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domingo, 6 de abril de 2014

Internet está afastando as pessoas da igreja, diz estudo

Pesquisa mostra que aumento do uso da rede acompanha declínio das igrejas
por Jarbas Aragão


Internet está afastando as pessoas da igreja, diz estudo
Usar a Internet pode destruir a sua fé. Essa é a conclusão de um estudo recente mostrando que a queda dramática na filiação religiosa desde 1990 estaria intimamente ligada ao aumento do uso da Internet.
Em 1990, cerca de 8% da população dos EUA não tinha filiação religiosa. Em 2010, esse percentual mais que dobrou, chegando a 18%. A diferença, cerca de 25 milhões de pessoas, indica o total de pessoas que, de alguma forma, abandonaram sua fé.
Embora o levantamento tenha sido feito apenas no EUA, levanta a questão óbvia: Por que isso aconteceu?
Temos uma resposta possível graças ao trabalho de Allen Downey, um cientista da Olin College de Engenharia da computação, com sede em Massachusetts. Ele analisou os dados detalhadamente. Sua tese é que são vários fatores, sendo o mais controverso a popularização da Internet. Downey defende que o aumento do uso da rede mundial nas últimas duas décadas causou grande impacto na filiação religiosa.
Os dados usados por Downey vem da General Social Survey, um estudo sociológico anual, promovido pela Universidade de Chicago. Desde 1972 são medidas questões demográficas e de comportamento. Além da preferência religiosa, as pessoas foram divididas por idade, nível de escolaridade, o grupo socioeconômico. As perguntas-chave dos estudos mais recentes são: “Em que religião você foi criado?” e “Quanto tempo você passa online?”
Para Downey, é inegável que o declínio na frequência aos templos depende de vários fatores. Um dos que mais chama atenção é que 25% dos entrevistados se afastou da religião em que foi criado quando no ano em que ingressou na universidade.
Na década de 1990, o uso da Internet passou a ser medido. Em 2010, 53% da população afirmava que passava duas horas por semana on-line, enquanto 25% ficava mais de 7 horas.
A correlação entre aumento do tempo na internet e diminuição na frequência aos templos é baseada na teoria das estatísticas, pois seria um elemento novo na equação que mostrou resultados significativos.
Por exemplo, é fácil imaginar que uma pessoa que foi educada em uma determinada religião possa se afastar dela, mas a proporção atual foge das tendências ao longo da história. Logo, para os estatísticos deve haver algum fator determinante.  Para os pesquisadores, nenhum elemento novo causou tanto impacto na sociedade de maneira geral nos últimos 25 anos como o uso da Internet.
“Para as pessoas que vivem em comunidades homogêneas, a Internet oferece oportunidades para se
encontrar informações sobre pessoas de outras religiões (e sem religião), e de interagir com elas no nível pessoal”, defende Downey.
Perguntado se não haveria um “fator não identificado” que tenha influenciado a desfiliação religiosa, Downey descarta essa possibilidade. “Nós temos controlado todas as tendências, desde mudanças na educação, status socioeconômico e mudanças do ambientes rural/ urbano. Nenhum deles causou tanta alteração antes”, explica.
A queda na filiação religiosa e o aumento no uso da Internet estão necessariamente ligados? Embora os resultados desta pesquisa possam ser questionados, para os pesquisadores, somente a continua análise desses dois elementos no futuro poderão comprovar definitivamente. Com informações de Technology Review

Fonte:gospelprime


Calvino e a Pregação da Palavra

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Por Rev. Felipe Camargo


Introdução

O pensamento de Calvino sobre pregação, ou Calvino como pregador tem sido estudado por muitos eruditos e com isto, artigos e livros já foram publicados sobre este assunto. Parker tem sido um dos autores que mais escreveu sobre o assunto, considerado, portanto, uma grande autoridade como intérprete de Calvino. O objetivo deste trabalho se limita a analisar o pensamento de Calvino sobre a autoridade da pregação e a edificação da Igreja, tendo como objeto de estudo os próprios escritos de Calvino.

Por isso, algumas questões devem ser levantadas. A primeira delas se refere à Palavra de Deus. Qual a visão de Calvino sobre a Palavra de Deus? Onde ela é encontrada? Qual o seu objetivo? Qual o valor dela para a Igreja? Uma questão paralela à esta está relacionada com pregação. Qual a finalidade da pregação? Qual o papel dos pregadores? Até que ponto o pregador tem autoridade ao proclamar a Palavra de Deus?

E por fim, uma última análise a ser feita está ligada aos ensinos de Calvino nos nossos dias. Qual a importância de se estudar o pensamento de Calvino sobre pregação? Portanto, o trabalho procura analisar se é possível aplicar os ensinos de Calvino sobre pregação nos dias atuais.

A Bíblia como Palavra de Deus

Para uma correta compreensão acerca do pensamento de Calvino sobre pregação, é necessário entender sua visão acerca da Palavra Escrita. Para Calvino, a Palavra Escrita deve ser considerada como sendo o único lugar onde se encontra a verdadeira sabedoria vinda da de Deus. [1]

Calvino, nas Institutas, afirma que o homem foi dotado de um desejo de conhecer a Deus [2], mas por causa do pecado esse conhecimento se tornou falho. [3] Nesse sentido, demonstra que Deus não somente se revela através da criação [4], mas também adiciona um recurso melhor para este fim. [5] Por isso, Deus, além da sua própria criação, resolveu se revelar também em palavras. 

Portanto, as Escrituras servem para nos mostrar a verdade sobre Deus: 

Assim a Escritura, coletando-nos na mente conhecimento de Deus que de outra sorte seria confuso, dissipada a escuridão, nos mostra em diáfana clareza o Deus verdadeiro. [6]

Por isso, a Escritura foi dada por Deus para que o homem conhecesse tudo o que precisa ser conhecido para não fazer cogitações da verdade. Sendo assim, somente através da sua Palavra, se pode ter um correto conhecimento acerca de Deus. [7] Neste sentido Calvino faz questão de enfatizar que, o que distingue o cristianismo das demais religiões é que Deus falou, e fez isso através da Escritura. [8]

“Moisés e os profetas não pronunciaram precipitadamente e ao acaso o que deles temos recebido, senão que, falando pelo impulso de Deus. Ousada e destemidamente testificaram a verdade de que era a boca do Senhor que falava através deles.” [9]

Um ensino primordial acerca das Escrituras e sua autoridade é perceber que há uma perfeita harmonia. Deus, ao revelar a Lei estabeleceu a base para os demais escritos. Nem os profetas nem o Novo Testamento estão fora desta harmonia. [10]

“Não se deve ter outra Palavra de Deus, a que se dê lugar na Igreja, senão aquela que se contém, primeiro na Lei e nos Profetas, então nos Escritos Apostólicos [...]. Daqui também coligimos que não se prometeu outra coisa aos apóstolos senão o que tiveram outrora os profetas, a saber, que expusessem a Escritura antiga.” [11]

Está em harmonia, portanto, o conceito que toda a Palavra de Deus é perfeita e infalível, devendo aceitá-la desta maneira. 

O fato de Calvino afirmar que “os escritos dos apóstolos nada contém além de simples e natural explicação da lei e dos profetas juntamente com uma clara descrição das coisas expressas neles” [12], não quer dizer que o Novo Testamento seja apenas uma explicação da Palavra de Deus. Mas na verdade, Calvino afirma que seus escritores também foram usados pelo Espírito Santo. Ele afirma que: 

“Entretanto, a própria realidade brada patentemente que esses homens haviam sido ensinados pelo Espírito que, antes desprezíveis em meio ao próprio vulgo, de repente começaram a dissertar tão magnificamente acerca de mistérios celestiais.” [13]

Não há dúvidas para Calvino que, embora a Bíblia tenha sido escrita por homens, não se deve ignorar o fato que eles foram usados por Deus. Eles não escreveram aquilo que imaginavam, mas escreveram o que vinha da parte de Deus. [14] O fato de ele ter usado homens pecadores não desmerece a revelação. Não faz das Escrituras imperfeitas ou falíveis. Pelo contrário, ainda assim, considera-se Palavra de Deus.

“Portanto, iluminados por seu poder, já não cremos que a Escritura procede de Deus por nosso próprio juízo, ou pelo juízo de outros; ao contrário, com a máxima certeza, não menos se contemplássemos nela a majestade do próprio Deus, concluímos, acima do juízo humano, que ela nos emanou diretamente da boca de Deus, através do ministério humano.” [15]

A reverência às Escrituras, portanto, se dá não pelos autores humanos, mas pelo autor divino. Aquele que desrespeita a Palavra de Deus desrespeita o próprio Deus. Calvino argumenta que “devemos à Escritura a mesma reverência devida a Deus, já que ela tem nele sua única fonte, e não existe nenhuma origem humana misturada nela.” [16] Por isso, é possível compreender o cuidado que Calvino dá à fiel exposição da mesma.

A Palavra de Deus e a Edificação

Um princípio importante para Calvino era que toda a Escritura trazia algum ensino para a vida dos cristãos. Nos seus escritos, Calvino fazia questão de enfatizar que toda a Escritura é útil e deve ser praticada. Não há grau de importância entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Ambos são considerados como Palavra de Deus e útil para a vida cristã. [17]

Para Calvino, era através da Palavra que Deus concede vida ao pecador. Sem Deus não há vida, e todos estão condenados à morte eterna. Esta vida, portanto, é comunicada através de sua Palavra. Ele afirma que “embora temporária, seja a vida do homem, ela já feita eterna pela Palavra; por ela é modelada e feita nova criatura.” [18]

Mas as Escrituras não têm o único propósito de comunicar a vida eterna, mas também de corrigir para um crescimento espiritual. Na verdade, tudo o que é revelado por Deus nas Escrituras tem o propósito específico de corrigir a vida do homem. Calvino adverte que:

Se porventura nos sentirmos sempre tentados a menosprezar ou a sentir repugnância pelo evangelho, lembremo-nos de que o seu poder e eficácia estão no fato de que é por meio dele que nos vem a salvação; assim como alhures ele ensina que o evangelho é o poder de Deus para a salvação dos Crentes. [19]

Não se pode dizer que exista algo supérfluo e inútil em sua Palavra. [20] Pelo contrário, se torna pecaminoso estudar as Escrituras sem trazer para si uma aplicação e buscar uma vida prática, ou seja, sempre ao que é proveitoso. [21]

Calvino sustenta que a Lei de Deus é a norma de justiça pela qual nossa vida é moldada. [22] Este molde realizado pela Lei tem o objetivo de tornar o homem completo a ponto de não haver nada que o torne defeituoso, por isso, a obrigação do homem de querer conhecer cada vez mais a Palavra. [23]

Comentando o Salmo 19, Calvino diz: 

Se alguém deseja ter um método próprio para governar sua vida, a lei de Deus é a única perfeitamente suficiente para tal propósito; mas que, ao contrário, assim que as pessoas se apartam dela, são passíveis de cair em infindáveis erros e pecados. [24]

Portanto, qualquer meio que se utilize para obter a edificação da Igreja que não seja através da Palavra é condenada.

A supremacia da pregação

Assim como Calvino afirma que as Escrituras é o meio ordinário instituído por Deus para edificar sua Igreja, ele também sustenta que a pregação é o modo normal que o Senhor designou para comunicar sua Palavra. [25] Portanto, é através da pregação que Deus se utiliza para edificar seu povo. [26] Conforme Calvino, o propósito da pregação do evangelho é exatamente para que Deus guie todas as nações à obediência da fé. [27]

Calvino, neste ponto não aceita exceções: “Deve-se, porém, ser mantido por nós o que já citamos de Paulo: que a Igreja não é edificada de outro modo senão pela pregação externa.” [28] A maneira instituída por Deus para a edificação é a pregação da Palavra de Deus. Sem ela, não há progresso na fé, conforme Calvino explica com mais detalhes:

“Deus instila em nós a fé, mas pela instrumentalidade de seu evangelho, como adverte Paulo, de que “a fé vem do ouvir” [Rm 10.17], assim como também em Deus reside seu poder de salvar, mas, segundo atesta o próprio Paulo, o exibe e o desenvolve na pregação do evangelho [Rm 1.16].” [29]

Com isso em mente, ele desenvolve o ensino da prioridade da pregação dentro da Igreja de Cristo. Não há dúvidas de que o objetivo da Igreja é o crescimento na fé de cada cristão. E por isso Deus instituiu ministros da Palavra para realizar este propósito através da pregação:

E, para que a pregação do evangelho florescesse, depôs esse tesouro com a Igreja: instituiu “pastores e mestres” [Ef 4.11], por cujos lábios ensinasse aos seus, investiu-os de autoridade, enfim, nada omitiu que contribuísse para o santo consenso da fé e a reta ordem. [30]

A Igreja, portanto, não deve desprezar este meio fundamental para sua edificação, muito menos os pregadores ao subir no púlpito. Para Calvino, esta é uma grande responsabilidade para os pastores. Ao subir em um púlpito, o pastor deve ter sempre em mente: “Deus desejou revelar seu poder soberano através da espada espiritual de sua Palavra sempre que é pregada pelo pastor.” [31]

Este conceito de que “toda Escritura é útil para a edificação da Igreja” era algo concreto também no seu pastorado. Por isso, pregava sistematicamente à sua igreja versículo por versículo. [32] Acreditava que cada versículo das Sagradas Escrituras tem uma aplicação para a edificação da Igreja. Na exposição do livro de Daniel, nas suas 66 exposições ele termina com uma oração escrita. Em cada oração ele apresenta o ensino retirado dos versículos explanados fazendo uma aplicação para os seus dias. [33] Conforme ele mesmo diz:

Assim concluímos que este é o mais valioso tesouro da Igreja, que ele que ele tenha escolhido uma morada para ele mesmo, para residir nos corações dos fiéis por seu Espírito, e assim preservar entre eles a doutrina do seu evangelho. (Isaías 59.21) [34]

Para Calvino, portanto, a pregação não é apenas uma obrigação da Igreja e dos seus pastores, mas é um privilégio no qual Deus preserva a sua Igreja. 

Responsabilidade do Pregador

Visto que é por meio de ministros da Palavra que Deus instrui o seu povo, é necessário ressaltar que Calvino, por isso, destaca a grande responsabilidade do pastor. Para ele, o pastor deve estar munido da Palavra de Deus para guiar seu povo para edificação: 

Se o primeiro dever de um pastor é ser instruído no conhecimento da sã doutrina, e o segundo é reter sua confissão com firmeza e inusitada coragem, o terceiro é que adapte o método do ensino visando a produzir edificação, e não divague, movido pela ambição, por entre as sutilezas da curiosidade frívola; mas, ao contrário, que busque tão-somente o sólido avanço da Igreja. [35]

Mas é através da pregação que o pregador desempenha essa função. Portanto, para Calvino, o pastor não deve procurar guiar ou edificar o rebanho que não seja ela instrução da Palavra:

É esta, portanto, uma dádiva singular, quando, para instruir a Igreja, Deus não apenas se serve de mestres mudos, mas ainda abre seus sacrossantos lábios, não simplesmente para proclamar que se deve adorar a um Deus, mas ao mesmo tempo declara ser esse Aquele a quem se deve adorar; nem meramente ensina aos eleitos a atentarem para Deus, mas ainda se mostra como Aquele para quem devem atentar. [36]

Logo, o papel do pastor é apresentar a Deus para que a sua Igreja o adore. Para que isso aconteça, Calvino acredita que o pregador deva ser fiel em sua pregação.

Calvino acreditava que Deus poderia falar pelos céus ou através de anjos, mas o meio que ele escolheu foi através de homens comuns. Assim sendo, “não se requer de um pastor apenas cultura, mas também inabalável fidelidade pela sã doutrina, ao ponto de jamais apartar-se dela”. [37] À sua Igreja cabe a responsabilidade de procurar aqueles que pregam em nome de Deus e com autoridade divina. [38]

Calvino até certo ponto, foi um homem tolerante, mas ao mesmo tempo foi extremamente radical em certos assuntos. [39] Um desses assuntos em que se demonstrava intolerante se referia à pregação.

A pregação é um dos sinais essenciais para distinguir a verdadeira Igreja, por isso Calvino afirma que “Deus quis que fosse conservada pura a pregação de sua Palavra.” [40] Mas ao mesmo tempo que as Escrituras devem ser usadas para ensinar a sabedoria de Deus, deve se ter por certo que “os falsos profetas também fazem uso dela em busca de pretexto para o seu ensino. Para que ela seja proveitosa para a salvação, temos que aprender a fazer um uso correto.” [41]

Para ele, 

Não se deve ter outra Palavra de Deus, a que se dê lugar na Igreja, senão aquela que se contém, primeiro na Lei e nos Profetas, então nos Escritos Apostólicos; nem outro modo de ensinar a Igreja corretamente, senão aquele prescrito e normativo dessa Palavra. [42]

Por isso, Calvino sempre debateu contra aqueles que ensinavam outra doutrina que não fosse a verdadeira.

Partindo deste princípio de que não existe nenhuma verdade fora do Evangelho [43], ele insiste veementemente que “não é permitido aos ministros fiéis que forjem algum dogma novo, mas simplesmente que se apeguem à doutrina à qual Deus a todos sujeitou, sem exceção.” [44] Para exemplificar esta verdade, ele usa os próprios sacerdotes que foram orientados à se limitar no que foi dado:

Quando, porém, pareceu bem a Deus suscitar mais clara forma à Igreja, quis que fosse confiada à escrita, e assim selar sua Palavra, para que os sacerdotes daí buscassem o que ensinar ao povo e para que a essa regra se conformasse todo o ensino que se transmitisse. E assim, após a promulgação da lei, quando se ordena aos sacerdotes que ensinassem “pela boca do Senhor” [Ml 2.7], o sentido é que não ensinassem algo estranho ou alheio a esse gênero de ensino que Deus havia compreendido na Lei. Com efeito, lhes foi vedado acrescentá-la e diminuí-la. [45]

Mas Calvino entendia também que muitas vezes os pregadores são tentados a se desviar da verdadeira pregação. Não quer dizer com isso que eles são falsos profetas. Por isso, Calvino orienta aos pregadores a resistir a tentação de se desviar da pura e fiel pregação da Palavra:

Somos, naturalmente, dados à curiosidade, de modo que a nossa tendência é ignorar displicentemente, ou, pelo menos, experimentar só levemente o ensino que produz edificação, enquanto nos envolvemos com questões frívolas. A esta curiosidade adiciono a audácia e a temeridade, de maneira tal que nos prontificamos sem hesitação a pronunciar sobre coisas de que nada sabemos e que nos são ocultas. [46]

Por isso, muito sabiamente Calvino alerta aos pregadores a se limitarem àquilo que a Palavra de Deus nos diz. É somente isto que se deve saber e pregar. A Palavra de Deus é suficiente: “Eis o limite de nosso conhecimento.” [47]

Ao tratar sobre os anjos, Calvino acredita que possa trazer alguma curiosidade para o homem. Mas ele é insistente ao falar que quanto às coisas obscuras, “não falemos, ou sintamos, ou sequer almejemos saber outra coisa senão aquilo que nos é ensinado na Palavra de Deus”. Pois para Calvino, a busca por questões que não trazem edificação, são estudos inúteis. [48] Em outro lugar ele diz:

E visto que o Senhor nos quis instruir não em questões frívolas, mas na sólida piedade, no temor de seu nome, na verdadeira confiança, nos deveres da santidade, contentemo-nos com este conhecimento. [49]

Portanto, se o objetivo da Palavra de Deus é trazer edificação e fazer trilhar o caminho da salvação, nada mais correto do que os ministros transmitirem a Palavra da verdade com o mesmo objetivo.

Pregação como voz de Deus

Calvino afirma que um pregador ao fazer uma fiel pregação da Palavra de Deus, ele não está apenas repetindo ensinamentos, mas ele se torna a própria voz de Deus. [50] Antes de detalharmos este assunto é necessário salientar que para Calvino há uma grande diferença entre os escritores bíblicos e os pregadores posteriores:

“Todavia, entre os apóstolos e seus sucessores, como já disse, existe esta diferença: que aqueles foram infalíveis e autênticos amanuenses do Espírito Santo, e por isso seus escritos devem ser tidos como oráculos de Deus; os outros, porém, não têm outra função, senão que ensinem o que foi dado a conhecer e consignado nas Sagradas Escrituras.” [51]

Mas isso não quer dizer que anula a autoridade do pregador por não ser inspirado como os escritores. Para Calvino, o mesmo Espírito que inspirou os escritores é o mesmo que capacita os pregadores. É o Espírito Santo que torna capaz o árduo trabalho do pregador e torna suas palavras na poderosa voz de
Deus. [52]

Da mesma forma, o mesmo Espírito torna eficaz a pregação para os ouvintes. Desta forma, o Espírito Santo faz com que a mensagem pregada seja compreendida pela Igreja e aceita como a própria Palavra de Deus. [53] Nas palavras de Calvino, “a pregação é o instrumento da fé, por isso o Espírito Santo torna a pregação eficaz.” [54]

Evidentemente, a incapacidade humana não deve ser considerada quanto à autoridade da pregação fiel. Quanto a isso, Calvino afirma: 

“Mas, os que pensam que a autoridade da doutrina é desprezada pela baixa condição dos homens que foram chamados a ensiná-la, estes põem à mostra sua ingratidão, porquanto, entre tantos dotes preclaros com os quais Deus adornou o gênero humano, esta prerrogativa é singular: que a si digna consagrar as bocas e línguas dos homens, para que neles faça ressoar sua própria voz.” [55]

Deste modo, através do seu Espírito ele capacita homens para transmitir sua Palavra, colocando assim, sua própria Palavra em seus lábios. [56] Calvino enfatiza que os pregadores, no momento em que estão proclamando o evangelho, eles agem como instrumentos divinos:

A fé procedente do evangelho seria deveras frágil, se fôssemos nós olhar somente para os homens. Toda a sua autoridade procede de reconhecermos que os homens são meros instrumentos de Deus e de ouvirmos Cristo nos falando por meio de lábios humanos. [57]

Destarte, apesar da limitação humana, deve-se afirmar que a palavra que sai da boca de Deus é a mesma que sai da boca dos homens. [58]

O valor da pregação é tão valiosa e considerada, assim, a própria voz de Deus, que qualquer que rejeitar uma pregação fiel, não despreza homens, e sim a Deus. “Segue-se disto que aqueles que se retraem de ouvir a Palavra proclamada estão premeditadamente rejeitando o poder de Deus e repelindo de si a mão divina que pode libertá-los.” [59]

Cabe, portanto à igreja reconhecer a autoridade dos seus pastores, pois por meio deles elas são edificadas pela Palavra do próprio Deus. Deus instituiu este meio para ouvi-lo e não outro. Ninguém, pois, deve tentar advertir ou consolar a Igreja a não ser que seja um representante de Deus, falando assim “pela boca do Senhor”. [60] Esta foi a ordenança dada por Deus: 

Buscar a palavra e doutrina da boca dos profetas e professores, que prega em seu nome e por Sua autoridade, para que não possamos buscar loucamente por novas revelações. [61]

Conclui-se que uma Igreja que não ouve seu pastor, não ouve o Deus da Igreja, ou seja, o Deus da Palavra. Em outro lugar Calvino adverte os pastores a serem aqueles que mostrem a glória de Deus.

Eis o supremo poder com o qual convém que os pastores da Igreja sejam investidos, sem importar por que nome sejam chamados, isto é, que ousem fazer tudo confiantemente pela Palavra de Deus; que obriguem a todo poder, glória, sabedoria, exaltação do mundo a sujeitar-se-lhe e a obedecer-lhe à majestade; sustentados em seu poder, imperem sobre todos, desde o mais alto até o mais baixo; edifiquem a mansão de Cristo, desmantelem a de Satanás; apascentem as ovelhas, submetam os rebeldes e contumazes; liguem e desliguem; enfim, caso se faça necessário, relampejem e despeçam raios; tudo, porém, na Palavra de Deus. [62]

Implicações para os dias atuais

Calvino tem sido estudado como pregador. Poucos podem ser comparado à ele quando se fala de pregação. Calvino não era apenas o exegeta da reforma, mas o pregador da reforma. [63] Ele não ensinava sobre pregação, mas colocava em prática aquilo que ele cria e passava aos seus alunos. Calvino tem muito a nos ensinar sobre pregação. Subir num púlpito para pregar a Palavra de Deus não deve ser tido como algo sem muita importância. Algumas implicações devem ser tiradas desta pesquisa.

A primeira que deve ser ressaltada é que a Bíblia é a Palavra de Deus. Pode parecer óbvio para alguns que confessam a inspiração da Bíblia, mas algumas vezes não tem dado o devido valor à esta verdade. Saber que a Bíblia é a própria Palavra de Deus deve despertar no pregador o valor daquilo que ele transmite e saber que esta palavra é suficiente para transformar vidas. Saber que ela é a Palavra de Deus, deve fazer dela o centro dos cultos realizados na Igreja.

Outra verdade a ser destacada é a utilidade da Palavra de Deus. Calvino demonstrava em seu púlpito que cria que toda a Escritura é útil para edificação da Igreja. Sua prática era coerente com os seus ensinos. De fato ele pregava todos os versículos do livro escolhido para expor para a congregação.

Trazendo em cada um deles uma aplicação para transformação de vidas. Ignorar certas passagens bíblicas se torna, na verdade, uma descrença de que toda a Bíblia é útil para o ensino. E na verdade, essa prática não acaba transmitindo dúvidas para a congregação quanto a aplicabilidade de certas passagens? Em sua prática de pregação de versículo por versículo, Calvino transmitia esta verdade: “toda a Escritura é útil”.

O que mais se destaca nesta pesquisa é o valor da pregação. Calvino destacava algo que deve sempre ser valorizada no meio da Igreja: a pregação.

A pregação é o meio ordinário para a edificação da Igreja. Por mais que o pregador seja tentado a trazer algo que agrade os homens, ele deve sempre ser lembrado da autoridade e eficácia da pregação.

Embora seja natural que o homem se recuse a ouvir a Palavra, a fidelidade do pregador deve ser intacta. Sua responsabilidade é como nenhuma outra, pois ele é a própria voz de Deus. Lembrando-se sempre que ele não fala por si, mas é um instrumento dado por Deus para ser sua voz. Não é exagero, portanto, afirmar que os pregadores precisam sempre se lembrar que ao subir num púlpito ele está dizendo: “Assim diz o Senhor”.

Conclusão

Apresentei neste trabalho a visão de Calvino sobre a pregação e como isto é importante para a edificação da Igreja. Pode-se perceber que sua teologia sobre a pregação é tão importante quanto foi no seu tempo. A pregação ainda deve ser valorizada. Alguns pontos devem ser destacados com esta pesquisa.

Calvino acreditava fielmente na inspiração e perfeição da Bíblia, considerando-a como a própria Palavra de Deus. A imperfeição dos escritores não desmerece sua infalibilidade. A mesma foi dada para que o homem recebesse a salvação e fosse moldado por ela.

Desta maneira, Calvino cria que a pregação deveria ser fiel às Escrituras, não permitindo nenhum tipo de acréscimo ao transmiti-la. Para ele, a pregação fiel é a própria voz de Deus por intermédio humano. As imperfeições dos pregadores não desmerecem a autoridade da pregação, devendo ser respeitada como se respeita o próprio Deus. Concluindo assim, que a pregação é o meio ordinário para a edificação da Igreja.

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Notas: Para visualizá-las, acesse o trabalho original através deste link!

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Artigo gentilmente cedido pelo autor ao blog Bereianos.
Divulgação: Bereianos
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sábado, 5 de abril de 2014

O perigo do sucesso

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Por Rev. Ronaldo Mendes


“Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus.” (Lucas 10.17-20).

No início do capítulo 10 vemos que o Senhor Jesus envia estes setenta homens para anunciar a sua chegada e proclamar seu evangelho, provavelmente nas cidades de Jerusalém (cf Lc 9.51). Não se revela quanto tempo levou para eles cumprirem a missão, nem em que lugar voltaram para Jesus. O que sabemos é que voltaram com alegria e júbilo pelo sucesso da missão.

Estes versículos nos mostram quão facilmente os crentes podem sentir-se envaidecidos por causa do sucesso. Fica claro que entre eles havia auto-satisfação no relato das realizações. A declaração de nosso Senhor Jesus a respeito da queda de Satanás do céu provavelmente tinha o objetivo de ser um alerta. Ele sondou o coração daqueles homens  e percebeu o quanto eles haviam sido ensoberbecidos pela sua primeira vitória. Com sabedoria, o Senhor os repreendeu em sua incorreta exultação, advertindo-os contra o orgulho.

É uma lição que precisa ser recordada por todos os que servem a Cristo. Pelos os fiéis trabalhadores da seara do evangelho que desejam sucesso. Os pastores das igrejas locais, os missionários, evangelistas, professores de Escola dominical e demais obreiros – por todos que esperam igualmente sucesso no trabalho que realizam. Todos eles desejam ver almas convertidas a Deus. E este desejo é correto e bom. Porém, jamais devemos esquecer que o tempo de sucesso é uma ocasião de perigo para a alma do crente. Os corações que se acham deprimidos, quando todas as coisas parecem estar contra eles, com frequência sentem-se indevidamente exaltados no dia da prosperidade.  O apóstolo Paulo instruiu que o presbítero: “não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo.”(1Tm 3.6). Muitos servos do Senhor Jesus provavelmente alcançam tanto sucesso quanto suas almas são capazes de suportar. O que fazer?

1 - Ore intensamente por humildade – Quando tudo ao nosso redor parece prosperar e todos nossos planos se realizam bem; quando as provações familiares e a enfermidade são mantidas longe de nós e os nossos afazeres seculares segue com tranquilidade; quando nossa cruz é suave e tudo em nossa vida vai bem – este é o tempo em que nossas almas encontram-se em perigo. É tempo em que necessitamos de reforço na vigilância dos nossos corações. É tempo que as sementes do mal são plantadas no nosso íntimo por Satanás. Há poucas pessoas que permanecem humildes nos tempos de grandes sucessos. Somos tendentes a pensar que nossa própria capacidade e sabedoria nos conquistaram a vitória. A advertência do Senhor Jesus nesta passagem jamais deve ser esquecida. Em meio ao triunfo, clamemos ao Senhor com sinceridade de coração: “Senhor, reveste-me de humildade”!

- Os dons e milagres não são superiores à graça de Deus – O Senhor Jesus disse aos setenta discípulos: “alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus.” Com toda certeza, foi uma honra e privilégio receberem eles o poder de expulsarem demônios. Tinham motivos corretos para estarem agradecidos. No entanto, um privilégio maior era serem convertidos, perdoados e salvos em Cristo. A distinção entre a graça da salvação e os dons é profundamente importante, mas com frequência tem sido esquecida em nossos dias. Dons, tais como uma poderosa inteligência, grande memória, eloquência admirável, argumentação hábil, são constantemente valorizados acima do que convém por aqueles que os possuem e admirados de maneira indevida por aqueles que não os tem. Estas coisas não devem ser assim. Os homens esquecem que os dons sem a graça divina não salvam a alma de ninguém e são uma característica do próprio Satanás. Aquele que têm dons, sem a graça, está morto em seus pecados, ainda que seus dons sejam admiráveis. Porém aquele que possui a graça divina está vivo em Deus, mesmo que pareça iletrado e inculto aos olhos dos homens.

Jamais nos contentemos com o falar com eloquência, o pregar com vigor, o debater com dinamismo, o argumentar com inteligência e conversar com muita fluência. Jamais nos contentemos em saber todas as doutrinas do cristianismo e ter à nossa disposição textos e passagens bíblicas. Estas coisas são boas e não devem ser menosprezadas. Elas são proveitosas, mas não constituem a graça de Deus e, portanto, não poderão livrar-nos do inferno. Não podemos descansar enquanto não tivermos o testemunho do Espírito Santo em nosso íntimo e não formos lavados, santificados e justificados em Cristo (cf 1Co 6.11). Esforcemo-nos para ser cartas de Cristo, conhecidas e lidas por todos os homens (cfr 2Co 3.2); devemos nos empenhar para demonstrar por meio de humildade, amor, fé e mentalidade espiritual que somos filhos de Deus. Esse é o verdadeiro cristianismo. Estas são verdadeiras características do cristianismo que salva. Sem elas, uma pessoa pode ter dons em abundância e tornar-se nada mais do que um seguidor de Judas Iscariotes.    

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2 motivos para aprendermos com os pais da igreja


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Neste sábado (5/abril), das 9h às 17h30, acontecerá a transmissão ao vivo do Curso Fiel de Liderança História da Igreja – Módulo I: Patrística.

Pais da Igreja

Em um verbete sobre “patrística”, no Dicionário da Igreja Cristã de Oxoford, uma obra de referência padrão sobre o cristianismo, os pais da igreja são descritos como aqueles autores que “escreveram entre o final do século I… e o final do século VIII”; e isso abrange o que é chamado de “Era Patrística”.

Medo de “Santos”

A verdade da questão é que muitos evangélicos contemporâneos desconhecem ou se sentem incomodados com os pais da igreja. Sem dúvida, anos de menosprezo da tradição e de luta contra o catolicismo romano e a ortodoxia ocidental, com seus “santos” da igreja antiga, têm contribuído, em parte, para este cenário de ignorância e incômodo. Além disso, certas tendências de fundamentalismo anti-intelectual têm desencorajado o interesse nesse “mundo distante” da história da igreja. E a esquisitice de muito daquela época da igreja antiga se tornou uma barreira para alguns evangélicos em sua leitura sobre os primeiros séculos da igreja. Finalmente, um desejo intenso de ser uma “pessoa do Livro” – um desejo eminentemente digno – tem levado, também, a uma falta de interesse em outros estudantes das Escrituras que viveram naquele primeiro período da história da igreja depois da era apostólica. Charles Haddon Spurgeon (1834-1892) – que certamente não poderia ser acusado de elevar a tradição ao nível, ou acima, das Escrituras – disse muito bem: “Parece estranho que certos homens que falam tanto sobre o que o Espírito Santo lhes revela pensem tão pouco no que ele revelou a outros”.

2 Motivos para Conhecer os Pais da Igreja

Por que os cristãos evangélicos deveriam procurar conhecer o pensamento e a experiência destas testemunhas cristãs antigas?
Primeiramente, o estudo dos pais, como qualquer estudo histórico, nos liberta do presente. Cada época tem sua própria perspectiva, pressuposições que permanecem não questionadas até pelos oponentes. O exame de outra época de pensamento nos força a confrontar nossos preconceitos naturais, que, de outro modo, ficariam despercebidos.  Como observou acertadamente Carl Trueman, um teólogo histórico contemporâneo:
A própria natureza estranha do mundo em que os Pais viveram nos força a pensar mais criticamente sobre nós mesmos em nosso con- texto. Por exemplo, não podemos simpatizar muito com o ascetismo monástico; mas, quando o entendemos como uma resposta do sécu- lo IV à velha pergunta de como devia ser um cristão comprometido numa época em que ser cristão começava a ser fácil e respeitável, podemos, pelo menos, usá-lo como uma bigorna na qual podemos forjar nossa resposta contemporânea a essa mesma pergunta.
Em segundo, os pais podem nos prover um mapa para a vida cristã. É realmente estimulante ficar na costa leste dos Estados Unidos, contemplar a arrebentação do Atlântico, ouvir o barulho das ondas e, estando bastante perto, sentir o borrifo salgado. Todavia, esta experiência será de pouco proveito ao se navegar para Irlanda ou para as Ilhas Britânicas. Pois, neste caso, um mapa é necessário – um mapa baseado na experiência acumulada de milhares de navegadores. Semelhantemente, precisamos desse tipo de mapa para a vida cristã. Experiências são proveitosas e boas, mas elas não servem como um fundamento apropriado para nossa vida em Cristo. Sendo exato, temos as Escrituras divinas, um fundamento imprescindível e suficiente para todas as nossas necessidades como cristãos (2Tm 3.16-17). Contudo, o pensamento dos pais pode nos ajudar enormemente em edificarmos sobre este fundamento.
Um ótimo exemplo se acha na pneumatologia de Atanásio, em suas cartas a Serapião, bispo de Thmuis. Os dias atuais têm visto um ressurgimento do interesse na pessoa do Espírito Santo. Isto é admirável, mas também carregado de perigo, se o Espírito Santo é entendido à parte de Cristo. Entretanto, o discernimento perspicaz de Atanásio era que “Através de nosso conhecimento do Filho podemos ter um verdadeiro conhecimento do Espírito”.16 O Espírito não pode ser divorciado do Filho. O Filho envia e dá o Espírito, mas o Espírito é o princípio da vida de Cristo em nós. Muitos têm caído em entusiasmo fanático porque não compreendem esta verdade básica: o Espírito não pode ser separado do Filho.
Redescobrindo_os_Pais_da_Igreja_detPor Michael Haykin. Texto adaptado do 1º capítulo do livro Redescobrindo os Pais da Igreja
No livro “Redescobrindo os Pais da Igreja”, Michael Haykin oferece ao leitor uma introdução agradável do cristianismo nos seus primeiros séculos, através das histórias de vida dos pais da Igreja e de seus ensinos, como Inácio, Cipriano, Basílio de Cesaréia e Ambrósio, cujos legados representam um imenso valor para os cristãos hoje. Nesta obra, Haykin revela o posicionamento desses homens piedosos diante de questões importantes da teologia como o batismo, o martírio, a ceia do Senhor, a Trindade, a relação da igreja com o estado, entre outras.

20 igrejas destruídas e 100 cristãos assassinados no último mês


Março foi um dos meses mais sangrentos dos últimos anos para os cristãos nigerianos
por Jarbas Aragão

20 igrejas destruídas e 100 cristãos assassinados no último mês20 igrejas destruídas e 100 cristãos assassinados no último mês
Muçulmanos pertencentes a etnia Fulani fizeram em março uma série de ataques no estado de Benue, na Nigéria. O resultado foram 20 igrejas destruídas e 100 cristãos assassinados. Este foi um dos meses mais sangrentos dos últimos anos para os cristãos nigerianos.
Os incidentes ocorreram no Estado de Benue, na região central do país. Quase todos os ataques foram contra a vida de agricultores cristãos pertencentes a tribo Tiv. Até o governador local, Gabriel Suswam foi vítima de uma emboscada, mas escapou ileso graças a agilidade de seus guarda-costas.
Benue é 95% cristão e historicamente não há ataques de muçulmanos. As autoridades acreditam que eles vieram de estados vizinhos, onde são maioria. Também chamou atenção a maneira rápida de atacar, matar, atear fogo a casas e igreja e sumir em pouco tempo. O povo Tiv acredita que os muçulmanos pretendem ficar com suas terras.
Segundo a organização World Watch Monitor, que trabalha com igrejas perseguidas, todas as igrejas queimadas estão ligadas à Associação Cristã da Nigéria, lideradas por Yiman Orkwar.
“É um ataque em duas frentes para tomar a nossa terra e converter ao Islã as pessoas que aqui vivem, mas nós resistimos”, disse ele. “Eles foram matando todo mundo que encontram nas aldeias. Não pouparam as mulheres e nem nossos filhos. O que eles estão fazendo é muito semelhante aos ataques dos terroristas do Boko Haram”, lamenta Orkwar.
O líder cristão pediu que o governo da Nigéria envie soldados para a região. “O governo federal não pode permitir que o genocídio continue no Estado de Benue para continuar. Não podemos admitir esta matança indiscriminada”. Com informações Charisma News.
Fonte:gospelprime

Fogo estranho: bizarrices na igreja evangélica brasileira é tema da revista Cristianismo Hoje

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Em tempos de aberrações teológicas, apologistas e líderes evangélicos demonstram perplexidade diante de desvios doutrinários

O crente brasileiro sabe: vez por outra, a Igreja Evangélica é agitada por uma novidade. Pode ser a chegada de um novo movimento teológico, de uma doutrina inusitada ou mesmo de uma prática heterodoxa, daquelas que causam entusiasmo em uns e estranheza em outros. Quem frequentava igrejas nos anos 1980 há de se lembrar do suposto milagre dos dentes de ouro, por exemplo. Na época, milhares de crentes começaram a testemunhar que, durante as orações, obturações douradas apareciam sobrenaturalmente em suas bocas, numa espécie de odontologia divina. Muito se disse e se fez em nome dessa alegada ação sobrenatural de Deus, que atraiu muita gente aos cultos. Embora contestados por dentistas e nunca satisfatoriamente explicados – segundo especialistas, o amarelecimento natural de obturações ao longo do tempo poderia explicar o fenômeno, e houve quem dissesse que a bênção nada mais era que o efeito de sugestão –, os dentes de ouro marcaram época e ainda aparecem em bocas por aí, numa ou noutra congregação.

Outras manifestações nada convencionais sacudiram o segmento pentecostal de tempos em tempos. Uma delas era a denominada queda no Espírito, quando o fiel, durante a oração, sofria uma espécie de arrebatamento, caindo ao solo e permanecendo como que em transe. Disseminada a partir do trabalho de pregadores americanos como Benny Hinn e Kathryn Kuhlman, a queda no poder passou a ser largamente praticada como sinal de plenitude espiritual e chegou com força ao Brasil. A coqueluche também passou, mas ainda hoje diversos ministérios e pregadores fazem do chamado cair no poder elemento importante de sua liturgia. A moda logo foi substituída por outras, ainda mais bizarras, como a “unção do riso” e a “unção dos animais”. Disseminadas pela Comunhão Cristã do Aeroporto de Toronto, no Canadá, a partir de 1993, tais práticas beiravam a histeria coletiva – a certa altura do culto, diversas pessoas caíam ao chão, rindo descontroladamente ou emitindo sons de animais como leões e águias. Tudo era atribuído ao poder do Espírito Santo.

A chamada “bênção de Toronto” logo ganhou mundo, à semelhança das mais variadas novidades. Parece que, quanto mais espetacular a manifestação, mais ela tende a se popularizar, atropelando até mesmo o bom senso. Mas o que para muita gente é ato profético ou manifestação do poder do Senhor também é visto por teólogos moderados como simples modismos ou – mais sério ainda – desvios doutrinários. Pior é quando a nova teologia é usada com fins fraudulentos, para arrancar uma oferta a mais ou exercer poder eclesiástico autoritário. “A Bíblia diz claramente que haverá a disseminação de heresias nos últimos dias, e não um grande reavivamento, como alguns estão anunciando”, alerta Araripe Gurgel, pesquisador da Agência de Informações Religiosas (Agir). Pastor da Igreja Cristã da Trindade, ele é especialista em seitas e aberrações cristãs e observa que cada vez mais a Palavra de Deus tem sido contaminada e pervertida pelo apelo místico. “Esse tipo de abordagem introduz no cristianismo heresias disfarçadas em meias-verdades, levando a uma religião de aparência, sensorial, sem a real percepção de Deus”, destaca.

“Não dá para ficar quieto diante de tanta bizarrice”, protesta o pastor e escritor Renato Vargens, da Igreja Cristã da Aliança, em Niterói (RJ). Apologista, ele tem feito de seu blog uma trincheira na luta contra aberrações teológicas como as que vê florescer, sobretudo, no neopentecostalismo. “Acredito, que, mais do que nunca, a Igreja de Cristo precisa preservar a sã doutrina, defendendo os valores inegociáveis da fé cristã. A apologética cristã é um ministério indispensável à saúde do Corpo de Cristo”. Na internet, ele disponibiliza farto material, como vídeos que mostram um pouco de tudo. Um dos mais comentados foi um em que um dos líderes do Ministério de Madureira das Assembleias de Deus, Samuel Ferreira, aparece numa espécie de arrebatamento sobre uma pilha de dinheiro, arrecadado durante um culto. “Acabo de ver no YouTube o vídeo de um falso profeta chamado reverendo João Batista, que comercializa pó sagrado, perfume da prosperidade e até um tal martelão do poder”. acrescenta Vargens. Autor do recém-lançado livro Cristianismo ao gosto do freguês, em que denuncia a redução da fé evangélica a mero instrumento de manipulação, o pastor tem sido um crítico obstinado de líderes pentecostais que fazem em seus programas de TV verdadeiras barganhas em nome de Jesus. “O denominado apóstolo Valdomiro Santiago faz apologia de sua denominação, a Igreja Mundial do Poder de Deus, desqualificando todas as outras. E tem ensinado doutrinas absolutamente antibíblicas, onde o ‘tomá-lá-dá-cá’ é a regra”. Uma delas é o trízimo, em que desafia o fiel a ofertar à instituição 30% de seus rendimentos, e não os tradicionais dez por cento. A “doutrina das sementes”, defendida por pregadores americanos como Mike Murdock e Morris Cerullo nos programas do pastor Silas Malafaia, também rendeu diversos posts. Segundo eles, o crente deve ofertar valores específicos – no caso, donativos na faixa dos mil reais – em troca de uma unção financeira capaz de levá-lo à prosperidade. “Trata-se de um evangelho espúrio, para tirar dinheiro dos irmãos”, reclama Vargens. “Deus não é bolsa de valores, nem se submete às nossas barganhas ou àqueles que pensam que podem manipular o sagrado estabelecendo regras de sucesso pessoal.”


Crise teológica


Numa confissão religiosa tão multifacetada em suas expressões e diversa em termos de organização e liderança, é natural que o segmento evangélico sofra com a perda de identidade. O próprio conceito do que é ser crente no país – tema de capa da edição nº 15 de CRISTIANISMO HOJE – é extremamente difuso. E muitas denominações, envolvidas em práticas heterodoxas, vez por outra adotam ritos estranhos à tradição protestante. Joaquim de Andrade, pastor da Igreja Missionária Evangélica Maranata, do Rio, é um pesquisador de seitas e heresias que já enfrentou até conflitos com integrantes de outras crenças, como testemunhas de Jeová e umbandistas. Destes tempos, guarda o pensamento crítico com que enxerga também a situação atual da fé evangélica: “Vivemos uma verdadeira crise teológica, de identidade e integridade. Os crentes estão dando mais valor às manifestações espirituais do que à Palavra de Deus”.

Neste caldo, qualquer liderança mais carismática logo conquista seguidores, independentemente da fidelidade de sua mensagem à Bíblia. “Manifestações atraem pessoas. O próprio Nicodemos concluiu que os sinais que Cristo operou foram além do alcance do povo, mas não temos evidência de que ele tenha mesmo se convertido”, explica o pastor Russel Shedd, doutor em teologia e um dos mais acreditados líderes evangélicos em atuação no Brasil. Ele refere-se a um personagem bíblico que teve importante discussão com Jesus, que ao final admoestou-lhe da necessidade de o homem nascer de novo pela fé. “Líderes que procuram vencer a competição entre igrejas precisam alegar que têm poder”, observa, lembrando que a oferta do sobrenatural precisa atender à imensa demanda dos dias de hoje. “Mas poder não salva nem transmite amor”, conclui.

“A busca pela expansão evangélica traz consigo essa necessidade de aculturação e, na cultura religiosa brasileira, nada mais puro do que a mistura”, acrescenta o pastor Fabrício Cunha, da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo. “O candomblé já fez isso, usando os símbolos do catolicismo; o espiritismo, usando a temática cristã; e agora, vêm os evangélicos neopentecostais, usando toda uma simbologia afro e um misticismo pagão”, explica. Como um dos coordenadores do Fórum Jovem de Missão Integral e membro da Fraternidade Teológica Latinoamericana, ele observa que mesmo os protestantes são fruto de uma miscigenação generalizada, o que, no campo da religião, tem em sua gênese um alto nível de sincretismo.

Acontece que, em determinadas comunidades cristãs, alguns destes elementos precisam ser compreendidos como estratégias de comunicação e atração de novos fiéis. Aí, vale tanto a distribuição de objetos com apelo mágico, como rosas ungidas ou frascos de óleo, como a oferta de manifestações tidas como milagrosas, como o já citado dente de ouro ou as estrelinhas de fogo – se o leitor ainda não conhece, saiba que trata-se de pontos luminosos que, segundo muitos crentes, costumam aparecer brilhando em reuniões de busca de poder, sobretudo vigílias durante a noite ou cultos realizados nos montes, prática comum nas periferias de grandes cidades como o Rio de Janeiro. O objetivo das tais estrelinhas? Ninguém sabe, mas costuma-se dizer que é fogo puro, assim como tantas outras manifestações do gênero.

“Alguns desses elementos são resultado de um processo de sectarização religiosa”, opina o teólogo e mestre em ciências da religião Valtair Miranda. “Ou seja, quanto mais exótica for a manifestação, mais fácil será para esse líder carismático atrair seguidores para seu grupo”. Miranda explica que, como as igrejas evangélicas, sobretudo as avivadas, são, em linhas gerais, muito parecidas, o que os grupos sectários querem é se destacar. “Eles preconizam um determinado tópico teológico ou passagem bíblica, e crescem em torno disso. Objetos como lenços ungidos, medalhas, sal ou sabonete santificados são exemplos. Quanto mais diferente, maior a probabilidade de atrair algum curioso”. A estratégia tende a dar resultado quando gira em torno de uma figura religiosa carismática. “Sem carisma, estes elementos logo provocam sarcasmo e evasão”, ressalva. O estudioso lembra o que caracteriza fundamentalmente um grupo sectário – o isolamento. “Uma seita precisa marcar bem sua diferença para segurar seu adepto. Quanto mais ele levantar seus muros, mais forte será a identidade e a adesão do fiel.”


“Propósito de Deus”

Mas quem faz das manifestações do poder do Espírito Santo parte fundamental de seu ministério defende que apenas milagres não bastam. “É necessário um propósito e uma mudança de vida”, declara o bispo Salomão dos Santos, dirigente da Associação Evangélica Missionária Ministério Vida. Como ele mesmo diz, trata-se de uma igreja movida pelo poder da Palavra de Deus, “que crê que Jesus salva, cura, liberta e transforma vidas”. O próprio líder se diz um fruto desse poder. Salomão conta que já esteve gravemente doente, sofrendo de hepatite, câncer e outras complicações que a medicina não podia curar. “Cheguei a morrer, mas miraculosamente voltei à vida”, garante o bispo, dizendo que chegou a jazer oito horas no necrotério de um hospital. “Voltei pela vontade de Deus”, comemora, cheio de fé.

Consciente, Salomão diz que milagres e manifestações naturais realmente acontecem, mas “somente para a exaltação e a glória do Senhor, e não de homens ou denominações”. O bispo também observa que alguns têm feito do poder extraordinário de Jesus uma grande indústria de milagres: “O Senhor não dá sua glória para ninguém. Ele opera maravilhas através da instrumentalidade de nossas vidas”. E faz questão de reiterar a simplicidade com que Jesus viveu sua vida terrena e que, muitas vezes, realizou grandes milagres sem nenhum alarde. “O agir de Deus não é um espetáculo.”


Sangue fajuto

A novidade chama a atenção pelo seu aspecto bizarro. Num templo da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), fiéis caminham através de pórticos representando diversos aspectos da vida (“Saúde”, “Família”, “Finanças”). Até aí, nada demais – os chamados atos proféticos como este são comuns na denominação. O mais estranho acontece depois. Caracterizados como sacerdotes do Antigo Testamento, pastores da Universal recebem as pessoas e, sobre um pequeno altar estilizado, fazem um “sacrifício de sangue”. A nova prática vem ganhando espaço nos cultos da Iurd, igreja que já introduziu no neopentecostalismo uma série de elementos simbólicos. Tudo bem que o sangue não é real (trata-se de simples tinta), mas a imolação simulada vai contra tudo o que ensina o Novo Testamento, segundo o qual Jesus, o Cordeiro de Deus, entregou-se a si mesmo como supremo e definitivo sacrifício pela humanidade. Com sangue puro, e não cenográfico.

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Fonte: [ Cristianismo Hoje ]
Via: [ 
Púlpito Cristão ]

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