quinta-feira, 31 de outubro de 2024

A Vida de Martinho Lutero

 


Martinho Lutero

por Orlando Boyer

No cárcere, sentenciado pelo Papa a ser queimado vivo, João Huss disse: “Podem matar um ganso (na sua língua, ‘huss’ é ganso ), mas daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que não poderão queimar” .

Enquanto caía a neve, e o vento frio uivava como fera em redor da casa, nasceu esse “cisne”, em Eisbelen, Alemanha. No dia seguinte, o recém-nascido era batizado na Igreja de São Pedro e São Paulo. Sendo dia de São Martinho, recebeu o nome de Martinho Lutero.

Cento e dois anos depois de João Huss expirar na fogueira, o “cisne” afixou, na porta da Igreja em Wittenberg, as suas noventa e cinco teses contra as indulgências, ato que gerou a Grande Reforma.

Para dar o valor devido à obra de Martinho Lutero, é necessário notar algo das trevas e confusão dos tempos em que nasceu.

Calcula-se que, pelo menos, um milhão de albigenses foram mortos na França, a fim de cumprir a ordem do Papa, para que esses “hereges” fossem cruelmente exterminados. Wiclif, “a Estrela da Alva da Reforma”, traduzira a Bíblia para a língua inglesa. João Huss, discípulo de Wiclif, morrera na fogueira, na Boêmia, cantando hinos, nas chamas, até o último suspiro. Jerônimo de Praga, companheiro de Huss e também erudito, sofrera o mesmo suplício, pedindo ao Senhor que perdoasse seus pecados. João Wessália, notável pregador de Erfurt, fora preso por ensinar que a salvação é pela graça; seu frágil corpo fora metido entre ferros, onde morreu quatro anos antes do nascimento de Lutero. Na Itália, quinze anos depois de Lutero nascer, Savonarola, homem dedicado a Deus e fiel pregador da Palavra, foi enforcado e seu corpo reduzido a cinzas, por ordem da Igreja Romana.

Em tempos assim, nasceu Martinho Lutero. Como muitos dos demais célebres entre os homens, era de família pobre.

Os pais de Martinho, para vestir, alimentar e educar seus sete filhos, esforçaram-se incansavelmente. O pai trabalhava nas minas de cobre; a mãe, além do serviço doméstico, trazia lenha nas costas, da floresta.

O pai de Martinho, satisfeitíssimo pelos trabalhos escolares do filho, na vila onde morava, mandou-o, aos treze anos, para a escola franciscana na cidade de Magdeburgo.

Para conseguir a sua subsistência em Magdeburgo, Martinho era obrigado a esmolar pelas ruas, cantando canções de porta em porta. Seus pais, achando que em Eisenach passaria melhor, mandaram-no para estudar nessa cidade, onde moravam parentes de sua mãe. Porém esses parentes não o auxiliaram, e o moço continuou a mendigar o pão.

Quando estava a ponto de abandonar os estudos, para trabalhar com as mãos, certa senhora de recursos, D. Úrsola Cota, atraída por suas orações na igreja e comovida pela humilde maneira de receber quaisquer restos de comida, na porta, acolheu-o entre a família. Pela primeira vez Lutero sentira fartura. Mais tarde, ele referia-se à cidade de Eisenach como a “cidade bem amada”. Quando Lutero se tornou famoso, um dos filhos da família Cota cursava em Wittenberg, onde Lutero o recebeu na sua casa.

Logo depois, os pais de Martinho alcançaram certa abastança. O pai alugou um forno para fundição de cobre e depois passou a possuir mais dois. Foi eleito vereador na sua cidade e começou a fazer planos para educar seus filhos.

Aos dezoito anos, Martinho ansiava estudar numa universidade. Seu pai, reconhecendo a idoneidade do filho, enviou-o a Erfurt, o centro intelectual do país, onde cursavam mais de mil estudantes. O moço estudou com tanto afinco que, no fim do terceiro semestre, obteve o grau de bacharel de filosofia. Com a idade de vinte e um anos, alcançou o segundo grau acadêmico e o de doutor em filosofia. Os estudantes, professores e autoridades prestaram-lhe significativa homenagem.

Seu pai, desejoso de que seu filho se formasse em direito e se tornasse célebre, comprou-lhe a caríssima obra: “Corpus Juris”. Mas a alma de Lutero suspirava por Deus, acima de todas as coisas. Vários acontecimentos influenciaram-no a entrar na vida monástica, passo que entristeceu profundamente seu pai e horrorizou seus companheiros de universidade.

Durante o ano de noviciato, antes de Lutero ser feito monge, os seus amigos fizeram de tudo para dissuadi-lo de confirmar esse passo. Os companheiros, que convidara para cearem com ele, quando anunciou a sua intenção de ser monge, ficaram no portão do convento dois dias, esperando que ele voltasse. Seu pai, vendo que seus rogos eram inúteis e que todos os seus anelantes planos acerca do filho iam fracassar, quase enlouqueceu.

Quão grande, porém, era sua ilusão. Depois de procurar crucificar a carne pelos jejuns prolongados, pelas privações mais severas, e com vigílias sem conta, achou que, embora encarcerado em sua cela, tinha ainda de lutar contra os maus pensamentos. A sua alma clamava: “Dá-me santidade ou morro por toda a eternidade; leva-me ao rio de água pura e não a estes mananciais de águas poluídas; traze-me as águas da vida que saem do trono de Deus!”;

Certo dia Lutero achou, na biblioteca do convento, uma velha Bíblia latina, presa à mesa por uma cadeia. Achara, enfim, um tesouro infinitamente maior que todos os tesouros literários do convento. Ficou tão embevecido que, durante semanas inteiras, deixou de repetir as orações diurnas da ordem. Então, despertado pelas vozes da sua consciência, arrependeu-se da sua negligência : era tanto o remorso, que não podia dormir. Apressou-se a reparar o seu erro: fê-lo com tanto anseio que não se lembrava mais de alimentar-se. Nessa altura, o vigário geral da ordem agostiana, Staupitz, visitou o convento. Era homem de grande discernimento, e devoção enraizada; compreendeu logo o problema do jovem monge; ofereceu-lhe uma Bíblia na qual Lutero leu que o “justo viverá da fé. Por quanto tempo tinha ele anelado : “Oh ! se Deus me desse um livro destes só para mim!” – e agora o possuía !

Na leitura da Bíblia achou grande consolação, mas a obra não poderia completar-se em um só dia. Ficou mais determinado do que nunca a alcançar paz para a sua alma, na vida monástica, jejuando e passando noites a fio sem dormir. Gravemente enfermo, exclamou : “Os meus pecados ! Os meus pecados !”. Apesar da sua vida ter sido livre de manchas, como ele afirmava e outros testificavam, sentia sua culpa perante Deus, até que um velho monge lhe lembrou uma palavra do Credo: “Creio na remissão dos pecados”. Viu então que Deus não somente perdoara os pecados de Daniel e de Simão Pedro, mas também os seus. Pouco tempo depois destes acontecimentos, Lutero foi ordenado padre.

Depois de completar vinte e cinco anos de idade, Lutero foi nomeado para a cadeira de filosofia em Wittenberg, para onde se mudou para viver no convento da sua ordem. Porém a sua alma anelava pela Palavra de Deus, e pelo conhecimento de Cristo. No meio das ocupações de professorado, dedicou-se ao estudo das Escrituras, e no primeiro ano conquistou o grau de “baccalaureus ad biblia”. Sua alma ardia com o fogo dos céus; de todas as partes acorriam multidões para ouvir os seus discursos, os quais fluíam abundantemente e vivamente do seu coração, sobre as maravilhosas verdades reveladas nas Escrituras.

Um dos pontos mais iluminantes da biografia de Lutero é a sua visita a Roma. Surgiu uma disputa renhida entre sete conventos dos agostianos e decidiram deixar os pontos de dissidências para o Papa resolver. Lutero sendo o homem mais hábil, mais eloqüente e altamente apreciado e respeitado por todos que o conheciam, foi escolhido para representar seu convento em Roma. Fez a viagem a pé, acompanhado de outro monge. Em Roma, visitou os vários santuários e os lugares de peregrinação. Numa certa ocasião, subindo a Santa Escada de joelhos, desejando a indulgência que o chefe da igreja prometia por esse ato, ressoaram nos seus ouvidos como voz de trovão, as palavras de Deus: “O justo viverá da fé”. Lutero ergueu-se e saiu envergonhado.

Depois da corrupção generalizada que viu em Roma, a sua alma aderiu à Bíblia mais do que nunca. Ao chegar novamente ao convento, o vigário insistiu em que desse os passos necessários para obter o título de doutor, com o qual teria o direito de pregar. Lutero, porém, reconhecendo a grande responsabilidade perante Deus e não querendo ceder, disse: “Não é de pouca importância que o homem fale em lugar de Deus….Ah ! Sr. Dr., fazendo isto, me tirais a vida; não resistirei mais que três meses”. O vigário geral respondeu-lhe : “Seja assim, em nome de Deus, pois o Senhor Deus também necessita nos céus de homens dedicados e hábeis”.

O coração de Lutero, elevado à dignidade de doutor em teologia, abrasava-se ainda mais do desejo de conhecer as Sagradas Escrituras e foi nomeado pregador da cidade de Wittenberg.

Acerca da grande transformação da sua vida, nesse tempo, ele mesmo escreve: “Apesar de viver irrepreensivelmente, como monge, a consciência perturbada me mostrava que era pecador perante Deus. Assim odiava a um Deus justo, que castiga os pecadores…Senti-me ferido de consciência, revoltado intimamente, contudo voltava sempre para o mesmo versículo ( Rm 1: 17 ), porque queria saber o que Paulo ensinava. Contudo, depois de meditar sobre esse ponto durante muitos dias e noites, Deus, na sua graça, me mostrou a palavra : ‘ O justo viverá da fé ‘. Vi então que a justiça de Deus, nessa passagem, é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus pela fé, como dádiva”.

A alma de Lutero dessa forma saiu da escravidão; ele mesmo escreveu assim: “Então me achei recém-nascido e no Paraíso. Todas as escrituras tinham para mim outro aspecto; perscrutava-as para ver tudo o que ensinavam sobre a ‘ justiça de Deus ‘ . Antes, estas palavras eram-me detestáveis; agora as recebo com o mais intenso amor. A passagem me servia como a porta do Paraíso”.

Depois dessa experiência, pregava diariamente; em certas ocasiões, pregava até três vezes ao dia, conforme ele mesmo conta: “O que o pasto é para o rebanho, a casa para o homem, o ninho para o passarinho, a penha para a cabra montês, o arroio para o peixe, a Bíblia é para as almas fiéis”. A luz do Evangelho, por fim, tomara o lugar das trevas e a alma de Lutero abrasava por conduzir os seus ouvintes ao Cordeiro de Deus, que tira todo o pecado.

Lutero levou o povo a considerar a verdadeira religião, não como uma mera profissão, ou sistema de doutrinas, mas como vida em Deus. A oração não era mais um exercício sem sentido, mas o contato do coração com Deus que cuida de nós com um amor indizível. Nos seus sermões, Deus revelou o seu próprio coração a milhares de ouvintes, por meio do coração de Lutero.

A fama do jovem monge espalhou-se até longe. Entretanto, sem o reconhecer, enquanto trabalhava incansavelmente para a igreja, já havia deixado o rumo liberal que ela seguia em doutrinas e práticas.

“Em outubro de 1517, Lutero afixou a porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, as suas 95 teses, o teor das quais é que Cristo requer o arrependimento e a tristeza pelo pecado e não a penitência”. Lutero afixou as teses ou proposições para um debate público, na porta da Igreja, como era costume nesse tempo. Mas as teses, escritas em latim, foram logo traduzidas em alemão, holandês e espanhol. Antes de decorrido um mês, para a surpresa de Lutero, já estavam na Itália, fazendo estremecer os alicerces do velho edifício de Roma. Foi desse ato de afixar as 95 teses na Igreja de Wittenberg, que nasceu a Reforma Protestante, isto é, que tomou forma o grande movimento de almas que em todo o mundo ansiavam voltar para a fonte pura, a Palavra de Deus. Contudo Lutero não atacara a Igreja Romana, mas antes, pensou fazer defesa do Papa contra os vendedores de indulgências.

Em agosto de 1518, Lutero foi chamado a Roma para responder a uma denúncia de heresia. Contudo, o eleitor Frederico não consentiu que fosse levado para fora do país; assim Lutero foi intimado a apresentar-se em Augsburgo. “Eles te queimarão vivo”, insistiram seus amigos. Lutero, porém, respondeu resolutamente: “Se Deus sustenta a causa, ela será sustentada”.

A ordem do núncio do Papa em Augsburgo foi: “Retrata-se ou não voltará daqui”. Contudo Lutero conseguiu fugir, passando por uma pequena cancela no muro da cidade, na escuridão da noite. Ao chegar de novo em Wittenberg, um ano depois de afixar as teses, era o homem mais popular em toda a Alemanha. Não havia jornais nesse tempo, mas fluíam da pena de Lutero respostas a todos os seus críticos para serem publicadas em folhetos. O que escreveu dessa forma, hoje seriam cem volumes.

Quando a bula de excomunhão, enviada pelo Papa, chegou em Wittenberg, Lutero respondeu com um tratado dirigido ao Papa Leão X, exortando-o, no nome do Senhor, a que se arrependesse. A bula do Papa foi queimada fora do muro da cidade de Wittenberg, perante grande ajuntamento do povo.

Porém, o imperador Carlos V, que ia convocar sua primeira Dieta na cidade de Worms, queria que Lutero comparecesse para responder, pessoalmente, aos seus acusadores. Os amigos de Lutero insistiram em que recusasse ir. “Não fora João Huss entregue a Roma para ser queimado, apesar da garantia de vida por parte do imperador?!”. Mas em resposta a todos que se esforçavam por dissuadi-lo de comparecer perante seus terríveis inimigos, Lutero, fiel a chamada de Deus, respondeu : “Ainda que haja em Worms, tantos demônios como quantas sejam as telhas nos telhados, confiando em Deus, eu aí entrarei”. Depois de dar ordens acerca do trabalho, no caso de ele não voltar, partiu.

Na sua viagem para Worms, o povo afluía em massa para ver o grande homem que teve coragem de desafiar a autoridade do Papa. Em Mora, pregou ao ar livre, porque as igrejas não mais comportavam as multidões que queriam ouvir seus sermões. Ao avistar as torres das igrejas de Worms, levantou-se na carroça em que viajava e cantou o seu hino, o mais famoso da Reforma: ” Ein Feste Berg “, isto é : “Castelo forte é o nosso Deus”. Ao entrar, por fim, na cidade, estava acompanhado de uma multidão de povo muito maior do que fora ao encontro de Carlos V . No dia seguinte foi levado perante o imperador, ao lado do qual se achavam o delegado do Papa, seis eleitores do império, vinte e cinco duques, oito margraves, trinta cardeais e bispos, sete embaixadores, os deputados de dez cidades e grande número de príncipes, condes e barões.

Sabendo que tinha de comparecer perante uma das mais imponentes assembléias de autoridades religiosas e civis de todos os tempos, Lutero passou a noite anterior de vigília. Prostrado com o rosto em terra, lutando com Deus, chorando e suplicando.

Quando, na assembléia, o núncio do Papa exigiu de Lutero, perante a augusta assembléia, que se retratasse, ele respondeu : “Se não me refutardes pelo testemunho das Escrituras, ou por argumentos – desde que não creio somente nos papas e nos concílios, por ser evidente que já muitas vezes se enganaram e se contradisseram uns aos outros – a minha consciência tem de ficar submissa à Palavra de Deus. Não posso retratar-me, nem me retratarei de qualquer coisa, pois não é justo nem seguro agir contra a consciência. Deus me ajude ! Amém”.

Apesar de os papistas não conseguirem influenciar o imperador a violar o salvo-conduto, para que pudesse queimar na fogueira o assim chamado “herege”, Lutero teve de enfrentar outro grave problema. O edito de excomunhão entraria imediatamente em vigor; Lutero por causa da excomunhão, era criminoso e, ao findar o prazo do seu salvo-conduto, devia ser entregue ao imperador; todos os seus livros deviam ser apreendidos e queimados; o ato de ajudá-lo em qualquer maneira era crime capital.

Mas para Deus é fácil cuidar dos seus filhos. Lutero, regressando a Wittenberg, foi repentinamente rodeado num bosque por um bando de cavaleiros mascarados que, depois de despedirem as pessoas que o acompanhavam, conduziram-no, alta noite, ao castelo de Wartburgo, perto de Eisenach. Isto foi um estratagema do príncipe de Saxônia para salvar Lutero dos inimigos que planejavam assassiná-lo antes de chegar a casa. No castelo, Lutero passou muitos meses disfarçado; tomou o nome de cavaleiro Jorge e o mundo o considerava morto. Contudo, no seu retiro, livre dos inimigos, foi-lhe concedido a liberdade de escrever, e o mundo logo soube, pela grande quantidade de literatura, que essa obra saía da sua pena e que, de fato, Lutero vivia. O reformador conhecia bem o hebraico e o grego e em três meses tinha vertido todo o Novo Testamento para o alemão – em poucos meses mais a obra estava impressa e nas mãos do povo. Cem mil exemplares foram vendidos, em quarenta anos, além das cinqüenta e duas edições impressas em outras cidades. Era circulação imensa para aquele tempo, mas Lutero não aceitou um centavo de direitos. A maior obra de toda a sua vida, sem dúvida, fora de dar ao povo alemão a Bíblia na sua própria língua – depois de voltar a Wittenberg. O seu êxito em traduzir as Sagradas Escrituras para o uso dos mais humildes, verifica-se no fato de que, depois de quatro séculos, sua tradução permanece como a principal.

Depois de abandonar o hábito de monge, Lutero resolveu deixar por completo a vida monástica, casando-se com Catarina von Bora, freira que também saíra do claustro, por ver que tal vida é contra a vontade de Deus. O vulto de Lutero sentado ao lume, com a esposa e seis filhos que amava ternamente, inspira os homens mais que o grande herói ao apresentar-se perante o legado em Augsburgo.

Nas suas meditações sobre as Escrituras, muitas vezes se esquecia das refeições. Ao escrever o comentário sobre o Salmo 23, passou três dias no quarto comendo somente pão e sal. Quando a esposa chamou um serralheiro e quebraram a fechadura, acharam-no escrevendo, mergulhado em pensamentos e esquecido de tudo em redor.

É difícil concebermos a magnitude das coisas que devemos atualmente a Martinho Lutero. O grande passo que deu para que o povo ficasse livre para servir a Deus, como Ele mesmo ensina, está além da nossa compreensão. Era grande músico e escreveu alguns dos hinos mais espirituais cantados atualmente. Compilou o primeiro hinário e inaugurou o costume de todos os assistentes aos cultos cantarem juntos. Insistiu em que não somente os do sexo masculino, mas também os do feminino fossem instruídos, tornando-se, assim, o pai das escolas públicas. Antes dele, o sermão nos cultos era de pouca importância. Mas Lutero fez do sermão a parte principal do culto. Ele mesmo servia de exemplo para acentuar esse costume: era pregador de grande porte. Considerava-se como sendo nada; a mensagem saía-lhe do íntimo do coração: o povo sentia a presença de Deus. Em Zwiekau pregou a um auditório de 25 mil pessoas na praça pública.

Calcula-se que escreveu 180 volumes na língua materna e quase um número igual no latim. Apesar de sofre de várias doenças, sempre se esforçava dizendo: “Se eu morrer na cama será uma vergonha para o Papa”.

Os homens geralmente querem atribuir o grande êxito de Lutero à sua extraordinária inteligência e aos seus destacados dons. O fato é que Lutero também tinha o costume de orar horas a fio. Dizia que se não passasse duas horas de manhã orando, recearia que Satanás ganhasse a vitória sobre ele durante o dia. Certo biógrafo seu escreveu : “O tempo que ele passa em oração, produz o tempo para tudo que faz. O tempo que passa com a Palavra vivificante enche o coração até transbordar em sermões, correspondência e ensinamentos”.

Encontra-se o seguinte na História da Igreja Cristã, por Souer, Vol, 3, pág. 406 : “Martinho Lutero profetizava, evangelizava, falava línguas e interpretava; revestido de todos os dons do Espírito”. [Nota do site: Esta informação não é verdadeira. Não há nada, seja em seus escritos ou biografias confiáveis, que possa sequer supor isso. Pelo contrário, em seus escritos encontramos frases como esta: “Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para a que há de vir”].

Nos seus sessenta e dois anos pregou seu último sermão sobre o texto: “Ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. No mesmo dia escreveu para a sua querida Catarina : “Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e Ele te susterá. Amém”. Isso foi na última carta que escreveu. Vivia sempre esperando que o Papa conseguisse executar a repetida ameaça de queimá-lo vivo. Contudo não era essa a vontade de Deus : Cristo o chamou enquanto sofria dum ataque do coração, em Eisleben, cidade onde nascera .

São estas as últimas palavras de Lutero : “Vou render o espírito”. Então louvou a Deus em alta voz : “Oh! meu Pai celeste! meu Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, em quem creio e a quem preguei e confessei, amei e louvei! Oh! meu querido Senhor Jesus Cristo, encomendo-te a minha pobre alma. Oh! meu Pai celeste! em breve tenho de deixar este corpo, mas sei que ficarei eternamente contigo e que ninguém me pode arrebatar das tuas mãos”. Então, depois de recitar João 3:16 três vezes, repetiu as palavras: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito, pois tu me resgataste, Deus fiel”. Assim fechou os olhos e adormeceu.

Um imenso cortejo de crentes que o amavam ardentemente, com cinqüenta cavaleiros à frente, saiu de Eisleben para Wittenberg; passando pela porta da cidade onde o reformador queimara a bula de excomunhão, entrou pelas portas da Igreja onde, há vinte e nove anos, afixara suas 95 teses. No culto fúnebre, Bugenhangen, o pastor, e Melancton, inseparável companheiro de Lutero, discursaram. Depois abriram a sepultura, preparada ao lado do púlpito, e ali depositaram o corpo.

Quatorze anos depois, o corpo de Melancton achou descanso do outro lado do púlpito. Em redor dos dois, jazem os restos mortais de mais de noventa mestres da universidade.

As portas da Igreja do Castelo, destruídas pelo fogo no bombardeio de Wittenberg em 1760, foram substituídas por portas de bronze em 1812, nas quais estão gravadas as 95 teses. Contudo, este homem que perseverou em oração, deixou gravadas, não no metal que perece, mas em centenas de milhões de almas imortais, a Palavra de Deus que dará fruto para toda a eternidade

Fonte: Heróis da Fé, Editora CPAD.

Reforma Protestante: Dez citações marcantes das 95 Teses de Lutero

Monumento a Martinho Lutero. (Foto: Pixabay)

O Dia da Reforma, celebrado em 31 de outubro, destaca a coragem de Martinho Lutero e seu compromisso com a pureza da fé cristã.

Reforma Protestante celebra 507 anos, marcada pelo ato do monge alemão Martinho Lutero de pregar as chamadas “95 Teses” na porta da igreja de Wittenberg, na Alemanha.

A ação foi um divisor teológico entre os ensinamentos da Igreja Católica Romana e o Protestantismo, que acabava de nascer, configurando-se como um dos eventos mais significativos da história da Igreja Cristã.

As 95 teses de Lutero, ou pontos de debate, contestavam diversas práticas da Igreja Católica Romana, como a indulgência papal, que é a absolvição das consequências temporais de um pecado, que, segundo a doutrina católica, ainda pode afetar a alma, mesmo após o perdão divino. As teses também discutiam questões relacionadas à salvação e às obras.

Após a publicação das teses na porta de Wittemberg, Lutero foi julgado e formalmente declarado herege.

O Dia da Reforma, celebrado em 31 de outubro, destaca a coragem de Martinho Lutero e seu compromisso com a pureza da fé cristã.

Conheça 10 citações dentre as 95 teses de Lutero:

1. O Papa não deseja nem pode perdoar quaisquer penas, exceto aquelas impostas pela sua própria autoridade ou pelas leis da Igreja.

2. Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.

3. Comete-se injustiça contra a Palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da Palavra do Senhor.

4. Aqueles que acreditam que podem ter certeza da sua salvação por causa das indulgências serão eternamente condenados, juntamente com os seus ensinadores.

5. Os cristãos devem aprender que quem dá aos pobres ou empresta aos necessitados faz melhor do que quem compra indulgências.

6. Os cristãos devem aprender que quem vê uma pessoa necessitada e passa por ela, mas dá dinheiro para indulgências, não compra indulgências de papel, mas a ira de Deus.

7. O verdadeiro tesouro da igreja é o santo Evangelho da glória e graça de Deus.

8. Por que o Papa, cuja riqueza hoje excede a do mais rico Crasso, não constrói esta Basílica de São Pedro com o seu próprio dinheiro, em vez de com o dinheiro dos crentes pobres?

9. Que bênção maior poderia a Igreja receber do que se o Papa concedesse estas remissões e bênçãos a cada crente cem vezes por dia, como agora faz uma vez por dia?

10. Suprimir estes argumentos muito contundentes dos leigos apenas pela força e não os resolver apresentando razões expõe a Igreja e o Papa ao ridículo dos seus inimigos e torna os cristãos infelizes.

Fonte: Guiame, com informações do Christian Post

Missionário americano é assassinado em Angola: “Foi morto enquanto servia Jesus”

O falecido missionário Beau Shroyer. (Foto: Reprodução/YouTube/Country Faith Church)

Beau Shroyer, de 44 anos, servia no país há 3 anos, junto com sua esposa e seus cinco filhos.

Um missionário americano, de 44 anos, foi assassinado em Angola, na última sexta-feira (25). A notícia da morte de Beau Shroyer foi anunciada pela “SIM USA”, a missão que o enviou ao país africano.

“Recebi um telefonema informando que Beau Shroyer foi morto enquanto servia a Jesus em Angola e agora está com seu Salvador”, afirmou Randy Fairman, presidente da SIM USA, em um comunicado.

Beau servia na cidade angolana de Lubango há três anos, junto com sua esposa Jackie Shroyer e seus cinco filhos. 

A organização missionária não tinha mais informações da morte de Beau e informou apenas que o missionário estava a caminho de Lubango, a segunda maior cidade de Angola, quando tudo aconteceu.

“Ainda não falei com Jackie e muitos detalhes ainda são desconhecidos”, explicou Randy. “Agora devemos confiar em Jesus em uma temporada que nunca imaginamos. Devemos confiar nele sem exigir que Ele nos dê uma compreensão de por que Ele permitiu isso. É difícil e amplia nossa fé”, completou.

Troy Easton, pastor da Igreja Lakes Area Vineyard, onde Beau Shroyer e sua família são membros há anos, confirmou que o missionário foi “morto em um ato de violência”.

O pastor afirmou que a igreja estava em contato com a esposa de Beau, e que ela e os filhos estavam seguros e sendo cuidados. Troy ainda comentou que a família visitou sua igreja nos Estados Unidos apenas três meses atrás.

Desafios no campo missionário


O missionário com a esposa e seus filhos. (Foto: Facebook/Lakes Area Vineyard Church).

Em uma apresentação sobre o trabalho missionário na Country Faith Church em junho, Jackie Shroy relatou os desafios enfrentados pela família em Angola, observando que era a primeira vez que estavam atuando como missionários no exterior.

“Lutamos contra muitas outras doenças. Tivemos muitos problemas de segurança. Desconfiança com os guardas. Passamos por tantos guardas e tivemos vários arrombamentos em nossa casa durante a noite enquanto estávamos dormindo”, comentou ela.

“Além de tudo, tentando descobrir como viver nessa cultura, tivemos tantas mudanças, tantas experiências difíceis que causaram muito medo e trauma”.

Mesmo enfrentando desafios, o casal de missionários estavam certos que estavam cumprindo os propósitos do Senhor.

“É realmente encorajador que, agora que estamos aqui, tenhamos concluído o primeiro mandato. Fomos à sede da nossa organização e fizemos nosso interrogatório e todos nós sete podemos dizer com certeza que mal podemos esperar para voltar e continuar trabalhando”, disse ela, na época.

E destacou: “Não há dúvida em nenhuma de nossas mentes de que este é o lugar onde deveríamos estar e estamos muito animados para voltar e continuar nosso trabalho”.

Na apresentação, o missionário Beau também contou que a sede da missão em Angola ficava ao lado de uma plantação de laranja, que era protegida por guardas armados que entravam em conflito com ladrões de laranjas.

“Esses caras estão aqui dia e noite se protegendo contra ladrões que virão roubar as laranjas para vender. Eles estão atirando nas pessoas, e cerca de uma semana antes de virmos [para os EUA], um dos ladrões foi baleado e morto em uma briga de facão. Então é desesperador. Eles estão com tanta fome que estão arriscando suas vidas para conseguir uma pilha de laranjas”, explicou.

Fonte: Guiame, com informações de The Christian Post

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

A Vida de Catarina von Bora e seu papel na Reforma Protestante

 

Catarina von Bora. (Imagem: Wikipedia)

Neste artigo, destacaremos a liderança de Catarina von Bora ao lado de seu esposo Martinho Lutero.

Nesse mês de outubro a Série Mulher Cristã, fará uma homenagem às mulheres reformadoras que contribuíram nos desdobramentos da Reforma Protestante, elas foram escritoras apologetas, humanitárias, piedosas, esposas e mães, cheias de fé, altruístas e mártires convictas. Acima de tudo, mensageiras do Evangelho de Cristo. 

A Reforma Protestante do século 16, liderada por Martinho Lutero (1483-1546), um monge alemão agostiniano que queria abrir uma discussão reformatória na própria igreja romana na Alemanha, foi marcada pelas 95 teses afixadas na porta da Igreja do Castelo Wittenberg em 31 de outubro de 1517.

Lutero traduziu a Bíblia do latim para o alemão, pois acreditava que todos os fiéis deveriam ter acesso às Escrituras Sagradas. 


A Reforma Protestante foi um divisor de águas no cristianismo ocidental. Outros reformadores, como João Calvino, que liderou a reforma na França (1509-1564); Philipp Melanchthon, colaborador e amigo de Lutero (1497-1560); Ulrico Zuínglio, que liderou a reforma na Suíça (1484-1531); e John Wycliffe, que elaborou novas interpretações da doutrina cristã, influenciaram Lutero. Jan Hus, considerado um dos primeiros reformadores (1369-1415), também figura entre os principais nomes dessa época.

Mas onde estavam as mulheres nesse período tão importante para o Cristianismo?

De acordo com a escritora e teóloga Rute Salviano, há evidências de que as mulheres durante o período da Reforma, ao terem acesso às Escrituras, se encantaram com a doutrina da salvação pela fé e a divulgaram. No entanto, sua participação não foi reconhecida nem elogiada, uma vez que, desde os primórdios do cristianismo, a mulher era vista como uma “Eva”, a responsável por levar o homem ao pecado e à sua queda. “Ela seria incapaz intelectualmente, mais débil fisicamente e mais propensa às tentações sexuais” (ALMEIDA, p. 19, 2021).

De fato, a Reforma não modificou o papel tradicional da mulher, que se limitava às tarefas domésticas, à educação dos filhos e ao silêncio na igreja. No entanto, a abertura à leitura bíblica possibilitou o acesso à educação religiosa. A perseguição e o martírio desenvolveram sua principal atribuição como cristã: a de comunicadora da fé (ALMEIDA, p. 20, 2021). Neste artigo, destacaremos a liderança de Catarina von Bora ao lado de seu esposo Martinho Lutero. Lutero enfrentou corajosamente as práticas antibíblicas da Igreja Católica Romana, o que marcou o início da Reforma Protestante. Desde 31 de outubro de 1517, sua vida não foi mais a mesma, e o grande êxito que obteve em sua jornada ministerial nos anos seguintes contou com o fiel apoio de sua esposa, “querida Kate” (Catarina von Bora), como ele a chamava carinhosamente.

Catarina von Bora nasceu perto de Leipzig, na Alemanha, em 1499. Filha de Hans von Bora e Anna von Haugwitz, tinha três irmãos e provavelmente uma irmã. Sua mãe faleceu quando Catarina tinha apenas 5 anos, e logo depois, seu pai se casou novamente, enviando-a a um convento beneditino em Brehna, onde seria criada e educada pelas freiras. Aos 10 anos, por decisão do pai, Catarina foi transferida para o convento cisterciense de Marienthron, em Nimbschen. Ela se tornou uma freira enclausurada aos 16 anos, mas sua qualidade de vida piorou, pois o espaço era pequeno e desconfortável.

Com o grande acontecimento da Reforma, os escritos de Lutero se espalharam por toda a Europa, chegando aos conventos e mosteiros, ainda que de forma infiltrada. Assim, Catarina teve acesso aos ensinamentos da Reforma. Nesse período, cerca de 44 freiras viviam no convento em Nimbschen, onde Catarina passou cerca de 13 a 14 anos. O convento, além de várias propriedades, possuía também 367 relíquias que eram veneradas. Catarina e mais 11 freiras foram impactadas pelas doutrinas da salvação pela fé e, com uma consciência inquieta, buscaram o conselho de Lutero, que as incentivou a fugir e garantiu que as ajudaria.

De acordo com Salviano, Lutero contou com a assistência de Leonard Koppe, um comerciante que entregava barris de arenque defumado e era conselheiro municipal de uma cidade situada entre o convento e Wittenberg. Ao chegarem em Torgau, foram bem recebidas pela população local. Três das ex-freiras logo puderam retornar para perto de suas famílias (Gertraud von Schellemberg, Else von Gauditz e uma terceira de nome desconhecido). As outras nove seguiram viagem para Wittenberg, onde foram acolhidas pelos reformadores, incluindo Martinho Lutero e Filipe Melanchthon, que procuraram famílias dispostas a receber as moças, agora libertas do cativeiro do convento.

Catarina von Bora tinha 24 anos quando saiu do convento. Por um tempo, ela morou com a família de Filipe Reichenbach e, posteriormente, até seu casamento com Lutero, na casa do grande pintor e farmacêutico Lucas Cranach e sua esposa, Barbara Cranach. Ela permaneceu com eles por dois anos e se tornou uma grande amiga de Barbara. Nesse período, trabalhou e provavelmente aprendeu muito sobre a vida em Wittenberg, não apenas sobre economia doméstica, mas também sobre o conteúdo da mensagem reformatória, que Cranach transformava em arte em seu ateliê. É interessante notar que o retrato mais conhecido de Catarina von Bora foi pintado por Lucas Cranach.

Acredita-se que Catarina von Bora era muito atraente, e seu primeiro amor foi um jovem chamado Jerônimo. Eles se apaixonaram e tinham planos de se casar, mas a família dele se opôs, e ele desistiu do matrimônio. Após isso, Catarina se mudou para a casa de outra família, onde trabalhou cuidando de crianças, enquanto Lutero, com a ajuda do amigo Nicolaus von Amsdorf, tentava encontrar um esposo para ela. Quando sugeriram que ela se casasse com o pastor Casper Glatz, Catarina recusou, pois não tinha nenhuma afeição por ele. No entanto, ela afirmou que aceitaria se casar com Nicolaus ou, se ele não quisesse, com Lutero.

Supõe-se que Lutero não havia considerado ter uma esposa naquele momento, apesar de ser contrário ao celibato dos clérigos. Contudo, o reformador alemão não hesitou e, mesmo sendo 16 anos mais velho, pediu Catarina em casamento. A princípio, os dois não estavam apaixonados, mas o amor surgiu com o tempo.

No dia 13 de junho de 1525, foi realizada a cerimônia de casamento, apenas 12 dias após o pedido. Lutero tinha 42 anos e Catarina, 26. O casal se estabeleceu no antigo mosteiro agostiniano de Wittenberg, que receberam como presente do príncipe Frederico. Eles se amaram mais do que poderiam imaginar. No entanto, enfrentaram forte oposição à união, devido à diferença de idade, ao fato de o matrimônio ser considerado um escândalo e ao temor de que Lutero pudesse ser morto a qualquer momento. No entanto, nada impediu que o casamento acontecesse.


Catarina foi uma grande administradora e “hospedeira” de seu lar. Em várias conversas e discussões com estudantes reformadores que aconteciam ao redor de sua mesa, Lutero disse: “Eu não trocaria minha Kathe nem pela França nem por Veneza. Ela me foi dada por Deus, assim como eu fui dado a ela.” O pouco que sabemos sobre Catarina von Bora está registrado nos escritos de Lutero e nas cartas que ele escreveu para ela. Infelizmente, as cartas escritas por ela não foram preservadas, mas o reformador mencionou a esposa várias vezes em seus escritos.

A vida de ambos mudou significativamente. Catarina era disciplinada e organizada, enquanto Lutero vivia de maneira mais despreocupada e desordenada. Ela transformou o convento negro em um lar acolhedor. A primeira coisa que fez, pouco tempo após o casamento, foi trocar todos os colchões de palha, pintar as paredes dos quartos com cal e mandar construir um porão. Ela também construiu uma cervejaria, preparou a horta e o pomar da casa, e Lutero teve que arranjar sementes. Além disso, Catarina mandou cavar um poço e, em 1541, instalou um banheiro, um grande luxo para a época.

Catarina não só administrava as finanças da família, mas também era empreendedora, adquirindo terras para novos investimentos em agricultura, plantações e criação de animais. Embora Lutero participasse da administração, a maior responsabilidade recaía sobre Catarina, que tinha muitos afazeres na casa (anteriormente um convento) de 40 quartos, constantemente ocupados por homens e mulheres refugiados, estudantes universitários e pelos seis filhos do casal. Lutero também abrigou sete sobrinhos e mais quatro filhos de um amigo que havia perdido a esposa. Os demais quartos eram alugados para estudantes de Lutero.

Catarina contava com criados para auxiliá-la nas tarefas e acordava às 4 horas da manhã, o que fez com que Lutero a chamasse de “a estrela da manhã de Wittenberg.” Ela se sentia realizada em seu trabalho como esposa e mãe. O casal teve três filhas e três filhos: João, Elizabeth, Madalena, Martim, Paulo e Margareth. Através de quadros ilustrativos, pode-se recordar que a família teve momentos felizes em casa. No entanto, a perseguição por conta da Reforma e a perda de duas filhas — Elizabeth, que faleceu antes de completar um ano, e Madalena, a alegria do lar, que partiu com apenas 12 anos — trouxeram ainda mais sofrimento à família.

Catarina auxiliou Lutero em seus momentos de depressão e clausura. Ele enfrentava constantes perseguições e, em várias ocasiões, era apedrejado. Catarina cuidava de suas feridas com cataplasmas e massagens, além de se preocupar em garantir que ele se alimentasse, mesmo quando estava imerso em seus estudos.


Em família, eles cultivavam o hábito de cantar louvores e fazer leituras da Bíblia. O casal educou seus filhos com muito carinho. Lutero expressou seu amor por eles em suas cartas, enquanto Catarina não negligenciava as crianças e cuidava delas de maneira exemplar.

Catarina von Bora não escreveu nenhum livro nem jamais pregou um único sermão, mas seu inestimável auxílio possibilitou que seu marido realizasse feitos notáveis na história da igreja (ALMEIDA, p. 128, 2021). Ela gostava de ler, e Lutero a incentivou a estudar a Bíblia, incluindo a memorização de algumas passagens. Com isso, Catarina adquiriu sabedoria e foi capaz de oferecer bons conselhos a Lutero, agindo e falando de forma apropriada nos momentos certos.

Ao longo dos anos, Lutero não se cansou de exaltar os valores e as qualidades da companheira em cartas e escritos. Sobre ela, ele escreveu: “[Minha querida Kate] me ajuda em meu trabalho e, acima de tudo, ama a Cristo. Depois dele, ela é o maior presente que Deus já me deu nesta vida. Se algum dia vierem a escrever a história de tudo o que tem acontecido (a Reforma), espero que o nome dela apareça junto ao meu. Eu oro por isso […]”.

Contudo, os dias se tornaram mais difíceis para Catarina com a morte de Lutero em 18 de fevereiro de 1546, longe de casa, o que impediu que ela estivesse ao seu lado antes do falecimento. Catarina ficou devastada pela perda do marido e, ao longo do tempo, sua vida se tornou ainda mais difícil devido a várias perdas financeiras, obrigando-a a depender de ajuda para sobreviver com seus dois filhos menores. Apesar disso, sua fé em Deus não desmoronou.

Em 1552, ao fazer uma viagem para Torgau com os filhos mais novos, a fim de escapar de um surto de peste negra, os cavalos da carruagem se assustaram e dispararam descontroladamente. Catarina foi arremessada para fora e caiu em uma vala, machucando gravemente as costas. Sua filha Margarethe, de 18 anos, cuidou dela, acreditando que a mãe iria se recuperar. No entanto, Catarina não se recuperou e faleceu três meses depois do acidente, em 20 de dezembro de 1552, aos 53 anos.

Catarina von Bora desempenhou um papel fundamental no sucesso de Martinho Lutero, e é uma perda significativa não mencionar ou diminuir sua contribuição de liderança ao lado do reformador. Ela foi uma mulher transformada pela verdade do evangelho, que teve a coragem de testemunhar sua fé em tempos incertos e difíceis para o contexto das mulheres. Catarina trabalhou de maneira diligente e cooperou com o progresso da Reforma, tornando-se um farol nos momentos sombrios de Lutero, animando-o e confortando-o com sua fé e devoção a Deus. Com certeza, o legado dela atravessa gerações, deixando-nos um grande exemplo de mulher cristã, convicta de seu propósito em Cristo.

Referências Bibliográficas:

ALMEIDA, Rute Salviano; PINHEIRO, Jaqueline Sousa. Reformadoras: mulheres que influenciaram a Reforma e ajudaram a moldar a igreja e o mundo. 1. ed. Rio de Janeiro: GodBooks; Thomas Nelson Brasil, 2021.

Catarina von Bora: Uma Mulher Forte, Corajosa e Empoderada do movimento da Reforma, do século XVI. Disponível em: https://revista.fuv.edu.br/index.php/reflexus/article/view/500/407> Acesso em 16 out 2024.

Caroline Fontes é formada Bacharel em Teologia; com pós- Ciência da Religião, formada em Pedagogia – UERJ, pós-graduação em Neuropsicopedagogia – FAMEESP.

Fonte: Guiame, Caroline Fontes

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Restam apenas 650 cristãos em meio à guerra na Faixa de Gaza, diz Portas Abertas

 

Imagem ilustrativa. (Unsplash/Mohammed Ibrahim).

Ao menos 33% dos cristãos palestinos morreram ou fugiram da região, desde o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.

A comunidade cristã está diminuindo nos Territórios Palestinos, segundo a Missão Portas Abertas. 

Desde que o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas se intensificou após o ataque de 7 de outubro de 2023, ao menos 33% dos cristãos palestinos morreram ou fugiram da região.

Em entrevista ao Portas Abertas, Elias Najiar, um cristão de Gaza, afirmou que teme pelo futuro da Igreja no país e em todo o Oriente Médio.

“Havia mais de mil cristãos em Gaza antes da guerra. Agora, um ano depois, restam apenas 650”, relatou ele.

Deslocados

De acordo com estimativas, mais de 300 cristãos fugiram para o Egito ou para outros países para escapar da guerra.

“É muito difícil. Quase todos os cristãos deixaram suas casas na segunda semana de outubro de 2023 e se refugiaram nas igrejas locais”, afirmou Elias.

O cristão nasceu em Gaza, mas se mudou com a família para Belém em 2007. Ele trabalha na Sociedade Bíblica e tem contato próximo com cristãos nas zonas de conflito da Faixa de Gaza. 

“A situação é muito perigosa. As pessoas estão morando em salas de aula, duas a três famílias em um único espaço. Elas ficam assustadas quando ouvem aviões, foguetes ou tiros, porque lembram de toda a morte e destruição. Elas sabem que suas casas foram destruídas e esperam por um futuro que desconhecem”, comentou.

Em meio a guerra, há escassez de itens básicos, as pessoas estão sem trabalho e renda, e os preços aumentaram.

“Um quilo de tomate corresponde a 30 dólares. Apesar de tudo, quando converso com eles, tenho esperança. É importante para nós entendermos quão difícil é a situação e que apenas pela fé eles podem resistir. Creio que Deus está trabalhando na Igreja que restou em Gaza”, observou Elias.

Igrejas como oásis

O cristão local ainda destacou o papel das igrejas no socorro à população. “A região se tornou um exemplo do papel da Igreja. Quando as casas das pessoas não eram mais seguras e não havia outras opções, elas ficaram abertas à igreja, a receberem ajuda e conhecerem a Jesus”, testemunhou ele.

“Os complexos das igrejas se tornaram verdadeiros ‘oásis no deserto’ quando a guerra se agravou. Elas ficaram abertas 24 horas por dia, permitiam que as pessoas descansassem e ofereceram cuidado médico, espiritual e mostraram as mãos de Deus estendidas para socorrer a população em Gaza”, acrescentou.

Para Elias, mais cristãos vão deixar a Palestina, principalmente famílias com crianças.  “Imagine alguém que perdeu tudo e terá que recomeçar do zero. É provável que prefira recomeçar em um novo país do que no lugar em que pode perder tudo de novo”, observou.

“Não podemos abandoná-los. Eles passarão por necessidades, precisamos estar perto, para ajudá-los a se reerguerem. Mantenham o Oriente Médio em suas orações e clamem pelo fim da guerra”, pediu Elias. 

Israel e os Territórios Palestinos estão na Lista de Países em Perseguição da Missão Portas Abertas, que correspondem aos 28 países que dão continuidade à Lista Mundial da Perseguição.

Nesses países, de colocação de 51ª a 78ª, os cristãos enfrentam perseguição severa e alta. Israel está em 78º lugar e os Territórios Palestinos ocupam a 60ª colocação.

Fonte: Guiame, com informações de Portas Abertas

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

“Despertar de Deus”: Mais de 5 mil pessoas exaltam Jesus nas ruas da Alemanha

 

Marcha para Jesus na Alemanha. (Foto: Holy Spirit Night Movement/noelthecreative).

Os cristãos anunciaram o Evangelho com bandeiras, cartazes e louvor pelas ruas da cidade de Stuttgart.

Mais de 5 mil pessoas participaram da Marcha para Jesus na cidade de Stuttgart, na Alemanha, na última quinta-feira (3).

Os cristãos, incluindo evangelistas europeus, anunciaram o Evangelho com bandeiras e cartazes, enquanto caminhavam pelas ruas de Stuttgart. Em certo momento, a multidão gritou com alegria: “Jesus! Jesus!”.

Os participantes pararam em um espaço público, onde adoraram a Deus junto com ministros de louvor em um palco montado.

“É incrível ver milhares de pessoas se juntando nesta linda tarde de quinta-feira. É verdadeiramente inspirador testemunhar o despertar de Deus nas cidades da Europa. Uma poderosa onda de avivamento está se espalhando pela Europa. Acreditem ou não, a Europa será salva!”, declarou o evangelista holandês Mattheus van der Steen, em postagem no Instagram.

O evangelista Jean-Luc Trachsel, que também participou da Marcha, comentou, em publicação no Instagram: “Evangelho fora dos muros! É o tempo de Deus para a Alemanha como é para a Europa”.

Fechamento de igrejas na Alemanha

O movimento nas ruas acontece em um momento de grande crise espiritual no país. A previsão de estudiosos é que centenas de templos católicos e protestantes devem fechar na Alemanha na próxima década. 

O principal motivo é a queda no número de membros dessas duas maiores instituições cristãs, o que está forçando a venda ou demolição dos edifícios.

Segundo uma investigação do jornal alemão Süddeutsche Zeitung, 603 templos católicos romanos e 444 locais de culto da Igreja Evangélica da Alemanha (EKD), a principal igreja protestante, foram “desconsagrados”, ou seja, não serão mais utilizados para cultos.

No caso da Igreja Protestante, os edifícios foram vendidos ou demolidos. Muitas agora são utilizadas para fins privados, como restaurantes, academias ou lojas, pelos novos proprietários.

Até 2033, “uma em cada quatro ou cinco igrejas não será mais usada para seu propósito original”, afirma a professora de arquitetura Stefanie Lieb. Ela estima que, na prática, cerca de 10.000 templos deixarão de realizar cultos.

A razão para essa situação é a contínua diminuição no número de membros das duas igrejas. Em 2023, a Igreja Católica Romana na Alemanha perdeu 628.000 membros, enquanto a Igreja Evangélica da Alemanha (EKD) viu uma perda de 593.000 membros.

A principal causa é a saída intencional de membros que não se identificam mais com as igrejas. Além disso, as estatísticas negativas também são impactadas pelo falecimento de membros e pela redução no número de batismos de recém-nascidos.

Em um momento como este, eventos como a Marcha para Jesus mostram que a Igreja alemã está viva e que há cristãos dispostos a continuar a pregação do Evangelho.

Fonte: Guiame

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Geórgia aprova lei que proíbe casamento gay e defende ‘valores cristãos’

 


Shalva Papuashvili, presidente do Parlamento da Geórgia, assina projeto anti-LGBT. (Foto: Facebook/Shalva Papuashvili)

Fonte: Guiame, com informações do CNE

A lei de “Proteção dos Valores Familiares e Menores” foi assinada pelo presidente do Parlamento, após a presidente se recusar a sancioná-la.

O presidente do Parlamento da Geórgia, Shalva Papuashvili, sancionou a lei que proíbe o casamento e a adoção de crianças por casais do mesmo sexo.

A Geórgia é um país situado na região do Cáucaso, no limite entre a Europa Oriental e a Ásia Ocidental, e atualmente tem uma população estimada em cerca de 3,7 milhões de habitantes.

O projeto de lei denominado “Proteção dos Valores Familiares e Menores” foi apresentado pelo partido governista Sonho Georgiano e inclui os cuidados de afirmação de gênero e a mudança de gênero em documentos de identidade, além de representações de pessoas gays na mídia.

A lei foi assinada no Parlamento após a presidente Salomé Zurabishvili se recusar a sancioná-la, resultando na devolução do projeto ao Legislativo.

“A lei que estou assinando não reflete ideias e ideologias atuais, temporárias e mutáveis, mas é baseada no senso comum, na experiência histórica e em valores cristãos georgianos e europeus centenários”, escreveu Papuashvili nas redes sociais.

Ele acrescentou que esperava que a lei “causasse críticas de alguns parceiros estrangeiros”, mas disse que os georgianos “nunca tiveram medo” de seguir sua “fé, bom senso e lealdade ao país”.

União Europeia

O principal diplomata da União Europeia, Josep Borrell, já havia alertado que a aprovação de tal lei “compromete os direitos fundamentais do povo georgiano” e “prejudicaria” as aspirações da Geórgia de se tornar membro da UE.

O país obteve o status de candidato à UE no final de 2023, mas sua candidatura à adesão foi congelada em junho devido à introdução de uma lei de “agentes estrangeiros” que espelha a legislação da Rússia, destinada a reprimir a dissidência e restringir a sociedade civil.

A lei anti-LGBTQ+ também espelha a legislação da Rússia, que proíbe representações de “relacionamentos sexuais não tradicionais” desde 2013.

No ano passado, o governo do presidente russo Vladimir Putin apresentou uma moção à Suprema Corte do país para classificar “o movimento LGBT internacional” como extremista.

O partido governista da Geórgia tem se aproximado de Moscou e se afastado do Ocidente, o que levou o Departamento de Estado dos EUA a impor restrições de viagem a importantes políticos do Sonho Georgiano, considerados “cúmplices em minar a democracia na Geórgia”.

Fonte: Guiame, com informações do CNE

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