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quarta-feira, 27 de julho de 2016

O desafio da juventude cristã brasileira

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Não é preciso grande capacidade intelectual para se observar que o Brasil está longe de ser um “país cristão”. Por mais que muitos hoje se declarem cristãos, há pouca (ou nenhuma) evidência de mudança por aqui. Na verdade, é justamente o contrário. Infelizmente, em nossa nação impera uma forte cultura anticristã. Continuamos sendo um povo imoral, dominado pela lascívia, dado à imoralidade. Em nosso sangue está impregnado o “jeitinho brasileiro”; e em muitos corações tupiniquins Deus é negado veementemente. Penso que o Brasil vive um pouco do que Agostinho relatou no passado:
Aquele nosso inimigo era leão quando se enfurecia abertamente; agora é dragão quando ocultamente arma ciladas.[...] Como a nossos pais era necessária a paciência no combate contra o leão, assim precisamos da vigilância contra o dragão. No entanto, a perseguição, seja do leão, seja do dragão, nunca cessa para a Igreja; e é mais temível quando engana do que quando se enfurece. Naquele tempo queria forçar os cristãos a negarem a Cristo; agora ensina os cristãos a negarem a Cristo; então coagia, agora ensina. Então introduzia violências; agora, insídias. Aparecia então furioso, agora mostra-se insinuante e dificilmente aparenta o erro.” [1]

Assim como na época descrita, as pessoas hoje são ensinadas a negarem a Cristo. Parece que em todas as esferas da sociedade foi criada uma aversão à fé cristã. Por exemplo, nossa política deposita suas esperanças de salvação no Estado, dando a ele a soberania sobre as demais esferas da sociedade, papel esse que deveria ser de Deus.[2] E o mais incrível é que essa insistência cega permanece frente as diversas provas da falibilidade dessa visão, o que evidencia, ainda, um paradoxo estranho: sabemos que boa parte de nossos políticos são corruptos, mas insistimos em esperar que eles resolvam nossos problemas, como se fossem verdadeiros agentes messiânicos.[3] Nossas escolas, por sua vez, parecem mais preocupadas em formar militantes do que indivíduos de boa formação intelectual. E, ao fazerem isso, frequentemente defendem bandeiras que não estão alinhadas com a fé cristã, como a desvalorização do casamento, a ideologia de gênero, a abolição da família, entre outros. 
Outra esfera afetada pela aversão ao cristianismo é a ciência, que  é dominada pelo materialismo filosófico. Este, parte do pressuposto da inexistência de Deus para assim afastar completamente a possibilidade de diálogo entre a “razão” e a fé.[4] Nossa cultura é composta de uma complexa mistura religiosa envolvendo ocultismo, panteísmo e gnosticismo, revelando, na verdade,  uma ausência de identidade que somente encontra sua unidade na rebelião contra Deus e a fé cristã.[5] E, infelizmente, mesmo em algumas igrejas (ou seitas que são chamadas de igrejas), o Cristo é negado. 

Sim, o cenário é caótico e desanimador, mas eu acredito sinceramente que Deus pode mudar essa situação, se Ele assim desejar. Acredito ainda que podemos, pela graça e providência de Deus, ser instrumentos do Soberano para transformar a nossa nação em todas as esferas. E só faremos isso se em todos os aspectos de nossas vidas, nós dermos a primazia ao Eterno; se, de fato, nós vivermos para a honra e glória Dele.

No meu último texto escrevi sobre o que os jovens cristãos podem fazer para enfrentar o ambiente hostil de uma universidade anticristã. Dessa vez, pretendo explorar 5 pontos nos quais os jovens cristãos, em minha opinião, deveriam investir para que tenhamos um futuro mais promissor para o nosso país.

1) Ao invés de ser um “treteiro” de Facebook, procure conhecer e sistematizar a sua fé

Como a grande maioria dos jovens de minha geração, eu me considero uma pessoa conectada. Isso quer dizer que acompanho com frequência as redes sociais, sobretudo oFacebook, a fim de me informar a respeito do que anda acontecendo no Brasil e no mundo.

Não nego a importância da internet em nosso tempo e, por isso, não acredito que devamos negligenciá-la. No entanto, tenho visto uma postura crescente, principalmente em meio aos jovens cristãos, de resumir a fé reformada a “tretas” e “memes”, que mais parecem ter o intuito de chamar atenção do que contribuir de alguma forma para a edificação do reino de Deus. Veja bem, reconheço o poder que um “meme” tem de “viralizar” uma mensagem, mas me preocupo quando ele é o principal meio para que muitos formem suas opiniões. De igual forma, me preocupo com os “debates” virtuais, que muitas vezes são marcados por mera troca de ofensas e pouquíssima argumentação séria. Uma fé baseada em  “memes” e “tretas” do Facebook é uma fé superficial e frágil.

A respeito disso, considere comigo um ponto importante. A forma como vemos e interpretamos a realidade ao nosso redor é baseada em nossos pressupostos. Esses são verdades tão óbvias a ponto de não serem passíveis de questionamento. Ou como Ferreira & Myatt (2007) escrevem:
“Pressupostos são as proposições básicas, tomadas como verdade, sem prova anterior, que formam a base para determinar todas as demais proposições que fazem parte da interpretação de mundo daquela cosmovisão.” [6]

Por exemplo, qualquer pessoa que vá interpretar um texto bíblico considera seus pressupostos ao fazê-lo. Se esses pressupostos não são firmados em boa teologia, há uma chance considerável de má interpretação, principalmente se o contexto e a ideia central do texto forem ignorados. De igual forma, é deveras inocente acreditar que alguém consegue interpretar qualquer coisa nessa vida em posição de total neutralidade.


Ora, se os nossos pressupostos são importantes ao ponto de impactarem fortemente nossas conclusões, é fundamental que os conheçamos bem e estejamos bem firmados neles. Caso contrário, cairemos no problema que Ferreira e Myatt (2007) também destacam:
“...não seria exagero dizer que a maioria das pessoas não tem consciência de seus próprios pressupostos e, por isso, são controladas por ideias que nunca chegaram a entender. O resultado é que as pessoas fundamentam a sua interpretação da vida sobre um alicerce equivocado, sem ter a menor noção de que há algo errado.”[7]

Esse cenário pode ser visto com grande clareza no Brasil em vários temas. Podemos observar, por exemplo, 
crentes socialistasfeminismo evangélicoteologia da libertação e teologia da missão integral e universalismo cada vez mais presentes, em maior ou menor escala, em nossas igrejas, até mesmo nas mais tradicionais, o que mostra um desconhecimento dos pressupostos básicos da fé cristã reformada.

Enfim, precisamos resgatar uma cosmovisão cristã sólida e estarmos bem firmados nela. É fundamental que, ao invés de buscar aprender teologia por meio do Facebook, busquemos estudar com seriedade essas doutrinas fundamentais da fé cristã e da tradição reformada, a fim de que possamos nos proteger dessas heresias. Como nos alerta D.A. Carson, não podemos cair na mentira de que o dogma não importa.
“...é pior que inútil os crentes falarem sobre a importância da moralidade cristã, a não ser sobre os fundamentos da teologia cristã. É mentira dizer que dogma não importa; importa tremendamente. É fatal deixarmos que as pessoas tenham a impressão de que o cristianismo é apenas um modo de sentir; é virtualmente necessário insistir que é primeira e principalmente uma explicação racional do universo. É inútil oferecer o cristianismo como uma aspiração vagamente idealista da natureza simples e consoladora; muito pelo contrário, é uma doutrina dura, firme, exigente e complexa, calcada num realismo drástico e intransigente. É fatal imaginar que todo mundo sabe muito bem o que o cristianismo é e que só precisa de um pouquinho de estímulo para pô-lo em prática. O fato brutal é que neste país cristão nem uma pessoa em cada cem faz a mais nebulosa ideia do que a Igreja ensina sobre Deus, ou o homem, ou a sociedade, ou a pessoa de Jesus Cristo.” [8]

2) Tenha um relacionamento real com Deus


Já falei um pouco sobre isso aqui. Por isso, me limitarei a comentar brevemente um excelente parágrafo do Dr. Lloyd-Jones onde ele aborda a relação entre oração e conhecimento de Deus, que são, a meu ver, os dois pilares de um relacionamento real com Deus.
“A nossa posição fundamental como cristãos é provada pelo caráter da nossa vida de oração. É mais importante que conhecimento e entendimento. Não fiquem imaginando que estou diminuindo a importância do conhecimento. Passo a maior parte da minha vida procurando mostrar a importância de se ter conhecimento e entendimento da verdade. Isso é vitalmente importante. Há só uma coisa mais importante, a oração. Como a teologia é, em última análise, o conhecimento de Deus, quanto mais teologia eu conhecer, mais ela me levará a buscar conhecer a Deus. Não apenas saber algo 'sobre' Ele, mas conhecê-lo! O grande objetivo da salvação é levar-me ao conhecimento de Deus. Posso falar doutamente acerca da regeneração, todavia, que é a vida eterna? É 'que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste' (João 17:3). Se todo o meu conhecimento não me leva à oração, há algo errado nalgum lugar. É o que lhe cabe fazer. O valor do conhecimento é que me dá tal entendimento do valor da oração que eu dedico tempo à oração, e o faço com prazer. Se o conhecimento não produz estes resultados em minha vida, há algo errado e espúrio em torno disso, ou então eu o estou conduzindo erradamente.” [9]

Se, por um lado, acusei acima que nosso conhecimento da fé reformada é muito superficial e deveríamos nos preocupar com isso a ponto de estudarmos (muito!) mais, por outro preciso reiterar que o real conhecimento nos aproxima de Deus e não nos faz cair em uma postura arrogante e altiva. Portanto, se você está descobrindo agora a fé reformada e/ou o calvinismo, não se porte como se você fosse um doutor em todos os assuntos ou como se você tivesse autoridade de juiz para condenar quem pensa diferente de você só porque você leu um punhado de livros. A nossa intelectualidade também pode se transformar em um ídolo. Lembre-se que o verdadeiro conhecimento de Deus te aproxima d'Ele e vem sempre acompanhado de humildade.

3) Vá além do estudo teológico

Francis Schaeffer, no seu clássico livro O Deus que intervém, explica logo no primeiro capítulo como chegamos ao mundo bizarro de hoje. De acordo com ele, mudanças graduais nos levaram ao estágio atual, iniciando-se com a filosofia e atingindo, por fim, a teologia. Ele nos apresenta uma escada, um passo a passo chamado por ele de “linha do desespero”, para mostrar como isso se sucede:
Figura 1: a famosa linha do desespero de Schaeffer. [10]

Você já parou para se perguntar por que as obras de arte da atualidade são horrendas, salvo raras exceções? Ou, por que a música atual tem qualidade, tanto poética quanto harmônica, cada vez menor? Ou, ainda, por que nosso país se torna cada vez mais imoral? Por que a ciência se rebelou contra Deus? Por que a teologia liberal, em todas as suas vertentes, conquistou o coração das massas com tanta facilidade em nossa nação? Tudo isso tem a ver com os pressupostos. Se negarmos, por exemplo, a existência de Deus e fizermos disso um pressuposto, poderemos negar também a existência de absolutos, o que significa que não há mais padrão objetivo para a beleza de uma obra de arte ou música, não há mais um padrão objetivo para julgar a moralidade, a Bíblia e os dogmas centrais da fé cristã perdem a sua força e qualquer um pode crer no deus que bem entender, até mesmo em um deus que vai salvar todo mundo, pois a verdade já não existe mais. 

Penso que uma boa formação cristã precisa abordar todos esses pontos citados por Schaeffer, principalmente a filosofia, e relacioná-los com a teologia. Isso é relevante, tanto para a defesa de nossa fé, quanto para a formação de uma sociedade calcada em uma cosmovisão cristã. Quem sabe se começarmos a investir em nossa cultura hoje, poderemos, no futuro, servir a Deus com boa literatura, boa música, boa poesia, boa política, boa ciência? Não podemos nos omitir em nenhum desses setores.

4) Se preocupe com ação social

A ação social é um valor importantíssimo para os cidadãos e para a igreja. Bem diferente do que diz o marxismo, que faz do Estado o grande benfeitor social, a palavra de Deus nos estimula a termos o protagonismo nessa área, fazendo “o bem a todos, principalmente aos da família da fé” (Gl 6.10).

Dessa forma, atribuir ao Estado essa função é simplesmente deixar de cumprir uma ordenança bíblica. O descuido nesta área, inclusive, abre ainda mais espaço para o avanço da ideologia marxista, visto que a igreja e os cristãos não tem cumprido o seu papel como deveriam.

Falando sobre como os puritanos viam a ação social, Ryken escreve:
“A ação social puritana era baseada numa teologia do pacto, que requeria das pessoas que buscassem o bem comum da comunidade e que via as boas obras como um ato inevitável de gratidão pela salvação de Deus... A ação social puritana era principalmente voluntária e pessoal, em vez de governamental ou institucional.” [11] (grifo meu)

Os puritanos viam a ação social sob a ótica do que chamavam bem comum. Isso incluía, além da caridade direta, a geração de empregos e a capacitação do mais pobre. Richard Baxter, por exemplo, empreendeu com sucesso um programa para capacitação dos mais pobres ao trabalho têxtil [12] e Richard Stock afirmou:

“Esta é a melhor caridade, aliviar os pobres ao fornecer-lhes trabalho. Beneficia ao doador tê-los a trabalhar; beneficia a comunidade, que não sofre parasitismos, nem nutre qualquer ociosidade; beneficia aos próprios pobres.” [13]

Dessa forma, seja prestando auxílio direto (financeiro ou material), na geração de empregos ou na capacitação dos mais pobres, a ação social é nossa responsabilidade, enquanto indivíduos e enquanto igreja. Não devemos terceirizar isso ao Estado.


5) Seja um exemplo de dedicação e honestidade em seu trabalho

Jovens estão, no geral, ingressando no mercado de trabalho. E é bem provável que enfrentemos situações que nos pressionarão ao erro, ao famoso “jeitinho brasileiro”. O cristão deve ter postura santa também no seu trabalho (e em todas as esferas de sua vida), executando bem a sua função e procedendo com honestidade e honra. Veja o que dizem, respectivamente, Cotton Mather e John Cotton a respeito disso:
“Um cristão deveria ser capaz de prestar boa conta não somente do que é sua ocupação, mas também do que é na sua ocupação. Não é bastante um crente ter uma ocupação; ele deve cuidar de sua ocupação como convém a um crente.” [14] (grifo meu)
“Um homem, portanto, que serve a Deus no serviço aos homens... faz seu trabalho como na presença de Deus, como quem tem uma ocupação celestial em mãos, e, por isso, confortavelmente, sabendo que Deus aprova seu caminho e trabalho.” [15]

Precisamos resgatar essa visão puritana a respeito do trabalho e coloca-la em prática em nossa nação. Ser um funcionário (ou patrão) honesto, honrado e que dá o seu melhor é também uma forma de glorificar e honrar a Deus.


Conclusão

O caminho para uma transformação em nosso país passa, a meu ver, por esses cinco pontos. Há outros, claro, e você pode citá-los nos comentários, se desejar, mas acredito que honrar a Deus nesses cinco seja o grande desafio para nós, jovens cristãos brasileiros. 

Que Ele nos abençoe.
_________________
Referências:
[1] Agostinho de Hipona, apud Ferreira (2016), Contra a idolatria do Estado, p. 125.
[2] Para maiores detalhes ver Dooyeweerd (2014), Estado e Soberania; e Koyzis (2014), Visões & Ilusões Políticas.
[3] Para maiores detalhes ver Garschagen (2015), Pare de acreditar no governo.
[4] Para maiores detalhes ver Dembski e Witt (2012), Design inteligente sem censura
[5] A obra de Ferreira e Myatt (2007), Teologia Sistemática, traz uma boa análise das várias religiões presentes na cultura brasileira.
[6] Ferreira e Myatt, Teologia Sistemática, p. 6, 2007, editora Vida Nova.
[7] Ferreira e Myatt, Teologia Sistemática, p. 7, 2007, editora Vida Nova.
[8] D.A. Carson, Teologia bíblica ou teologia sistemática?, p. 93-94, 2001, editora Vida Nova.
[9] Dr. D.M. Lloyd-Jones, Orando no espírito, p. 10.
[10] Francis Schaeffer, O Deus que intervém, p. 17.
[11] Leland Ryken, Santos no mundo, p. 308.
[12] Para maiores detalhes ver Ryken (2013), Santos no mundo.
[13] Leland Ryken, Santos no mundo, p. 302.
[14] Leland Ryken, Santos no mundo, p. 64.
[15] Leland Ryken, Santos no mundo, p. 66.
***
Autor: Pedro Franco
Divulgação: Bereianos

Mackenzie tem um novo presidente, o Presbítero José Inácio Ramos

A cerimônia de posse do novo presidente e dos diretores executivos do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) aconteceu nesta sexta-feira, 22 de julho, às 18h, nocampus Higienópolis, São Paulo, com a presença de autoridades institucionais, políticas, universitárias e eclesiásticas.
Graduado em Administração de Empresas e Pós-Graduado em Gestão de Negócios, José Inácio Ramos foi presidente do Conselho Deliberativo do IPM de 2013 a 2016, sendo substituído pelo Conselheiro Hésio Cesar de Souza Maciel.
Na Diretoria Executiva do IPM (DIREX) foram reconduzidos José Paulo Fernandes Júnior, que passa a ser diretor de Finanças e Responsabilidade Social (antigo diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios) e Solano Portela, diretor de Operações da Educação Básica. André Ricardo de Almeida Ribeiro assumiu pela primeira vez como diretor de Estratégia e Negócios e José Francisco Hintze Júnior como diretor de Desenvolvimento Humano e Infraestrutura.
Após as posses dos diretores executivos foi realizado um ato solene de transmissão de cargo de Maurício Melo de Meneses para José Inácio Ramos. Ao discursar, Maurício Meneses elencou as ações de sua gestão, como o aumento de alunos nos colégios, a expansão do Sistema Mackenzie de Ensino, as intervenções no campus visando o bem-estar de todos que o frequentam, a expansão do ensino superior, tanto na graduação quanto na pós-graduação, entre outras. “Tenho plena consciência de que os resultados citados só foram possíveis pela graça e misericórdia de Deus e a consequente capacitação dada pelo Senhor aos seus servos, consubstanciadas no trabalho incessante, bem ajustado e equilibrado de um grande time composto apenas por artilheiros, os quais trabalharam comigo nesses três anos e meio de gestão”, destacou.
Em seu discurso de posse, José Inácio Ramos reiterou seu compromisso em servir a Deus, iniciando um novo tempo e novos desafios. “Minha responsabilidade e de meus diretores só aumenta diante de tão grandes obras feitas pelo meu antecessor. Os protagonistas de nossa gestão serão os colégios, a universidade, as unidades do Rio, de Brasília, com o início das atividades de graduação, de Campinas, os quais terão todo nosso apoio e nossos esforços para que consigam alcançar seus objetivos com sucesso. A DIREX batalhará sempre para dar condições a todos para que tenham um trabalho ótimo, cumprindo o planejamento estratégico elaborado pelo Conselho Deliberativo”.
Finalizando, o novo presidente agradeceu a presença de todos e a Deus pela sua nova missão. “Aprendemos com Ele os princípios e valores que nos regem e daremos à confessionalidade a máxima prioridade em nossa gestão. Temos a certeza de que o Mackenzie não faz parte da história, o Mackenzie é a história”, finalizou.
Fonte: Instituto Mackenzie

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Desfazendo Alguns Discursos Progressistas (Parte 2)

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Uma resposta ao artigo: Dez Coisas Que Você Jamais Poderia Votar a Favor Enquanto Segue a Jesusparte 8 – “Pena de Morte”.

O autor trabalha esse ponto com um grande problema teórico: Busca desenvolver argumentos contra a pena de morte, a partir de uma ética cristã, mas não apresenta nenhum baseado na mesma. Ora, a ética cristã, diferente da secular[1], não é apenas baseada na conduta humana, mas "harmoniza-se com um padrão absoluto, divino[2]". Se a ética cristã é baseada em um padrão divino, a consequência lógica é encontrar esse padrão onde ele foi revelado: As Sagradas Escrituras[3]. Com isso, é claro que, para uma ética cristã coerente, a revelação divina deve ser usada como base e padrão.

Para entender o que a Bíblia diz sobre o tema, analisemos três textos chaves, dois do Antigo Testamento e um do Novo Testamento[4]:
"Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem"- Gênesis 9.6

O versículo diz respeito ao pacto planejado, estabelecido e confirmado por Deus com Noé, que não exigia nenhum ato do mesmo para permanecer firme, pois foi imposto soberanamente pelo Senhor. Esse pacto tem duração eterna[5] e universal, pelo fato de ter sido feito com Noé e seus descendentes[6]. O arco-íris é a maior prova dessas qualidades citadas.


O pacto também é claro: Se o homem tirar a vida de outro homem, ele deverá pagar com sua própria vida, e a justificativa para isso é a de que o homem foi criado à imagem de Deus. A passagem, então, justifica claramente o motivo pelo qual a pena capital é bíblica e legítima: O homem foi criado à imagem de Deus, e isso o torna tão valioso que matar outro ser humano é destruir alguém que porta a imagem de Deus, o criador e doador da vida, e que, portanto, tal ato deve ser pago com a morte.

Tal versículo também nos dá um ensinamento prático: Quando dizemos que a pena de morte não é válida e nem bíblica, negamos a importância da imagem de Deus no homem, e isso só pode demonstrar nossa falta de entendimento em relação à santidade e dignidade de Deus[7], o doador da imagem.

"Não matarás" - Êxodo 20.13

Muitos cristãos sinceros usam esse versículo para ir contra a pena de morte. Ele é um dos dez mandamentos dados por Deus e, como o artigo buscará mostrar, tem duração eterna, então é extremamente necessária uma interpretação correta do mesmo. Antes de entrarmos na interpretação do versículo em si, devemos compreender alguns princípios para se interpretar o decálogo[8].

O primeiro princípio é entender que não devemos apenas interpretar o que está explícito no texto bíblico, mas que as implicitações do mesmo também foram reveladas por Deus e era parte da vontade Dele que as interpretássemos. Muitas doutrinas da teologia ortodoxa cristã não estão totalmente explícitas nas Escrituras, mas são inferidas implicitamente dos textos bíblicos, como a Trindade. O segundo princípio é entender que todo mandamento tem um aspecto positivo e um aspecto negativo: ao mesmo tempo em que proíbe uma ação, incentiva a fazer outra (por exemplo, o oitavo mandamento, "Não roubarás": ao mesmo tempo que proíbe o roubo, incentiva a proteção da propriedade. Esse método hermenêutico, aplicado ao sexto mandamento, proíbe, como veremos, o assassinato, mas, ao mesmo tempo, incentiva a proteção da vida).

O terceiro princípio diz respeito à aplicabilidade universal dos mandamentos. O princípio representado por eles não deve ser efetivado apenas em uma esfera individual, mas é nosso dever buscar com que os outros também o sigam. Por último, Greg Bahnsen[9] nos apresenta um princípio interpretativo com relação ao Novo Testamento: A menos que o Novo Testamento altere ou ab-rogue com clareza[10] uma lei do Antigo Testamento, essa lei continua vigente.

Entendendo esses princípios, nosso dever agora é entender o significado da palavra"matar" no versículo. A palavra hebraica usada neste mandamento não é a palavra usual para "matar" (harag). A palavra usada é o termo específico para "assassinar"(rasah). Uma tradução mais correta seria "não assassinarás". John Frame[11] comenta que essa palavra pode se referir também a:
"matar de forma ilegal ou proibida. Não é empregado com referência à morte de animais nem a causar a morte na guerra. Este fato sugere que a melhor tradução aqui é 'assassinar', não 'matar', que tem uso mais geral. Contudo, o verbo difere do inglês 'assassinar' ('murder') no sentido de que rasah se aplica ao homicídio casual e premeditado".

Com isso, é claro que o mandamento não vai contra a autodefesa e, principalmente, a pena de morte. Muitos podem afirmar que o princípio do versículo não é mais válido hoje, pelo fato dele ter sido escrito enquanto Israel era uma teocracia, e que isso foi ab-rogado na Aliança estabelecida por Cristo, porém essa visão demonstra uma falta de entendimento a respeito da natureza da lei de Deus no Antigo Testamento.


A lei de Deus pode ser distinguida em três formas principais: Cerimoniais ou religiosas, civis e morais. As leis religiosas ou cerimoniais são ordenanças levíticas que buscavam diferenciar o povo de Israel, que servia o verdadeiro Deus, das outras nações pagãs e também apontavam para o Messias prometido, sendo ab-rogadas no Novo Testamento, não havendo mais motivo para a permanência das mesmas, pois eram sombras da obra Messiânica[12]. As leis civis eram as ordenanças judiciais dadas ao povo de Israel e que, por isso, não são mais válidas hoje[13] A lei moral "tem a finalidade de deixar bem claro ao homem os seus deveres, revelando os seus pecados e auxiliando-o a discernir entre o bem e o mal"[14], tendo validade eterna, pois veio de Deus, o Senhor, que não muda[15].

Entretanto, como afirma John Jefferson Davis, "A ab-rogação dos elementos específicos da aliança mosaica (e. g., a circuncisão, as leis alimentícias, o sacrifício de animais), quanto à Igreja do Novo Testamento, não afetam necessariamente os princípios morais e legais dados por meio de Noé"[16]. Isso porque o próprio Jesus disse que não veio para abolir a lei, mas para cumpri-la[17]. Ron Gleason afirma que:
"Claramente - porque Jesus o disse duas vezes - ele não veio abolir a lei de Deus, mas cumpri-la. Qualquer nuança que você coloque na palavra "cumprir", não pode significar "abolir", visto que Jesus reiterou sua afirmação, dizendo duas vezes que não veio abolir a Lei."[18] 

O mesmo, ao comentar o mandamento em questão, afirma:

"Os cristãos que asseveram proibir o sexto mandamento todo homicídio ou, ainda de modo mais específico,  que de algum modo esse mandamento proíbe a pena de morte, lamentavelmente perderam de vista a tese bíblica. O sexto mandamento de fato proíbe que indivíduos tomem a lei em suas mãos e matem por ódio, lucro, vingança ou por querer ajustar as contas com as próprias mãos por males acaso sofridos. Todavia, o sexto mandamento não proíbe, de modo nenhum, o Estado de levar à justiça os assassinos por meio da pena capital"[19].

Portanto, é claro que o mandamento não proíbe todo e qualquer tipo de morte – e sim o assassinato – e interpretá-lo de outra forma demonstra falta de conhecimento bíblico e ingenuidade interpretativa.

"Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência" - Romanos 13.1-5

A execução da pena, por conseguinte, não deve ser deixada aos juízos pessoais dos seres humanos, ou a sentimentos baseados em vingança, mas Deus cuidou em dar poder a autoridades para aplicá-lo. O texto indica com clareza que o Estado porta a
"espada", e que não é sem motivo: sua autoridade foi dada pelo Senhor, dono da autoridade suprema. No Novo Testamento, o termo "espada" é associado, muitas vezes, a execução e morte[20], e fica claro no texto, portanto, que o termo está se referindo também à pena capital. O próprio Apóstolo Paulo, em Atos 25.11, indica que haviam delitos para os quais a pena de morte era aprovada, e o próprio não oferecia resistência para recebê-la de forma justa.

Muitos cristão na época atual parecem pensar que a separação entre Igreja e Estado quer dizer, ao mesmo tempo, separação entre Deus e Estado. A Bíblia rejeita veementemente essa afirmação, pois Deus é Senhor e governa sobre tudo e todos e, como vimos, é do poder dele que deriva o poder dos magistrados. Como bem fala Ron Gleason, "Deus é soberano sobre todos os Estados, mesmo quando estes tentam se separar dele e de sua autoridade"[21].

Negar a pena de morte, portanto, é ir contra os mandamentos de Deus, diminuir a importância da imagem de Deus no homem e, consequentemente, a dignidade do próprio Deus e invalidar tudo o que o Senhor falou a respeito do poder dos magistrados em sua revelação. Deus abençoe a pena capital! Amém!

__________________
Notas:
[1] Por “ética secular”, pretendo me referir a toda ética que seja distinta da ética cristã.
[2] GLEASON, Ron. Vida por vida: a pena de morte no banco dos réus. Brasília, DF: Editora Monergismo. 2014, p. 20
[3] A definição de "Escrituras", no Novo Testamento, é, na maioria das vezes, o conjunto de escritos judaicos dotados de autoridade divina (cf. Mateus 21.42, Mateus 22.29, Atos 17.2) que, na tradição cristã, compõem o Antigo Testamento. Se aos judeus foram confiados os "oráculos de Deus" (Romanos 3.1-2 na versão Almeida Revista e Atualizada) ou "as palavras de Deus" (Romanos 3.1-2 na versão Almeida Corrigida e Fiel), devemos dar crédito ao cânon antigo feito por eles. Em suas cartas, entretanto, o Apóstolo Paulo dá, também, autoridade divina a escritos do Novo Testamento (cf. 1 Timóteo 5.18 com Lucas 10.7) e o Apóstolo Pedro classifica as cartas de Paulo como divinas, ao lado dos escritos do Antigo Testamento (2 Pedro 3.16). Para mais informações a respeito desse tema, conferir “Introdução Bíblica: Como a Bíblia chegou até nós”, de Norman Geisler e William Nix.
[4] É importante partirmos do pressuposto de que há uma linha de continuidade entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento, porém esse é um assunto que não é destinado a esse artigo. Para uma introdução, cf. João Calvino, "A Instituição da Religião Cristã", Tomo I, Livro Segundo, caps. X e Xi, p. 406-440.
[5] Gênesis 9.12, 16
[6] Gênesis 9.9-11
[7] João Calvino trabalhará conceitos semelhantes a respeito do conhecimento de Deus e de nós mesmos em suaInstitutas da Religião Cristã, Livro 1, Cap. 1.
[8] Tais princípios podem ser encontrados, de forma resumida, em OLIVEIRA, Lucio Antônio de. Práticas essenciais da Piedade. Uberlândia: Não publicado. 
[9] BAHNSEN, Greg. By This Standard. Tyler, TX.: I.C.E., 1985 in GLEASON, Ron. Vida por vida: a pena de morte no banco dos réus. Brasília, DF: Editora Monergismo. 2014, p. 40.
[10] Este, entretanto, é um princípio discutível. Há teólogos bíblicos que dizem ser preciso apenas que se cesse a necessidade de uma lei antiga ou que ela seja substituída tacitamente por outro padrão de conduta, porém esse não é um assunto que o artigo pretende discutir.
[11] FRAME, John. The Doctrine of Christian Life. Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 2008 in GLEASON, Ron. Vida por vida: a pena de morte no banco dos réus. Brasília, DF: Editora Monergismo. 2014, p. 56.
[12] Hebreus 10.1-7
[13] É relevante citar a visão teonômica, dividida, principalmente, entre Reconstrucionistas e Covenanters, que defende a validade da lei civil para os dias de hoje. Como a discussão a respeito desse ponto fugiria ao tema principal, para uma boa introdução, cf. Kenneth L. Gentry Jr., "A lei de Deus no mundo moderno".
[14] FERREIRA, Franklin e MYATT, Alan. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 2007, p. 462.
[15] Malaquias 3.6
[16] DAVIS, John Jefferson. Evangelical Ethics. Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 2003 in GLEASON, Ron. Vida por vida: a pena de morte no banco dos réus. Brasília, DF: Editora Monergismo. 2014, p. 45.
[17] Mateus 5.17-20.
[18] GLEASON, Ron. Vida por vida: a pena de morte no banco dos réus. Brasília, DF: Editora Monergismo. 2014, p. 43.
[19] GLEASON, Ron. Vida por vida: a pena de morte no banco dos réus. Brasília, DF: Editora Monergismo. 2014, p. 57.
[20] Conferir, a título de exemplo, Atos 12.2 e Hebreus 11.34. 
[21] GLEASON, Ron. Vida por vida: a pena de morte no banco dos réus. Brasília, DF: Editora Monergismo. 2014, p. 38.

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Autor: Nathan Falcuci
Divulgação: Bereianos

sábado, 23 de julho de 2016

PASTORES ANUNCIAM “SABÃO EM PÓ MILAGROSO” NA TV

PARE E PENSE!





Por Jarbas Aragão

Quando surgiu a Reforma Protestante, na Idade Média, seu objetivo era protestar contra as práticas equivocadas da Igreja Católica, incluindo a venda de indulgências e de produtos milagrosos, que na prática não tinham eficácia. Quase 500 anos depois, os pastores neopentecostais, movimento derivado do protestantismo, parecem ter se esquecido disso.

A maioria das igrejas que possuem horários comprados nas emissoras de rádio e TV há anos fazem promessas de benção em troca de ofertas em dinheiro. Também são criativas ao anunciar a distribuição de uma ampla gama de objetos que possuiriam algum tipo de poder espiritual.

Com certa frequência, vídeos com trechos desses anúncios caem na internet e acabam se tornando notícia pelo ineditismo ou pela bizarrice da ideia. Um dos mais recentes é parte do programa “Agenda dos Pastores”, exibido no horário da Igreja Internacional da Graça, do Missionário R. R. Soares.

Apresentado na RedeTV!, o vídeo em questão mostra o anúncio de “um saquinho de sabão em pó milagroso, que limpa que nem Jesus”. A promessa dos pastores é que ele seria ungido e contém “uma benção especial”. Chamado de “sabão do lavandeiro”, ele é comparado a uma passagem bíblica do Velho testamento, que trata do julgamento de Deus sobre a humanidade.

Erroneamente atribuída a Cristo pelo pastor, foi o profeta Malaquias que afirmou: “Quem suportará o dia da sua vinda? e quem subsistirá, quando ele aparecer? Pois ele será como o fogo de fundidor e como o sabão de lavandeiros” (Ml 3:2).

A maioria dos teólogos que interpretam essa passagem fazem uma correlação com a volta de Cristo, mas o sabão no texto é uma analogia, não se trata de um sabão literal que pode ser usado por quem estiver disposto a pagar.

Na sequência do vídeo, enquanto falam da oferta, os apresentadores mostram testemunhos, como o de uma mulher que pede aos fiéis para irem à sua igreja testemunhar “vários milagres”. Outro recomenda que ninguém entre na “igreja errada para não perder a bênção milagrosa” só disponível na sua.

Assista:


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O Quarto Mandamento

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O dia de descanso foi instituído por Deus e não pelo homem. O mandamento tem grande importância na Palavra de Deus. Bênçãos ocorreram, por sua guarda, e castigos severos, por sua quebra. Isso deveria provocar a nossa reflexão sobre a aplicação dos princípios bíblicos relacionados com o quarto mandamento nos dias atuais, discernindo, em paralelo, a mudança para o domingo, na era cristã. O povo de Deus sempre foi muito rebelde e desobediente com relação a essa determinação, e necessita convencimento da importância do mandamento, bem como entendimento da visão neo-testamentária, para a consequente modificação do seu comportamento atual.

O quarto mandamento fala de um dia de descanso e de adoração ao Senhor. Deus julgou essa questão tão importante que a inseriu em sua lei moral. O descanso requerido por Deus é uma prévia da redenção que ele assegurou para o seu povo (Dt 5.12-15). Os israelitas foram levados em cativeiro (Jr 17.19-27) por haver repetidamente desrespeitado este mandamento.

Gostaríamos de examinar as bases desse conceito de descanso e santificação e de ir até o Novo Testamento verificar como os cristãos primitivos guardavam o dia do Senhor.

Não podemos, simplesmente, ignorar esse mandamento. Como povo resgatado por Deus, temos a responsabilidade de discernir como aplicar essa diretriz divina nas nossas vidas e nas de nossas famílias. Por outro lado, nessa procura, não devemos buscar tais diretrizes nos detalhamentos das leis religiosas ou civis de Israel, que dizem respeito ao sábado. Essas leis eram temporais. Ao estudar o sábado, muitos têm se confundido com os preceitos da lei cerimonial e judicial e terminado com uma série de preceitos contemporâneos que se constituem apenas em um legalismo anacrônico, destrutivo e ditatorial. Devemos estudar este mandamento procurando discernir os princípios da lei moral de Deus. Com esse objetivo em mente, vamos realizar nosso estudo com a oração de que Deus seja glorificado em nossa vida e por nosso testemunho.

1. Um dia de descanso

Em nossas bíblias o quarto mandamento está redigido assim – "Lembra-te do dia de sábado para o santificar...". A palavra que foi traduzida "sábado", é a palavra hebraicashabbat, que quer dizer descanso. É correto, portanto, entendermos o mandamento como "... lembra-te do dia de descanso para o santificar".

Esse "dia de descanso" era o sétimo dia no Antigo Testamento, ou seja, o nosso "sábado". No Novo Testamento, logo na igreja primitiva, vemos o dia de ressurreição de Cristo marcando o dia de adoração e descanso. Isso é: o domingo passa a ser o nosso "dia de descanso". Os apóstolos acataram esse dia como apropriado à celebração da vitória de Jesus sobre a morte (At 20.7; 1 Co 16.2; Ap 1.10). A igreja fiel tem entendido a questão da mesma maneira, ou seja: não é a especificação "do sétimo", que está envolvida no mandamento, mas o princípio do descanso e santificação.

Já enfatizamos que essa questão de um dia especial de descanso, de parada de nossas atividades diárias, de santificação ao Senhor, foi considerada tão importante por Deus que ele decidiu registrar esse requerimento em sua lei moral, nos dez mandamentos. Com certeza já ouvimos alguém dizer: "...não existe um dia especial, pois todo o dia é dia do Senhor...". Essa afirmação é, num certo sentido, verdadeira – tudo é do Senhor. Mas sempre tudo foi do Senhor, desde a criação e mesmo tudo sendo dele, ele definiu designar um dia separado e santificado. Dizer que todos os dias são do Senhor, como argumento para não separar um dia especial e específico, pode parecer um argumento piedoso e religioso, mas não esclarece a questão nem auxilia a Igreja de Cristo na aplicação contemporânea do mandamento. Na realidade, isso confunde bastante os crentes e transforma o quarto mandamento, que é uma proposição clara e objetiva e que integra a Lei Moral de Deus, em um conceito nebuloso e subjetivo, dependente da interpretação individual de cada pessoa.

Não devemos procurar modificar e "melhorar" aquilo que o próprio Deus especifica para o nosso benefício e crescimento. Deus coloca objetivamente – da mesma forma que ele nos indica a sua pessoa como o objeto correto de adoração; da mesma forma que ele nos leva a honrar os nossos pais; da mesma forma que ele nos ensina o erro de roubar, o erro de matar, o erro de adulterar – que é seu desejo que venhamos a separar para ele um dia específico, dos demais (Is 58.3).

2. Um dia santificado

Devemos notar que o requerimento é que nós nos lembremos do dia de descanso, para o santificarmos. Santificar significa separar para um fim específico. Isso quer dizer que além do descanso e parada de nossa rotina diária, Deus quer a dedicação desse dia para si. Nessa separação, o envolvimento de nossas pessoas em atividades de adoração, ensino e aprendizado da Palavra de Deus, é legítimo e desejável. A frequência aos trabalhos da igreja e às atividades de culto, nesse dia, não é uma questão opcional, mas obrigatória aos servos de Deus. O Salmo 92, que é de adoração a Deus, tem o título em hebraico – "para o dia de descanso".

3. Uma instituição permanente

Uma expressão, do quarto mandamento, nos chama a atenção. É que ele inicia com"Lembra-te...". Isso significa que a questão do dia de descanso transcende a lei mosaica, isto é: a instituição estava em evidência antes da lei de Moisés. Semelhantemente, estando enraizado na lei moral, permanece, como princípio, na Nova Aliança. Vemos isso, por exemplo, no incidente bíblico da dádiva do Maná. Deus requerendo o descanso e cessação de trabalho durante a peregrinação no deserto, quando ele alimentava o seu povo com o Maná, antes da dádiva dos dez mandamentos. Estes seriam recebidos somente por Moisés no monte Sinai (veja, especificamente, Ex 16.29, 30).

4. Paulo faz um culto de louvor e adoração, no domingo, em Trôade

Paulo nos deixou, além das prescrições de suas cartas, um exemplo pessoal – reuniu-se com os crentes no domingo (At 20.6-12), na cidade de Trôade, na Ásia Menor. O versículo 6 diz que a permanência, naquele lugar, foi de apenas uma semana. Lucas, o narrador que estava com Paulo, registra, no v. 7: "... no primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão...". Ele nos deixa a nítida impressão de que aquela reunião não era esporádica, aleatória, mas sim a prática sistemática dos cristãos – reunião periódica no primeiro dia da semana, conjugada com a observância da santa ceia do Senhor. Estamos há apenas 15 a 20 anos da morte de Cristo, mas a guarda do domingo já estava enraizada no cristianismo.

Paulo pronunciou um longo discurso, naquela noite. À meia noite, um jovem, vencido pelo cansaço, adormece e cai de uma janela do terceiro andar, vindo a falecer (v. 9). Deus opera um milagre através de Paulo e o jovem volta à vida (v. 10). Paulo continuou pregando, naquele local até o alvorecer (v. 11).

5. O entendimento da Reforma sobre o dia de descanso

Confissão de Fé de Westminster captura o entendimento da teologia reformada sobre o dia de descanso ordenado por Deus. Nela não encontramos desprezo pelas diretrizes divinas, nem uma visão diluída da lei de Deus, mas um intenso desejo de aplicar as diretrizes divinas às nossas situações. O quarto mandamento tem uma consideração semelhante aos demais registrados em Ex 20, todos aplicáveis aos nossos dias. Nas seções VII e VIII, do capítulo 21, sob o título – "Do Culto Religioso e do Domingo" lemos o seguinte:
Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também, em sua palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último dia da semana; e desde a ressurreição de Cristo já foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado de domingo, ou Dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão.
Este sábado é santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações e de antemão ordenado os seus negócios ordinários, não só guardam, durante todo o dia, um santo descanso das suas próprias obras, palavras e pensamentos a respeito dos seus empregos seculares e das suas recreações, mas também ocupam todo o tempo em exercícios públicos e particulares de culto e nos deveres de necessidade e misericórdia.

6. O Quarto Mandamento Hoje – Qual o nosso conceito do domingo?

É necessário que tenhamos a convicção de que o chamado à adoração, o desejo de estar cultuando ao Senhor, e o descansar de nossas atividades diárias, por intermédio de um envolvimento com as atividades da igreja, encontra base e respaldo bíblico. É mais do que uma questão de costumes, do que uma posição opcional. É algo tão importante que faz parte da lei moral de Deus.

Normalmente nos perdemos em discussões inúteis sobre detalhes, procurando prescrever a outros uma postura de guarda do quarto mandamento conforme nossas convicções, ou falta delas. Assumimos uma atitude condenatória, procurando impor regras detalhadas e, muitas vezes, seguindo restrições da lei cerimonial, em vez do espírito da lei moral. Antes de nos perdermos no debate dos detalhes, estamos nos aprofundando no princípio? Temos a postura de tornar realmente o domingo um dia diferente, santificado, dedicado ao Senhor e à nossa restauração física?
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Apêndice: Qual o dia de descanso – sábado ou domingo?

Sempre que estudamos o quarto mandamento surge a pergunta: quem está certo? São os Adventistas, que indicam o sábado como o dia que ainda deveríamos estar observando, ou a teologia da Reforma, apresentada na Confissão de Fé de Westminster, e em outras confissões, que encontra aprovação bíblica e histórica para a guarda do domingo? Alguns pontos podem nos ajudar a esclarecer a questão:

1. Os pontos centrais de cumprimento ao quarto mandamento são: o descanso, a questão da separação de um dia para Deus, e a sistematização, ou repetibilidade desse dia. O dia, em si, é uma questão temporal, principalmente por que depois de tantas e sucessivas modificações no calendário é impossível qualquer seita ou religião afirmar categoricamente que estamos observando exatamente o sétimo dia. Nós usamos o calendário Gregoriano, feito no século 16. Os judeus atuais usam o calendário ortodoxo, estabelecido no terceiro século, e assim por diante.

2. Os principais eventos da era cristã ocorreram no domingo:
  • Jesus ressuscitou (Jo 20.1)
  • Jesus apareceu aos dez discípulos (Jo 20.19)
  • Jesus apareceu aos onze discípulos (Jo 20.26)
  • O Espírito Santo desceu no dia de pentecostes, que era um domingo (Lv 23.15, 16 – o dia imediato ao sábado), e nesse mesmo domingo o primeiro sermão sobre a morte e ressurreição de Cristo foi pregado por Pedro (At 2.14) com 3000 novos convertidos.
  • Em Trôade os crentes se juntaram para adorar (At 20.7).
  • Paulo instruiu aos crentes para trazerem as suas contribuições (1 Cr 16.2).
  • Jesus apareceu e João, em Patmos (Ap 1.10).

3. Os escritos da igreja primitiva, desde a Epístola de Barnabé (ano 100 d.C.) até o historiador Eusébio (ano 324 d.C.) confirmam que a Igreja Cristã, inicialmente formada por Judeus e Gentios, guardavam conjuntamente o sábado e o domingo. Essa prática foi gradativamente mudando para a guarda específica do domingo, na medida em que se entendia que o domingo era dia de descanso apropriado, em substituição ao sábado. Semelhantemente, a circuncisão e o batismo foram conjuntamente inicialmente observados, existindo, depois, a preservação somente do batismo, na Igreja Cristã. O domingo não foi estabelecido pelo imperador Constantino, no 4º século, como afirmam os adventistas. Constantino apenas formalizou aquilo que já era a prática da igreja.


4. Cl 2.16-17 mostra que o aspecto do sétimo dia era uma sombra do que haveria de vir, não devendo ser ponto de julgamento de um cristão sobre outro.

Para um estudo mais detalhado do assunto, sugerimos o livro de J. K. VanBaalen, O Caos das Seitas.

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Autor: Pb. Solano Portela
Fonte: Monergismo

sexta-feira, 22 de julho de 2016

A RETRIBUIÇÃO PROVIDENCIAL DE DEUS - PARTE 2 - RETRIBUIÇÃO PROVIDENCIAL AOS SEUS SANTOS

2- RETRIBUIÇÃO PROVIDENCIAL AOS SEUS SANTOS


Retribuição Providencial a Davi
Davi cometeu um dos crimes mais hediondos que já foram registrados nos anais da história. A hediondez é medida não simplesmente pelos estragos causados na vida de uma família, mas especialmente pelo grau de conhecimento que Davi possuía de Deus.
Davi usou o seu poder para cometer os seus pecados. Ele combinou uma série de fatores para levar avante o seu projeto maligno depois de cobiçar e possuir Bete-Seba. Davi pode ser considerado culpado de perfídia, crueldade e ingratidão para com um soldado leal ao seu exército. Ele chamou a Urias para conversar amistosamente sobre o seu exército (2 Sm. 11.7), quando Urias deixou sua casa, Davi enviou-lhe um presente(2 Sm 11.8),mas como soldado leal Urias não foi ter com sua mulher, mas permaneceu guardando o palácio real ( v.9). Na verdade, Davi queria que ele fosse procurar a sua esposa, que tivesse relação com ela, a fim de que a gravidez dela fosse justificada, pois o verso 27 mostra que Bate-Seba ficou grávida de Davi. A lealdade dele fica mais evidente quando ele conta o motivo por não ter ido à sua casa após a batalha (v.10). Então, Davi não encontra outra solução senão armar o crime contra o seu servo Urias, um homem leal, mas fez tudo para parecer casualidade, acidente de guerra. Somente o seu general Joabe sabia de seus motivos sujos (vs.14-15). A trama urdida por Davi não conseguiu esconder a vergonha de seu pecado. Urias foi morto e Davi recebeu a notícia da sua morte. No entanto, a Escritura registra que "isso que Davi fizera foi mal aos olhos do Senhor"(v.27).
Mesmo os melhores homens são capazes dos crimes mais repugnantes, embora eles sejam preservados pela providência divina, mas não sem a manifestação do seu desagrado com os pecados deles.
Davi casa-se com Bate-Seba depois da morte de Urias e começam a viver juntos. Então, o Senhor envia um profeta a Davi. Era Natã. Ele chega e conta uma triste história sobre dois homens, um rico e outro pobre (2 Sm 12.2-4). A história narrava as injustiças feitas pelo rico contra o pobre. Davi se ira contra a injustiça e ordena que tal homem injusto seja morto! Natã mete o dedo na face de Davi: "Esse homem que deve ser morto é você!"- e dá as razões de sua afirmação (12.8-9).
A seguir vem a maldição divina sobre Davi e sua descendência por causa daqueles pecados. Deus não pode deixar mesmo os seus filhos sem a retribuição. Ele é um Deus zeloso das suas leis quebradas. Isso ninguém pode negar. Veja o que o profeta diz a Davi: Análise de texto
Agora, pois, não se apartará jamais a espada da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o Senhor: eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol ( 2 Sm 12.10-11).

Há algumas coisas muito importantes que não podem ser esquecidas nesse texto:

1- A RETRIBUIÇÃO DE DEUS ESTÁ VINCULADA AO DESPREZO QUE O HOMEM TEM POR SUA PALAVRA.
Davi quebrou o mandamento divino de não adulterar. Às vezes não podemos fazer separação entre o Senhor e a sua Palavra. Desprezar a Palavra de Deus é equivalente a desprezar ao próprio Deus, da mesma forma que rejeitar a sua Palavra é rejeitar ao próprio Deus.
Veja o exemplo que Paulo deu desse uso. Ele instou com os tessalonicenses a viverem de modo reto, seguindo o caminho da santificação (1 Ts 4.3). Quando aqueles que estão querendo constituir família pecam sexualmente, isso é impureza e Deus a condena, "porquanto Deus não nos chamou para impureza e sim para santificação". Então Paulo conclui: "Destarte, quem rejeita estas cousas não rejeita ao homem e sim a Deus" (1Ts 4.7-8). Rejeitar a Palavra é rejeitar a Deus.
Foi exatamente essa Palavra do Senhor que Davi desprezou, pois ele a conhecia. Mesmo a sua prerrogativa real não lhe dava o direito de desprezar a verdade de Deus. Por essa razão, a retribuição providencial veio sobre ele e sobre a sua descendência de maneira muito dura.

2-A RETRIBUIÇÃO DA PROVIDÊNCIA DIVINA É ORDENADA E LEVADA A EFEITO POR MEIO DE SEUS AGENTES SECUNDÁRIOS.
Ele disse:"Eu suscitarei o mal sobre ti". Os males de juízo sobre nós são ordenados por Deus, mesmo que esses males de juízo envolvam a quebra de princípios morais. O castigo que Deus suscitou foi uma punição que envolvia atos morais que os seus agentes praticaram. Aitofel, o conselheiro e Absalão, o praticante dos atos punitivos de Deus, foi o agente que Deus usou para execução dos seus propósitos.
Aquilo que Deus determinou que acontecesse por meio de alguém da própria casa de Davi foi um mal moral, mesmo embora tem sido considerado um julgamento de Deus sobre Davi. Deus suscitou o mal, mas o mal foi praticado por agentes secundários. É difícil entender como isso se processa, mas a Escritura diz que é assim e temos de crer como a Escritura afirma.

3-A RETRIBUIÇÃO PROVIDENCIAL DE DEUS É FEITA POR MEIO DE PESSOAS QUE O PRÓPRIO DEUS DETERMINA.
Deus poderia ter escolhido um homem ímpio para cometer um pecado mais hediondo ainda. Todavia, Deus escolheu o filho amado de Davi, Absalão, que queria ser o herdeiro do trono, para ser o executou de seu terrível decreto.Os caminhos da providência retributiva de Deus, são mais altos de que os nossos caminhos e os seus pensamentos mais altos do que os nossos pensamentos. Eu não posso entender a razão última pela qual Deus faz uma coisa dessas, mas ele faz porque ele é soberano, e essa sua ação não traz nenhuma mancha sobre a sua santa natureza.
Ele levantou o filho de Davi para pecar contra o seu pai, mas foi um ato que evidenciou o modus operandi de Deus na sua justiça providencial, que está além da nossa compreensão, mas precisa ser aceito  humildemente. Deus puniu um filho seu por meio de alguém do próprio sangue a quem ele próprio suscitou.

4- A RETRIBUIÇÃO PROVIDENCIAL TEM, EM SI MESMO DOIS ASPECTOS:
1- O primeiro diz respeito ao sangue que seria derramado na sua descendência. A "espada jamais seria apartada da tua casa". toda sua descendência haveria de sofrer os pecados do famoso ascendente; 2) O segundo, por causa de seu pecado, Deus resolve expô-lo à vergonha. Esse aspecto tem um caráter pessoal para Davi. Aquilo que ele havia feito com Bate-Seba o seu descendente, Absalão, haveria de fazer com as suas mulheres, mas de uma maneira pior. A retribuição seria de tal grau que Davi iria ser envergonhado publicamente, quando suas mulheres seriam possuídas à plena luz do dia. O texto da profecia diz que Davi haveria de ver com os seus próprios olhos um seu descendente possuindo as suas mulheres.
No final das contas, todos os expedientes que Davi usou para execução de seus pecados não puderam evitar a retribuição providencial de Deus. Ninguém pode fugir dos decretos divinos. Eles foram cumpridos literalmente algum tempo depois ( ver 2 Sm 1.21-23). Quão poderoso, sábio e soberano é o Deus da providência. Quão profunda é a sua sabedoria! Quão insondável é o seu poder e quão terrível a sua soberania!
Deus poderia ter feito a retribuição de um modo muito diferente, mas quem somos nós para julgar os atos retributivos providenciais de Deus? A sabedoria humana não pode compreender as profundezas do conselho divino! Ela não pode entender o caminho de Deus! A nossa única saída é nos submetermos aos juízos sábios e santos de Deus e ficarmos calados diante de suas ações, dando ouvidos e crendo naquilo que a sua Palavra afirma, mesmo que suas afirmações estejam além de nossa compreensão!

Fonte: A Providência e a Sua Realização Histórica - Cap. 9 páginas 244-247

Por que a ideologia é idolátrica?

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Introdução

Ao tratarmos de ideologia, tratamos - sem sombra de dúvida - do estabelecimento de uma cosmovisão que pretende exercer domínio sobre um grupo, religião, sociedade, país ou, meramente, sobre o indivíduo no claustro de si e dominado pela ideia de domínio do que o cerca, por meio da construção e do empreendimento engenhoso de um conjunto de ideias e discursos autorrealizáveis, beirando a profecia “auto-cumprível”.

Notemos que a ideologia, como dizia Marx, é um vestido de ideias que procura estabelecer um contorno determinante e religiosamente seguido para o sucesso do que foi planejado. Vemos, com isso, que a ideologia exerce, então, certa dosagem de engenharia da ideia.

Idea + Logos = Telos

Tratando de ideologia, discorremos sobre o vislumbre[1] e cumprimento de ideias estabelecidas, pois ideologia nos fala de discurso das ideias. O logos, nos fala de articulação lógica das ideias. No sentido político, a ideologia é uma articulação lógica do que se pretende alcançar e fazer. Toda ideologia visa um telos, e para que esse telostenha sucesso no cumprimento, ele precisa de meios e, anteriormente, precisa-se de ter um a priori, um pressuposto. O telos é o propósito último de uma ideia, discurso, doutrina, religião, ou qualquer que seja o ponto onde está centrado o discurso, todo discurso tem um objetivo, ainda que o objetivo seja não ter objetivo.

A Lógica na Ideologia

Temos aqui claramente a lei da contradição, um discurso não visa não pretender nada, isso é lógica (logos), a lógica pretende organizar, dinamizar e apontar para um tipo de bem a ser alcançado com o discurso, ainda que esse bem não seja para ambos – emissor e receptor. O projeto do discurso lógico na ideologia visa o cumprimento da lógica estabelecida pela ideia, que pretende chegar ao telos. Diz Olavo de Carvalho: "Uma ideologia é, por definição, um simulacro de teoria científica. É, segundo a correta expressão do próprio Marx, um 'vestido de ideias' que encobre interesses ou desejos"[2]. 

Ainda dentro do universo ideológico concebe-se que
A estrutura interna do pensamento ideológico caracteriza-se pela compressão forçada da realidade para dentro de uma única dimensão, portanto pela recusa ou proibição de examinar os fatos e aspectos que não caibam no padrão escolhido[3].

A Estrutura Fundacional de uma Ideologia


É verdade que a ideologia monta-se em bases pseudoverdadeiras. Há falsificação no discurso, com o fim de manobrar as circunstâncias para uma montagem circunstancial que promova o cumprimento do ideal proposto no logos teleológico[4].
Em geral os fundadores de uma ideologia sabem que ela é objetivamente falsa. Não a defendem porque creem que ela descreve acuradamente a realidade, mas porque esperam que, se um número suficiente de pessoas acreditar no que dizem, a conduta delas se tornará mais previsível e manipulável na direção desejada. Toda ideologia é nesse sentido uma profecia autorrealizável: ela visa a criar as próprias condições sociais e psicológicas que lhe darão retroativamente uma aparência de veracidade. Mas no fundo a ambição dos ideólogos fundadores é transcender a distinção de aparência e realidade, fazendo com que esta copie tão bem aquela que se torne indiscernível dela e acabe por se transformar nela efetivamente. Essa ambiguidade inata do pensamento ideológico escapa geralmente à quase totalidade dos seus aderentes e seguidores, sendo uma espécie de segredo originário bem guardado pelos fundadores e só acessível, em cada geração, a uma reduzida elite de seus discípulos mais talentosos e clarividentes[5].

Ideologia, Soteriologia e Escatologia


Dadas as condições acima mencionadas para formulação da ideologia, temos então um quatro interessante a ser analisado e ponderado com profunda observação, não apenas por um prisma da filosofia política, ou por um prisma da teologia política que vai estabelecer uma base divergente no processo de exposição do bem-estar humano em contraparte com as tentativas da ideologia. A ideologia vai propor uma esperada redenção que somente se dará através da adesão ao discurso e a luta para tal instauração ideológica. A ideologia irá exigir um posicionamento no que se refere ao espectro do discurso lógico que se deflagra um “evangelho”, boas novas para oprimidos e grupos minoritários que em muitos casos se transformam de oprimidos para opressores, logo a lógica da ideologia é de domínio soberano e aniquilação do inimigo que se opõe ao discurso escatológico da pauta em questão. Ainda, nos diz Koysis:
[...] vejo as ideologias como tipos modernos do fenômeno perene da idolatria, trazendo em seu bojo suas próprias teorias sobre o pecado e a redenção. Desde o início de sua narrativa, a Escritura denuncia o culto aos ídolos, falsos deuses que os seres humanos criaram. Como as idolatrias bíblicas, cada ideologia se fundamenta no ato de isolar um elemento da totalidade criada, elevando-o acima do resto da criação e fazendo com que esta orbite em torno desse elemento e o sirva. A ideologia também se fundamenta no pressuposto de que esse ídolo tem a capacidade de nos salvar de um mal real ou imaginário que há no mundo[6]. 

Ideologia Política e Imaginação Totalitária


A política é alvo da construção ideológica e assim compreendida de forma errada, o que era para ser voltado para o bem comum começa a girar em torno de uma facção, um grupo que articula ideologicamente para estabelecer centros de poder dominante na sociedade, assim foi com os regimes socialistas na China, Alemanha e Rússia, para citar alguns países. Razzo nos diz que:
A relação entre os conceitos de política e de imaginação pode gerar uma variedade de modos de compreensão e abrir uma série interessante de perspectivas a respeito do seu significado. Quando vinculada à política, toda compreensão corre o risco de se tornar ideológica na medida que se reduz a variedade da compreensão a uma unidade inequívoca, a partir da qual se presume  ser a única forma – correta e inegociável – de atividade política[7].

Toda construção ideológica é uma caricatura e uma distorção do cristianismo. A ideologia perpetra uma redução da realidade, fundamentando-se numa suposta realidade não realizável que buscará ser uma profecia “auto-cumprível”. Portanto, há na ideologia uma soteriologia que emana do discurso axiomático que ela se vale por seu pressuposto salvífico imaginário. Com isso, também se vale a ideologia de uma escatologia autocriada e buscada pela guerra cultural e ideológica. Como então pode um cristão aderir a ideologias?

Percebamos que a construção de uma ideologia transita por fatores religiosos, temos estabelecida uma guerra de questões não apenas políticas, mas metafisicas e teológicas. A realidade e o futuro são objetos do empenho ideológico. O Cristianismo não convive com isso. O Cristianismo é exclusivista e possui uma cosmovisão particular e reinante. Toda ideologia é quebra do primeiro e segundo mandamentos do decálogo. É a divinização de um ídolo e a reconfiguração de uma adoração a ele. É um rompimento com o mandamento de adoração e submissão àquele que governa soberanamente. 

Ideologia e Domínio

Pelo que já vimos até aqui, fica evidente que a intensão última da ideologia é o domínio de ideias contrárias a ela, estabelecendo métodos de centralização e atração de poder para si. A ideologia acaba agindo de forma totalitária, tomando e estabelecendo princípios para toda a vida humana individual e em sociedade. Podemos fazer uma ligação teológica interessante no que se refere aos axiomas.

Axiomas – Ontológico e Epistemológico

A ideologia vai lidar com axiomas, quando esta estabelece uma axioma ontológico que se refere ao ser, ela obstrui e substitui a divindade, ou seja, temos no cristianismo dois axiomas básicos para a compreensão filosófica da fé cristã e como isso se desenvolve no âmbito da teologia e da filosofia política por um prisma cristão. O axioma ontológico do cristianismo é Deus. O axioma epistemológico do cristianismo é a Escritura. A ideologia vai substituir esses axiomas, estabelecendo uma nova fundamentação filosófica que perpasse a vida humana e redime os flagelos e moléstias sociais. Temos então uma clara estabilização de falsos deuses para uma cosmovisão. Por isso, toda ideologia é idolatria.

Conclusão

Os fundamentos da ideologia não são apenas filosóficos, são religiosos. A busca por soluções redentoras e escatológicas ultrapassam os limites da função da política no mundo. A ideologia é uma violação explícita dos dois primeiros mandamentos do decálogo, o que é idolatria.

________________
Notas:

[1] No conceito de ideia temos uma busca e uma mentalização do algo que ainda não é. A idealização gera o vislumbre, o vislumbre e a idealização são inevitavelmente fundamentados por axiomas ontológicos e epistemológicos. O que vai intermediar a ideia entre os axiomas são as pressuposições.
[2] http://www.olavodecarvalho.org/semana/confronto.html
[3] http://www.olavodecarvalho.org/semana/070910dc.html
[4] O termo que uso por logos teleológico refere-se a um discurso que se esmera a uma finalidade de cabal cumprimento, via de regra a luta para que esse cumprimento ocorra procede de regimes totalitários.
[5] http://www.olavodecarvalho.org/semana/070910dc.html
[6] Koysis, David. Visões e Ilusões Políticas. 2014. São Paulo, ed. Vida Nova, p.18.
[7] Razzo. Francisco. A Imaginação Totalitária. Ed. Record, Rio de Janeiro. 2016, p.9.

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Autor: Thomas Magnum
Fonte: Electus
Foto: Arquivo PT. Arte: Bereianos

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