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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

DOS TAIS É O REINO DE DEUS



O texto, de autoria do historiador Alderi Matos, resgata o valor da criança na história da igreja cristã. A leitura nos mostra que sua importância é muito maior do que o consumismo pode nos convencer.

Boa leitura!


A Igreja e as crianças na história cristã

Não faz muito tempo que as crianças se tornaram objeto de estudos acadêmicos na área de história. Um pioneiro desse campo foi o medievalista e historiador francês Philippe Ariès (1914-1984). Em seu livro A Criança e a Vida Familiar sob o Antigo Regime (1960), mais tarde publicado com o título Séculos de Infância: uma história social da vida familiar, ele propôs uma tese controvertida — que a criança não existia na mente dos homens e mulheres da Idade Média e que o reconhecimento da infância como um estágio distinto da vida foi uma descoberta posterior ao Renascimento. Essa posição recebeu muitas críticas, que levaram o autor a rever alguns de seus conceitos em obras subsequentes. De todo modo, como aponta W. A. Strange em seu livro Children in the Early Church (“As crianças na igreja antiga”), Ariès alertou os estudiosos para a possibilidade de que as épocas passadas podem ter tido pressupostos a respeito da infância muito diferentes dos atuais.

Strange observa que na antiguidade havia atitudes ambivalentes em relação às crianças. Os pais certamente amavam seus filhos, mas a angustiosa necessidade financeira podia fazer com que os abandonassem para morrer. As pessoas queriam o melhor para os filhos, mas muitas vezes pensavam neles como animais a serem domesticados e os criavam com extrema severidade. As crianças eram valorizadas; todavia, numa sociedade em que se aceitava com naturalidade a escravidão, elas com frequência eram objeto de exploração e abuso. Os judeus costumavam ter um conceito mais elevado da vida infantil, dando especial ênfase à educação de seus meninos (ver Dt 6.6, 7, 20-25; Js 4.21-24; Sl 127.3-5; Pv 22.6).

No entanto, foi o cristianismo que ofereceu uma contribuição especialmente positiva nessa área. O autor norte-americano C. John Somerville observa: “Por dois mil anos até o presente, os apelos em benefício dos corpos, mentes e espíritos das crianças têm partido em grande parte de homens e mulheres da igreja”.

Um precedente essencialJesus colocou os pequeninos numa posição privilegiada ao afirmar que o reino de Deus “pertencia” a eles e que os adultos só entrariam nesse reino caso se tornassem como crianças (Mt 18.1-4; 19.13-15). Certamente esta foi uma afirmação revolucionária numa época em que as crianças ocupavam um lugar de inferioridade, como também acontecia com as mulheres e os escravos. O Mestre não exerceu um ministério específico junto aos menores, mas, seguindo os padrões culturais do seu tempo, considerou-os como incluídos nas famílias a que pertenciam. Ao ministrar aos adultos, estaria por extensão alcançando também os seus grupos familiares. Além disso, ele não somente demonstrou genuíno interesse pelas crianças, mas exortou os seus seguidores a dedicarem a elas especial atenção e cuidado (Mt 18.5; Mc 9.42). Curiosamente, percebe-se uma atitude diferente nas epístolas do Novo Testamento, pois seus autores encaram as crianças de modo mais convencional: elas eram indivíduos sob a autoridade dos pais, sendo vistas como exemplos de imaturidade e de potencial para crescimento.

As crianças eram parte integrante das primeiras igrejas domésticas não só por causa da sua presença inevitável, mas devido à importante convicção de que pertenciam a Deus e à igreja, sendo, por isso, consideradas “santas” (1Co 7.14). Como tais, elas não eram meras expectadoras passivas, mas deviam ser ensinadas e exortadas junto com os adultos (Ef 6.1-4; Cl 3.20ss). É digna de nota a inclusão das crianças nessas listas de deveres domésticos encontradas no Novo Testamento. Também é marcante o elemento de mutualidade que se observa nesses textos — não só os adultos tinham direitos e deveres quanto às crianças, mas estas também possuíam direitos e obrigações em relação aos seus pais. Desse modo, a família não devia ser uma instituição autoritária, como acontecia tantas vezes naquela época, mas um lugar em que todos os membros pudessem crescer juntos na sua vida comum em Cristo. Portanto, ao chamar a atenção para as crianças, falar delas, curá-las e recomendá-las como exemplos e objeto de cuidados, Jesus transmitiu aos seus seguidores a responsabilidade de dar a elas um lugar central em sua vida comunitária.

Cristãos no mundo pagãoQuando a Igreja ainda era minoritária na sociedade pagã, uma criança cristã ficava mais protegida que as demais do perigo do infanticídio, comum naqueles tempos antigos. A Didaquê, um manual eclesiástico do início do segundo século, determinava de modo enfático: “Não matarás uma criança no ventre, nem matarás um recém-nascido” (2.2). Diferentes autores cristãos também condenavam o abandono de menores e a educação permissiva dos adolescentes. Ao mesmo tempo, curiosamente, os primeiros cristãos não se preocuparam em criar escolas exclusivas para seus filhos, mas permitiram que frequentassem instituições pagãs. Eles não queriam formar guetos segregados da sociedade.

Um fenômeno revelador era a participação das crianças nos sacramentos. Os testemunhos mais antigos acerca do batismo infantil são dados por Tertuliano, Hipólito e especialmente Orígenes, no terceiro século, que descreveu essa prática como uma tradição da Igreja recebida dos apóstolos. Mesmo que essa alegação não possa ser comprovada, ela demonstra o alto apreço em que as crianças eram tidas pela Igreja. O batismo de infantes não tinha só o sentido de iniciação e inclusão na comunidade cristã, mas também acentuava a ideia de solidariedade familiar, como se percebe em alguns textos bíblicos (At 16.15, 33; 1Co 1.16). Outros testemunhos antigos nesse sentido são os de Cipriano de Cartago e Agostinho. No que se refere à Santa Ceia ou Eucaristia, a participação das crianças nesse sacramento era comum e não foi contestada nos quatro primeiros séculos da era cristã. Algumas autoridades que a mencionam são Cipriano, as Constituições Apostólicas, Agostinho e escritores da igreja grega ou oriental. Num período posterior, a crescente reverência pelos elementos da Ceia fez com que as crianças fossem afastadas da mesa de comunhão.

Tensões na experiência medievalNo Medievo existiram atitudes contrastantes em relação às crianças, como Daniele Alexandre-Bidon e Didier Lett destacam em seu livro Les Enfants au Moyen Âge (“As crianças na Idade Média”). Por um lado, houve forte ênfase no tema da inocência dos infantes, o que fazia deles seres sagrados e uma espécie de emissários de Deus. Por outro lado, eles podiam ser vistos como perturbadores da meditação ou da vida intelectual dos religiosos.

Atribuía-se o nascimento de crianças deformadas ou doentes a interferências demoníacas ou punição divina. Os nascimentos múltiplos (gêmeos) eram considerados sinais de pecados como adultério e fornicação. Quando os bebês morriam antes de serem batizados, isso causava grande angústia nos pais, pelo temor de que ficassem privados da salvação. A valorização da vida monástica podia levar à ruptura precoce dos laços familiares. Muitas crianças eram enviadas aos mosteiros com seis ou sete anos de idade (os oblatos), como ocorreu com o inglês denominado Venerável Beda, no final do sétimo século, e com a alemã Hildegarda de Bingen, no início do século 12. Em seu livro O Deus da Idade Média, o célebre historiador Jacques Le Goff emite uma opinião interessante. Ele considera que a grande beneficiária do destaque dado à Virgem no período medieval não foi a mulher, mas a criança. O tema da mãe de Deus (Theotokos) e da criança especial a ela associada, o menino Jesus, contribuiu para a promoção dos infantes de um modo geral. O lugar simbólico ocupado pela criança experimentou uma evolução.

Ao mesmo tempo, a Igreja continuou a combater a contracepção, o aborto e o abandono de menores. Os pais carentes que, premidos pela necessidade, quisessem se desfazer de um dos seus filhos, eram incentivados a deixá-lo num local público, como a porta das igrejas, para que pudesse ser recolhido. Na maior parte dos casos, a educação infantil ocorria no âmbito familiar. Além disso, havia as escolas monásticas, paroquiais e episcopais. O bispo francês Teodulfo de Orléans ordenou em 798: “Os sacerdotes mantenham escolas nas regiões agrícolas e nas grandes vilas rurais, e, se os fiéis quiserem confiar-lhes seus filhinhos para aprender as letras, não se recusem a recebê-los e ensiná-los, e os ensinem com muito amor. Não exijam pagamento”. A morte era uma ocasião que também revelava o afeto dedicado às crianças: elas eram sepultadas com tanto desvelo e cuidado quanto os adultos. Muitos epitáfios antigos revelam sentimentos de mais profunda afeição.

A centralidade da família puritanaA Reforma Protestante deu uma contribuição significativa à sociedade ao valorizar o casamento e a família como o contexto divinamente ordenado para a vida cristã. A família protestante era patriarcal, tendo o esposo e pai como o líder inconteste. O ambiente familiar caracterizava-se por afeto, reciprocidade, trabalho e frugalidade, sendo também uma escola de religiosidade e cidadania. Quanto ao lugar ocupado pelas crianças, os puritanos ingleses e norte-americanos foram incomparáveis. C. John Somerville, autor de The Discovery of Childhood in Puritan England (“A descoberta da infância na Inglaterra puritana”), observa que o puritanismo inglês foi uma das poucas épocas em que as crianças se tornaram centrais para a religião. Para esse grupo, a finalidade primordial da família era glorificar a Deus. Assim sendo, os puritanos viam a família essencialmente como uma pequena igreja, onde as devoções e a prática dos preceitos cristãos eram essenciais. Um deles escreveu: “Se queremos que a Igreja de Deus permaneça entre nós, devemos levá-la para os nossos lares e nutri-la em nossas famílias”. Outros propósitos da família eram o benefício da sociedade e a realização pessoal da cada integrante da unidade familiar.

Sob a liderança firme e amorosa do pai e a participação atenta da mãe, os filhos eram objeto de grande interesse. Em sua fé calvinista profundamente bíblica, os puritanos tinham a convicção básica de que seus filhos pertenciam a Deus, que os havia confiado aos seus cuidados. Algumas das advertências puritanas mais solenes voltam-se contra a negligência dos pais em educar apropriadamente sua progênie. Os deveres dos pais incluíam prover as necessidades materiais das crianças, ensiná-las a trabalhar e, acima de tudo, dar-lhes treinamento moral e espiritual. A disciplina era levada a sério, visando restringir as tendências negativas e promover a vida cristã. Na concepção puritana, como nota Leland Ryken em seu livro Santos no Mundo, os filhos eram criaturas decaídas cuja inclinação pecaminosa devia ser redirecionada para Deus e para a bondade moral. Em três aspectos os puritanos anteciparam modernas teorias de desenvolvimento: a importância do treinamento precoce, o ensino mais pelo exemplo que pelas palavras e o equilíbrio entre a severidade e o apoio positivo. O legado dos puritanos se faz sentir até hoje em seus países de origem.

Na longa e multifacetada história do cristianismo, as crianças têm ocupado um lugar de maior ou menor destaque em diferentes grupos, épocas e locais. Obviamente, muitas vezes houve atitudes e comportamentos pouco apreciáveis em relação a elas, notadamente quando pobres e marginalizadas. Todavia, de maneira geral, a contribuição das igrejas no tocante à infância foi mais positiva do que negativa, em comparação com o que ocorria na sociedade ao redor. Certamente o fator preponderante que contribuiu para isso foi, e continua a ser, o exemplo do próprio Cristo, em seus ensinos e em suas ações concretas. O que se requer dos cristãos e das igrejas atuais é que tratem as crianças de dentro e de fora da comunidade de fé de maneira coerente com os valores do evangelho.Original: www.ultimato.com.br/conteudo/dos-tais-e-o-reino-dos-ceus.
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Alderi Matos, doutor em história da Igreja pela Escola de Teologia da Universidade de Boston, é professor do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper e da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. É ministro ordenado da Igreja Presbiteriana do Brasil e o historiador oficial dessa denominação.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

CARTA AOS DESANIMADOS


Durante a caminhada da vida há momentos em que as cores passam a alternar apenas entre tons opacos e sombrios. O que antes despertava paixão, agora parece um fardo. O que encantava o coração torna-se um peso. A alegria é substituída pela apatia, o ardor pela dúvida, a disposição pela desesperança.

Há diversas causas para o desânimo profundo, tanto as biológicas quanto as emocionais e espirituais. Há aqueles que perdem o sabor pela vida a partir das tragédias que se abatem sobre seus dias. A perda de um parente, o desemprego que chega, o casamento que se desfez ou o filho que parece não voltar. Outros perdem a alegria devido a gatilhos mais biológicos, de enfermidades físicas prolongadas ou crises de ansiedade, estresse, depressão e síndromes que teimam em permanecer. Há também os que se encontram desanimados pelo próprio distanciamento do Pai. A vida devocional e os assuntos do Alto já não fazem parte de sua rotina. Não há tempo para orar, ler a Palavra ou cultuar a Deus. O resultado, cedo ou tarde, é o sofrimento e o desânimo da alma.

Um dos cenários bíblicos mais angustiantes que aparenta total exaustão e profundo desânimo se passa com Davi. O desfecho foi surpreendente e o que aconteceu com ele pode acontecer conosco.

Davi é um exemplo de inscontância humana como talvez nenhum outro personagem na Palavra. Foi guerreiro implacável e na força de Deus derrotou o gigante Filisteu. Por outro lado adulterou com Bate-Seba e traiu Urias, um de seus leais soldados. Reconstruiu Jerusalém que passou a ser chamada cidade de Davi, porém magoou seus filhos e foi um desastre como pai. Era temente ao Senhor e foi chamado homem segundo o coração de Deus, entretanto, em sua família houve incesto, assassinato, mentiras e traição. Talvez a inconstância tenha sido uma das principais marcas da trajetória deste servo de Deus.

Entre montanhas e vales ele chegou a um dia, dentre tantos, que o tomou por completo e exaustivo desânimo. No retorno de uma cansativa batalha, ele encontrou Ziclague, a cidade que habitava, saqueada e destruída. Todas as mulheres e crianças haviam sido levadas cativas. A cidade era um monturo de cinzas. Seus homens e amigos leais, agora amargurados, falavam em apedrejá-lo. E ali se encontra Davi, caído, sem consolo e esperança vendo suas forças faltarem. Não apenas forças físicas, mas as forças da alma. Talvez tenha sido um dos raros momentos em sua história que ele se enxerga sem ação.

Mas algo inesperado acontece com aquele homem caído. Diz a Palavra que “Davi se reanimou no Senhor seu Deus”. Esta frase, encontrada no primeiro livro de Samuel, capítulo 30, verso 6, revela-nos uma das mais poderosas ações de Deus na vida de seus filhos: levantar-nos quando tudo parece perdido; abrir o caminho quando não sabemos para onde ir; dar-nos perseverança quando a vontade é parar.

O que mais me intriga é que este “reânimo” veio absolutamente do Senhor, pois não havia ali elementos de esperança. Seu coração fraquejou, seus amigos lhe faltaram, as forças físicas estavam consumidas. Porém, ali, ele “se reanimou no Senhor seu Deus”.

E, reanimado, se levantou. Davi perseguiu os amalequitas com alguns de seus homens, tomou de volta as mulheres e crianças e ainda o despojo que partilhou entre todos. Reconstruiu a cidade e habitou nela. Recuperou o respeito de seus homens com o brilho de quem um dia iria reinar sobre todo Israel.

O reânimo é uma experiência íntima e profunda, que se passa de forma diferente na caminhada de cada um. Se os cenários de nossas vidas são distintos, bem como aquilo que nos abate, a fonte do nosso reânimo é a mesma: o Senhor nosso Deus.

Percebo que os conflitos relacionais e a crítica interpessoal são dois frequentes causadores de profundo abatimento de espírito. Perante estes, muitos gigantes da fé já foram nocauteados e perderam o fôlego. Se é este o seu caso talvez você se sinta, de alguma forma, como Davi naquele dia. Após voltar de uma batalha em que lutou lado a lado com seus homens, e juntos prevaleceram, agora estes falam em apredrejar-lhe. A crítica possui a capacidade de gerar ansiedade crônica na alma humana. Se não for tratada, ela passa a ser o seu último pensamento ao dormir e o primeiro ao acordar. Ela faz o seu coração disparar perante a simples lembrança do comentário que foi lançado contra você. Talvez um dos instrumentos de maior abatimento nas relações humanas seja, justamente, a crítica. Perante ela há uma escolha – infeliz – de alimentar o rancor no coração e jamais se esquecer. Isto o levará a uma trilha na qual você perderá a brandura e o amor. Você não será mais o mesmo. A outra escolha – feliz – é de entregar ao Senhor aquilo que você não pode resolver, responder ou apagar... e descansar. A reação do Alto será a mesma que visitou Moisés no deserto, Elias na caverna e Davi em Ziclague: Deus o reanimará.

É preciso lembrar que o Senhor nos criou com corações ensináveis. Assim, devemos sempre nos lembrar daquilo que nos traz esperança. A esperança cura a alma e prepara o espírito para o que Deus fará. Podemos a cada dia orar pedindo que nossa vida não se torne um poço de ressentimentos, que não fiquemos para sempre caídos, que o desânimo – seja físico, emocional ou espiritual – não nos derrote. Podemos rogar que aquilo que - de forma fantástica - aconteceu com Davi em Ziclague, aconteça também conosco: sermos reanimados pelo Senhor nosso Deus!
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Ronaldo Lidório, doutor em antropologia, é missionário da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais e da Missão AMEM. É organizador de A Questão Indígena -- Uma Luta Desigual

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O EVANGELHO NÃO SEGUNDO A CRUZ, MAS SEGUNDO A SOUZA CRUZ

Souza Cruz
O final de Agosto foi marcado com a semana do combate ao fumo, movimento que vem conquistando espaço na mídia há alguns anos, procurando conscientizar a população dos malefícios do cigarro, pois só existem malefícios no cigarro. É graças a ações como estas que toda uma geração de adolescentes e jovens hoje em dia sabe que fumar não é uma boa idéia, sendo talvez a primeira geração a crescer sem as propagandas empolgantes do cigarro, que infestavam os comerciais de TV e revistas com cenas espetaculares associadas ao fumo. Por causa da propaganda, associou-se virilidade e masculinidade com o cigarro (o cowboy da Marlboro que o diga), charme e elegância feminina ao fumo (quem não se lembra da marca Charm, o cigarro das mulheres)? E que você ia ao sucesso, com Hollywood? Tudo mentira! Você não tinha charme ao fumar, mulher, mas sim um risco bem maior de um enfisema; você não seria mais ‘macho’ com Marlboro, mas sim um homem sem forças e sem fôlego na realidade do dia-a-dia e no final da vida, e se não trabalhasse e se dedicasse na sua profissão, jamais alcançaria o sucesso, nem aqui e nem no vilarejo de Pau Santo, em Pernambuco, que seria uma tradução mais regional e honesta para o batente do trabalhador, do que “hollywood”, porque em Pau Santo, ninguém é artista de cinema e nem lá se fabricam sonhos e ilusões, mas se trabalha duro, tantas vezes com o sol a pino.
“Uma mentira dita 100 vezes torna-se verdade”
Atribuem a Joseph Goebbels, o chefe da propaganda nazista, a frase acima. Ninguém sabe quem cunhou a máxima “a propaganda é a alma do negócio”, mas todos já nos pegamos afirmando isto pelo menos uma vez na vida. Propaganda pode fazer uma mentira soar como verdade e tem quem se acalme com isso, como muitos afirmavam que “cigarro acalmava”, então, ‘só podia fazer bem’. Tudo mentira. O evangelho da propaganda da TV também ilude; causa mais mal do que bem; intoxica e envenena a alma, muito mais do que se imagina. Se no maço de cigarros agora é obrigatório estampar frases como “o ministério da saúde informa: fumar pode causar câncer de garganta”, etc., etc”, em muitos programas “gospels” ou ditos “evangélicos” na TV, deveria vir a mesma informação: “atenção, este programa causa mal à alma e só está interessado em seu dinheiro!
Muita mentira tem sido propagada na TV, desde o nascer ou renascer do sol, até que as sombras da noite se aproximem, tornando esta propaganda de um evangelho de fumaça, um fenômeno universal, quando homens de muito poder mundial, ousam afirmar na maior ‘cara de pau’ aberrações em nome de Deus.
Hoje veio o técnico da instalação de TV de circuito fechado em nossa casa. E foi fazer o teste para ver se estava tudo funcionando. A propaganda prometia mais de 100 canais e não estava mentindo. Só se ‘esqueceu’ de dizer que mais de um terço desses 100 canais disponíveis seria de programações religiosas (de diversos segmentos); carga intensa de um evangelho da fumaça, mais firmados na propaganda e na promoção de algo que não existe e que prejudica, incentivando sempre o  consumo e “o que você ganha com isso”, do que centrados na pregação do autêntico evangelho da Cruz, segundo as Escrituras Sagradas. Assim, o evangelho da Souza Cruz é o que está sendo propagado. E este evangelho da fumaça faz muito mal, não só aqui, mas também para a eternidade, Não creia nele.
Por que chamo de ‘o evangelho da Souza Cruz’? Porque esta é a maior indústria e representação de fumo e tabagismo em solo nacional, desde 1903 no Brasil, iniciada por um português de nome Albino Souza Cruz, que começou sua fábrica de enrolar fumo no Rio de Janeiro. À semelhança de indústrias poderosas norte-americanas, claro que a propaganda seria a alma desse negócio, pois para vencer a tosse, o cheiro forte e o incômodo da fumaça, os dentes amarelados (isto só para falarmos de fatores externos e estéticos) algo muito mais forte deveria superar todas estas e outras inconveniências. Assim, a reboque da poderosa indústria do fumo norte-americano, por aqui também foram passadas mensagens de sucesso, destaque, poder, conquistas, glamour… associadas ao fumo. Por lá pelos Estados Unidos a propaganda constante dizia frases como:
– “Cigarro emagrece!” – é só olhar para você, cinco anos atrás;
– “Tal marca garante: você nunca terá stress, fumando YYYY”…
– “Pesquisas científicas e profissionais da saúde recomendam o cigarro”…
– “Impressione as mulheres fumando XXXXX. É selvagem, é novo, É delicioso. Aroma tal”…
E milhões de pessoas embarcaram nesta e passaram a fumar até o vício as dominar. Milhões também são os que morrem todos os anos em desespero ao redor do mundo por causa do tabagismo. Entre a propaganda do fumo e a pessoa estava a mentira. A indústria levou vantagem – o seu dinheiro – e a pessoa levou prejuízo: pagou com a saúde e morreu mais cedo. A indústria do evangelho da fumaça faz o mesmo: homens enriquecem vendendo um produto que não faz bem e que muito ilude. Causa emoções fortes, tal qual o cigarro prometia, pois na indústria do evangelho da fumaça também tem produção, trilha sonora e imagens impressionantes, e os incautos engolem estas coisas, assim como os primeiros adolescentes davam suas tragadas e tossiam entre baforadas, mas não largavam e partiam imediatamente para acender outro cigarro.
O ‘evangelho da Souza cruz’ não fala nada da Cruz; de arrependimento; mudança de vida; santidade e caráter marcados pela vida de Cristo dentro da pessoa; compromisso e dependência de Deus, leitura, estudo e obediência à Lei do Senhor, que é perfeita (ver, Salmo 19.7-10) e dependência total do Deus da Providência, uma dependência que só faz bem; bem diferente da dependência que muitos têm e mantêm nos ‘poderosos pregadores da TV (estes são vistos quase como deuses ou um semi-deuses, adorados e cultuados, no final das contas e de verdade). É o evangelho do copo d’água, muito mais do que do Sangue de Cristo, é o evangelho da prosperidade, muito mais do que do quebrantamento. É fumaça. É câncer para a alma. Só ilude e no final, destrói. Não muda vidas. Engana-se mentes.
Gosto muito da canção composta por meu amigo Paulo Cezar (Com z, mesmo) do querido Grupo Logos, quando canta e adverte sobre o evangelho, título, aliás, desta canção, quando diz:
“Eu sinto verdadeiro espanto no meu coração
Em constatar que o evangelho já mudou.
Quem ontem era servo agora acha-se Senhor
E diz a Deus como Ele tem que ser …
Mas o verdadeiro evangelho exalta a Deus
Ele é tão claro como a água que eu bebi
E não se negocia sua essência e poder
Se camuflado a excelência perderá!
O evangelho é que desvenda os nossos olhos
E desamarra todo nó que já se fez
Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis.
O evangelho mostra o homem morto em seu pecar
Sem condições de levantar-se por si só …
A menos que, Jesus que é justo, o arranque de onde está
E o justifique, e o apresente ao Pai.
Mostra ainda a justiça de um Deus
Que é bem maior que qualquer força ou ficção
Que não seria injusto se me deixasse perecer
Mas soberano em graça me escolheu
É por isso que não posso me esquecer
Sendo seu servo, não Lhe digo o que fazer
Determinando ou marcando hora para acontecer
O que Sua vontade mostrará.
O evangelho é que desvenda os nossos olhos
E desamarra todo nó que já se fez
Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis.
Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis”.
Hoje encerrei a leitura do precioso livro “O que é o evangelho?”, de Greg Gilbert e parei extasiado e também incomodado com o que li. Um santo incômodo, diria, pois me fez muito bem. Lembrou-me este pequeno grande livro o que o evangelho é, sempre foi e sempre será. Recomendo a sua leitura. Fui mais uma vez chamado à responsabilidade para nunca me afastar da Cruz de Cristo e de um Deus Criador, Justo e Santificador, depois que li tais páginas. E é por este evangelho que eu quero viver e oro para que o Senhor persevere comigo neste verdadeiro propósito. Este evangelho bíblico e cristalino leva de volta a Deus e nos leva para o Céu. Outro evangelho pregado por aí não leva a nada, a não ser ao engano aqui e à perdição eterna. Não vá por outros. Vá pela senda do Calvário! Este é o evangelho. O resto é propaganda enganosa. Preenche tanto quanto fumaça.
“…Quisera eu me suportásseis um pouco mais na minha loucura. Suportai-me, pois.  Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo. Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo…
…Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais”. (Paulo, aos Coríntios, 2ª Carta, 11.1-4).

 “…Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão.
Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. (Paulo, aos Coríntios, 1ª Carta, 15.1-4). Postado por  Blog Fiel

COISAS QUE UM PASTOR NÃO FOI CHAMADO PARA FAZER

Esboço da palestra do Pr. Franklin Ferreira na 27ª Conferência Fiel para Pastores e Líderes por Renato Vargens
A missão do pastor é glorificar a Cristo através da pregação do Evangelho de Deus. Os pastores foram chamados e vocacionados pelo Eterno para anunciar a única coisa capaz de transformar o coração dos homens que é a Boa Nova da Salvação Eterna. Todavia, os dias são dificeis e lamentavelmente muitos daqueles que deveriam ocupar o seu tempo pregando Cristo,  envolveram-se em missões alternativas jogando na lata do lixo aquilo que nos é mais precioso.
Diante disto, de forma prática e objetiva gostaria de enumerar 04 coisas que o pastor não foi chamado para fazer:
1- O pastor não foi chamado por Deus para promover uma agenda politica.
Caro leitor,  não acredito em messianismos utópicos, nem tampouco em pastores especiais, que trocaram o santo privilégio de ser pregador do evangelho eterno por um cargo público qualquer. Por favor, preste atenção: Não estou com isso afirmando de que o crente em Jesus não pode jamais concorrer a um cargo público. Tenho convicção de que existem pessoas vocacionadas ao serviço público, as quais devem se dedicar com todo esmero a esta missão. No entanto, acredito que o fator preponderante a candidatura a um cargo qualquer, deve ser motivada pelo desejo de servir o povo e a nação, jamais fazendo do nome de Deus catapulta para sua projeção pessoal. Agora, se mesmo assim o pastor desejar candidatar-se, (o que acho uma grande loucura)  que deixe o pastorado, que não misture o santo ministério com o serviço público, que não barganhe a fé, nem tampouco confunda as ovelhas de Cristo com o gado marcado para o abate. Que não comercialize aqueles que o Senhor os confiou, nem tampouco se locuplete do nome de Deus a fim de atingir seus planos e objetivos.
2- O pastor não foi chamado pra criar um movimento religioso cujo objetivo é eleger o presidente da república.
Lamentavelmente não são poucos os movimentos eclesiásticos que  surgem a cada dia neste país com objetivo principal de eleger um presidente da república "cristão".  A missão do pastor não é organizar eventos em prol de um candidato a presidência da nação, e sim proclamar intrépidamente o Evangelho de Cristo, mesmo porque, o que muda e transforma o homem e seu país não é a pactuação politica partidária com candidato a ou b, o que muda uma nação é a compreensão do maior tesouro de todos os tempos, a maravilhosa mensagem da cruz.
3-  O Pastor não foi chamado a envolver-se exclusivamente com movimentos sociais que combatem a fome, a violência e outras coisas mais.
Prezado amigo, por mais que seja lícito e louvável envolver-se com os problemas da cidade o pastor não foi chamado para envolver-se exclusivamente com ONGS, OSCS e instituições afins. O pastor não foi chamado por Deus para fazer protestos politicos e públicos em prol da paz ou da sociedade civil. O ministro do Evangelho foi  vocacionado por Cristo, para pregar Cristo, anunciar Cristo e a Salvação em Cristo.
4- O pastor não foi chamado para dedicar seu tempo pregando o Evangelho da libertação e exclusão social.
Infelizmente não são poucos os pastores que gastam seu tempo pregando um evangelho cuja única premissa é saciar a fome do pobre. Ora, o Evangelho é mais do que isso, é anunciar Cristo, é pregar Cristo, é chamar o pecador ao arrependimento dos seus pecados. O problema é que em nome de uma claudicante espiritualidade, oferta-se ao pobre o pão que sacia a fome do corpo negando-lhe entretanto, o pão que desceu do céu.  A pregação do Evangelho não nega o pão ao faminto, mas também não abre mão de pregar Cristo como único e suficiente Salvador.
Isto posto, faço minhas as palavras de Paulo que pouco antes de morrer disse ao seu jovem discipulo Timóteo: "Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério." 2 Timóteo 4:1-5
Pense nisso!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A TEOLOGIA DE AVATAR

Christian Gillis

O sucesso de “Avatar” foi bilionário. Os efeitos visuais do filme de J. Cameron são mesmo incríveis -- assisti em 3D. A mensagem central é alinhada ao que tem sido considerado politicamente correto pelo paradigma socialoide, tanto antropológica como ecologicamente. Milhares de povos têm sido de fato destruídos ao longo da história por causa da ganância império-colonialista, que passa como um rolo compressor por cima de terras, casas, referências culturais, corpos e o que mais for preciso em nome do lucro. Tangencialmente somos informados que a Terra já teria seu habitat destruído -- e agora vemos os homens (machos brancos) exportando para os limites da galáxia a cultura de exploração destrutiva, garantida por tropas militares (mercenários sem bandeira, mas que se comunicam no idioma do mercado...), enquanto os frágeis (mulher e deficiente físico) salvam o mundo imaginado no espaço. Uma projeção na telona das angústias e anseios da humanidade. 

Então, a mensagem de preservação de povos, culturas e o meio ambiente é bacana e necessária. Porém chamo a atenção para a teologia (o discurso sobre o deus, o divino, a deidade) que é sedimentada na mente dos expectadores "almiabertos" (boquiabertos). Não é questão de demonizar a produção e não assistir ao filme, mas de saber os corantes e conservantes que o compõem e aos quais somos expostos (e que não são informados na embalagem) e que, em alguns casos, colateralmente, poderão redundar nalgum câncer espiritual.

Cito a Wikipédia, por ser uma referência popular: "Avatar é uma manifestação corporal de um ser imortal, segundo a religião hindu, por vezes até do Ser Supremo. Deriva do sânscrito ‘Avatāra’, que significa ‘descida’, normalmente denotando uma (religião), encarnações de Vishnu (tais como Krishna), que muitos hinduístas reverenciam como divindade... Qualquer espírito que ocupe um corpo de carne, representando assim uma manifestação divina na Terra...” Quando essa forma impersonalizada de Deus transcende daquela dimensão elevada para o plano material do mundo, ele -- ou ela -- é conhecido então como a encarnação ou Avatara... Em uma concepção mais abrangente, a encarnação poderia ser descrita como o corpo de carne. Mas essa concepção seria talvez errada, conquanto tais formas divinas não se tornam reais seres de carne e osso, ou assumem corpos materiais. Uma alma comum assume corpos materiais de carne e osso, mas no caso dessa manifestação divina, seu corpo e sua alma transcendem a matéria e, embora apareçam como impersonalizações, aquele corpo também pertence a sua essência espiritual... Essa palavra “Avatar” se tornou popular entre os meios de comunicação e informática devido às figuras que são criadas à imagem e semelhança do usuário, permitindo sua "impersonalização" no interior das máquinas e telas de computador... Tal criação assemelha-se a um avatar por ser uma transcendência da imagem da pessoa, que ganha um corpo virtual, desde os anos 80, quando o nome foi usado pela primeira vez em um jogo de computador... Mas a primeira concepção de avatar vem primariamente dos textos hindus, que citam Krishna como o oitavo avatar -- ou encarnação -- de Vishnu, a quem muitos hindus adoravam como um Deus”. 

Não há como ignorar o componente teológico envolvido no filme. Primeiro, pelo nome do filme em si (a orientalização do Ocidente é uma tendência que vem crescendo desde meados do século 20), assim como por um linguajar que faz referência e remete ao hinduísmo. Segundo, pela ideia de espírito / mente de um ser "transmigrar" para outro corpo (em “Avatar”, paralelamente, num mesmo tempo e espaço; no hinduísmo, sucessivamente, noutro tempo e forma de vida). Terceiro, e principalmente, pela noção panteísta de divindade, ou seja, um poder divino embutido na natureza, visualizado e adorado em forma de árvore especial, com a qual é possível estabelecer contato e comunicação (é pessoal), que elege seres para tarefas salvíficas, que mantém aquele mundo em equilíbrio, que move os elementos (animais, por exemplo) que compõem aquele cosmos, que toma a vida (decide quem continua a viver), que realiza o milagre de transferir efetivamente uma alma de um corpo para outro. Quarto, pela semelhança sonora entre o nome da divindade (Eiwa) com Jeová. Seria a tentativa de alguma redefinição do Deus revelado por Jesus, segundo a Escritura? (A tendência atual não é ateísmo, mas uma forma religiosa natural, mais palatável que o Deus bíblico.) Ainda há outros aspectos, mas esses bastam para mostrar o ponto: “Avatar” está cheio de elementos teológicos, no caso, panteístas. 

O contraste com o Deus da Bíblia é enorme, pois ele é o Deus Eterno, Criador, o Deus Soberano no universo (não limitado a uma lua do cosmos), o Deus que é espírito puro, o Deus Pai de Jesus Cristo (chamado por alguns hindus modernos de um avatar...), o Deus que ama e salva a sua criação entrando na história e assumindo a cruz para resgatá-la. 

Sem paranoia, mas vigiando (levando em conta que J. Cameron patrocinou um documentário que questiona a ressurreição de Jesus), o que a cultura contemporânea vem sedimentando em nossa alma? Quais serão os efeitos espirituais reais que tal cosmovisão terá sobre a mente de milhões de consumidores desse tipo de cultura? 

Pessoalmente, não gostaria de viver em sociedades como as que a teologia hindu pariu (idealizada pela novela “Caminho das Índias”). É claro, portanto, que há uma relação direta entre a teologia e o modo de vida, entre uma teologia idólatra e um modo de vida igualmente reduzido, entre uma concepção panteísta da divindade e uma espiritualidade esvaziada da cruz. 

Não vivemos sem cultura. Alimentamo-nos constantemente dela. Esse artigo tem por objetivo despertar a atenção para as expressões culturais que ingerimos. A ideia é provocar reflexão e reação. Gostaria muito de saber quais foram as suas impressões sobre o filme, de ouvir sua ressonância, ainda mais que o diretor já anunciou a continuação de “Avatar” em mais um ou dois filmes. Fonte:Ultimato


• Christian Gillis é casado com Juliana e pai de 3 garotos. Pastor da Igreja Batista da Redenção por 20 anos, é envolvido com ministérios relacionados a missões, reflexão e juventude.

IDENTIDADE, UNIDADE E MISSÃO

           A identidade evangélica tem suas raízes na Reforma do século 16, quando foram levantadas as questões sobre o caminho da salvação. Durante os mil anos anteriores a doutrina da justificação pela fé ficara escondida. A Igreja Católica Romana se arrogava o direito de determinar quem seria aceito por Deus ou condenado eternamente. A Bíblia foi silenciada para a maioria dos fieis. Somente com a tradução do texto sagrado para o vernáculo é que foi possível para o homem comum confirmar sua esperança de receber a vida eterna. O resultado desse debate foi a criação das igrejas que, separadas da Romana, se identificaram como evangélicas.
Essa identidade estabelece claramente as seguintes marcas: 1) A Bíblia é a fonte última de autoridade divina. 2) A salvação é recebida unicamente pela fé no Senhor Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou para encabeçar sua igreja invisível, isto é, somente Deus conhece quem são os que lhe pertencem. 3) Igrejas locais são identificáveis pelo seu compromisso com a pregação, o ensino da Palavra de Deus e a participação nas ordenanças que Jesus estabeleceu: o batismo e a Santa Ceia.
Se a unidade espiritual tem caracterizado os evangélicos, há, no entanto, pouco compromisso com a unidade visível. Mas quem lê o Novo Testamento não pode negar que a unidade é um dos temas mais destacados, pois o Corpo de Cristo é um só. “Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos que é sobre todos” (Ef 4.3-6). Desta maneira Paulo escreve para conclamar os seguidores de Cristo a reconhecerem a unidade que eles têm. Não há no Novo Testamento a sugestão de um centro de controle humano, um governo autoritário, mas sim o chamado a uma verdadeira unidade de amor entre irmãos e irmãs que pertençam à família de Deus. Os agrupamentos nas diversas denominações não devem negar essa unidade básica. Como pode haver rivalidade numa família madura que confessa que Jesus Cristo é seu Senhor? Há diversidade evangélica nas interpretações de alguns trechos bíblicos; há práticas denominacionais distintas; mas as doutrinas centrais da fé devem ser sempre mantidas e defendidas no pertencimento à identidade evangélica.
missão das igrejas evangélicas é glorificar a Deus por meio de adoração bíblica, evangelizar os que não professam uma fé genuína no Senhor Jesus e discipular as nações ensinando-as a obedecer a todas as coisas que Jesus ordenou (Mt 28.19, 20). E organizar comunidades locais onde essa missão seja claramente estabelecida.
Cristo ordena aos seus seguidores que, como “a luz do mundo”, não escondam essa luz debaixo duma vasilha. “Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês” (Mt 5.14-16). É pelas boas obras que o povo de Deus mostra o amor dele pelos seus filhos e por aqueles que são marcados pela sua imagem.

Fonte:Ultimato
Nota:Artigo publicado originalmente pela Aliança Evangélica com o título Carta Mensal de Outubro. “Identidade, Unidade e Missão” será o tema do 1º Fórum da Aliança Evangélica que acontece de 24 a 26 de novembro, em Brasília (DF).


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Russel Shedd é Ph.D. em Novo Testamento pela Universidade de Edimburgo, Escócia. Em 2012 ele irá completar 50 anos de ministério no Brasil.

sábado, 1 de outubro de 2011

O DEUS OBJETO

A tida sociedade permeada pelas marcas do pós - modernismo alberga a pluralidade, a informação em tempo real, a volatilidade como uma de suas mais expressivas características. 


Bastas atentarmos, por um reles segundo, e constataremos o quanto o cotidiano desperta um estado de ser necessário mais horas. Não por menos, tresloucados acordamos e nem sequer conseguimos repousar. Nada de silêncio (este, um personagem indigesto). Muito menos deve ser dado espaço para o ócio, a elucubração, o melódico, a prosa descompromissada, o lúdico... 

Sem titubear, aspiramos participar das engrenagens de um consumismo endêmico, custe o que custar. Independentemente da cacofonia metropolitana, das pessoas adelgaçadas nos trens e ônibus, das mazelas estampadas aqui e acolá (um garoto de dez anos se suicida e põe a vida de semelhantes em risco, numa escola de São Caetano do Sul; judeus e palestinos prosseguem a desfiar as rusgas de um problema não tratado por Abraão, apenas para citar). 

De tudo isso, os cristãos enfrentam, no soar deste século, o dilema a efeito de decidir e responder por uma relação com Deus na liberdade firmada por Cristo, ou trilhar por mecanismos e sistemas religiosos (sem nos levar a uma profundidade do ser, da existência, da espiritualidade). 

Vale dizer, uma liberdade plena, desenvergonhada, franqueada e aberta a nos lançar em direção a obediência reconciliadora e tal assertiva faz com que venhamos compreender a relevância de dependermos da Graça e não de incorremos na panacéia de um evangelho meritório, idealístico e altruísta para lograrmos alguma coisa. Na contramão de uma tragédia cosmológica, o Messias decidiu por resgatar a existência humana, mediante a postura da obediência. 

Sem titubear, a trajetória de Jesus sempre esteve alderedor dos meandros da vida - ''como ela é'' (da mulher samaritana; do coletor de impostos; do centurião romano; da mulher hemorrágica; dos leprosos e tantas outras personalidade e não caricaturas). 

Em outras palavras, através de Jesus, o eterno, o transcendente, a mística das boas novas, a esperança ativa e consoladora andou pelas ambigüidades, pelas tensões, pelas vicissitudes e pelas penúrias de uma Jerusalém malogradas nas suas tradições, espoliada por Roma e eqüidistante de si mesma. Mesmo assim, a Torá, Javé e os ritualismos permaneciam para consagrar as manifestações do Deus objeto, cujas pessoas não eram levadas a uma genuína restauração de personalidade. Entrementes, as almas carregavam os seus recônditos de possuírem uma fé, um Deus, uma tradição e sei lá mais o que. 

Lastimavelmente, o Deus objeto está reduzido a uma escancarada postura de utilidade. Afinal de contas, o Deus objeto pode ser encontrado nos pacotes de ofertas em prol de uma salvação de lambuja e de incomensuráveis satisfações. Nesse itinerário, as boas novas se adaptam ao balaio de gato de uma espiritualidade sem a autêntica remissão dos pecados. Semelhantemente a Jonas, prosseguem no ventre ou no estado de uma abissal solidão espiritual e existencial. 

Por conseqüência, o Deus objeto acaba inserido na amalgama de uma realidade desafeita ao próximo, ao destino e ao porvir. De certo, predomina a diretriz de um evangelho de anônimos e desencarnados do amor ao próximo. Tetricamente, o Deus objeto espelha uma geração de pessoas seguidoras e cultuadoras de uma vida descartável e regidas pelas tendências do mercado. 

Eis a tônica de um evangelho secularizado, no aspecto mais pejorativo, e desvencilhado da palavra profética, da ressurreição, da remissão de toda uma vida chafurdada pela culpa e pela condenação. Por ora, torna – se fundamental pararmos e quem sabe decidirmos pelo ser livre constituído por Cristo.Robson Santos SarmentoSão Paul - SP 

CINCO PECADOS QUE AMEAÇAM OS CALVINISTAS



Por Solano Portela
 Parte 5 - O Pecado do Isolamento

Viver no Passado ou Estudá-lo?
O isolamento é um pecado que está sempre a nos rondar. O calvinista verdadeiro não é aquele que vive no passado mas o que procura aplicar as doutrinas bíblicas reveladas à sua situação, ao seu contexto. O seu apreço pela história e pelos reformadores não procede de um interesse meramente “arqueológico”.
A Abordagem do Antiquário
Martin Lloyd-Jones nos alerta para um perigo que existe dentro do interesse pelos acontecimentos que marcaram a Reforma e nossa herança puritana. Na realidade, ele nos confronta com uma forma errada e uma forma certa de relembrar o passado, do ponto de vista religioso. (12)
A forma errada, seria estudar o passado por motivos meramente históricos. Esse estudo seria semelhante à abordagem que um antiquário dedica a um objeto. Por exemplo, quando ele examina uma cadeira, ele não está interessado se ela é confortável, se dá para se sentar bem nela, se ela cumpre adequadamente a função de cadeira. Basicamente a preocupação se resume à sua idade, ao seu estado de conservação e, principalmente, a quem pertenceu. Isto determinará o valor daquele objeto para ele e, conseqüentemente, o seu estudo é motivado por esta visão. O estudo errado da história ocorre, muitas vezes, em função dessa abordagem do antiquário.
O Alerta de Jesus, Registrado por Mateus
Em Mateus 23.29-35 teríamos um exemplo desse apreço errado pelo passado. O trecho diz:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos, e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido cúmplices no derramar o sangue dos profetas. Assim, vós testemunhais contra vós mesmos que sois filhos daqueles que mataram os profetas. Enchei vós, pois, a medida de vossos pais.
Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno? Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas: e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros os perseguireis de cidade em cidade; para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que mataste entre o santuário e o altar.
Jesus diz que aquelas pessoas pagavam tributo à memória dos profetas e líderes religiosos do passado. Eles prezavam tanto a história, que cuidavam e enfeitavam os sepulcros. Proclamavam a todos que os profetas eram homens bons e nobres e atacavam quem havia rejeitado os profetas. Diziam eles: “se estivéssemos lá, se vivêssemos naquela época, não teríamos feito isso!” Mas Jesus não se impressiona e os chama de hipócritas! A argumentação de Jesus é a seguinte: Se vocês se dizem admiradores dos profetas, como é que estão contra aqueles que representam os profetas e proclamam a mesma mensagem que eles proclamaram? Ele testa a sinceridade deles pondo a descoberto a atitude no presente para com aqueles que hoje pregam a mensagem de Deus e mostra que eles próprios seriam perseguidores e assassinos dos proclamadores da mensagem dos profetas.
O Nosso Teste
Esse é também o nosso teste: uma coisa é olhar para trás e louvar homens famosos, mas isso pode ser pura hipocrisia se não aceitamos, no presente, aqueles que pregam a mensagem de Lutero e de Calvino. Somos mesmo admiradores da Reforma, daqueles grandes profetas de Deus? Se não aplicamos na vida prática as doutrinas reformadas o nosso interesse é apenas o de antiquários. Estamos promovendo e encorajando o pecado do isolamento, com esse tipo de visão da história?
A forma correta de relembrar o passado
Mas existe uma forma correta de relembrar o passado. Deduzimos esta não apenas por exclusão e inferência do texto anterior mas por que temos um trecho na Palavra de Deus—Hebreus 13.7-8, que diz: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus, e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.”
As doutrinas são de Cristo. Ele e os seus ensinamentos, são os mesmos ontem, hoje, e eternamente. A maneira correta de relembrar a Reforma é, portanto, verificando a mensagem, a palavra de Deus, como foi falada, e isso não apenas por um interesse histórico de “antiquário” mas para que possamos imitar aquela fé demonstrada. Devemos observar aqueles eventos e aqueles homens, para que possamos aprender deles. Vamos verificar como eles aplicaram as doutrinas eternas aos seus dias e vamos seguir os seus exemplos discernindo a essência da sua mensagem e aplicando-a aos nossos dias.
Deus é Sempre Contemporâneo em Seu Falar
Não podemos, portanto, viver num mundo isolado, demonstrando falta de aproximação com a nossa igreja, com os nossos irmãos, com o nosso povo, com a nossa realidade.
Hebreus 1.1-4 mostra que Deus fala de forma diferente a tempos diferentes. O cerne da mensagem não muda. Nos nossos dias, a revelação escriturada está completa e não estamos defendendo a existência de novas revelações. Entretanto, reconhecemos que Deus sempre demonstrou querer falar com o homem nos seus termos. Na Palavra de Deus temos os muitos antropomorfismos – descrições figurativas da pessoa de Deus, em características de homem. Isso é um exemplo de como Deus condescende em chegar até o homem.
Paulo enfatiza a necessidade da comunicação eficaz, indicando que fez-se fraco, para os fracos; judeu, para os judeus; e gentio, para os gentios (1 Co 9). A linguagem das escrituras era o grego comum, falado pelo povo que diferia tanto do grego clássico, da literatura, que durante muitos anos estudiosos bíblicos postulavam que era um tipo de “grego sagrado”. Se Deus chega-se até ao homem, nas suas limitações e circunstâncias, objetivando a melhor comunicação, porque pensamos que devemos fazer os crentes chegar até estilos e formas que não são mais nossas? Porque prejudicamos a eficácia da nossa comunicação? Porque cristianizamos estilos e formas que não fluem da Bíblia, mas pertenceram a uma época? Porque nos tornamos antiquários em vez de usuários e aplicadores práticos das verdades de Deus? Lembremo-nos que Deus tem a palavra certa, na certeza de sua palavra, para a ocasião certa, na hora certa. Supliquemos a Ele que nos livre do pecado do isolamento.
Minha oração é que nós, calvinistas, possamos ser conhecidos tanto por nossa doutrina firme, sadia, segura, intransigente, quanto por nosso amor fraternal, por nossa gentileza, por nossa dedicação no estudo e por nossa aplicação veraz e eficaz das sãs doutrinas, ao nosso tempo. Que não apliquemos esses alertas aos nossos conhecidos ou vizinhos, mas que possamos realmente, com sinceridade, buscar a presença de Deus e verificar se não estamos sendo alvo das ciladas de Satanás, caindo nesses cinco, ou mais pecados.
(12) D. M. Lloyd-Jones, Rememorando a Reforma (S. Paulo: PES, 1994) pp. 2-5.
 
 

CINCO PECADOS QUE AMEAÇAM OS CALVINISTAS


Por Solano Portela

Parte 4 - O Pecado da Falta de Ação

Uma Grave Distorção
Esse pecado tem muita relação com o pecado anteriormente mencionado e representa uma grave distorção da doutrina da soberania de Deus. Muitas vezes seguimos adquirindo conhecimento e profundidade na nossa fé, mas ficamos inativos e não temos colocado a nossa fé em prática – não temos a ação que deveríamos ter. Entendemos e nos convencemos das verdades que dizem respeito à soberania de Deus, mas indolentemente ficamos aguardando o cumprimento dos Seus decretos.
Falta de Compreensão da Responsabilidade Humana.
Esse pecado é aquele que leva calvinistas a cruzarem os braços, quando deveriam estar agindo, achando que Deus vai atuar de qualquer forma. É aquele pecado que faz com que a gloriosa doutrina da predestinação, em vez de ser alvo de admiração e humildade, seja utilizada como uma desculpa. É o pecado que evidencia a falta de compreensão do que é o ensinamento bíblico sobre a responsabilidade humana. Temos que nos mirar no exemplo de Paulo. Ele foi o magistral expositor das doutrinas da graça, escolhido para isso pelo Espírito Santo de Deus. Mesmo assim, ou melhor, precisamente pela sua completa compreensão da soberania divina e da responsabilidade humana, vemos Paulo trabalhando, lutando, sofrendo, escrevendo cartas, chegando a perder o sono, com o propósito de executar o serviço de Deus.
A “História” de um Casal Puritano
Lembro-me de uma ilustração que ouvi sobre um casal, da época dos puritanos. Por mais duvidoso que seja o relato, ele estimula o nosso pensamento sobre a atitude de pessoas com relação à questão da responsabilidade humana. Conta-se que um puritano, na Nova Inglaterra, habitava com sua família em uma cabana no meio da floresta, distante de tudo e de todos, cuidando apenas dos campos plantados, em clareiras abertas no meio da floresta. Certo dia teve que sair de sua cabana para ir ao vilarejo, atravessando aquela floresta infestada de ursos ferozes, que atacavam animais e pessoas. O puritano colocou a sua melhor roupa preta e começou a se preparar para a jornada. Ao chegar perto da porta de saída, ele estendeu a mão e pegou sua espingarda, verificando se estava carregada. Nesse momento sua esposa exclamou!
– Não entendo essa sua preocupação com a espingarda, porque se você estiver predestinado a ser devorado por um urso, será devorado por ele; mas se estiver predestinado a chegar ao vilarejo em segurança, assim chegará! Deixe essa arma aí!
O puritano voltou-se à esposa, e com toda longanimidade que lhe era habitual, respondeu:
– Ó mulher! E se eu encontrar um urso que esteja predestinado a levar um tiro da minha espingarda e eu estiver sem ela, como é que eu vou fazer?
Podemos rir com a história, mas muitas vezes estamos, em nossas vidas, retratando aquela atitude da mulher daquele puritano. Com freqüência, passamos a descansar indevidamente na soberania de Deus, quando Ele está colocando as coisas na nossa frente, requerendo, de nós, alguma ação.
Temos que nos conscientizar que vivemos sob a égide da vontade decretiva de Deus, mas no conhecimento e sob a diretriz clara de sua vontade prescritiva. Nela, conforme expressa nas Escrituras, temos tudo o que precisamos saber para agirmos responsavelmente, da forma como Ele quer que venhamos a agir.
Um exemplo prático de Paulo
Talvez a maior confirmação prática, de como Paulo conjugava esses dois lados da moeda, da soberania divina e da responsabilidade humana, é encontrado em Atos 27, no relato do naufrágio que sofreu, a caminho de Roma. Principalmente os versículos 22 a 44.
Uma das dramáticas declarações de Paulo, no meio da tempestade que precedeu o naufrágio, é que nenhuma vida iria se perder! Ele afirma esse prognóstico com tanta segurança porque o anjo de Deus lhe dissera isso. Paulo era possuidor, nesse evento, de um conhecimento específico, por revelação. No auge da época apostólica ele recebe esta revelação, que todos aqueles no navio seriam preservados. Ninguém iria se perder, pois Deus tinha outros propósitos. Assim, com uma determinação tão clara, Paulo transmite com toda segurança a informação recebida – apesar de todos estarem temerosos, as vidas seriam poupadas, no meio da feroz tempestade. Notemos, entretanto, que Paulo não fica de braços cruzados, dormindo, esperando a milagrosa preservação de todos. Pelo contrário – encontramos Paulo ativo, dialogando e persuadindo ao centurião que era necessário que aqueles que procuravam safar-se do barco, voltassem ao navio. Paulo manda que se alimentem, para ficarem fortes, apesar de saber que Deus iria salvar a todos, mesmo em jejum. Ele estava ali cumprindo as suas responsabilidades, aquelas que foram colocadas por Deus perante ele. Paulo andava passo a passo, sob a vontade prescritiva do Senhor. Depois que todas as 270 pessoas que se encontravam a bordo se alimentaram, passaram a fazer o que estava à frente para ser feito: aliviaram o navio, lançando a carga ao mar. Diz-nos o verso 44 que “foi assim que todos se salvaram em terra”.
A plena consciência e convicção da soberania de Deus, na vida de Paulo, nunca o levou a ser vítima do pecado da falta de ação. Que este pecado nunca esteja presente em nossas vidas, mas que, como Paulo, estejamos andando passo a passo debaixo da vontade prescritiva de Deus, revelada nas Sagradas Escrituras. Que possamos, como calvinistas, ser confiantes na soberania de Deus, mas também que estejamos engajados nas Suas verdades, na Sua obra e na Sua palavra.
 

CINCO PECADOS QUE AMEAÇAM OS CALVINISTAS


Parte 3 - O Pecado da Acomodação no Aprendizado

Definindo a Acomodação
Acomodação no aprendizado, é quando atingimos um ponto no qual achamos que já dominamos todas as verdades, ou seus aspectos principais, e paramos de nos empenhar no estudo da palavra. Ficamos repisando as mesmas verdades desprezando a riqueza de conhecimento que nos espera na Palavra de Deus.
O Jovem – Presa Fácil desse Pecado.
Com freqüência encontramos a ocorrência desse pecado nos jovens que foram expostos e convencidos das realidades das Doutrinas da Graça. Após devorarem alguns livros, após aprenderem a formular e a discutir os “cinco pontos”, estacionam por aí. Acham, entretanto, que já dominaram tudo o que se pode saber, dedicando-se a grandes e extensas discussões, como se mestres fossem.
O Alerta aos Seminaristas
Em 04.10.1911, o grande teólogo norte-americano, Benjamin Breckinridge Warfield, foi comissionado a apresentar uma palestra no Princeton Theological Seminary sobre o tema: “A Vida Religiosa do Estudante de Teologia”. Para surpresa de alguns, ele falou pouco, inicialmente, sobre a parte devocional da vida de cada estudante, mas colocou extrema ênfase na necessidade do estudo. Disse ele: “…antes de ser erudito o ministro deve ser devotado a Deus, mas o mais grave erro é colocar estas coisas em contradição”. Continua ele: “…existe alguma coisa fundamentalmente errada na vida do estudante de teologia que não estuda” .(11)
É interessante notar como Warfield identifica a vida cristã espiritualmente rasa. Em sua correta visão ela é evidenciada pelo desprezo ao estudo, pela acomodação no aprendizado.
Os Alertas de Provérbios
O livro de Provérbios apresenta inúmeras exortações com relação à importância da sabedoria e, conseqüentemente, à dedicação ao estudo e ao aprendizado. Dois versos parecem retratar a nossa observação, de pessoas que se esmeram nas discussões com pouca profundidade de conhecimento. O primeiro é Provérbios 18.12, que diz: “O insensato não tem prazer no entendimento, senão em externar o seu interior”. Se estivermos com grande vontade de externarmos o nosso interior, vamos parar um pouco para meditação: muitas vezes, estamos mesmo é precisando de continuado aprendizado e instrução. O segundo verso é Provérbios 19.27, onde lemos: “Filho meu, se deixas de ouvir a instrução, desviar-te-ás das palavras do conhecimento”. O escritor inspirado do provérbio, pressupõe que o conhecimento foi apreendido e existe na vida do leitor (“filho meu”), mas ele soa um alerta para que não haja acomodação no aprendizado. O ouvir a instrução é uma ação contínua que nos preservará dos desvios do conhecimento.
Com certeza, não podemos nunca deixar que este pecado encontre guarida em nossa vida e nem que venhamos a nos acomodar sem meditação e sem estudo e conhecimento das verdades de Deus.
Pedro Fala aos Calvinistas
Em sua segunda carta (2 Pedro 1.3-11) Pedro traz uma palavra de grande importância aos calvinistas. O trecho diz:
3. Visto como pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude,
4. pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção, das paixões que há no mundo.
5. Por isso mesmo vós, reunindo toda vossa diligência, associai com a vossa fé, a virtude; com a virtude, o conhecimento;
6. com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade;
7. com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.
8. Porque, estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
9. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora.
10. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum.
11. Pois, desta maneira, é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Pedro enraíza no “divino poder” de Deus (v. 3) todas as questões pertinentes à nossa existência, tudo que é necessário e relacionado com o amor, bem como com o pleno conhecimento do próprio Deus. Não é que ele esteja apenas afirmando que Deus é a fonte, mas ele está ensinando que de Deus recebemos tudo, em plenitude. Com essa proposição ele reafirma a plena soberania de Deus até na aplicação do conhecimento. A seguir, Pedro nos indica que tudo isso representa o cumprimento das promessas de Deus para nós, representando, igualmente, um grande contraste com as corruções deste mundo (v. 4). Passa então a detalhar as áreas importantes da vida, que devem merecer a nossa concentração (vv. 5 a 7). Essas áreas são apresentadas num “crescendo” no qual a interligação de uma com a outra é demonstrada, cada uma sendo construída no alicerce previamente construído, sendo interdependentes (fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade, amor). A demonstração dessas virtudes, em nossas vidas, não nos deixará ociosos, nem infrutíferos, nem com a visão obscurecida, mas nos trará ao pleno conhecimento de Cristo e não deixará que venhamos a nos esquecer do milagre da salvação – daquilo que Cristo fez para a purificação dos nossos pecados (vv. 8 a 9).

Estamos afirmando que a palavra é pertinente para os calvinistas, porque ao iniciar com o detalhamento dessas virtudes que procedem do poder de Deus e que por Sua agência são derramadas sobre nós, Pedro enfatiza: “…reunindo toda a vossa diligência” (v. 5). Isso significa que não existe lugar para acomodação no aprendizado. Mesmo que tudo isso esteja sob a abrangência da soberana vontade de Deus e intrinsecamente fazendo parte de Seus decretos, temos que procurar com diligência o conhecimento de Deus e a aplicação desse conhecimento em nossas vidas. Devemos nos esforçar e esperar que Deus, em sua divina providência, nos conceda o conhecimento do qual tanto necessitamos e as vidas santas que devem se seguir ao conhecimento da Sua pessoa e dos Seus caminhos.
Essa questão é tão importante para Pedro que ele, sob a divina inspiração do Espírito Santo, repete a admoestação, no verso 10, quando indica que devemos procurar, “com diligência cada vez maior” a confirmação da nossa vocação e eleição através da prática do conhecimento de Deus, que vem pela dedicação ao continuado aprendizado e pela conseqüente vida santa, que Ele requer de cada um de nós. Que Deus nos livre do pecado da acomodação no aprendizado de Suas verdades.
(11) Benjamin Breckinridge Warfield, “The Religious Life of Theological Students”, em Selected Short Writings of B. B. Warfield, John E. Meeter, ed. (Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1970) I, 411-425.

Postado por Solano Portela


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