sexta-feira, 25 de abril de 2014

USOS E COSTUMES, TRADIÇÕES E A CRUZ DE CRISTO








Por Maurício Zágari

A cruz é o centro da nossa fé. Tudo o que tem a ver com a crença cristã se baseia na subida do Cordeiro à cruz, para se oferecer como sacrifício pelo perdão dos pecados. Sem o madeiro, não há cristianismo. Assim, podemos dizer que esse objeto é o mais importante da nossa religião. Mas… onde está a cruz? Por que ela não foi preservada? Que fim levou? Bem, eu acredito que sei onde está a cruz de Cristo.

O tempo de decomposição da madeira varia muito. Em uma floresta úmida, um galho de árvore caído ao chão leva cerca se seis meses para desaparecer. Madeira pintada, por sua vez, demora 13 anos. Se houver cupins por perto e nenhum produto químico que a preserve, a decomposição é acelerada. Imersa em água, por vezes ela dura mais (como antigos navios naufragados). Mas raríssimas vezes vai durar séculos – e, ainda assim, se constantemente tratada.

A cruz de Cristo, da mesma maneira que as cruzes em geral daquela época, ficava exposta à influência do clima. Chuva, vento, cupins, fluidos corporais e o constante contato com carne morta cheia de bactérias que causam decomposição. Ela certamente não foi usada somente por Jesus, mas, provavelmente, foi reaproveitada em dezenas, talvez centenas, de crucificações. Isso significa muito uso, muita exposição, degradação, decomposição facilitada por uma enorme gama de fatores ambientais.

Então, em minha opinião, ela apodreceu. Se fragmentou. Foi decomposta. Virou comida de cupins e outros seres que agem no apodrecimento de matéria orgânica. E suas moléculas estão espalhadas por aí. Talvez o café que você tomou está manhã tenha átomos de carbono que estiveram na cruz de Cristo dois mil anos atrás. Talvez aquele filé do almoço. Ou mesmo a camisa de algodão que está vestindo.

Que tragédia! A cruz que nos deu acesso ao céu possivelmente apodreceu! Bem, na verdade… não é uma tragédia tão grande assim. Atrevo-me a dizer que nem tragédia é. Porque aquela cruz, embora tenha desempenhado um papel superior ao de qualquer outro objeto na face da terra para a salvação da humanidade de seus pecados, não carrega em si nenhum valor espiritual. Ela foi importante para o ato da morte do Cordeiro, mas, depois disso, não servia para mais nada. Assim que Jesus expirou, a utilidade espiritual dela acabou. Estava consumado. Que apodreça em paz.

Na Idade Média, houve uma febre na Europa de pessoas ganhando dinheiro por vender a ricos ignorantes o que seriam “lascas da cruz de Cristo” (foto). Tudo falsificação, mas a falta de entendimento do papel de cada coisa no plano de salvação levou muita gente a valorizar o que não possuía valor algum. Pagavam fortunas para adquirir de espertalhões pedaços de um objeto que não tinha mais importância – isso se fossem de fato da cruz, mas não eram. Em vez de olhar para Jesus, esses cristãos sinceros, mas ignorantes, fixavam-se num acessório.

O ser humano não mudou. Continuamos, em nossos dias, dando valor ao que já teve sua função no passado mas hoje não tem mais. Nos agarramos a relíquias que cumpriram seu papel em algum momento de nossa fé e não percebemos que podemos deixá-las apodrecer sem que isso influencie em nada nossa relação com Cristo. Mantemos usos e costumes de uma era passada que absolutamente não têm mais nenhuma razão de ser e os consideramos o centro de nossa devoção.

Todos conhecemos a história do uso de instrumentos musicais nas igrejas. Quando chegaram as guitarras, os contrabaixos elétricos e as baterias, logo foram associados a musicas pagãs e, consequentemente, demonizados. Só o órgão era visto como um santo instrumento. Os cristãos de então estavam tão agarrados a suas tradições que não conseguiam enxergar que a cruz tinha apodrecido e perdera a importância. Outro exemplo é a chegada do retroprojetor. Quando o hinário começou a ser substituído por esse equipamento – um recurso para que as pessoas pudessem ter as mãos livres e levantá-las durante o louvor – houve gritaria. Como pode não usarmos mais os sacrossantos hinários?! Houve indignação. Hoje ninguém mais pensa nisso.

Os louvores, aliás, foram e ainda são alvo de intenso debate. A ponto de termos inventado uma separação entre “hinos” e “corinhos” que não faz nenhum sentido. Ambos são música cristã, mas os cânticos mais antigos acabaram sendo diferenciados para agradar os irmãos que não gostavam dos estilos musicais contemporâneos. Mas não há diferença na essência desses dois grupos de músicas: sua finalidade enquanto louvor é precisamente a mesma. Até porque aquilo que hoje chamamos de “hinos” foi considerado música contemporânea na época de sua composição. Daqui a 50 anos, tudo o que cantamos hoje serão velhas canções, dignas de serem entoadas por um coração sincero e contrito diante de Deus. Se a música for boa e bíblica, sobreviverá ao teste do tempo e permanecerá; se não, deixará de ser entoada. E só consegue enxergar isso com discernimento quem entende que o que importa é quem esteve na cruz e não a cruz em si.

Quando vou ao culto, leio a Bíblia em formato eletrônico, no meu iPhone. A mensagem é exatamente a mesma de qualquer outra Bíblia. As verdades sagradas estão todas ali. Mas já ouvi muitas vezes críticas a isso, como se só bíblias de papel fossem dignas de ser usadas na igreja. Nem vou entrar pela discussão acerca de usos e costumes mais frequentes, pois tudo o que tinha de ser dito a esse respeito já foi. Infelizmente, muitos irmãos extremamente bem-intencionados e que amam a Jesus de toda sua alma dão muita importância à madeira e com isso deixam de olhar para aquele que nela esteve pregada. Não devemos condenar ou discriminar quem abraça uso e costumes como se fossem questões centrais na fé, mas precisamos instrui-los. Mostrar que tais práticas não levam ninguém para o céu: a graça de Cristo leva. E que discriminar e oprimir filhos de Deus por causa delas é como dizer a Jesus: “Dá licença, Senhor, saia da frente, pois está atrapalhando a visão da cruz”. Olhe sempre para o crucificado, que é eterno. Não para o que vai se decompor.

Recentemente, uma irmã deixou um comentário no APENAS, profundamente agoniada. Ela escreveu: “Sr.MaurícioSou casada há 20 anos. meu esposo é maravilhoso, porém me obriga a pertencer a uma Igreja em que não acredito muito em suas doutrinas, diz que só aquela Igreja é a certa e que salva, que devo usar apenas saia e ter o cabelo nos pés. Faz acepção de pessoas, já não estou indo mais na Igreja, porém meu esposo tem me tratado muito mal e diz que tem vergonha de mim por eu usar calça. Ele não conversa mais comigo é como se eu não existisse dentro de casa, virei um “objeto” lá dentro. Por favor me ajude.“. Fiquei triste. Vi nesse e em tantos casos semelhantes a graça de Cristo ser substituída por algo que não terá nenhuma influência sobre a vida eterna.

Que fique claro que respeito profundamente os hábitos e a cultura de cada denominação, jamais vou me levantar para criticar, a troco de nada, algo que é importante para um determinado grupo e que não configura heresia, mas fico profundamente tocado quando lascas da cruz se tornam instrumento para oprimir, deprimir e impor um jugo desnecessário a irmãos e irmãs em Cristo. Todo e qualquer uso e costume que substitui a graça salvadora de Jesus pela prática de um hábito cultural olha para a cruz e não para o crucificado. E machuca pessoas, o que fere o primeiro e maior mandamento.

Tenho um carinho enorme por irmãos de todas as denominações. Todas. Respeito profundamente os membros de qualquer igreja que professe o verdadeiro Cristo. Batistas, presbiterianos, metodistas, assembleianos, Deus é amor… se quem está ali é sincero diante do Altíssimo e tem Jesus como Senhor e Salvador, é meu irmão. Não discrimino ninguém. Não ouso dizer que sou “mais cristão do que fulano e beltrano” só porque são adeptos de usos e costumes diferentes dos meus, só porque cantam hinos ou corinhos, só porque são verdes ou azuis. O que é heresia é heresia e devemos combater, mas o que não é não remove ninguém da família de fé. Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17). Se Deus não despreza, como poderia eu? Não me atrevo a ter tamanha arrogância.

Eu não sou melhor do que o irmão do reteté. Eu não sou melhor do que quem proíbe bater palmas ou só canta hinos medievais no culto. Tenho um desejo profundo de que todos alcancem a maturidade espiritual, que abandonem práticas sem sentido e fixem o olhar tão somente no Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Mas, enquanto isso não ocorre, abraçarei todos os que são filhos do meu Pai. Não farei (como já fiz no passado) piadinhas maldosas com quem é diferente de mim em detalhes de sua vida devocional. Não oprimirei quem presta adoração sincera a Deus enquanto adota usos e costumes sem sentido. Não tenho esse direito. Você tem?

Infelizmente, por falta de instrução bíblica correta, muitos se agarram a práticas e usos que não fazem sentido e a tradições decompostas. Naquilo que está ao meu alcance, farei o que puder para levar a eles conhecimento da sã doutrina, que os afaste dessas puerilidades espirituais. Mas, enquanto isso, vou abraçar e estender meu amor fraternal a todos os que fazem tais coisas de coração puro e em adoração sincera ao verdadeiro e único Salvador do mundo. Pois, se eu discriminasse um cristão bom e fiel por qualquer questão relacionada a usos e costumes, não estaria olhando para a cruz e muito menos para o crucificado, estaria cuspindo e esmurrando aquele que mandou amar, até mesmo, meus inimigos – quanto mais meus irmãos.
A cruz apodreceu. Mas o amor que devemos ter por todos precisa permanecer incorruptível – pois Jesus ressuscitou, seu corpo está vivo e seu coração pulsa eternamente por cada filho de Deus, sem exceção.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício

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Maurício Zágari é teólogo, jornalista e escritor premiado, membro da Igreja Cristã Nova Vida, em Copacabana, RJ e editor do excelente Blog Apenas.

A incompatibilidade da Fé Cristã e o Marxismo

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Neste vídeo o Rev. Ewerton B. Tokashiki explica com muita propriedade sobre a incompatibilidade da Fé Cristã com o Marxismo. Em tempos de propagação marxista no Brasil, é importantíssimo que os cristãos se posicionem contra esse sistema. Assista, comente e compartilhe:


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Fonte: Rev. Ewerton, canal do Youtube
Divulgação: Bereianos
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O mandato espiritual, social e cultural em Efésios

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Por Denis Monteiro


Antes da Queda, Deus deu algumas ordenanças a Adão e Eva o qual chamamos de ordenanças da criação. Deus ordenou ao primeiro casal: Que se casassem e procriassem para encher a terra, exercessem domínio sobre as criaturas, o trabalho e o descanso semanal – claro, sabemos que Deus ordenou que o casal não poderia comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas essa não é geralmente considerada uma ordenança da criação, pois Deus deu apenas para aquela ocasião e não uma ordenança perpétua. Chamamos estas ordenanças de mandatos. Mandato espiritual, social e cultural.

Mandato Espiritual: Este mandato envolve um relacionamento com o Deus que nos deu a Sua imagem (Gn 1.26). Uma paz entre Ele e suas criaturas, o qual, também, estabeleceu um dia de descanso de nossas obras para dedicarmos inteiramente a Ele em santidade. 

Mandato Social: Este mandato que envolve um relacionamento, não só com Deus, envolve com a família que por Deus fora criada. Este mandato envolve a liderança dos pais em saber guiar as suas famílias, segundo a ordem de Deus. 

Mandato Cultural: Este terceiro, e ultimo mandato, é um envolvimento com a sociedade. Você, assim como eu, já deve ter ouvido falar de que todos os nossos relacionamentos com aspectos culturais fossem seculares e nosso relacionamento com Deus espiritual. Este mandato envolve questões políticas, educação, artes, lazer, tecnologia, indústria, e quaisquer outras áreas. 

As consequências do pecado nas ordenanças da criação. 

No mandato espiritual, o pecado fez separação entre Deus e Sua criação. Até os animais e natureza ficou sujeita à servidão (Rm 8.20). O Homem já nasce alienado de Deus proferindo mentiras (Sl 58.3), mortos espiritualmente, pelo pecado, como diz Jean Diodati: “de onde provêm miséria e incapacidade de fazer o bem”.[1] 

No mandato social, além do pecado afetar o nosso relacionamento com Deus, ele afetou nosso relacionamento social entre os familiares. Após a entrada do pecado no mundo o relacionamento perdido, com Deus, afeta as bases da família causando até vergonha sexual entre o homem e a mulher. Desde o quarto capitulo do Gênesis o efeito de pecado se mostra claro, com a morte causada pelo irmão – Caim matando Abel. Filhos não respeitando os pais, desobedecendo-os, ou como o próprio Gênesis mostra, Jacó enganando seu pai com a ajuda de sua mãe (Gn 25). 

Assim como, o pecado afetou o relacionamento com Deus, ele afetou nosso relacionamento familiar, também, afetou o nosso relacionamento na sociedade –Mandato Cultural. John Frame diz: “indivíduos pecaminosos contaminam as instituições que formam, e estas instituições tornam o efeito do pecado ainda piores. Quando pecadores se juntam, eles alcançam impiedade maior do que conseguiriam individualmente”.[2] Desde o Gênesis já nos é dito que este mandato estava sendo impiamente desenvolvido. Em Genesis 4.17-24 os descendentes de Caim já desenvolviam certo tipo inicial de cultura.[3] Esses desenvolvimentos, em si não são maus, mas o uso dos mesmos voltados para a glória humana são, como podemos ver nas músicas de hoje, as quais faltam beleza, bondade e verdade. Vemos a Torre de Babel sendo erguida para chegar aos céus e a confusão que Deus faz com as línguas para que ninguém entenda ninguém, pois não queriam ser espalhados por toda a terra (Gn 11.4) desobedecendo à ordem de Deus de se espalhar (Gn 1.28). 

Então, a pergunta é: Como cumprir estes mandatos para a glória de Deus, conforme Sua vontade? [4]

Novo relacionamento com Deus (Efésios 4.17 – 5.1-21)

Nesta divisão Paulo nos mostra como devemos ser e o porquê viver de forma digna, por exemplo: Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. Efésios 4.22-24.

Fomos resgatados para despirmos do velho homem, pois somos a imagem de Deus. Em Cristo este relacionamento foi reconciliado por intermédio de Seu sangue derramado na cruz em favor de Seu povo. O pecado que fazia separação fora pago por Cristo, logo, Deus não está mais irado conosco. Por isso que Paulo admoesta aos crentes que vivamos antiteticamente: deixe a mentira mas fale a verdade; Irai-vos e não pequeis; se furtava não furte mais mas trabalhe; não saia palavra torpes da boca mas só boas para a edificação.” (4.25-29). E como imagem de Deus, devemos imitar a Deus, como filhos amados (5.1), produzindo frutos que provem de Deus ao contrário das obras das trevas, vivendo cheio do Espirito Santo, como diz Erasmus Sarcerius: Ser cheio do Espirito Santo é uma forma particular e uma manifestação do andar prudente, pelo qual a salvação, juntamente com as obras da luz, é preservada (...).”[5] Sendo assim, somente após a redenção e reconciliação que Cristo fez, podemos ter paz com Deus e tentar cumprir o Seu mandato, nos separando para servi-lo a cada dia e guardando o Dia do Senhor, como um dia santo dedicado totalmente a Ele. 

Novo relacionamento com nossa família (5.22- 6.1-4)

Aquilo que foi perdido na Queda no Éden, Paulo admoesta que deve voltar ativa no casal cristão. A mulher deve ser submissa ao marido porque ele é o cabeça constituído por Deus desde o Éden, oficio este que o homem não exerceu deixando a mulher ser enganada, e assim, pecando (1 Tm 2.14). Assim como Cristo é o cabeça da Igreja o marido deve ser o da esposa. O esposo deve amar sua esposa como Cristo amou a igreja se entregando por ela e amando como se fosse o próprio corpo. Pois, o que as crianças aprenderão ou descobrirão num casamento desestruturado? Um casamento desestruturado é aquele em que há disputas e lutas sobre quem está no poder, e assim, nenhum dos cônjuges cumpre o seu papel. Por isso que Paulo diz: Portanto, cada um de vocês tambémame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher trate o marido com todo o respeito. Efésios 5.33 (ênfase acrescentada). 

Os filhos devem obedecer a seus pais de forma justa, no Senhor, pois isto é obedecer ao quinto mandamento que é o primeiro mandamento como promessa: honra teu pai e tua mãe” (6.2; cf. Êx 20.12). Os pais devem amar seus filhos, mas não se esquecer da disciplina aplicada com amor e ensinando a temer a Deus e ensinados a rejeitar suas inclinações naturais.

Novo relacionamento cultural (6.5-9)

O fato de Cristo ser o nosso cabeça isso não quer dizer que não devemos obedecer outra autoridade. Paulo nos mostra que o servo cristão deve ser obediente aos seus senhores que são segundo a carne, em sinceridade de coração como se obedecesse diretamente a Cristo. O servo cristão deve servir ao seu senhor não com o fim principal de agradar aos homens, mas como servos de Cristo servindo de boa vontade. A ambição (pecaminosa) que permeava a edificação da torre de babel não deve existir entre o servo cristão e seu senhor, pois o servo deve trabalhar para a glória de Deus. Assim, o senhor deve respeitar ao seu servo não como respeitando à vista, deixando as ameaças de lado. Pois acima deste senhor há um Senhor que tem um nome que é acima de todo nome, o qual não faz acepção de pessoas. 

Conclusão


Só em Cristo podemos restabelecer aquilo que Deus ordenou às suas criaturas, podendo ter um relacionamento sincero com Deus. E assim, tendo um relacionamento com Deus, os outros tendem a ser restabelecidos: Uma família que serve a Deus em seus relacionamentos, bem como os servos que glorificam a Deus servindo ao seu senhor como se fosse a Cristo, pois não podemos ter em mente este dualismo: Sagrado e secular. Sagrado é tudo aquilo que é espiritual e secular aquilo que não é espiritual. Mas não é isso que a Bíblia nos diz, pois em tudo que fomos fazer, fazemos para a glória de Deus Pai. 

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Notas:
[1] BRAY, Gerald L. Comentário Bíblico da Reforma – Gálatas e Efésios. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 304. 
[2] FRAME, John M. A doutrina da vida cristã. São Paulo: Cultura Cristã, p. 257.
[3] Cf.: Ibid.
[4] Eu mostrarei nestes três capítulos de Aos Efésios, somente o que Paulo lista. Não tratarei de toda questão que envolve os mandatos.
[5] BRAY, Gerald L. Comentário Bíblico da Reforma – Gálatas e Efésios. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 397. 

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Fonte: Bereianos

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O problema do mal

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Por W. Gary Crampton


Ronald Nash escreveu que “o mais sério desafio ao teísmo foi, é e continuará sendo o problema do mal”.[1] Warren acredita que “parece não haver acusação mais freqüente e forte ao teísmo de tradição judaico-cristã” que a complicação decorrente da existência do mal.[2] E David E. Trueblood sustenta com ousadia que o obstáculo representado pela existência do mal e do sofrimento no mundo é uma “evidência em favor do ateísmo”.[3] 

Os próprios autores bíblicos não fogem do tema da relação entre Deus e o mal. O profeta Habacuque queixou-se, Tu, que tens olhos tão puros que não podes ver o mal, nem contemplar a perversidade, por que olhas para os que procedem traiçoeiramente e te calas enquanto o ímpio destrói aquele que é mais justo do que ele?” (1:13). E Gideão perguntou, Ai, Senhor meu, se o Senhor é conosco, por que todo este [sofrimento] nos sobreveio?” (Juízes 6:13). 

Se, de acordo com a Bíblia, Deus, que é onipotente e bom, decretou desde toda a eternidade tudo o que vem a acontecer, e se Ele, soberana e providencialmente, controla todas as coisas, porque Ele não seria o autor do mal? Como pode o mal existir no mundo? Como justificar as ações de Deus na causação do mal, do sofrimento e da dor? Esta é a questão da “teodicéia”. Esta palavra, que supostamente foi elaborada pelo filósofo alemão Gottfried Leibniz (1646-1716), derivou-se de duas palavras gregas (theos, Deus, e dike, justiça) e está relacionada com a justificação da bondade e correção de Deus em face ao mal no mundo. 

Como nós veremos, entretanto, o problema do mal não é um argumento tão corrosivo quanto parece. Na realidade, como Gordon Clark afirmou, “enquanto diversas outras doutrinas se desintegraram neste ponto, o sistema conhecido como calvinismo e expresso pela Confissão de Fé de Westminster oferece uma resposta satisfatória e completamente lógica”.[4] A resposta, como veremos, repousa no ponto de partida epistemológico do cristianismo: a Palavra de Deus. 

Através dos séculos, tem havido numerosas tentativas quase-cristãs de lidar com este assunto. Mary Baker Eddy, a fundadora da Igreja de Cristo Cientista, simplesmente negava que o mal existisse; ou seja, o mal é ilusório. Mais recentemente, E. S. Brightman e Rabi Harold Kushner optaram por um deus finito. Seu deus é limitado em poder ou inteligência; assim, não pode ser acusado pelo mal existente no mundo. O zoroastrismo e o maniqueísmo, por sua vez, apontam explicitamente para um princípio dualista no universo. O bem e o mal existem tanto co-eterna, como independentemente, na forma de divindades finitas. Nenhuma dessas divindades destruiu a outra até agora. Isto explicaria a mistura de bem e mal no nosso mundo. Leibniz argumentou de forma racionalista que Deus era moralmente obrigado a criar “o melhor dos mundos possíveis”. Assim, em que pese haver mal no mundo, Deus deve ter concluído que este era o melhor de todos os mundos possíveis.

Estas teorias, é claro, estão longe de ser uma teodicéia bíblica. A Bíblia deixa muito claro que o mal não é ilusório. O pecado é real; provocou a queda do homem e a maldição de Deus sobre todo o cosmos.[5] Também Deus não deve ser visto como menos que uma divindade onipotente e onisciente. Ele é o Criador ex nihilo do universo. Mais ainda, o fato de Deus ser o Criador e Sustentador de todas as coisas vai de encontro a qualquer forma de dualismo.[6] Deus não sofre nenhuma concorrência.

Leibniz também está errado. Ele fala da responsabilidade moral de Deus de criar o melhor dentre os mundos possíveis. Leibniz tem uma visão invertida. Deus não escolheu este mundo porque ele é o melhor; ao invés, ele é o melhor porque Deus o escolheu. As escolhas de Deus não são determinadas por nada ou ninguém fora dele mesmo. Calvino claramente entendeu este princípio quando ele escreveu: “Pois a vontade de Deus é de tal modo a regra máxima de retidão que aquilo que Ele deseja, pelo simples fato de que Ele o deseja, deve ser considerado correto. Quando, portanto, alguém quer saber a razão da vontade de Deus, está procurando uma coisa maior e mais elevada que a vontade de Deus, algo que não pode ser encontrado”.[7] 

Do mesmo modo, a visão de Leibniz também tende a eliminar a responsabilidade do homem pelo pecado ao representar o pecado por pouco mais do que um infortúnio que lhe sobreveio. Novamente, a Bíblia é muito clara ao declarar que o homem é responsável pelo seu pecado. Na oração de arrependimento de Davi, no Salmo 51, ele põe a culpa não em Deus, nem em sua mãe, nem em Adão, embora todos fossem elos na cadeia que levava às suas ações pecaminosas. Ao contrário, com sinceridade Davi põe a culpa no pecador: ele mesmo.

Agostinho, bispo de Hipona, também ponderou sobre a natureza do mal. Na suaCidade de Deus, como em seus outros escritos, ele sustentava que desde que Deus criou todas as coisas “boas” (Gêneses 1:31), o mal não pode ter uma existência própria. O mal é a ausência do bem, como a escuridão é a ausência da luz. O mal, portanto, não é a presença positiva de alguma coisa. Desse modo, disse Agostinho, o mal não pode ser a causa eficiente do pecado; trata-se, sim, de uma causa deficiente na criatura. O mal, sendo a ausência do bem, ou a presença de um bem menor, é o resultado de a criatura se afastar dos mandamentos de Deus em direção a algo menos bom: a vontade da criatura. Aqui está a essência do mal: é a criatura, não Deus, o autor do pecado. Mas isto também não nos oferece uma solução. Como Clark escreveu, “causas deficientes, se as há, não explicam porque um Deus bom não abole o pecado e garante ao homem sempre escolher o bem mais elevado”.[8]

O arminianismo, como um sistema quase-cristão, também falha em nos dar a solução. Os teólogos arminianos atribuem a origem do mal ao livre arbítrio do homem, em vez de à vontade de Deus, estabelecendo um outro tipo de dualismo. Na sua liberdade, Adão escolheu pecar, à parte da vontade soberana de Deus. Adão tinha uma “liberdade de indiferença” em relação à vontade de Deus. Deus “apenas permitiu” que o homem pecasse. Esta visão, contudo, não resolve o problema. Clark explicou: “Apesar de a idéia de que Deus permite o mal, sem decretá-lo, parecer absolvê-lO da acusação de ser o autor do pecado, deve se ter cuidado tanto em relação à lógica do argumento, como em relação ao conteúdo das Escrituras. Deus permitiu Satã afligir Jó, mas, uma vez que Satã não poderia ter agido sem a Sua aprovação, a idéia de permissão dificilmente exonera Deus. Afinal, a santidade perfeita é mais compatível com a aprovação ou a permissão do mal satânico? Se Deus pudesse ter evitado, não apenas a provação de Jó, mas todos os outros pecados e tentações a que a humanidade está sujeita – e, ao contrário, Ele os previu e decidiu deixá-los ocorrer – seria Ele menos repreensível [nesta perspectiva] do que se positivamente os decretasse? Se um homem pudesse salvar um bebê de uma casa em chamas, mas decidisse permitir que o bebê morresse queimado, quem se atreveria a dizer que ele fora moralmente perfeito na sua decisão?”.[9]

Um conceito tão pouco cristão de permissão e livre arbítrio não pode coexistir com o atributo da onipotência. Nem o ponto de vista arminiano sobre o livre arbítrio é compatível com a onisciência de Deus, uma vez que onisciência resulta num futuro fixo. Se Deus prevê todas as coisas, então necessariamente elas ocorrerão; de outro modo, elas não poderiam ser “previstas”. Deus previu e até mesmo preordenou a crucificação de Seu Filho pelas mãos de pecadores. Os homens que levaram a cabo o ato são responsáveis pelos seus pecados (Atos 2:22-23; 4:27-28). Poderiam eles ter agido de modo diferente? Poderia Judas Iscariotes não ter traído Jesus Cristo? Perguntar estas questões é respondê-las. 

A teologia cristã não nega que Adão (como aliás, todos os homens após ele) tenha tido “livre arbítrio” enquanto “agente moral livre”. Homens não são rochas nem máquinas. Todos os homens pensam e escolhem (neste sentido do termo); de outro modo, não poderiam agir. Os homens escolhem o que querem pensar e fazer; na realidade, eles não podem fazer mais que escolher. O que a teologia cristã faz é negar que o homem tenha a “liberdade de indiferença”. Sua capacidade de escolher está sempre governada por fatores, como o seu intelecto, os seus hábitos e assim por diante. Todas as suas escolhas são determinadas pelos decretos eternos de Deus.

Isto não é apenas verdade em relação ao homem pós-Queda, como também em relação ao Adão anterior a Gênesis 3. A maior diferença é que o homem pós-Queda, apesar de permanecer um agente moral, perdeu o que Adão possuía originalmente: a capacidade de escolher o que Deus requer. O homem caído, no seu estado de total depravação, sempre escolhe aquilo que deseja, mas sua mente pecaminosa e em revolta contra Deus determina que ele sempre escolha o mal (Rm 3:9-18; 8:7-8; Ef 4:17-19). A capacidade de escolher o bem só é restaurada através da regeneração.

Assim, o homem nunca se encontra indiferente na sua vontade de fazer alguma coisa. Deus determinou todas as coisas que venham a ocorrer. A soberania de Deus não mina, mas, ao invés, estabelece a responsabilidade do homem. AConfissão de Fé de Westminster (3:1, 5:2, 4), afirma com razão que:
“Desde toda a eternidade, Deus, pelo conselho sábio e santo de Sua própria vontade, livre e imutavelmente, ordenou tudo o que venha a ocorrer: ainda assim, nem Deus é o autor do pecado, nem a vontade das criaturas é violentada, nem a liberdade ou contingência das causas secundárias deixa de existir, sendo, ao invés, estabelecida. Apesar de que, pela presciência e pelo decreto de Deus – a primeira causa –, todas as coisas venham a ocorrer de modo imutável e infalível; ainda assim, pela mesma providência, Ele ordena que elas aconteçam de acordo com a natureza das causas secundárias, seja de modo obrigatório, ou livre, ou contingencial. O poder ilimitado, a sabedoria insondável e a bondade infinita de Deus, manifestam-se na Sua providência, que inclui até mesmo a primeira Queda e todos os outros pecados de anjos e homens, não como uma simples permissão, mas de modo tal que reúne a sabedoria e o poder limitante de Deus, que os ordena e governa para os Seus objetivos sagrados; e ainda assim, a pecaminosidade do ato procede apenas da criatura e não de Deus, que, sendo o mais santo e justo, nem é nem pode ser o autor ou aprovador do pecado.”

Deus, afirma a Confissão, é a causa soberana primeira de todas as coisas, muitas das quais ocorrem através das ações livres dos homens. O fim decretado por Deus nunca deve ser separado dos meios que Ele também decretou como causas secundárias. Deus, escreveu Clark, “não dispõe as coisas nem controla a história à parte das causas secundárias... Deus não decreta [o fim] sem os meios. Ele decreta que o fim deve realizar-se através dos meios”.[10]

Esta é a explicação, de acordo com a Confissão, para Deus não ser considerado “o autor ou aprovador do pecado”. Deus é a causa soberana primeira do pecado, mas não é o seu autor. Apenas as criaturas podem cometer e de fato cometem pecado. Esta visão, ensinada pela Confissão de Westminster, é o conceito calvinista de determinismo. A palavra determinismo geralmente carrega uma conotação ruim, mas não deveria ser assim. Determinismo expressa uma visão de Deus bastante bíblica e elevada, além de oferecer a única teodicéiaplausível. Deus determina ou decreta cada acontecimento da história e cada ação de suas criaturas, inclusive o homem.

Mais ainda, o que Deus decreta é certo, simplesmente porque Deus decreta; Deus não comete erros. Deus, afirma as Escrituras, não se justifica perante ninguém: “Ele não presta contas de Seus atos” (Jó 33:13). Ele é o legislador (Is 33:22); o homem está sob a lei. Deus não tem que se explicar com ninguém; Ele é ex lex (“acima da lei”), enquanto o homem está sub lego (“debaixo da lei”). Os Dez Mandamentos são obrigação para o homem, não para Deus. A única precondição para a responsabilidade é que um legislador – neste caso, Deus. Desse modo, o homem é necessariamente responsável pelo seu pecado, porque Deus o tem como responsável; o que Deus faz, é justo por definição, e Deus encontra-se completamente livre da acusação de ser o autor do pecado.

O determinismo expresso nos enunciados da Confissão de Westminster não é o mesmo que fatalismo ou behaviorismo (comportamentalismo). No fatalismo, deus, ou os deuses, ou o destino, determinam alguns, se não todos os resultados, aparentemente sem relação com os meios. No behaviorismo, as ações do homem são determinadas não por Deus, mas pela química no cérebro e nos músculos. 

Alguém poderá objetar: “Assassinar não é pecado e contra a vontade de Deus? Então, como pode Deus desejar isto?” A resposta está em Deuterononômio 29:29: As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei.” Aqui, Moisés distingue entre a vontade decretiva de Deus (“coisas encobertas”) e Sua vontade normativa (“as coisas reveladas”). A vontade decretiva (os decretos de Deus) determina o que vai acontecer; a vontade normativa (os mandamentos de Deus) é a lei que os homens são obrigados a obedecer. A vontade decretiva está, em sua maior parte, escondida na mente de Deus; não cabe ao homem conhecê-la, a não ser que Deus a revele. A vontade normativa, por sua vez, encontra-se inteiramente revelada nas Escrituras. Trata-se da vontade de Deus para o homem, segundo a qual ele deve viver. Assim sendo, cabe a nós e a nossos filhos conhecê-la e obedecê-la. Na realidade, a palavra vontade é ambígua, sendo preferível falar de mandamentos e decretos de Deus. O homem é considerado responsável pela sua desobediência aos mandamentos de Deus, e não aos decretos de Deus. O homem não pode desobedecer aos decretos de Deus, uma vez que Deus é soberano. No exemplo já citado, Deus decretou, desde toda a eternidade, a crucificação de Cristo, e, ainda assim, quando levada a cabo pelas mãos de pecadores, ela foi contrária à lei moral, isto é, aos mandamentos de Deus.

Assim, sentados sobre a “fundação de rocha” que é a Palavra de Deus, o nosso ponto de partida axiomático (Mt 7:24-25), nós temos uma resposta ao problema do mal. Deus, que é totalmente santo e perfeito, soberanamente decreta que o mal ocorra para os Seus próprios bons propósitos (Is 45:7). Apenas porque Ele decretou, Sua ação é correta. Como observou Jerome Zanchius:

“A vontade de Deus é de tal modo a causa de todas as coisas, quanto ela própria não tem causa, uma vez que não há nada que possa ser a causa daquilo que causa todas as coisas. Assim, nós encontramos todo assunto resolvido, em última instância, na simples satisfação soberana de Deus. Ele não tem outro motivo para aquilo que faz, além da ‘ipsa voluntas’ , Sua mera vontade – vontade esta tão longe de ser injusta, quanto ela é a própria justiça”.[11]

O pecado e o mal existem, portanto, por boas razões: Deus os decretou como parte do Seu plano eterno e eles ocorrem não apenas para a Sua própria glória, mas também para o bem do Seu povo. Com essa premissa bíblica na mente, é fácil responder a anti-teístas, tais como David Hume, que argumentam que a presença do mal no mundo milita contra a existência do Deus cristão. Hume, por exemplo, argumenta do seguinte modo:

      1. Um deus bom evitaria a ocorrência de todo o mal.
      2. Um deus onisciente e onipotente pode evitar todo o mal
      3. O mal existe no mundo
      4. Assim, ou Deus não é bom, ou não é onisciente, ou não é onipotente.[12]

Um dos problemas com o argumento de Hume é o seu ponto de partida. Sua primeira premissa é falsa. Assumindo, para o bem do argumento, que Hume possa definir coerentemente “bem”, “mal” e “bom”, não se segue que um deus bom prevenirá todo o mal de ocorrer. Hume assume que um deus bom é bom para todas as suas criaturas, mas as Escrituras explicitamente negam esta premissa. Todas as coisas operam juntas para o bem, não de todas as criaturas, mas apenas daqueles que foram chamados segundo o Seu propósito.

Encontrar solução para o problema do mal é uma questão de adotar o ponto de partida correto. Com a Bíblia como nosso ponto de partida axiomático, a existência do mal não é, de modo algum, um problema significante. Na realidade, a existência do mal é um assunto bem mais problemático na visão do não crente. Sem um padrão coerente de certo e errado, bem e mal, como pode alguém definir o mal? O problema do mal não pode ser coerentemente resolvido em terrenos não-cristãos. Apenas em terrenos cristãos e com fundamentos cristãos, i.e., as Escrituras, pode-se explicar o propósito do mal no mundo. 

Finalmente, uma teodicéia bíblica sustenta, como afirma a Confissão de Fé de Westminster, que tudo que Deus decreta e providencialmente faz acontecer é “para louvar a Sua gloriosa graça...para a Sua própria glória”. Robert Reymond observa corretamente que “a visão de todas as Escrituras é que o propósito supralapsariano de Deus, ao criar o mundo, era que Ele fosse glorificado (Is 43:7,21; Ef 1:6-14) através da glorificação do Seu Filho, como o primogênito entre os irmãos (Rm 8:29) e o Senhor da Sua igreja (Fl 2:11; Cl 1:18). A raison d’être [razão de ser] da criação é, portanto, servir aos propósitos redentores de Deus”.[13]

Desse modo, é logicamente consistente que a Queda da humanidade tenha ocorrido, em última instância, para que Deus seja glorificado através da glorificação de Seu Filho. Ou seja, a Sua predeterminação da Queda, como a Sua ação providencial no sentido de torná-la realidade, foram necessários. Deus os planejou para a Sua própria glória. Em Rm 5:12-19, o apóstolo Paulo toca neste ponto. Ali nós lemos que Adão e Cristo são as cabeças capitais de duas espécies de pacto. Torna-se necessário postular que, se Adão tivesse passado com sucesso na sua provação no Jardim (ou seja, o pacto das obras), ele teria sido confirmado por Deus na sua retidão positiva. Ele teria passado do estado de posse pecare (possível de pecar) para o estado de non posse pecare (não possível de pecar). A retidão de Adão seria então imputada a todos os seus descendentes (ou seja, a toda a raça humana). E toda a raça humana olharia agradecida a ele, e não a Cristo, o Salvador. Para toda a eternidade, Deus então repartiria Sua glória com a Sua criatura: Adão. Ironicamente, a obediência de Adão conduziria à idolatria. Desse modo, este mundo alternativo é logicamente impossível. Apenas o mundo atual, em que ocorreu a Queda do homem, é logicamente possível e resulta na glória única de Deus. Tivesse Adão obedecido, não haveria papel para Jesus Cristo como o “o primogênito entre os muitos irmãos” e o Senhor da Sua igreja. E o Pai não receberia a glória pela Sua obra através do Filho.

Parece, assim, que a visão supralapsariana do propósito da criação está de acordo com a perspectiva de muitos puritanos, que referiam-se ao evento descrito em Gênesis 3 como “a afortunada Queda”. Não apenas trata-se do único universo logicamente consistente em que o mal existe para os propósitos de Deus, como o povo de Deus se torna bem mais abençoado por causa da encarnação de Cristo do que ele poderia ser através de um Adão obediente.

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Notas:

[1] Faith and Reason (Zondervan, 1988), 177.
[2] Thomas B. Warren, Have Atheists Proved There is No God? (Gospel Advocate Co., 1972), vii.
[3] Philosophy of Religion (Harper and Row Publishers, 1957), 231.
[4] God and Evil (The Trinity Foundation, 1996), 7.
[5] Mesmo que o mal fosse ilusório (que não é), existiria ilusões que teriam de ser contabilizadas como ilusões do mal.
[6] Na realidade, o sistema filosófico chamado dualismo é um absurdo. Se houvesse duas divindades co-eternas e co-iguais, não poderíamos dizer que uma era boa e outra mal. Ou seja, sem um padrão superior para determinar o que é o bem e o que é mal, o bem e o mal não podem ser dito de qualquer coisa. Mas, se houver um padrão tão superior (isto é, algo acima das duas divindades), então não há dualidade final.
[7] Institutes of the Christian Religion. Translated by Ford Lewis Battles (Westminster, 1960), III:23:2.
[8] God and Evil, 9.
[9] Gordon H. Clark, First Corinthians (The Trinity Foundation, 1975, 1991), 156-157.
[10] Gordon H. Clark, What Do Presbyterians Believe? (Presbyterian and Reformed, 1956, 1965), 38.
[11] Cited in Gordon H. Clark, An Introduction to Christian Philosophy (The Trinity Foundation, 1993), 113-114.
[12] David Hume, Dialogues Concerning Natural Religion, in God and Evil, edited by Nelson Pike (Prentice Hall, 1964).
[13] Robert L. Reymond, God and Man in Holy Scripture (unpublished syllabus, Covenant Theological Seminary, 1990), 126, 127, 142.

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Fonte: The Trinity Foundation
Tradução: Claudia Bessa
Via: O Calvinismo
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SERVOS DE DEUS, MAIS UMA EXCELENTE OBRA DE FRANKLIN FERREIRA


A Editora Fiel acabou de lançar mais uma obra do autor Franklin Ferreira. 

O livro ‘Servos de Deus é um rico estudo da espiritualidade cristã, feito a partir da biografia de trinta e dois importantes personagens da história da igreja, cujas vidas serviram e servem de edificação, desafio, correção, conforto e estímulo para a peregrinação do cristão hoje. 

Na minha opinião, Franklin  pode ser considerado um dos melhores escritores do Brasil. Seus livros além de ricos e profundos, estão encharcados de vida e piedade. 

Louvo a Deus pela vida de Franklin que com profundidade, graça e sabedoria, brinda a igreja brasileira com mais um excelente livro. 

Veja abaixo um vídeo em que o autor fala da sua obra!

Recomendo a todos!

Renato Vargens




Fonte: Blog de Renato Vargens

A adoração dos santos e das imagens

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Eu sou o Senhor teu Deus (…) Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem esculpida (…) Não te encurvarás diante delas, nem as servirás (…)
Êxodo 20.2-5
Conta-se que Pompeu ficou muito admirado ao ver que o Templo de Jerusalém não continha imagens, nem mesmo a do Deus Jeová, e a grande perseguição por parte do imperador filósofo Marco Aurélio, segundo o historiador luterano Moshein, ocorreu por serem os cristãos “considerados ateus, porque não possuíam templos, nem altares, nem vítimas, nem sacerdotes, nem pompa alguma na qual o povo julgava consistir a essência da religião”.
Como dissemos, a hierarquia deve ter recebido de bom grado o ato de tolerância de Constantino, produzido com a manifesta intenção de aumentar os seus adeptos, influência e poderio. Muitos ídolos do paganismo incorporaram-se à Igreja Católica, e hoje sobre­vivem com outros nomes:
A estátua de Pedro que se venera no Vaticano é a de Júpiter Tonante (o principal “deus” da mitologia romana), e muitas estátuas há, também, como as de Juno, Cibele, Vénus, Diana, que foram balizadas com o nome de Maria e de outras santas. Do nome de uma matrona romana — Undecimilia — fizeram as “Onze Mil Virgens”, consequência da etimologia da palavra latina.
Foi no sétimo concílio da Igreja, reunido em Nicéia, em 787, o segundo ali realizado, convocado pela Imperatriz Irene, que se assentou definitivamente o culto aos santos e às imagens, num sinal evidente de que a paganização avançava, e a Igreja se afas­tava cada vez mais da Lei de Deus. Hoje, embora a Bíblia de tradução católica não deixe de possuir o texto que encabeça este capítulo (Êxodo 20), com a sua total proibição, os ensinos erró­neos continuam, e muitos católicos confiam mais nos santos do que no próprio Senhor Jesus.
Santo Agostinho, na sua obra Cidade de Deus condena tal prática: “Não tenhamos religião que preste culto aos mortos; não lhes construamos templos”; pois ele já notava certa tendência à acentuação desse grande erro. Toda idolatria é condenada pela Palavra de Deus.
Quando se lhes condenam a adoração dos santos, sofismam: “Não. Nós não adoramos imagens. Tributamos diante das imagens um culto de veneração aos santos que as imagens representam”. Mas a Palavra de Deus é clara quando diz: “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás (…)” (Ex 20.4,5).
Para justificar o erro, o jesuitismo teve a sutileza, a artimanha, o sofisma de dividir o culto em três categorias: latria, dulia e hiper-dulia. Para Deus, para os santos e para a Virgem Maria. Mas o culto às imagens confirma-se até pelo próprio papa. O Papa Paulo VI foi à Cova da Iria em comemoração ao cinquentenário das “aparições” de Fátima, onde, de joelhos, cultuou a imagem da santa. Não se pode negar que seja adoração a ídolo.55
A Bíblia condena com veemência a idolatria de um modo geral, sendo até difícil citar um entre tantos textos. A Bíblia Cató­lica tem dois Salmos 10 e dois 113, talvez com a intenção deliberada de confundir. O segundo 113 corresponde ao 115 de todas as demais Bíblias, que diz (Versão Revisada, IBB):
Porque perguntariam as nações: Onde está o seu Deus?Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz. Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos do homem.
Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem; têm ouvidos, mas não ouvem; têm nariz, mas não cheiram; têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta. Semelhantes a eles sejam os que os fazem, e todos os que neles confiam.
A perturbação das nações, os infortúnios, as intempéries, o desgoverno, as falcatruas na administração, a corrupção, toda es­pécie de males que acontecem, umas nações mais infelizes, outras menos, tudo isso está inquestionavelmente relacionado com a alma do povo. “Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, o povo que ele escolheu para sua herança. O Senhor olha lá do céu; vê todos os filhos dos homens; da sua morada observa todos os mora dores da terra (…)” (SI 33.12 em diante). Esse maravilhoso Salmo prossegue enaltecendo o amor de Deus e o cuidado que ele tem com as nações que o respeitam. Não é preciso que uma pessoa tenha cultura acima da média para notar a diferença de desenvolvimento entre as nações de maioria protestante e as de maioria católica. (Este assunto é tratado de forma mais extensa no capitulo 18.)
O Papa João XV, cujo pontificado estendeu-se de 985 a 996, canonizou o primeiro santo da Igreja, Ulderico, bispo de Hamburgo, falecido em 973. Depois disso foram canonizados centenas deles, de modo que há, no mínimo, um santo para cada dia, e, não raro, muitos são comemorados num mesmo dia.
Há poucos anos, o Papa Paulo VI retirou do calendário alguns deles, “pouco conhecidos ou duvidosos”, como Santa Catarina de Alexandria e “São” Jorge, este considerado padroeiro da Inglaterra e, como se sabe, venerado também no Brasil (mais tarde, em outro ato, São Jorge ficou “valendo” só para a Inglaterra; isto é, foi “recon­duzido”). Pergunta-se: e como ficam as igrejas católicas que têm o nome do “santo cassado? e que servem ao sincretismo e sobretudo ao espiritismo? Estarão os seus devotos adorando santo que não existe? Também foram proscritos Nicolau, padroeiro dos mari­nheiros; Cristóvão, dos motoristas; Bárbara, dos fogueteiros e artilheiros; Praxedes, Prudêncio, Isabel de Portugal, Euzébio, Sabina, Anastácia, Crisógomo e outros. Como fica a infalibilida­de diante dos papas que canonizaram esses santos? Ou não foram canonizados e assim mesmo pertenciam à liturgia? E se não perten­ciam à liturgia, como eram eles reverenciados? E se continuarem reverenciados depois de suprimidos? Como ficam as igrejas de São Jorge, principalmente onde predominam o espiritismo e as seitas de origem africana? E os padroeiros de Nápoles, da Universidade de Paris, dos motoristas? Como fica a obediência ao papa?
Um fato profundamente lamentável são as duas faces da Igreja Católica. Todo mundo sabe que há dois catolicismos. Um para o homem rude e outro para os cultos; um para as pessoas ricas e outro para as pessoas pobres, para os ingénuos e para os menos ingénuos. E mais: a Igreja Romana fomenta as superstições. Mas há um ditado: “Conhecerás o grau de tua civilização pelo número de tuas superstições”.
Não existe um crente evangélico ou protestante supersticioso. É a condição indispensável. Os que se dizem crentes e são supers­ticiosos não crêem na Bíblia, não têm a fé exigida pelas Escrituras. Estão mentindo, enganando-se a si próprios.
Os padres são homens cultos, estudam muitos anos, passam por duras provas, têm que “provar” que o pão e o vinho se transubstanciam. Devemos considerá-los “pouco civilizados?” Ou têm certeza de seus erros, dos erros do catolicismo, e continuam a contri­buir para o desenvolvimento das superstições? Com que finalidade? Alguém em sã consciência pode conceber uma medalha milagrosa? Na Rua Santa Amélia, no Rio de Janeiro, existe um “Santuário da Medalha Milagrosa”. Que poderes terá essa medalha? De onde virá esse poder milagreiro?
Um ex-padre informou que certo bispo da cidade de Mariana, em sua presença, depois de pregar na igreja sobre Maria, e expli­cando a súplica: “Ó Maria, rogai por nós que recorremos a vós”, distribuiu umas tiras de papel com as iniciais dessa invocação, entre as senhoras da cidade, conhecida como a “Atenas de Minas Gerais”, aconselhando-as — e isso do púlpito, da tribuna sagrada — a engolir aquela oração quando se achassem em dificuldades de parto, para serem felizes.
Há muitas coisas que desprestigiam e desmoralizam a Igreja que se diz fundada por Jesus, principalmente no âmbito da supers­tição: o valor dos ídolos, antes e depois do benzimento, os patuás, as verônicas, as “aparições”, as santas que choram. (Há alguns anos, num bairro de classe média do Rio de Janeiro, havia uma igreja de Fátima, cuja imagem “chorava”; descoberto o embuste, veio a confissão do padre: “precisava de dinheiro para a construção do templo”.) Mas em muitas ocasiões os próprios padres não acre­ditam no que ensinam. Por exemplo: Toda igreja que se preza possui um pára-raios. Ora, o pára-raios foi inventado por um “maldito” protestante. Porém mais vale o invento do protestante do que o poder do “santo” ou “santa” padroeira, seja do Carmo, de Fátima, de Aparecida, ou outro santo qualquer. É uma confissão de impo­tência dos santos.
Extraído do livro “O Catolicismo Romano Através dos Tempos”, Alcides Conejeiro Peres, Ed. JUERP
Via: Cacp

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