quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Evangelização Reformada

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Introdução

Ao examinarmos ainda que rapidamente o assunto – evangelização – pelo prisma mais popular notamos que comumente algumas frases prontas são utilizadas como:

  • a) “Aceite Jesus, ele quer morar em seu coração...”
  • b) “Dê uma chance a Deus, ele pode mudar sua vida...”
  • c) “Jesus te ama e quer te salvar... só depende de você...”

Esse tipo de abordagem é totalmente antropocêntrica, ou seja, a preocupação maior da evangelização é o homem, e vale tudo para que o homem entenda a mensagem. De fato, o homem é alvo da graça de Deus e por ter sido feito a imagem e semelhança do criador ele precisa cumprir os mandatos que lhe foram dados no início, mas, sem a graça redentora de Deus ele não poderá cumprir esses mandatos contidos em Gênesis 1.26-30. Nessa passagem nós temos três mandatos pactuais – mandato cultural, mandato social e mandato espiritual. Esses mandatos foram dados antes da grande comissão (Mt 28.19), nesses mandatos dados pelo Criador o homem teria que glorificar a Deus em todas as suas atividades culturais, em todas as suas atividades familiares e em toda sua atividade espiritual. Ao estarmos na Queda do pai da raça que era Adão não seria possível o homem cumprir esses mandatos como Deus havia determinado, o pacto foi quebrado, e na teologia aliancista chamados esse pacto de: Pacto de Obras. E o que viria a ser o Pacto de Obras? Primeiro, entendamos em que consiste esse pacto e o que é o pacto de obras, a Confissão de Fé de Westminster (CFW) nos diz que

Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como seu Criador, nunca poderiam fluir nada dele como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual foi ele servido significar por meio de um pacto [1].
O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal [2].

Essa é nossa base inicial para que compreendamos qual a posição do homem na evangelização e qual a posição de Deus na salvação de pecadores. Notemos que o homem não é o personagem principal no drama da salvação, mas, Deus. Por isso chamamos a evangelização bíblica de Teocêntrica e não de Antropocêntrica, a evangelização bíblica tem Deus no centro e não o homem. Visto que o homem quebrou esse pacto de obras o próprio Deus providenciou outro pacto para a salvação do homem caído vejamos:

O homem, tendo-se tornado pela sua queda incapaz de vida por esse pacto, o Senhor dignou-se fazer um segundo pacto, geralmente chamado o pacto da graça; nesse pacto ele livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação por Jesus Cristo, exigindo deles a fé nele para que sejam salvos; e prometendo dar a todos os que estão ordenados para vida o Santo Espírito, para dispô-los e habilitá-los a crer [3].

Isso nos dá a base para afirmar que todo homem que não creu no Filho de Deus como seu suficiente salvador está debaixo do pacto de obras, notemos que ele está sob o pacto de obras, mas, não pode cumpri-lo porque está caído, está irredimido, está destituído da glória de Deus como nos diz o Texto Sagrado: “...pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”. (Romanos 3.23-NVI)

O fato de o homem não cumprir o pacto de obras o condena, porque a lei exige dele esse cumprimento. Vejamos: “Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente.” (Tiago 2.10 – NVI)

Fica claro que o homem por si mesmo não pode ir a Deus sem que seja trazido pelo próprio Deus.

Deus: o Autor da Evangelização

Entendido o fato que Deus é supremo na tarefa evangelizadora da Igreja, reconhecemos que Deus é o Autor da Evangelização. A maior tarefa da Igreja é glorificar a Deus entre todos os povos e a evangelização é um meio para que isso aconteça. É importante frisarmos que a evangelização está no decreto eterno de Deus, e chamamos isso na teologia dePactum Salutis ou Aliança da Redenção, como nos diz R.B. Kuiper:

As raízes da evangelização estão na eternidade. Os teólogos costumam falar do pactum salutis, feito desde toda eternidade pelas três pessoas da Deidade. Pode-se traduzir a expressão pactum salutis tanto por Aliança da Redenção como por conselho da redenção... Neste plano, Deus o Pai devia enviar seu Filho ao mundo para resgatá-lo; Deus o Filho haveria de vir voluntariamente ao mundo para se tornar merecedor da salvação por sua obediência até a morte; e Deus o Espírito aplicaria a salvação aos pecadores, instilando neles a graça renovadora [4].

É importante compreendermos um ponto da doutrina de Cristo que chamamos de obediência ativa de Cristo. Cristo obedeceu livremente, ou seja, guardou perfeitamente o pacto de obras, pacto este que o homem caído não pode mais guardar por que pecou e o pecado o legou ao fracasso espiritual, a morte espiritual (Ef 2.1-10), mas, Cristo morreu pela Igreja (Ef. 5.25; 2 Co 5.14; Jo 10.11), e sua morte foi o sacrifício substitutivo pelos pecadores que Deus determinou salvar, como nos diz Lucas no livro de Atos 13.48. E a forma desses pecadores virem a Deus pela mediação de Cristo (1 Tm 2.5) é pela pregação do Evangelho, conforme Paulo ensina em Romanos 10. A pregação é a forma que Deus determinou para trazer os pecadores à fé. Vejamos o que diz Romanos 10.17: “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo”.

A pregação é o meio pelo qual o pecador é levado à fé pelo Espírito Santo. Essa é uma verdade vital do Cristianismo bíblico.

Qual é o Motivo para a Evangelização?

Nos diz o  Breve Catecismo de Westminster em sua primeira pergunta:

Qual é o fim principal do homem?
Resposta:
O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre [5].

Ao evangelizarmos não cumprimos somente uma ordem divina, mas, devemos pregar ao mundo caído porque amamos a Deus e queremos proclamá-lo em todas as nações. Vejamos o que nos diz o salmista no Salmo 67:

Que Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe, e faça resplandecer o seu rosto sobre nós, para que sejam conhecidos na terra os teus caminhos, e a tua salvação entre todas as nações. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos. Exultem e cantem de alegria as nações, pois governas os povos com justiça e guias as nações na terra. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te todos os povos. Que a terra dê a sua colheita, e Deus, o nosso Deus, nos abençoe! Que Deus nos abençoe, e o temam todos os confins da terra.” [Sl 67:1-7]

Fomos comissionados a glorificar a Deus entre todas as nações, reder-lhe louvor entre todos os povos línguas e nações, o livro do Apocalipse nos mostra vários cânticos louvor a glória da graça do Deus salvador e redentor, no capítulo 15, versos 3 e 4 nós lemos:

Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus Todo-Poderoso. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações. Quem não te temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o teu nome? Pois tu somente és santo. Todas as nações virão à tua presença e te adorarão, pois os teus atos de justiça se tornaram manifesto.

Diz o teólogo J.I. Packer – Glorificamos a Deus pela evangelização não somente porque a evangelização é um ato de obediência, mas também porque na evangelização contamos a todo o mundo quão grandes obras poderosas da graça de Deus se tornam conhecidas, ele é glorificado [6].

Consequentemente se entendemos que a evangelização é também uma expressão de nossa adoração e nosso amor ao Senhor, amaremos nosso próximo que desejaremos que muitos sejam alcançados com as verdades eternas do Evangelho de Cristo. Para finalizarmos, cito mais uma vez a CFW:

No Evangelho Deus proclama seu amor ao mundo, revela clara e plenamente o único caminho da salvação, assegura vida eterna a todos quantos verdadeiramente se arrependem e crêem em Cristo, e ordena que esta salvação seja anunciada a todos os homens, a fim de que conheçam a misericórdia oferecida e, pela ação do Seu Espírito, a aceitem como dádiva da graça [7].

Conclusão

Deus é o início e o fim da evangelização, a glória de Deus é a coisa mais importante. O desejo de Deus é ser glorificado e o homem foi criado para isso. Portanto todo método de evangelização que coloca o homem no centro é idólatra, todo método de evangelização que não diz que o homem é um pecador caído e necessitado de redenção falha em sua abordagem e todo método que somente mostra o homem como caído, mas, não lhe mostra Jesus como caminho é igualmente inválido. Todo método de evangelização deve ser teocêntrico, sendo teocêntrico será também cristocêntrico. Toda a Bíblia possui uma abordagem histórico-redentiva, a história da salvação, devemos seguir o método bíblico em apresentar a mensagem do Evangelho, Deus no centro de tudo.

E disse-lhes: Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas”. Marcos 16.15

Amém.

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Notas:
[1] CFW, cap. 7.1. Jó 9.32-33; Sal. 113. 5-6; At 17.24-25; Lc 17.10.
[2] CFW, cap.7.2. Gal. 3.12; Rom. 5.12-14 e 10.5; Gen. 2.17; Gal. 3.10.
[3] CFW, cap. 7.3. Gal, 3.21; Rom. 3.20-21 e 8.3; Isa. 42.6; Gen. 3.15; Mat. 28.18-20; Jo 3.16; Rom. 1.16-17 e 10.6-9; At. 13.48; Ezeq. 36.26-27; Jo. 6.37, 44,45; Lc. 11.13; Gal. 3.14.
[4] Kuiper. R.B. Evangelização Teocêntrica, Ed. PES, 2ª edição, 2013, p.9.
[5] Breve Catecismo de Westminster – Referências: Rom. 11.36; 1 Co 10.31; Sal 73.25-26; Is 43.7; Rom.14.7-8; Ef. 1.5-6; Is. 60.21; Is. 61.3.
[6] Packer, J.I. Evangelização e a Soberania de Deus, Ed. Cultura Cristã, 2ª edição, 2011, p.89.
[7] CFW, cap. 35.2. Jo 3.16 e 14.6; At 4.12; 1 Jo 5.12; Mc. 16.15; Ef. 2.4,8,9.

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Autor: Thomas Magnum
Fonte: Electus

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