Ele avisa que a dureza de coração e a incredulidade são capazes de afastar alguém do Deus vivo (Hb 3.12-13).

Em resumo, os motivos externos são vários: amor ao dinheiro, orgulho, problemas morais não resolvidos, vaidade intelectual, falta de coragem para assumir a verdade e desejo de novidades. A raiz de tudo isso, ao meu ver, é a falta de um coração regenerado, um motivo que os autores bíblicos estão sempre prontos a admitir.

O apóstata pode permanecer muitos anos na igreja e no ministério cristão sem jamais revelar a apostasia que já aconteceu em seu coração. Outros, assumem a apostasia e rompem abertamente com a fé cristã histórica, e geralmente adotam outras doutrinas que mesmo aparecendo com cara de novas e revestidas de respeitabilidade intelectual, nada mais são que as velhas heresias teológicas e morais que a Igreja já enfrentou ao longo dos anos. Eu não me espantaria se por detrás dos grandes desvios teológicos da história encontrássemos pecados não resolvidos, orgulho, vaidade intelectual, soberba, dureza de coração e – obviamente – corações não regenerados. É claro que nunca saberemos ao certo. A história não registra essas coisas que sempre são abafadas, escondidas e quase nunca declaradas.

Até onde entendo, só há uma coisa que mantém o cristão na verdade: o temor a Deus, a humildade e um coração quebrantado. Os que verdadeiramente se humilham diante de Deus e tremem de sua Palavra, mesmo que errem em pontos secundários, que caiam eventualmente em pecados, jamais se afastarão definitivamente de Deus e da sua palavra. O verdadeiro crente não pode mais abandonar a Deus. Nem que queira. Nem que em momentos terríveis diga a Deus que nunca mais o servirá. Ele acaba voltando. O apóstata vence essa barreira. Ele consegue passar o limite. Ele consegue pular a cerca. Ele não receia o que poderá acontecer. Pois no fundo ele realmente não acredita.

A apostasia é uma realidade muito mais presente nos meios evangélicos brasileiros do que se deseja perceber. O falso conceito de tolerância, o relativismo, a falta de convicções doutrinárias, o liberalismo teológico travestido de ciência, tudo isso favorece um quadro cinza e enevoado onde os contornos do verdadeiro Cristianismo não são percebidos com clareza. À noite, todos os gatos são pardos.

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Fonte: PIPG
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