A passagem de Filipenses 2:6-8 oferece um dos retratos mais profundos da natureza de Cristo, revelando o contraste extraordinário entre sua majestade divina e sua entrega voluntária. O texto nos apresenta um Rei que, possuindo a própria essência de Deus, não utilizou sua posição para benefício próprio, mas inaugurou um novo conceito de grandeza baseado no serviço e no sacrifício.
No primeiro estágio dessa jornada, Paulo destaca a preexistência de Jesus. Sendo em forma de Deus, Ele desfrutava de glória, poder e adoração celestiais. No entanto, o "Rei que se fez Servo" não considerou essa igualdade como algo a que deveria se apegar egoisticamente. Diferente dos governantes terrenos, que muitas vezes lutam para manter seus privilégios, Cristo demonstrou que a verdadeira divindade não se manifesta na retenção do poder, mas na disposição de abrir mão dele por amor.
O ato central dessa transformação é a kenosis, ou o esvaziamento. Jesus não deixou de ser Deus, mas "esvaziou-se a si mesmo", assumindo a forma de servo. Ao nascer como homem, Ele trocou o trono pela manjedoura e a adoração dos anjos pelas limitações da condição humana. Esse esvaziamento revela que a missão de Jesus não foi um exercício de autoridade impositiva, mas uma identificação profunda com as dores e necessidades da humanidade.
A obediência de Jesus levou a humilhação a um nível ainda mais profundo. Não bastou tornar-se homem; Ele viveu uma vida de submissão total à vontade do Pai, tornando-se obediente até a morte. O Rei do Universo submeteu-se às leis, ao cansaço e, finalmente, ao julgamento humano. Ele lavou os pés dos discípulos e acolheu os marginalizados, provando que, no Reino de Deus, governar é sinônimo de servir.
Por fim, o auge do seu serviço manifestou-se na morte de cruz. A cruz era o símbolo máximo de vergonha e maldição na época, reservada aos piores criminosos. Ao aceitar esse destino, o Rei Servo consumou seu plano de redenção, transformando um instrumento de tortura no maior símbolo de amor da história. Jesus nos ensina que o caminho para a verdadeira glória passa, obrigatoriamente, pelo vale da humildade e da entrega absoluta ao próximo.
Pr. Eli Vieira

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