sexta-feira, 4 de julho de 2014

Perseverança, o remédio para o desânimo



Por Leonardo Dâmaso

Texto base: Hb 12.1-3

Introdução



Dentre os vários temas que permeiam a carta aos hebreus, um deles é a necessidade e a importância da perseverança na vida cristã. Vemos praticamente por toda a síntese da carta que o autor encoraja os seus leitores a permanecerem firmes e obedientes ao evangelho da graça de Deus. (2.1-4; 3.1, 12-19; 4.1-3, 11, 14-16; 6.1-3, 11-12; 10.19-39; 12.1-28; 13.1-25). Se fosse para resumir o tema da carta aos Hebreus em uma só palavra, esse seria o tema: Perseverança na fé no filho de Deus! Acerca do tema da carta aos hebreus, Simon Kistemaker escreve:

O apelo do escritor chega ao leitor numa fraseologia marcada pelas repetições: Mantenham a fé, seja obediente, permaneça firme, vá a Deus e afirme a sua salvação. O autor adverte sobre o pecado da descrença, que no final faz sua cobrança e acaba em apostasia... À medida que o escritor exorta, ele também ensina. Ele expressa seu interesse em que os leitores obedeçam à Palavra de Deus, e assim ele os exorta. Ele também quer que seus leitores conheçam a Palavra, e ensina.1  

Podemos dividir a síntese do texto alume em três seções:

Na primeira seção, o autor vai tratar sobre a necessidade da perseverança (vs.1c); na segunda seção ele mostra o foco da perseverança na vida cristã (vs.2); e na terceira seção, o autor conclui com o objetivo da perseverança na vida cristã (vs.3).

Explanação

1. A necessidade da perseverança na vida cristã (12.1)

Deus preserva os cristãos da apostasia e da perda da salvação por meio da perseverança deles. Embora seja Deus quem os preserve (Rm 8.38-39; 1Cor 1.8; Fp 1.6; Ef 1.13-14), todavia, os cristãos tem um papel ativo e responsável na preservação de Deus perseverando. Não é Deus quem persevera para o cristão, mas o cristão é quem persevera em Deus (Hb 2.1; 10.25, 35; Jo 8.31; 1Cor 16.33). Sendo assim, qual a importância da perseverança na vida cristã?  

a) A vida Cristã é uma corrida (vs.1c)   
  
O autor da carta aos hebreus escreve aos seus destinatários, cristãos judeus e talvez até cristãos gentios, encorajando-os a correr, com perseverança, rumo à carreira que lhes está proposta. Note você que o próprio autor se inclui nestas palavras de encorajamento, dizendo que não somente os seus leitores deveriam correr e perseverar na vida cristã, mas que ele, sobretudo, deveria também fazer o mesmo. Todavia, de maneira proposital, o autor utiliza uma analogia para ensinar e encorajar não somente os seus destinatários históricos, mas também os de todos os tempos acerca da necessidade de perseverar. O autor aqui tem em mente as competições esportivas que aconteciam nos estádios gregos, no caso em pauta, especificamente as maratonas (Hb 10.36-39). Esse tipo de analogia também foi usado por Paulo em algumas de suas cartas (veja 1 Cor 9.24-27; Fp 2.16; 2Tm 2.5; 4.7-8).

Estes cristãos conheciam os esportes que eram praticados pelos gregos na época bem como as competições que se davam nos estádios. Portanto, o autor utiliza um exemplo simples, mas, sobretudo, preciso e bem conhecido por estes cristãos a fim de ensiná-los e encorajá-los a perseverança na vida cristã.

A palavra perseverança, no grego υπμονή (hupomnesis), pode ser traduzida como uma paciência que resiste; denota firmeza e persistência. Esta palavra traz a ideia de uma pessoa que tem a capacidade de persistir em suportar com firmeza inúmeras dificuldades em diferentes circunstâncias da vida sem entregar-se ao desânimo e a derrota. John Macarthur define perseverança como a constante determinação de seguir em frente, independentemente da tentação de diminuir o ritmo ou desistir.1  

William barclay corrobora:  

O termo paciência não implica aquela pessoa que senta e aceita as coisas; a paciência que, cansada e cabisbaixa, se senta com as mãos cruzadas e, conformada com os problemas e derrotas que a assolam, vai levando a vida superando tudo. Antes, paciência aqui, se trata da paciência que domina as coisas. Os obstáculos não a intimidam, a demora às vezes em ver as coisas melhorarem não a deprimem; o desânimo não lhe tira a esperança. Porventura se o desânimo que provêm de dentro e a oposição de fora tentarem contra esta pessoa, nada disso irá fazê-la desistir. Paciência aqui é a firme persistência que não retrocede até obter a vitória.2

Desse modo, poderíamos traduzir a palavra perseverança υπμονή (hupomnesis) aqui por “persistência”, que se enquadra melhor no contexto.

Aplicação

Parafraseando o texto, era como se o autor dissesse:

Assim como um atleta, nas competições olímpicas, corre a maratona com persistência até o seu objetivo, que é atravessar a linha de chegada e vencer, nós, como cristãos, também somos atletas, porém, atletas no âmbito espiritual, e, portanto, devemos correr a maratona da vida com persistência.  

b) Na vida cristã temos um alvo (vs.1c)

Além de persistirmos firmes na corrida da vida cristã, o autor da carta aos hebreus escreve que não corremos em vão, sem um objetivo, mas que corremos rumo à carreira que nos está proposta. A expressão carreira que nos esta proposta... (ARA), significa o percurso delimitado para o atleta onde ele deve seguir correndo com perseverança até o fim da maratona.

Aplicação

O autor da carta aos hebreus ensina e encoraja os seus destinatários, e também a nós, os cristãos atuais, que, “uma vez que se trata de uma maratona, e não de uma corrida de curta distância”3, é imprescindível corrermos com persistência este caminho que nos foi determinado. O Senhor Jesus traçou o nosso percurso de vida no qual devemos seguir, correndo com perseverança, até o fim, rumo ao objetivo que não é a linha de chegada de uma competição esportiva, mas a glória da salvação eterna que será consumada na segunda vinda de Cristo, que é a nossa maior vitória (2Tm 4.7; 1Cor 15.57).

c) Na vida cristã temos motivações (vs.1a)

Se na maratona da vida cristã temos um alvo, e devemos correr com perseverança até chegarmos nesse alvo, todavia, o autor da carta aos hebreus nos mostra que temos motivações para isso, para que não aconteça de nos cansarmos no meio da maratona e querermos desistir (vs.3).
      
Conforme vimos anteriormente, o autor se coloca na mesma posição de que os seus leitores, isto é, ele também é um corredor juntamente com eles, dizendo:Portanto, também nós. (ARA) A figura usada pelo o autor aqui é de um estádio na Grécia onde aconteciam as competições esportivas. Nesse estádio como em todos os outros, existem arquibancadas repletas de pessoas que apreciam os esportes e torcem pelos seus competidores favoritos e pelo seu país representado pelos competidores. Portanto, o autor aqui chama estas muitas pessoas de tão grande nuvem de testemunhas. (ARA) Em outras palavras, “o cristão aqui é comparado com um atleta que corre no estádio ou na arena para conquistar a coroa da vitória, enquanto milhares de espectadores nas arquibancadas são testemunhas da disputa”.4    

A expressão nuvem de testemunhas pode ser traduzida por “multidão de pessoas”. Portanto, as muitas testemunhas mencionadas pelo o autor, dentro do contexto imediato, são os crentes do Antigo Testamento descritos no capítulo 11.

As testemunhas, além de expressar “um grande número de pessoas, expressa, sobretudo, a sua unidade no testemunho”.Contudo, o que o autor enfatiza aqui não são as testemunhas propriamente ditas, mas, sim, o testemunho delas, ou seja, a vida de fé que viveram os crentes do Antigo Testamento que agora estão no céu.

Calvino ressalta que as virtudes dos santos do Antigo Testamento são como que testemunhos a confirmar-nos para que, confiando neles, como nossos guias e associados, sigamos avante rumo a Deus com mais entusiasmo.Em vista disso, os cristãos deveriam olhar como motivação para a vida de perseverança na fé destes crentes e seguirem o exemplo deles, isto é, deveriam perseverar firmes na fé na maratona da vida cristã.

Aplicação

A motivação que temos para perseverarmos na maratona da vida cristã está centrada no exemplo de vida que os crentes do Antigo Testamento deram durante a vida. Estes crentes que estão no céu não são os nossos espectadores em si, mas a vida deles no passado é testemunho para nos encorajar a viver como eles viveram. Devemos procurar viver como Abel, Enoque, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Davi, dentre outros viveram (11.2, 4-5, 7-10, 17-29, 33, 39). Devemos também nos pautar na vida dos primeiros mártires cristãos e dos reformadores.

d) Na vida cristã temos obstáculos (vs.1b)

Depois de mostrar aos destinatários que eles deveriam ter como motivação para perseverarem na maratona da vida cristã o exemplo de vida dos crentes do Antigo Testamento, o autor da carta aos hebreus continua dizendo que esta motivação, também, era oportuna devido às dificuldades e obstáculos que há na maratona da vida cristã. Estes cristãos deveriam olhar para a vida que viveram os crentes do Antigo Testamento em meio às muitas dificuldades e obstáculos que enfrentaram e continuarem perseverantes assim como eles perseveraram, não desistindo, assim, da maratona da vida com Deus.

Não obstante, o autor enfatiza dois tipos de obstáculos aqui. Ele diz aos seus leitores que eles deveriam se desembaraçar de todo peso e de todo o pecado que tenazmente assedia a todos. Senão vejamos estas duas expressões.

i. Desembaraçando-nos de todo o peso. A palavra desembaraçando-nos, no gregoάποθέμενοι (apothemenoi), é mais bem traduzida por “deixemos de lado” (ARC, NTLH) ou “livremo-nos”. (NVI) No grego, esta palavra traz a ideia de uma roupa longa e pesada que o atleta deveria “rejeitar ou abandonar”, pois seria um obstáculo para ele na maratona. Em vista disso, poderíamos traduzir o texto desse modo: “tirando de nós mesmos tudo o que nos atrapalha”. 
     
O autor da carta aos hebreus tem em mente aqui a condição física e as roupas de um atleta. Para estar apto para disputar uma maratona esportiva, o atleta precisa estar em boa forma física.  

Todavia, quando o atleta vai disputar uma maratona esportiva, ele não se veste com qualquer tipo de roupa, antes, ele se veste com uma roupa apropriada e que não seja pesada, isto é, uma roupa leve para se sentir confortável durante a corrida, que consiste numa camiseta, shorts e tênis, que juntos pesam cerca de meio quilo apenas.

ii. ... e do pecado que tenazmente nos assedia. A expressão “tenazmente nos assedia” ευπεριοτατον (efperiotaton), é um adjetivo verbal grego que pode ser traduzido por “que nos cerca tão de perto” ou “que tão de perto nos rodeia”. (ARC) pecado que nos cerca tão de perto aqui é o nosso próprio pecado, as nossas inclinações pecaminosas oriundas da nossa natureza pecaminosa (Mt 15.19; Gl 5.19-21; Ef 4.22-31). Portanto, em outras palavras, “livrem-se destes obstáculos”, diz o autor. 

Aplicação

Concordo com John Stott quando diz que, na maratona da vida cristã, tirar de nós todo o peso, significa abandonar o peso do pecado e também outros pesos que podem não ser pecaminosos em si, mas que atrapalham o nosso desempenho na corrida.7 Na pista da fé, observa Simon Kistemaker, nós somos desafiados a ir longe. Portanto, devemos correr leves.8

Calvino, neste mesmo pensamento, escreve:

Deparamo-nos com todo gênero de cargas que nos atrasam e embaraçam nossa corrida espiritual, ou seja, o apego a esta presente vida, os deleites que o mundo proporciona, os apetites da carne, as preocupações terrenas, as riquezas e as honras, bem como outras coisas desse gênero. Todo aquele que porventura queira competir na corrida de Cristo deve antes desvencilhar-se de todo e qualquer entrave; porquanto, por natureza já somos lentos do que deveríamos ser; de sorte que não permitamos que outras causas nos sirvam de atraso.9

Matthew henry diz que enquanto o pecado favorito de um homem permaneçer sem ser subjugado, seja qual for ele, este o impedirá de correr a carreira cristã, porque lhe tira toda motivação para correr e dá entrada ao desânimo mais completo. 

Que deixemos de lado até mesmo aquele obstáculo que não seja pecado em si. Entretanto, se algum obstáculo que não é pecado e também não edifica têm sido um peso para nós corrermos e tem produzido em nós desânimo, chegando ao ponto de pensarmos em desistir da maratona, todavia, este obstáculo que não era pecado se tornou pecado e, portanto, deve ser deixado (2Tm 2.4).

Parafraseando, era como se o autor da carta aos hebreus nos dissesse:

Que deixemos tudo aquilo que nos atrapalha ou nos torne lentos na maratona da vida cristã, em adição, aqueles pecados que são como uma roupa longa e pesada que prendem e embaraçam os nossos pés, nos fazendo tropeçar e cair! 

2. O foco na perseverança na vida cristã (12.2)

O autor da carta aos hebreus, agora, enfatiza o alvo primário da maratona da vida cristã, que é a obra, perseverança e a posição de Cristo Jesus. Vejamos então:
   
a) A singular motivação da vida cristã (vs.2a)  

O autor da carta aos hebreus continua a ensinar e encorajar os seus destinatários sobre a necessidade da perseverança na vida cristã dizendo, agora, que eles deveriam olhar firmemente para o autor e consumador da fé, que é Jesus. Logo de início ele enfatiza o resultado da obra da redenção dos pecadores eleitos. Note que o autor não coloca Jesus na mesma categoria daqueles crentes do Antigo Testamento, mesmo apesar de terem vivido uma vida maiúscula na presença de Deus. Antes, o autor coloca o nome de Jesus em proeminência, a fim de que os seus leitores se concentrem e sigam como finalidade o seu exemplo de vida terrena.

A expressão olhando firmemente αφορωντες, significa “manter o olhar fixo sobre algo”. Literalmente “fixar os olhos”.  Devemos olhar sem distração alguma, como a maior prioridade da nossa vida para Jesus, o autor e consumador da nossa fé. O termo autor αρχηγòς (archegos), no grego, significa iniciador, originador. Denota que Jesus é o que deu origem a nossa fé. 

O termo consumador τελειωτής (teleiotes), por sua vez, significa alguém que conclui algo. Aquele que completa uma obra (Hb 2.10). Sendo assim, era como se o autor da carta aos hebreus dissesse: “Mantendo os olhos fixos naquele que deu origem e completou a nossa fé, Jesus”! Parafraseando:

Mantenham os olhos em Jesus, que começou e terminou a corrida de que participamos!11

Aplicação

Como corredores empenhados na maratona da vida cristã não podemos olhar para os lados. Olhar para os lados implica distração; significa desviar o nosso olhar de Jesus, o objeto da nossa fé, o nosso alvo, e olhar para coisas que não são importantes. Não devemos nos distrair olhando para o estado lastimável em que a igreja evangélica, na sua maioria esmagadora, se encontra. Não devemos olhar para os pastores corruptos, para os falsos crentes, para a suposta “prosperidade” destes assim como a prosperidade dos falsos pastores e para as adversidades da vida. Devemos manter os nossos olhos focados em Cristo Jesus!

b) A base da motivação da vida cristã (vs.2b)

Na primeira parte do texto, o autor frisou “o resultado da obra da redenção”. Contudo, ele agora expande o tema, dizendo que, além de olhar para Jesus, o autor e consumador da nossa fé, (o resultado de sua obra), os seus destinatários deveriam também, sobretudo, olhar para a sua perseverança, porque Jesus, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia... (ARA)  

Senão vejamos os quatro aspectos da perseverança de Cristo:

i. ... em troca da alegria. Esta expressão não significa que Jesus preferiu trocar a alegria celestial que outrora tinha antes da encarnação pela morte de cruz, conforme acreditam alguns teólogos. Antes, “pela a alegria”, e não “em troca da alegria”, e para obtê-la, na qual foi planejada na eternidade por Deus Pai, por ele mesmo e pelo Deus Espírito Santo no conselho trinitariano, Jesus, o Deus filho encarnado, de forma voluntária, “sofreu na cruz em antecipação da alegria de ser o salvador do seu povo”.12 Semelhante a Moisés, que olhava para o seu galardão futuro (Hb 11.26), Jesus também olhava para o seu galardão que iria receber das mãos do Pai após a conclusão de sua obra redentora (Ap 5.9-10). 

ii. ... que lhe estava proposta. Esta expressão aponta para um tempo futuro, e descreve que, depois da morte de cruz, Jesus foi glorificado e exaltado pelo Pai. Deus predeterminou o sofrimento para Jesus (Hb 9.26; 1 Pe 1.20; Is 53.4-6) bem como uma alegria indizível por ver a sua obra de redenção consumada. Jesus perseverou para que pudesse receber a alegria de cumprir a vontade do Pai e exaltá-lo13 (Is 53.11; Sl 16.9-11; Lc 10.21-24; At 2.28). 

iii. ... suportou a cruz. Simon Kistemaker ressalta:

O termo cruz, junto com o verbo suportar, reflete toda a narrativa do sofrimento do julgamento e da morte de Jesus. Ele ficou sozinho durante seu julgamento perante o sumo sacerdote e perante Pilatos. Jesus suportou a agonia do Getsemâni sozinho. Ele carregou sozinho também a ira de Deus no calvário. Em seu sofrimento, Jesus demonstrou visivelmente sua fé em Deus. Em obediência, ele suportou a angustia da morte na cruz.14

iiii. .... não fazendo caso da ignomínia. A palavra ignomínia significa “afronta”. Jesus não levou em conta a afronta dos judeus incrédulos e dos líderes religiosos contra si, que planejaram e conseguiram com que ele fosse crucificado e morto, uma vez que estes homens o tinham como um homem maldito e herege (Dt 21.23; Gl 3.13). Jesus não desceu da cruz conforme muitos queriam que ele descesse tentando-o a isso (Mt 27.40; Mc 15.30). Jesus suportou a afronta para que o Pai fosse glorificado e os pecadores eleitos fossem redimidos, por isso ele está assentado à destra do trono de Deus, que indica a sua posição de glória, autoridade e poder (Mt 28.18).

3. A finalidade da perseverança na vida cristã (12.3)

Em vista da perseverança na maratona da vida cristã e todas as suas implicações, o autor da carta aos hebreus conclui dizendo aos seus destinatários que eles deveriam considerar, atentamente, a oposição que Jesus suportou dos pecadores contra si mesmo para que eles não se fatigassem, desmaiando em suas almas.

O verbo considerar significa comparar, calcular, reputar. O autor, aqui, salienta aos seus leitores que eles deveriam considerar o que aconteceu com Jesus, que, logo que acabará de nascer, já enfrentou perseguição por parte de Herodes (Mt 2.13-18). Mais tarde, quando iniciou o seu ministério, Jesus suportou afrontas, oposição e rejeição por parte dos seus conterrâneos, os judeus incrédulos (Jo 1.11). Foi maltratado, perseguido, espancado e morto pelas mãos destes pecadores (At 2.22-23) para que, pelo seu exemplo de vida de fé e perseverança em Deus, os hebreus não viessem a fatigar-se, desmaiando na maratona da vida cristã.

As palavras fatigar-se e desmaiar significam, em outras palavras, desanimar edesistir. James Moffatt diz que aparentemente, segundo Aristóteles, estas palavras eram comumente usadas no mundo dos esportes nessa época, onde ele próprio (Aristóteles) descrevia os corredores que desanimavam e caiam no final da maratona depois de alcançarem a meta.15  

Conclusão

Aplicação

Numa maratona, sabemos que nenhum atleta, por melhor que seja a sua forma física, não consegue manter o ritmo acelerado o tempo todo devido ao cansaço. No entanto, como estratégia para conseguir vencer e chegar até o fim, o atleta se intercala correndo em períodos rápidos e lentos. Assim é na vida cristã.

Nós, como atletas espirituais, também estamos sujeitos ao desânimo em meio à maratona da vida cristã; de fato, desanimamos algumas vezes. Elias desanimou e caiu em um profundo esgotamento, mas o Senhor o animou e o fortaleceu, e ele voltou a correr na maratona (1Rs 19.1-18). Os discípulos, após a morte de Jesus, desanimaram e ficaram trancados dentro de casa, com medo da perseguição dos judeus (Jo 20.19). Porém, quando viram Jesus ressurreto, foram animados novamente a perseverarem na fé (Jo 20.20-23).

Pedro, quando negou Jesus, por um momento desanimou da fé, mas logo foi restaurado e animado pelo Senhor Jesus após a sua ressurreição no mar de Tiberíades (Jo 21.15-17). Contudo, a questão não é desanimar ou correr mais lentamente devido ao cansaço das adversidades da vida, mas se entregar ao desânimo, que significa parar de correr. São muitos os que, em vista do desânimo, desistiram. Apostataram da fé!

Quando não mantemos o nosso olhar em Cristo, mas para o mundo ao nosso redor, para as pessoas, para as dificuldades da vida, e para nós mesmos, o desânimo sobrevém e ficamos tentados a desistir de continuar correndo perseverantes na maratona da vida cristã. Porém, quando mantemos o nosso olhar “fixo” em Cristo, não nos entregamos ao desânimo, antes, somos fortalecidos diariamente pelo Espírito Santo que habita em nós. Quando entendemos e olhamos para a vida e o sofrimento que Jesus experimentou, isso nos motiva celeremente a continuarmos firmes e perseverantes na maratona da vida cristã assim como ele perseverou até o fim (Jo 16.33; 1Cor 9.24-25).

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Notas: 

1 Bíblia de Estudo Macarthur. Notas de Rodapé, pág 1710.
2 William Barclay. Comentário Bíblico de Hebreus, pág 182.
3 Comentário Bíblico Africano. Hebreus, pág 1545.
4 Fritz Laubach. Hebreus. Comentário Esperança, pág 119.
5 Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave Linguística do Novo Testamento Grego, pág 529.
6 João Calvino. Hebreus, pág 336.
7 John Stott. A Bíblia toda, o ano todo, pág 392.
8 Simon Kistemaker. Hebreus, pág 519.
9 João Calvino. Hebreus, pág 336.
10 Dicionário Grego do Novo Testamento de James Strong anotado pela AMG, pág 2423.
11 A Mensagem. Bíblia em Linguagem Contemporânea, pág 1721.
12 Bíblia de Estudo Genebra. Notas de Rodapé,  pág 1665.
13 Bíblia de Estudo Macarthur. Notas de Rodapé, pág 1710.
14 Simon Kistemaker. Hebreus, pág 516. 
15 James Moffatt. Epistle to the Hebrews, International Critical Commentary series (Edimburgo: Clark, 1963), pág 199.

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Fonte: Bereianos
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quinta-feira, 3 de julho de 2014

ALINHAMENTO APOSTÓLICO VERTICAL: ENTRE NA ESFERA DO PODER E SAIA ENERGIZADO DE HERESIAS

Pare, leia e pENSE!




Pára tudo!! “ALINHAMENTO APOSTÓLICO VERTICAL”? Qué qué isso gezuiz?! Onde foi parar a sanidade mental dessa gente?? (ou é safadeza?)

Pois é, e como se diz por aí, ‘não há nada de tão ruim que não possa piorar’. E na verdade, tá tudo pior, louco, descontroladamente sem nexo algum.

(…) e a “apostolomania” não tem limites!! Acredite!!

Estou falando da Conferência Internacional: Convergência Rede Apostólica Esferas Globais. Nela os auto intitulados apóstolos Dr. Peter Wagner, Dr. Chuck Pierce e o Dr. Fernando Guillen irão palestrar no evento que ocorrerá em Belo Horizonte, entre os dias 24 e 26 de julho.

Então amigo, você que pretende fazer esse alinhamento (e balanceamento, quem sabe [??]) vertical junto com os “apóstolos” saiba o que é essa tal convergência.

No site do evento (clique aqui e veja) diz que a convergência “é uma direção comum para um mesmo ponto. Uma fase da vida aonde tudo começa a chegar junto”. Diz que é “estar no lugar certo, tempo certo, fazendo a coisa certa, promovendo assim um movimento nos céus ao nosso favor!”

O porquê do alinhamento era uma dúvida que eu tinha mas logo descobri. Segundo os organizadores é porque na convergência “o seu espírito está [estará] alinhado com o ritmo do céu e as ondas da terra ao mesmo tempo!” – Sacô?!

Bem, não sei como qualificar algo tão pretenso e maluco como esse. A ganja religiosa fica mais pesada quando você ler a explicação de uma tal zona de convergência. Eles dizem: “é como um campo de energia, um vórtice que suga para dentro de si coincidencias estranhas e “compromissos divinos.” Mais ainda, é “Um lugar aonde você acessa níveis de cumprimento incomparáveis. É o campo magnético que havia em volta do povo de Israel quando eles se acampavam ao redor da nuvem e da coluna de fogo no deserto (Êxodo 40:34-38)”.

A explicação sobre a “bilogaláxia apostólica” se encerra dizendo: “Viver na Zona de Convergência é quando Deus começa a alinhar os nossos tempos! Isso é o indício de que o favor sobrenatural se manifestará em nossas vidas!”

Gente, o que é que é isso “pelamordedeuss”??

Abaixo, o vídeo que não deixará dúvidas de que estamos vivendo num caos, circo, insanidade, safadeza, ou sei lá o que, só sei que são tempos cujo Deus deva estar irado com toda essa babel dissimuladamente religiosa que temos vivido. 

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Antognoni Misael, co-editor do Púlpito Cristão.

O Confessionalismo e a Igreja Moderna

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Por Thomas Magnum

Introdução


Vivemos numa época disseminadora de insubmissão e que é contrária a qualquer fonte de autoridade. O confessionalismo histórico da igreja reformada tem valor atual e continua tendo seu lugar como documentos importantíssimos para o povo de Deus. Ao usar o termo confessionalismo histórico nos remetemos ao Credo dos apóstolos, a fórmula de Calcedônia, o Credo Atanasiano, também os documentos confessionais pós-reforma. Referimos-nos aos mais populares como os artigos anglicanos: Livro da oração comum, os Artigos da Religião e o Livro das Homílias; no Luteranismo temos o Livro de concórdia que na realidade é uma serie de diferentes artigos: o credo apostólico, o credo niceno, o credo atanasiano, a confissão de Augsburgo (1530), A apologia a confissão de Augsburgo (1531), os artigos de Esmalcalde (1537), Tratado sobre o poder e o primado do papa (1537), Catecismo menor (1529), o catecismo maior (1529), e a formula de concórdia (1577). É imprescindível também as três formas de unidade que são a confissão Belga (1561), o catecismo de Heidelberg (1563) e os Cânones de Dort. Também mencionamos entre o confessionalismo histórico os padrões de Westminster: a confissão, o catecismo maior e o breve. Estes são os mais utilizados entre as igrejas reformadas. Finalmente a confissão Batista de 1689 e a Declaração de Savoy, que é a confissão dos congregacionais, ambas têm suas bases doutrinárias na confissão de fé de Westminster.

A Utilidade dos Documentos Confessionais

Ao lermos os documentos confessionais das igrejas reformadas, podemos destacar alguns pontos fundamentais: 

• O declaratório – Que tem por objetivo mostrar aos fiéis sua confissão de fé.
• O Apologético – Que tem por objetivo defender a fé e mostrar a grupos heterodoxos a firmeza da fé reformada e que ela está alicerçada nas Escrituras.
• O Didático – Que tem por objetivo ensinar a igreja os fundamentos teológicos de sua confissão.
• O Litúrgico – Que tem por objetivo o culto público e a proclamação do Evangelho pela pregação.[1]

Diante de uma evolução cultural relativista, negativista, burocrata e intelectualmente pragmática, não é raro ouvirmos alguém dizer que não tem confissão, que sua confissão é a Bíblia e que não precisa de tais documentos da igreja, porque isso seria substituir a Palavra de Deus por palavras de homens. É claro que consideramos tais declarações na sua maioria sinceras, mas, equivocadas por parte dos que pretendem negar e invalidar o confessionalismo histórico da igreja cristã.

O Contexto histórico das confissões 

Ao fazermos uma leitura da história e do contexto político, econômico, artístico e teológico do Século XVI, veremos que as transformações ocorridas na época não foram somente restritas a reforma protestante, mas, ocorreu também o florescer cultural da renascença. Da mesma forma que os reformadores questionavam a igreja católica nos âmbitos teológico, econômico e politico, os líderes do renascentismo questionavam os padrões da filosofia e das artes. Vivemos em semelhante contexto, temos um desafio cultural e espiritual que não se resume a diferenças de nomenclatura, mas, existe uma concentração de fatores que exigem da igreja sua postura doutrinária, e são os símbolos de fé que servirão como ferramenta. O Teólogo M.A. Noll nos diz:

O Mundo do século XVI precisava de novas declarações da fé cristã, não para meramente reorientar a vida cristã, mas também para reposicionar o próprio cristianismo dentro das forças da Europa moderna que nascia. [2]

Essa efervescência intelectual iniciada pela renascença e posteriormente com as revoluções tanto no âmbito político como cultural que vieram a posteriori, são o fundamento para a era cultural que vivemos no mundo ocidental. Estamos diante da urgência de um confessionalismo que nos proporcione bases sólidas teologicamente, uma característica da evolução do pentecostalismo e suas variantes, juntamente com a explosão das igrejas emergentes é uma postura que ignora a confessionalidade[3]. Essa é uma ideologia que trata pontos fundamentais da doutrina como secundários e irrelevantes. Isso nos mostra a fragilidade de uma teologia que despreza o confessionalismo histórico. Vivemos uma relativização do fundamento, e uma difusão de ideias que beiram o liberalismo teológico. Temos como exemplo  a postura papal de certos líderes evangélicos, dominando o povo de forma carismática, levam o rebanho a uma ignorância do verdadeiro conhecimento do cristianismo, privando o povo e roubando dele as verdades do Evangelho.

Questões Modernas Contra o Confessionalismo

Ao analisarmos os fatores mais comuns que formam o caráter cultural moderno, podemos apontar pelo menos quatro que versam contra o confessionalismo: 

     • O Sincretismo e Misticismo
     • O Pragmatismo
     • O Hedonismo
     • A Tecnologia

A grande mistura religiosa e de filosofias pagãs tem invadido as igrejas de todos os continentes, esse caldeirão místico tem levado o evangelicalismo a uma apostasia intelectual e dogmática. A confissão documental da fé não é viável as novas denominações, porque dentro desse sincretismo é que emerge opragmatismo, se der certo, então é verdadeiro, essa é sua declaração. Os resultados é que dizem o que é certo ou errado. Não é assim que devemos analisar a questão, se o pragmatismo é fator fundamental para o julgamento da verdade, então o Hinduísmo e Islamismo são religiões verdadeiras, pois, são as maiores religiões do mundo, elas deram certo. Outro fator que se levanta contra o confessionalismo é o Hedonismo, a exaltação do prazer que tem estado evidente nas novas igrejas, o ter em detrimento do ser, o que você tem diz quem você é; resumindo a vida cristã a prosperidade material. Temos também aTecnologia, que se usada de forma errada também labuta contra a importância da confissão nas igrejas, a sinuosidade do pensamento moderno que exalta a ciência e lhe dá um crédito canônico pode ser uma forca para a igreja.

A acusação mais comum é que as confissões engessam a igreja e diminuem sua espiritualidade, que o culto deve ser espontâneo e deve ser livre, dizem. Em nenhum lugar nas escrituras lemos algo sobre um culto espontâneo, ao contrário, Paulo exorta a igreja que está em Corinto a cultuarem com ordem e decência (I Co 14.40), no livro do profeta Malaquias observamos que é Deus quem estabelece o culto, na história da reforma observamos o princípio regulador do culto. Os tipos de cultos que vemos estão estreitamente ligados às manifestações modernas que pontuamos anteriormente.

É interessante pontuarmos que aqueles que são contra uma igreja prezar por seus símbolos de fé e utilizá-los no culto, não são contra o cântico de louvores escritos pelos mais diversos compositores, ao cantar tais músicas nos cultos estão confessando algo também. Pode-se ser contra a leitura de confissões ou credos na liturgia, mas, comumente não se é contra as manifestações rotineiras nos cultos como a recitação de poesias ou cantar uma música rotineira nos culto. Com isso entendemos que todos tem uma confissão seja ela materializada ou não. [4]

As Fontes de Autoridades

Os símbolos de fé não tem a mesma autoridade da Escritura, pelo contrário são baseados nas escrituras e defendem a suficiência das Escrituras, por isso temos a revisão das confissões. Embora muitos digam que a autoridade pertence só na Bíblia – e defendo isso também – é necessário esclarecermos alguns pontos. Os credos, confissões e catecismos não reivindicam autoridade infalível ou canônica. Segundo, a autoridade dada aos símbolos confessionais está baseada no arcabouço histórico e teológico da igreja cristã. De fato, mesmo os que dizem não ter por autoridade os documentos históricos da igreja, terão por autoridade outra fonte, sejam elas suas opiniões particulares ou o pensamentos de teólogos ou líderes eclesiásticos.  

Todos na Igreja tem uma Confissão de Fé

Ao ouvirmos alguém dizer que sua confissão de fé é a bíblia, temos aí uma declaração de fé. Afirmativas como esta, em vez de demonstrar superioridade e fidelidade às escrituras demonstram também uma confissão de fé, semelhante a uma confissão escrita. Neste caso a diferença está no fato que, os documentos históricos confessionais estão redigidos e podem ser avaliados e estudados pela igreja, o segundo existe na mente do professante e não pode ser julgado e examinado cuidadosamente, porque não é um documento confirmado pela igreja. Os símbolos de fé da igreja, principalmente os que foram redigidos após a reforma protestante nos mostram por um estudo cuidadoso, que os documentos que temos em mãos são declarações de fé que precisaram ser feitas principalmente pelo contexto que a igreja vivia. Muitos ainda levantam a questão que a utilização atual dos credos, confissões e catecismos é anacrônica, porque eles não correspondem à necessidade atual da igreja. 

O Confessionalismo e a Igreja Moderna

A problemática que enfrentamos no que diz respeito ao confessionalismo dentro das igrejas segue-se de motivos históricos, políticos e éticos. Desde a revolução estudantil na década de 60 como diz Francis Schaeffer [5], vivemos uma supervalorização da invalidação das fontes de autoridade, na verdade desde a queda o homem vive esse infortúnio condenatório sobre ele. A “liberdade” civilizatória e cultural na realidade levou a humanidade a estagnação intelectual a respeito de Deus e sua Palavra. O fato de a igreja não dar mais importância a uma declaração de fé, pautada nas escrituras, na verdade mostra claramente que ela na verdade não a tem. O testemunho cristão não está restrito a documentos, ele sai deles e isso é tão importante à fé cristã que as confissões valorizam essa práxis. 

Ao observarmos a construção do catecismo de Heidelberg e os padrões de Westminster notaremos o valor que tais documentos dão a uma vida santa e piedosa como fruto das verdades da Palavra de Deus. Isso nos leva a um imperativo confessional, a urgência que os reformadores tinham em esboçar suas crenças doutrinárias é a mesma que temos hoje de professa-las e emprega-las na catequese e doutrinamento da igreja. Igrejas historicamente reformadas esqueceram e ignoraram seus símbolos de fé, que consequentemente desembocou no abandono de uma dogmática sadia. Por isso é necessário um resgate da utilização das confissões, tanto no trabalho pastoral de doutrinamento da igreja, como no trabalho de ensino aos novos conversos. O valor dos documentos confessionais do protestantismo é inalienável, que possamos dar-lhes o devido valor e lugar.

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Notas:
[1] O Imperativo Confessional, Carl R. Trueman – Ed Monergismo
[2] Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã – Ed. Vida Nova
[3] A Subscrição Confessional, Ulisses Horta Simões -  Ed. Efrata
[4] O Imperativo Confessional, Carl R. Trueman – Ed Monergismo
[5] A Igreja no Final do Século 20, Francis Schaeffer – Ed. Cultura Cristã

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Divulgação: Bereianos

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Quem são os menos evangelizados no Brasil?


Deus chamou toda a Igreja para proclamar todo o Evangelho em todo o mundo. Há ainda mais de 2.000 povos no mundo sem o conhecimento do Evangelho, cerca de 3.000 línguas sem um verso bíblico em seu idioma e 2 bilhões de pessoas que não conhecem o Senhor Jesus.

No Brasil há oito segmentos reconhecidamente menos evangelizados, sendo sete socioculturais e um socioeconômico. 

1. Indígenas
Com 117 etnias sem presença missionária e sem o conhecimento do Evangelho1. Estas etnias, com pouco ou nenhum conhecimento de Cristo, espalham-se por todo o Brasil com forte concentração no Norte e Nordeste2

2. Ribeirinhos
Na bacia amazônica há 37.000 comunidades ribeirinhas3 ao longo de centenas de rios e igarapés. As pesquisas mais recentes apontam a ausência de igrejas evangélicas em cerca de 10.000 dessas comunidades4

3. Ciganos (sobretudo da etnia Calon)
Há cerca de 700.000 Ciganos Calon no Brasil5 e apenas 1.000 se declaram crentes no Senhor Jesus. Os Ciganos espalham-se por todo o território nacional nas grandes e pequenas cidades, vivendo em comunidades nômades, seminômades ou sedentárias.

4. Sertanejos
Louvamos a Deus por tudo que tem ocorrido no Sertão nos últimos 10 anos – centenas de assentamentos sertanejos evangelizados e muitas igrejas plantadas. Há, porém, ainda 6.000 assentamentos sem a presença de uma igreja evangélica6

5. Quilombolas
Formados por comunidades de afrodescendentes que se alojaram em áreas mais ou menos remotas nos últimos 200 anos. Há possivelmente 5.000 comunidades quilombolas no Brasil, sendo 3.524 oficialmente reconhecidas7. Estima-se que 2.000 ainda permaneçam sem a presença de uma igreja evangélica8

6. Imigrantes
Há mais de 100 países bem representados no Brasil por meio de imigrantes de longo prazo com uma população de quase 300.000 pessoas9. Dentre esses, 27 são países onde não há plena liberdade para o envio missionário ou pregação do Evangelho. Ou seja, dificilmente conseguiríamos enviar missionários para diversos países que estão bem representados entre nós, sobretudo em São Paulo, Brasília, Foz do Iguaçu e Rio de Janeiro. 

7. Surdos, com limitações de comunicação 
Há mais de 9 milhões de pessoas nesta categoria em nosso país e menos de 1% se declara crente no Senhor Jesus10. Há pouquíssimas ações missionárias especificamente direcionadas para os surdos em todo o território nacional.

8. Os mais ricos dos ricos e os mais pobres dos pobres
O oitavo segmento não é sociocultural como os demais, mas socioeconômico. Divide-se em dois extremos: os mais ricos dos ricos e os mais pobres dos pobres. As últimas pesquisas nacionais demonstram que a presença evangélica é expressiva nas escalas socioeconômicas que se encontram entre os dois pontos, porém sensivelmente menor nos extremos11. Em alguns Estados brasileiros há três vezes menos evangélicos entre os mais ricos e os mais pobres do que nos demais segmentos socioeconômicos12.

A Igreja de Cristo foi chamada para ser sal da terra e luz do mundo onde estiver e por onde passar (Mt 28.19). Foi-lhe entregue também um critério de prioridade nas ações evangelizadoras: onde Cristo não foi anunciado (Rm 15.20). É, portanto, momento de orar pelo mundo sem Cristo, por a mão no arado e não olhar para trás.

Notas:
1. Departamento de Assuntos Indígenas da Associação de Missões Transculturais do Brasil(DAI/AMTB).  
2. Há 32 etnias indígenas no Nordeste ainda sem presença missionária, segundo pesquisa da Aliança Evangélica Indígenas do Nordeste e AMTB.  
3. Reconhecidas pelo IBGE 2012.  
4. Projeto Fronteiras – pesquisa entre comunidades tradicionais da Amazônia – dados parciais 2014.Associação Evangélica Pró Ribeirinhos do Brasil
5. Missão Amigos dos Ciganos – Dados 2014. Associação Evangélica Pró Ciganos do Nordeste
6. Missão JUVEP – Dados 2014.  
7. Fundação Palmares.
8. Os dados são parciais. Pesquisa em andamento pela Associação Evangélica Pró Quilombolas do Brasil.  
9. IBGE 2012: 268.201 imigrantes no Brasil.  
10. IBGE 2014.  
11. IBGE 2010, 2012 e 2014.  
12. Projeção de dados quantitativos por categoria socioeconômica.

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Ronaldo Lidório é doutor em antropologia e missionário da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais e da Missão AMEM. É organizador de Indígenas do Brasil -- avaliando a missão da igreja e A Questão Indígena -- Uma Luta Desigual.
Fonte:Ultimato

+Eva

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