Ex-presidente do Irã, Hassan Rouhani e Ali Akbar Salehi, diretor da Organização de Energia Atômica do Irã (AEOI), na Usina Nuclear de Bushehr. (Foto: Reprodução/Wikimedia Commons)
Até fevereiro de 2021, os iranianos alegaram que o nível de enriquecimento de urânio estava em 4,5%, porém, em 2022 chegou a 60%.
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o argentino Rafael Mariano Grossi, fez um alerta sobre o programa nuclear do Irã, no dia 15 de julho: “Está avançando a galope e temos pouca visibilidade”.
A preocupação internacional é de que essa situação abra ainda mais o caminho para o Irã produzir uma bomba atômica.
Em entrevista ao El Pais da Espanha, Grossi disse que “o projeto nuclear de Teerã cresceu enormemente, muito além do que era em 2015”. Ele enfatizou que o crescimento não é apenas quantitativo, mas qualitativo, por conta dos níveis de enriquecimento de urânio.
O chefe do órgão de vigilância nuclear acrescentou: “Isso não implica que o Irã esteja fabricando uma arma nuclear, mas nenhum país que não tenha projetos bélicos enriquece nesse nível, em 60%”.
‘Material físsil suficiente para uma arma nuclear’
O Acordo Nuclear Iraniano de 2015 conta com esforços dos países envolvidos, mas vale lembrar que o compromisso encontra-se paralisado desde 2018, quando o ex-presidente Donald Trump retirou os EUA do acordo e restabeleceu sanções contra o Irã.
Em meio a essa paralisação em Viena, porém, o Irã aumentou seu enriquecimento de urânio com centrífugas novas e mais avançadas. De acordo com informações do AIEA, no mês passado, o Irã acumulou 43 quilos de urânio enriquecido com 60% de pureza, conforme citou o Times of Israel.
Grossi explica que eles estão a um pequeno passo para obter urânio com 90% de pureza. Especialistas em não proliferação alertam que é material físsil suficiente para uma arma nuclear se o Irã optar por isso.
No início desta semana, Kamal Kharazi, chefe do conselho estratégico de relações exteriores do Irã, disse à Al Jazeera que o país tem capacidade para fabricar armas nucleares.
O Ministério das Relações Exteriores de Teerã disse mais tarde que sua política nuclear não mudou e que ainda aderiu a um decreto religioso do líder supremo do Irã que proíbe armas de destruição em massa.
‘Situação complicada’
Grossi disse: “Estamos numa situação muito complicada porque o Irã não está apenas avançando de forma decisiva e rápida, mas está reduzindo a visibilidade da AIEA em todas essas áreas”.
No mês passado, o Irã removeu 27 câmeras de vigilância de instalações nucleares no país. Com isso, a AIEA disse que aumenta o risco de seus inspetores não conseguirem mais rastrear os avanços de Teerã.
Grossi disse que a medida representava um “sério desafio” aos seus esforços, alertando que seria incapaz de manter uma “continuidade de conhecimento” sobre o programa do Irã. “Isso seria um golpe fatal” para as negociações, disse ele.
‘Quebra cabeça difícil de montar’
O Irã exigiu que Washington remova o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica de uma lista negra de organizações terroristas, o que os EUA se recusaram a fazer.
“Acho que houve um acordo bastante sólido na parte nuclear, mas o que transparece claramente é que existem outras áreas, econômica, política, financeira, onde não há acordo”, observou Grossi.
“O resultado final é que estou em baixíssima visibilidade há quase cinco semanas, com um programa nuclear avançando a galope”, disse ao observar que se houver um acordo, será muito difícil de montar o quebra-cabeça de todo este período em que ficou sem saber de mais nada.
Para o especialista, talvez haja necessidade de alguns acordos específicos. Em junho, a AIEA censurou o Irã por sua falha em fornecer “informações confiáveis” sobre material nuclear fabricado por eles encontrado em três locais não declarados no país.
“As explicações fornecidas pelo Irã até agora foram insuficientes e, em alguns casos, tecnicamente não críveis”, disse também Grossi.
Programa nuclear para fins pacíficos?
O Irã insiste que seu programa é para fins pacíficos, embora especialistas da ONU e agências de inteligência ocidentais digam que o Irã tinha um programa nuclear militar organizado até 2003.
Quando o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, abandonou o acordo nuclear em 2018, isso desencadeou uma série de incidentes tensos em todo o Oriente Médio.
O Irã respondeu fortalecendo ainda mais seu trabalho nuclear, aumentando seu estoque de urânio altamente enriquecido e girando centrífugas avançadas proibidas pelo acordo.
Israel há muito se opõe ao acordo nuclear, dizendo que ele atrasou em vez de encerrar o progresso nuclear do Irã e argumentando que o alívio das sanções fortaleceu as milícias por procuração de Teerã em toda a região.
Relembre como o Irã desrespeitou o acordo
O acordo estabelece o limite de estoque de urânio enriquecido que o Irã pode manter. O país, porém, sempre armazenou muito mais do que poderia.
O acordo também limita a pureza até a qual o Irã pode refinar urânio em 3,67%, muito abaixo dos 20% atingidos antes do acordo. Até fevereiro de 2021, o nível de enriquecimento permaneceu estável em 4,5% conforme as alegações iranianas.
Pelas informações de Grossi, no entanto, em 2022 esse enriquecimento subiu “a galope” como ele mesmo disse, a um nível de 60%.
O pacto permite ao Irã produzir urânio enriquecido usando cerca de 5 mil centrífugas avançadas (IR-1 de primeira geração) na instalação nuclear subterrânea de Natanz.
O país já tinha cerca de 19 mil centrífugas instaladas antes do acordo. Vale ressaltar que a instalação nuclear subterrânea tem capacidade para armazenar 50 mil delas. As informações mais recentes, segundo Grossi, é que o Irã agora tem centrífugas mais novas e avançadas, mas não citou a quantidade.
FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DE THE TIMES OF ISRAEL